Nome do autor: Bozolino
Categoria: Drama/Romance
Nota: É, eu sei. O que cargas d'gua eu quero com esse casal? A idade é abissalmente diferente, o jeito e os interesses também. Mas é exatamente o tom impossível entre os dois que torna a coisa interessante. Espero que gostem.
Capítulo 1 – Lúcio, Severo, Voldemort e Hermione.
O silêncio na mansão Malfoy era completo, salva a exceção de uma voz fria e gélida que se fazia ouvir no cômodo de estar. – Você compreendeu, Lúcio? – Sim, milorde. – Muito bem. – E ele então se levantou da posição respeitosa que se encontrava, a mão sobre o joelho agachado. Mas, milorde – E a voz arrastada prosseguiu, agora tentando contorná-lo. – Granger não é tão ignóbil a ponto de -- - E é por isso que chamei meu braço direito para o encargo, suponho. Ou me enganei a seu respeito, Lúcio? – De modo algum, senhor.
A casa dos Malfoy mais uma vez servira de refúgio para Voldemort, que se recuperava e reunia um exército cada vez maior. Os Comensais se espalhavam para atrair as mais diversas criaturas mágicas para o lado do Lord das Trevas, e o Ministério, bem como todo o resto, eram regidos a seu bel prazer. Lúcio Malfoy, em contra-partida, se encontrava em sua mansão, e acabara de receber uma incumbência do próprio Lord, aparentemente frívola. Precisava ir à Hogwarts. E precisava com urgência…
Malfoy, na escola? – ralhou Rony, a voz particularmente intrigada. – Mas o que diabos aquele sujo do pai do Draco vai fazer aqui?
Isso eu ainda não sei. Só ouvi a professora Minerva dizer que ele vai fazer uma espécie de pronunciamento na hora do almoço. E parece que têm de ver com os interesses da Escola. – Explicou Hermione, cheia de importância.
Aí tem. Sempre se pode esperar coisa ruim dele. Olha só o Draco. – E eles se viraram, Rony, Harry e Hermione, e viram Draco conversando de uma maneira bem engajada com outros Sonserinos, entre eles, Crabble, Goyle e Pansy. Ao contrário do que era de se esperar, no entanto, ele não estava se gabando ou sorrindo como de costume, a julgar pela visita do pai à Escola. Parecia incrivelmente taciturno, e nem zombava deles abafando risinhos maldosos.
A hora do almoço não demorou a chegar, pelo menos, não para Hermione. – O Snape é um rabugento e chato, mas essa aula foi interessante, não acham? A poção para fazer ver além das coisas não foi tão difícil assim de preparar.
Não para você – Retorquiu Rony, mal humorado. Sua poção que devia ter ficado amarelo-claro e sólida ficou muito inconsistente, e mais vermelha do que as cores da Grifinória. A de Harry então, parecia uma massa ligamentosa de muco e títica. – Parem de reclamar – Continou ela animada. – Pelo menos a de vocês ficou melhor que a do Neville. – E eles murmuraram algo como "grande coisa" e "eu ainda prefiro o olho mágico do Moody" antes de rumarem para o Salão Principal, para o almoço.
Rony abocanhava uma quantidade generosa de frango com as mãos junto à boca, e derramava uma quantidade igualmente generosa nas vestes de Hermione, que o olhava com uma cara de repreensão. – Você nunca comeu na vida, Rony? Pelo amor de Deus! Pelo menos tenha modos, sim? – E limpou as vestes com as mãos, ao que Harry apenas ria os observando. A alegria tomava conta da mesa, e eles mal notaram quando Dumbledore desatou a falar, a voz muito imponente e generosa ressonando por todo o Salão.
