Larissa levou quase uma semana inteira para compreender porque todos estavam agindo daquela maneira, carregando aquelas coisas para cima e para baixo. Ora, você tem que lembrar que quando se tem quatorze anos na era da informação uma semana sem entender alguma coisa é bastante tempo.
Mas o que ela poderia fazer? Era uma menina deveras ocupada, de fato. Aula de manhã todos os dias, a tarde tinha inglês as segundas e quartas, natação as terças e quintas e finalmente jazz as sextas, ufa! Não era a toa que estava por fora da ultima modinha do momento, mas felizmente era popular o bastante (tendo em vista que era magra e bonita o bastante, naturalmente) para que lhe inteirassem das ultimas tendências entre os jovens.
Havia
uma semana mais ou menos que todos andavam para cima e para baixo com
uma espécie de ratazana de pelo amarelado e preto e que conseguia
gerar alguma eletricidade, segundo o que os meninos diziam. "Ainda
sim era uma ratazana",
foi o que ela pensou naquela segunda-feira enquanto torcia o nariz. O
que ela não sabia, e esse era o fato que ela levou quase uma semana
toda para descobrir, é que havia estreado na televisão um desenho
animado cujo garoto protagonista tinha uma ratazana dessas e crianças
sendo como são não puderam evitar imitar, de modo que não precisou
sequer uma semana de exibição do desenho animado para que quase
toda criança na escola andassem com um rato colorido como uma placa
de transito para cima e para baixo.
Por volta da segunda semana os
próprios professores acabaram se dando por vencidos após
infrutífera batalha contra a obsessão infantil e apenas permitiam
que as crianças carregassem a mascote da moda dentro da sala. "Em
poucos dias eles cansam disso",
diziam eles. O que de certa forma era verdade: é muito mais fácil
esperar que uma criança se canse de um brinquedo novo do que tentar
tira-lo dela, pois assim são as crianças.
Fosse como fosse, Larissa não tinha o menor interesse nessa mania em particular e a idéia de andar para cima e para baixo esfregando uma ratazana no corpo lhe parecia, sobretudo... anti-higiênica. Isso era o que ela pensava e qualquer um que a conhecesse saberia disso o que significa, naturalmente, que seus pais não fariam a menor idéia do que ela pensava sobre a questão. Veja, seus pais não eram más pessoas mas eram pessoas muito ocupadas: trabalhavam o dia todo e a noite viam a garota apenas uma hora ou duas durante o jantar mas isso era tudo (curiosamente, se lhe perguntassem diretamente eles jamais diriam que o trabalho era mais importante que a sua filha única embora fosse exatamente assim que agissem, adultos são estranhos desse modo de toda forma...). Como resultado, em pouco tempo Larissa acabou tendo sua própria e exclusiva ratazana amarelada de estimação e seus pais passaram mais uma noite de consciência tranqüila, certos de que estavam fazendo tudo que podiam (e deveriam) por sua filhota amada.
A
primeira vez que foi apresentada ao seu novo animal de estimação,
Larissa teve de fazer uma profunda força interna para sorrir como
sorria toda vez que seus pais lhe dessem um presente como se
justificasse a ausência deles. Mas aquilo foi, definitivamente, a
gota d'água!
Ora, ela não queria um estúpido rato amarelo
que passava o dia falando obscenidades! Ela não queria ser empurrada
com qualquer nova febre que os seus pais leram num jornal (indo ou
voltando do trabalho, é claro) que as crianças estavam querendo
naqueles dias, droga! Ela queria apenas ter pais, P-A-I-S, um pai e
uma mãe, não uma porcaria de um rato amarelo e preto! O quão
difícil era entender isso, porcaria? Era isso que ela valia para
eles? A presença dela podia ser comprada com um rato na opinião
deles? Era isso então?
Sua
atuação aquela noite foi perfeita como se esperaria de uma menina
saudável e feliz no entanto e ela sorriu como uma adolescente
agradecida diante de seus pais pelo presente. Então chorou e chorou
a noite toda sozinha em seu quarto
- ... pika...?
- NA SUA
BUNDA!
Estas foram as primeiras palavras que Larissa trocou com
seu novo mascote.
Contudo nas semanas seguintes as coisas não foram tão ruins quanto Larissa pensou que seriam. Não a respeito de seus pais, claro, mas estes ela já dava como causa perdida mesmo, mas sim a respeito da ratazana amarelada. O rato era, afinal de contas, uma companhia agradável... ou ao menos tanto quanto uma ratazana podia ser. Pelo menos era alguma coisa viva para sentir o calor, roia a fiação da casa para enlouquecer seus pais (a vingança é um prato que se come frio... sobretudo quando se trata de banho frio) e era melhor que falar sozinha, não muito, mas ainda era. Ainda por cima, o rato efetivamente possuía certa carga elétrica nos seus pelos e dava uma espécie de choque... não, não era choque exatamente, era mais a sensação gostosa de formigamento quando você encosta em uma CPU mal aterrada por exemplo. Enfim, era uma boa companhia para passar o tempo. Não que ela tivesse muito tempo disponível de qualquer forma (seus pais deviam achar que se ela estivesse ocupada o bastante não perceberia que eles não estavam lá), mas as horas que passava sozinha no fim das contas eram mais bem aproveitadas com alguma companhia.
Mesmo que fosse de um rato. Amarelo.
Alguns meses depois a moda havia passado e o rato ficado, e no fim desse período já não parecia uma coisa ruim assim.
Aos
quinze anos havia conseguido convencer seus pais (através de SMS no
celular) que deveria largar o jazz as sextas porque aquilo
atrapalharia seus estudos. "Estudos", essa palavra mágica que ao
ser evocada imediatamente resolvia as questões ao seu favor, afinal
que pai se oporia algo que era imprescindível ao futuro daquela
estranha a quem eles pagavam as contas? Eles não tinham envergadura
moral para negar tal pedido e isso era um fato.
Assim sendo, pela
primeira vez na sua vida Larissa tinha as sextas feiras livres para
ela. Bem, ela e a ratazana, mas a essa altura a garota já
considerava o rato meio que como parte da vida dela, parte dela. Se
não tinha pais pelo menos tinha um rato amarelo, não é tão triste
quanto soa realmente. Mas voltando as sextas-feiras, era claro que
Larissa não estava interessada em estudar: suas notas iam bem o
bastante, obrigado. O que ela queria era algum tipo de hábito, de
ritual, um momento só dela que daqui a quinze anos ela iria poder
dizer com nostalgia e saudade: "quando
eu tinha quinze anos, toda sexta-feira a tarde eu...".
Sim,
sextas a tarde seriam o seu momento especial, só faltava ela
descobrir o que ela faria nesse momento pessoal e especial ("o seu
momento" como diria um psicólogo). Nessa parte ela não tinha tido
boas idéias ainda, até pq ela nunca foi uma menina particularmente
brilhante de idéias, diga-se de passagem, então tudo que conseguiu
pensar era em comprar pipoca de chocolate (que ela vomitaria depois)
e assistir um filme. A idéia era apenas provisória, ela disse para
si mesma, e assim que pensasse em algo especial logo colocaria essa
coisa "especial" no horário.
Bem, acontece que mais alguns meses se passaram e nenhuma idéia realmente especial acabou vindo. Por outro lado, a coisa dos filmes com a pipoca temporária não era tão ruim assim, na verdade era bem legal e no fim ela acabou aceitando como atividade oficial do seu "dia especial da Larissa". Então era assim: toda sexta-feira ela baixava um filme no computador, deitava na cama de casal dos pais, colocava o rato sobre o peito e assistia ao filme no seu notebook enquanto comia pipoca com uma mão e sentia aquele "choquinho gostoso" de passar a mão nos pelos do rato com a outra. Era um "ritual" simples, porém extremamente gostoso e não raras vezes ela acabava adormecendo no conforto, tendo que acordar apressadamente antes que seus pais chegassem e descobrissem que ela não estava estudando porcaria nenhuma. Pensando bem, ela achava que eles não se importariam realmente mas ela gostava da sensação de estar fazendo algo errado, proibido, era como se fosse mais um pontinho marcado contra a indiferença de seus pais em sua vida, uma pequena vitória pessoal e quando se tem quinze anos, pequenas vitórias pessoais era tudo que se tinha contra seus pais.
Então agora aquela
era a vida de Larissa as sextas-feiras a tarde.
E por um tempo
foi bom.