- É uma pena lhes atrapalhar nesta hora tão alegre como a do almoço – Começou ele, e Rony assentiu com a cabeça. – Mas eu realmente preciso, e prometo não me prolongar. Temos hoje a presença de alguém que vem de maneira generosa à escola, nos ajudar num assunto delicado. Este assunto diz respeito a todos, mas principalmente aos quintanistas em diante, que começam agora seus exames de N.O.M's. Como sabem, é hora de começarem a pensar numa profissão. E é exatamente à isso que devemos a visita de… - E apontando de sua direita surgiu uma figura pálida e de andar conduzido. - Lúcio Malfoy! – Bufou Hermione, desanimada. – Tínhamos nos esquecido dele. – As três mesas das três casas Comunais se entreolharam, desconfiadas. A da Sonserina, no entanto, não desviou os olhares de Malfoy por nem sequer um instante. Parecia que Draco já lhes havia informado brevemente sobre a visita, e eles discutiam isso no jardim, há pouco tempo atrás.
- Primeiramente gostaria de agradecer à Dumbledore – Começou Malfoy, a voz arrastada e muito falsa. – Pela oportunidade de me deixar discursar. – Não pense que a gente está gostando! – Sussurraram Fred e Jorge em uníssono, de modo que apenas eles e Harry ouviram. – É realmente um prazer regressar a Hogwarts em tais circunstâncias. – "Para de enrolar" e "como é charlatão" foram algumas das coisas que se escutou entre as mesas da Lufa-Lufa e Corvinal. – Mas, vamos ao que interessa. – E um "ah, ele se tocou" de alívio foi ouvido, agora na mesa da Grifinória. – O que venho fazer esta tarde aqui não é nada mais do que isto, uma doação. Venho acompanhando o andamento da escola junto à minha esposa, e ambos, como pais que somos, nos preocupamos com nosso filho, assim como tenho a certeza de que seus pais, ou aqueles que os têm, também se preocupam. – Draco corou levemente, e Harry se inquietou na cadeira, entendo a indireta "dos que tem pais" como dirigida à ele. – Uma doação que vai auxiliar a escola e seu Diretor na ajuda aos alunos para escolherem a profissão mais adequada, e melhorar o nível de ensino das avaliações para um melhor preparamento. – Hermione ameaçou criticá-lo, dizendo que a escola não precisava de suas doações imundas, mas foi interpelada e observou, boquiaberta, seu nome ser proferido pelos lábios finos de Malfoy. – Doações para alunos exemplares, como Hermione Granger, aqui presente. – Ele então a apontou com os braços, e muitas cabecinhas curiosas se viraram para vê-la. – Obrigado à todos, e tenham um bom dia.
Malfoy então se retirou muito imponente, acenando levemente com a cabeça para os professores ao passar, em especial para Snape, e sumiu por entre a saída, sua longa capa preta arrastando atrás de si. Hermione ficou ali, parada, ainda olhando para onde ele estava há um minuto atrás. Parecia estuporada.
Ei Mione, acorda aí – falou Rony, as mãos se agitando na frente dos olhos da amiga. – Eu, ah… sim. – Por que diabos o Malfoy citou seu nome? – Perguntou Harry muito intrigado. – "A sangue ruim", "A pobretona" – Brincaram Fred e Jorge, a voz de falsete. – É Mione, talvez você tenha conquistado o coração durão do Malfoy. O que você seria do Draco? – E todos começaram a rir, à exceção dela própria.