Como boa adolescente que era Larissa contou no calendário a estréia do filme "Crepúsculo". Hey, não fique olhando com essa cara! Na sua época vc fez o mesmo quando saiu Street Fighter, que é tão bom quanto, e vc não está me vendo te julgar, está? Pois é. Mas continuando, Larissa esperou ansiosamente esse dia e quando chegou ela se negou veentemente a aceitar qualquer um dos vários convites para assisti-lo no cinema. Ninguém alem do seu rato sabia do verdadeiro motivo, mas Larissa não tinha dúvida que para ela aquele era um filme especial demais para ser visto em qualquer outro lugar, em qualquer momento que não o "seu" momento especial. Quer dizer, era o filme que ela esperou a vida toda (quando se tem quinze anos essa afirmação não é tão profunda ou duradoura quanto se torna posteriormente), era justo que ela assistisse em seu momento especial, não? Larissa achou que era.
Bastante ansiosa como quem ia ganhar um brinquedo novo, Larissa preparou a pipoca, o Notebook, tudo com o maior cuidado para que cada coisa saísse perfeita. Sentiu uma pontada leve de desespero no peito quando não achou seu rato nos primeiros dois segundos, mas logo tudo tinha corrido conforme o esperado e ela estava em sua posição especial no seu dia especial para ver seu filme especial.
Larissa respirou
fundo e abriu o arquivo... que para sua genuína surpresa não era
Crepúsculo.
Ocasionalmente acontece de vc baixar um arquivo que
supostamente é um filme e descobrir só tarde demais que não era
daquilo. Tanto as distribuidoras de filmes (que querem desestimular
as pessoas a baixar conteúdo nesse filme) quanto desocupados que só
querem saber que ferraram a vida de alguém (mesmo sem ver o fruto do
seu trabalho) são comuns a essa prática.
O
que Larissa havia baixado tinha realmente bastante sobre mordidas e
coisas sendo sugadas, mas definitivamente não eram vampiros e não
era sangue que estava sendo sugada. Ela piscou atônita ao entender o
que estava acontecendo, tanto pela frustração de não ser este o
filme que ela queria ver quanto pela cena em si. A cena em si
consistia em um ator tendo o seu pênis vigorosamente sugado e
mordido por uma morena de seios fartos.
Ela nunca havia visto esse
tipo de filme antes, alias muitas coisas naquela cena ela nunca havia
visto antes e entra elas um homem como aquele. Como toda a garota da
sua classe, já havia espiado os meninos trocando de roupa no
vestiário e com certeza nenhum deles possuía um dote como o daquele
ator que, segundo seus confusos cálculos mentais aquele membro devia
se estender até o joelho do homem. Então era por isso que se usava
a expressão "tirar água do joelho"? Quer dizer, aquele tipo de
coisa era... normal? Era comum os homens terem o negócio daquele
tamanho? E isso significava que eventualmente ela teria uma coisa
daquelas dentro de si? Quer dizer, ela mal podia imaginar que
caberia, sequer caberia na sua boca como a mulher do filme estava
fazendo... foi mais ou menos a essa altura que ela percebeu que sua
boca estava completamente umedecida, e com certeza não era a única
parte do seu corpo.
Essa sensação não era de todo estranha para ela, já havia sentido algo parecido no seu primeiro beijo algum tempo atrás (que alias foi bem frustrante perto do que esperava e por muito tempo ela considerou se não seria lésbica sem saber, quando na verdade era só uma menina que esperava demais do mundo real). Mas mesmo assim não era nem de perto era o que sentia agora, esse impulso, essa necessidade animal de agarrar aquela coisa enorme e dura, de apertar o mais forte que pudesse como que para testar a sua solidez e enfiá-la na sua boca com ímpeto como a mulher do filme fazia. Antes que se desse conta suas coxas alvas e macias se esfregavam uma contra a outra numa tentativa frustrada de saciar o que quer que precisasse ser saciado entre elas, mas de alguma forma as coisas não estavam normais. Enquanto pensava no que um membro daquele tamanho faria com ela numa posição de quatro, tirou a camiseta sem nem perceber e aí tivera a sensação mais estranha da sua vida até então: uma pequena corrente elétrica passou pelo seu corpo e sua coluna deu um pequeno espasmo e ela não pode conter um grito. Aquela foi, definitivamente, a melhor sensação da sua vida até aquele momento.