Eles agora mareavam para as escadas, indo de encontro ao retrato da Mulher Gorda após o jantar. Pararam defronte ele, até que Hermione disse. – Penas de hipogrifo. – E tal qual uma porta o quadro girou, abrindo passagem para eles entrarem. Os deveres eram muitos, e só os passados por Snape dariam para o ano todo, o que não era nada atenuado pelas predições fajutas que teriam de fazer para Trelawney. – Acho que agora vou inventar que eu usava os óculos dela, o que acha? – Perguntou Rony. - Seria um pesadelo e tanto! – Brincou Harry, e ambos riram. Hermione, que até então havia permanecido calada (apenas dando sorrisinhos mecânicos a cada piada que ouvia), se pronunciou. – Sabe, eu estava pensando, só cogitando a idéia de tentar entender o porquê do Malfoy ter usado meu nome lá no Salão. – Disse ela, a voz bem distante e os orbes fitando a lareira. Falava mais para si mesma em seus devaneios. – E a possibilidade de um Malfoy apaixonado se encaixou em suas teorias? – Gracejou Rony, mas bastou um olhar de sensura de Hermione para o fazer se encolher novamente. – Na verdade estava pensando na relação de tudo isto com o comportamento do Malfoy no jardim. Digo, ele não me parecia muito feliz, entende? E sempre se gaba do pai e tudo mais. – É, pode ser. – Disse Harry dando de ombros. – Mas se eu fosse você nem pensava muito nisso. Seja lá o que o Malfoy estiver aprontando, ainda temos o Dumbledore por perto – Interpôs Rony, em tom de quem encerra a conversa. – E duvido muito que aquele nariz empinado tente algo contra ele.
Hermione apenas concordou. O fato de Lúcio, alguém que já sofrera acusações de ser um Comensal da Morte tentar ajudar Hogwarts, tentar ajudar Dumbledore, lhe incomodava e muito. Ela consultou o relógio, os olhos muito pregados. Já passava da meia noite, e ela decidiu que, por hora, apenas não queria pensar mais nisso. Se despediu dos amigos com um boa noite muito arrastado e, bocejando, rumou para o dormitório feminino.
Com o sol entrando entrecortado pela janela, Harry, Rony e Hermione acordaram cedo no dia seguinte, sendo bicados por Pitchichinho e Edwiges e arranhados por Bichento, que pulava sem cerimônias em cima de cada um. Os garotos estranharam o fato das corujas não terem esperado até o café para lhes entregarem as cartas, mas as abriram ainda de olhos fechados, Rony resmungando horrores. – Eu vou matar essa coruja! Hoje é sábado, droga! – E ambos se surpreenderam quando viram que na verdade não eram cartas, e sim exemplares do Profeta Diário. – Mas o que diabos…?! Hermione, você também? – Não. – Respondeu ela, também bocejando. – Pelo menos, não por enquanto. Vamos logo, ainda temos de visitar o Hagrid. – Peraí. – Disse Harry, a voz esganiçada de quem havia acordado de vez. – Leiam só essa matéria de capa. – E todos se debruçaram sobre ele. A primeira visão de todos foi a foto de Lúcio Malfoy estampando a reportagem. Tinha um sorriso bem forçado e os cabelos bem penteados. A foto se mexia numa pomposa pose imponente.
Da redatora Rita Skeeter.
Ontem a tarde ocorreu em Hogwarts algo notável. O patriarca Lúcio Malfoy foi à escola oferecer sua solidariedade aos alunos, mostrando assim que se preocupa com o ensino dos nossos futuros bruxos. Lúcio, que é conhecido por suas muitas doações generosas à causas nobres, como ao hospital St.Mungus, provou sua igual generosidade quanto dôou incontáveis galeões à escola.
"Ele representou toda a nossa preocupação como pais, num discurso como sempre muito bem feito" – Disse a mãe de uma quintanista, Pansy Parkinson. – "É realmente um exemplo, e quiçá todos se preocupassem assim, poderíamos ficar despreocupados. Afinal, estamos falando do futuro de nossos filhos."
Para finalizar, ele ainda elogiou alunos em específico, dizendo que fazia isso se preocupando individualmente com cada um deles.
Nós do Profeta Diário ficamos satisfeitos que, famílias renomadas e influentes como a dos Malfoy ainda possam interferir no ensino de Hogwarts. De todos nós, o muito obrigado à Lúcio Malfoy, por se preocupar tanto em ajudar.
Hermione olhou de Harry para Rony, e de um amigo para o outro novamente.
- Mas o que esse nojento pensa que está fazendo? Se preocupa com cada um de nós individualmente? Quem disse que ele se preocupa com cada um de nós individualmente? – Disse Rony, também acordando de um súbito agora, a raiva lhe afluíndo ao corpo. – Hermione – Começou Harry. - Eles não citaram seu nome mas -- - É, eu sei – Completou a garota. – O "elogiar alunos em específico" se referiu à mim. – Tá vendo? – Esbravejou Rony. – Ainda mais a Hermione! Ele não se cansava de xingá-la de sangue ruim para quem quisesse ouvir. Nunca que ele se preocupa com ela. Dá isso aqui.
Rony então tomou o jornal das mãos de Harry e, juntando-o ao seu numa bolota de papel, jogou-os no fogo da lareira. – Essa Rita Skeeter é uma vaca mesmo, é isso que ela é.
Após o despertar abrupto, todos desceram as escadas seguidas ao retrato da Mulher Gorda e se dirigiram ao Salão, para tomarem o café da manhã. Rony, que quase enfiava a cara dentro da tigela com leite e cereais, parecia ter se esquecido completamente da raiva que o havia tomado há bem uns quinze minutos. Harry ainda parecia mais sonâmbulo do que de costume, e ajeitava os óculos regularmente em espaços de tempo à que mordia uma maçã. Hermione como sempre parecia a mais lúcida de todos, e fitava a parede da outra extremidade do salão; seu pudim intacto. Nem parecia se preocupar com Rony, que fazia um barulho esquisito ao seu lado sempre que abocanhava os cereais. Foi quando uma coruja sobrevôou a mesa e, dando duas rodadelas na cabeça deles, caiu de mal jeito sobre a tábua, as asas na tigela de Rony. – Ei! – Todos olharam para a ave, que soltava ganidos altos. Preso junto ao pézinho podia-se notar outro exemplar do Profeta Diário. – Mas você também? – Estridou Rony, leite escorrendo pela boca e indo em direção à Mione com gotas espessas. – Eu também recebi! – Gritou Simas do outro lado da mesa. – Parece que todos, aliás. – E Luna Lovegood apontou por detrás deles, o andar distraído e flutuante. – Você também? – Perguntou Harry. – Sim. – Respondeu a garota, com um sorriso estranho no rosto. – Papai disse que isso aconteceria, sabe. Eu não esperava menos depois que Malfoy veio na escola ontem, também. – A menina então girou nos calcanhares, olhando de esguelha para todos. – Agora deixa eu voltar lá para a mesa. Hoje têm pudim. – E tornou a correr levemente, deslizando pelo Salão até a mesa Corvinal. – Estranho, muito estranho. – Começou Hermione, uma sombrancelha levantada. – Eu bem que falei disso ontem a noite, de como o Draco não havia se gabado, e da relação disso tudo com ele ajudar Dumbled… -- 'Guenta aí, Hermione. – Interrompeu Rony, agora limpando a boca nas mangas da blusa. – Já vai começar de novo? Não vamos perder o sábado falando de Lúcio Malfoy, vamos? – E Harry concordou com a cabeça, ao que eles saíram para o jardim.
O sol entrecortado que outrotora habitou o Salão Comunal da Grifinória agora refletia seus raios abertamente pelos gramados do jardim. Eles se refugiaram em baixo de uma árvore, com uma agradável penumbra que lhes possibilitava digerir a comida enquanto conversavam; Hermione ainda com o exemplar do Profeta Diário em mãos. Quando finalmente pareciam ter achado um pouco de sossego, avistaram dois bruxos de porte bem erguido caminhando juntos pelo jardim. Ainda longe, mas andando de modo a passar por onde eles estavam. Um tinha cabelos oleosos e estranhamente lisos, e o outro possuía madeixas corredias, porém maiores e de um loiro-prateado tão intenso que quase os cegava com a luz do sol contraposta sobre eles. Eram Snape e Lúcio Malfoy.
- De novo? – Urrou Rony, a barriga ainda muito cheia para se exaltar. – Eu sempre suspeitei dos dois, sabe. – Completou, um arroto saindo de sua boca ao término da frase. Harry riu. – Se sozinho um já é insuportável, juntos então… - E eles passaram, parecendo nem perceber a presença dos demais alunos que se exercitavam, fofocavam e liam por debaixo de muitas árvores. A voz dos dois estava a uma altura muito baixa, no entanto, algo semelhante a um sussurro, e eles não conseguiram ouvir nada do que diziam. Ademais, abaixaram ainda mais a voz ao passarem por eles, Lúcio olhando de esguelha e Snape com o mesmo olhar inquisitor e de asco dirigido à Harry. Eles então pararam de um súbito logo alguns metros depois. Malfoy permaneceu de costas, mas Snape se apressou e fêz ouvir. – Você, Granger. Venha aqui. – E a menina se levantou, surpresa, confirmando para ver se havia escutado bem. – Eu? – Tem mais alguém com o sobrenome Granger? – Retorquiu Snape seco, olhando sarcasticamente em volta.
Ficar ali parado enquanto Snape chamava Granger não foi um mero formalismo ou metidêz por parte de Malfoy. Parecia mais um ritual. Ele se controlava ao máximo que podia, os orbes girando nas órbitas e as pálpebras inquietas que, somadas às mordidas constantes aos lábios finos, lhe davam um ar muito mais inquieto do que o normal. Sobrepôr sua linhagem pura e descendência e abrir mão disto para tratar igualmente uma sangue ruim não era realmente algo fácil.
- O Sr.Malfoy quer lhe falar. Por favor, se puder se juntar… - Eu não tenho nada que falar com ele! – SEM inconveniênias, Srta.Granger – Disse Snape, abaixando a voz. – Ele não vai te atacar ou coisa parecida, se é o que está pensando. Caso ainda se lembre, mesmo que quisesse, não seria tolo a tal ponto. Estão em Hogwarts. – E o tom em sua voz pareceu mais mordaz do que o normal. – Agora vá. – E ela andou, a contragosto, se juntando à Malfoy, os braços cruzados e o cenho franzido. – E então? – Disse sem rodeios. – Uma volta, Granger. O ar sobre o rosto pode ser mais calmoso do que imagina. – Eu não quero dar uma v—Por favor? – Retrucou Lúcio, o tom muito cortês e o sorriso estranhamente convidativo. – Que seja! – Disse ela, e os dois começaram a caminhar. – Não tem nenhuma pergunta a me fazer? – Ele indagou, após dois minutos de puro silêncio. – Não! Eu uh… digo, na verdade, não entendi o porquê citou meu nome no seu discursinho no Salão. Nunca escondeu de ninguém o quanto me odeia. A sangue ruim, não? – Irritou-se. – E indubitavelmente, uma sangue ruim que não deixa de ser uma boa aluna. – Disse Lúcio, o nariz empinado. – Olha aqui Malfoy, se me chamou para me insultar—Foi apenas uma brincadeira, Granger. – E ela se contraiu novamente. Malfoy fazendo brincadeiras? Isto era quase igual Neville sendo o aluno preferido de Snape. – Dá para falar logo o que quer? Ou ainda têm mais alguma piadinha que queira me contar? – Malfoy sorriu de canto. – Sabe, Hermione – E ele forçou seu primeiro nome propositalmente, para ver se ela fazia objeção. Não o fêz, apesar da testa se enrugar, estranhando. – Você tem muitas qualidades que transpassam os defeitos, e eu andei percebendo isto ultimamente. O fato do sangue não ser puro pode influir, mas você não pediu para nascer na família em que nasceu, e—Tenho muito orgulho dos meus pais, se é o que quer saber! – De fato tem, e é mais um ponto a seu favor. Continuando, é sagaz e inteligente, e igualmente esforçada. E eu poderia me lembrar que estas eram as qualidades que eu sempre fui ensinado a admirar numa pessoa por meu pai Abraxas. – Ela parou por um instante ao ouvir o nome do pai de Malfoy. Nunca havia ouvido sobre ele antes, e nunca imaginaria que Lúcio um dia falaria dele à ela. – E, se fosse possível, eu não queria que houvessem mais disputas sem fundamento entre nós. – A conotação na palavra também foi estranha, o que fez Hermione se arrepiar levemente. Parecia ainda digerir a idéia de tudo, como era muito esquisito e do porquê Malfoy agora estar agindo estranhamente de maneira gentil. – Então – E ele estendeu a mão, com um sorriso que deixava sua imagem agourenta para trás. – Que seja! – Disse ela de novo, não conseguindo pensar em nada mais sensato para falar à ele, agora que pela primeira vez não a havia tratado mal. – Ótimo! – Bradou ele, e enquanto segurava sua mão levou brevemente os lábios finos em direção a seu ouvido. Ela recuou um pouco, assustada, mas em seguida se petrificou, novamente estuporada. – Já é um começo. – Sussurrou, e as palavras ressonaram em sua orelha como que as tilintadas de um sino, atenuadamente mais leves. Ele então se afastou, uma expressão muito amigável e satisfeita no rosto, deixando para trás uma Hermione muito perplexa e deslocada a flutuar sobre os jardins.
- Não vai ser nada fácil, Lúcio. Tem um gênio incrível a menina Granger. É realmente muito esperta, embora eu nunca diga. – Falou Snape, tomando o cuidado de fechar a feitiço a porta de sua sala. – Eu bem sei, Severo. E é por isto que o Lord também requisitou sua ajuda. Me infiltrar em Hogwarts sem que o velho Dumbledore perceba e ache estranho, manter Potter ocupado, manter Weasley ocupado. – Retorquiu Malfoy, a voz muito baixa. – Sim, este seria um problema. Parece gostar dela. – Um tanto pior. – Resmungou. – Em todo o caso, é uma desestabilização completamente válida, sim. Um plano perfeito, se tudo correr bem. Digno de Vol… digno do Lord das Trevas. – E vai – Bradou Lúcio com os lábios cerrados terminando a conversa, o cajado muito apertado sobre as mãos cobertas com luvas de couro de dragão. – Hoje tudo correu bem, Severo. A sutileza é uma dádiva. – E ele fitou Snape, os olhos cinza-azulados como que esquadrinhando cada canto de sua alma. – E falhar não é uma opção.
Malfoy o que? – Começou Rony, a voz engasgada. – É isso. – Respondeu Hermione. – Queria me perguntar do Draco. Como ele andava se comportando e tudo mais. – Para você, Hermione? – Disse Harry, descrente. - Por que não a Pansy ou – Não me pergunte também, oras. Tudo o que aconteceu foi o que lhes contei. – E eles terminaram os deveres apunhados que Snape lhes havia passado, e que não tinham conseguido fazer na noite anterior. – Ele está exagerando! – Disse Hermione, cansada. – Nunca passou tantos deveres assim, isso é realmente muito. – E para você reclamar… - Brincou Rony, levemente mal humorado. Hermione sentou-se na lareira com o falso pretesto de meditar em tudo o que havia estudado, para digerir melhor a matéria. Harry e Rony não fizeram objeção, salvo um resmungo que ela ouviu entre eles de algo como "um dia ela fica doida de tanto pensar em estudos", mas que ela ignorou. Pensava muito em tudo o que estava acontecendo. Em como Draco parecia triste, em como Lúcio parecia generoso, e em como ele parecia decidido em não pegar mas no seu pé. Repassou toda a conversa que tiveram mentalmente, cada parte muito vívida em sua mente. Deixou escapar um leve sorriso ao se lembrar da parte em que ele a elogiava, e outro na parte em que ele lhe falava baixo ao pé do ouvido mas, muito rapidamente (tanto que assustou um terceiranista perto da janela), acordou do "transe" que seus pensamentos lhe proporcionavam. Deu um sacolejo na própria cabeça e se ergueu, deixando de olhar a lareira e rumando para o dormitório feminino. – Deixe de ser boba, Hermione. Gente dessa laia não muda. – Murmurou ela para si mesma, antes de sair.