Após alguns instantes para se recuperar do choque, instantes esses em que ela ficou toda mole e semi-consciente, olhou ao redor e entendeu o que havia acontecido: seu pequeno mamilo rosado e enrijecido havia tocado o seu rato amarelado e aquela pequena corrente elétrica que seu corpo produzia havia causado aquela sensação... indescritível.
Larissa
não pensou por um momento sequer em tentar entender o que estava
acontecendo ou o que ela estava fazendo ou mesmo pq estava fazendo,
apenas sabia que precisa de mais daquilo. Seguindo cegamente seus
instintos, apenas arrancou a saia justa do jeito que pode (e sem
saber direito como conseguiu tirar sem rasgá-la, apenas a tirou a
atirou para o lado). Não fazia a menor idéia do que fazer agora,
nunca havia feito nada parecido e naturalmente nunca tinha tido esse
tipo de conversa com sua mãe (ou qualquer outro tipo de conversa na
verdade, mas esse pensamento só a fez agir logo para parar de
pensar). Apenas desceu a mão lentamente pelo ventre macio e alvo,
coberto apenas e tão somente por uma minúscula e praticamente
invisível penugem tipicamente infantil. Chegou com a ponta dos dedos
até a parte onde a pele se fendia na região do púbis e dava acesso
a parte interna do seu corpo com o receio de que estava fazendo uma
grande e ousada, para não dizer inédita exploração, como se
aquela parte não andasse para cima e para baixo com ela desde o dia
que nasceu.
Ao tocá-la, puxou o rato contra o seu peito e a soma
do toque com a eletricidade em seus seios nus a fez ver tudo em tons
de branco novamente por alguns segundos. Sua respiração acelerada
estava tão entrecortada e ofegante que quase não era suficiente.
Larissa agora não fazia mais idéia realmente do que fazer ou de
como fazer, por um momento lhe ocorreu a idéia louca de procurar no
Google mas definitivamente a idéia quase foi engraçada pq nada no
mundo de forma alguma a faria parar o que estava fazendo.
Apenas
conseguia pensar que precisava de um homem como o do filme, nesse
exato momento, agora. Aprofundou um pouco o dedo que estava entre
suas pernas, e apenas a sensação de calor de umidade que sentiu em
sua falange já seria suficiente para fazer com que ela gritasse
novamente, mas dessa vez ela apenas mordeu o lábio com severa força.
Ah, o que ela não faria por um pênis como aquele agora... não,
qualquer um seria suficiente, qualquer um MESMO.
E ao pensar nisso
abriu os olhos e encarou o sorriso torto e doentio que a encarava de
volta na cabeça do seu rato amarelado. A idéia foi tão
gritantemente louca e tão doente que mesmo naquela condição
zumbificada semi-orgasmica ela se obrigou a arregalar os olhos e
pensar "o que diabos eu estou cogitando?!?"
Mas não havia muito que cogitar, o animal era castrado de qualquer forma e nunca, nunca mesmo que ela iria tira-lo do contato (e pequena corrente elétrica que fazia passar) de seus mamilos. Ela não queria ficar sem aquela sensação, de jeito nenhum, de forma nenhuma MESMO... a menos... hmm... a menos que...
Ela deslizou o dedo pelo que agora já era a parede interna da sua vagina e soltou um "hmmfpf" abafado por mordia os lábios para não gritar. Observou novamente a criatura e constatou com espanto que ela possuía uma cauda longa e ondulada... realmente longa, com certeza pelo menos uns bons 30 centímetros. Hm, ao pensar nesse número lembrou-se da cena que vira (e que devia estar rodando ainda, o notebook fora simplesmente jogado de lado), no quanto a essa altura ela precisava de um homem com aquele dote todo dentro dela ("o que diabos estou pensando!?!" seu ultimo suspiro de consciência protestou). Não tinha, é claro, um homem como aquele com ela e desconfiava que não teria dentro dos próximos minutos. Mas tinha, por outro lado, um rato. Um rato tão bem dotado quanto, embora de outra forma... mas teria que servir, não?
Quando Jonh Steinbeck comparou ratos e homens definitivamente não era isso que ele tinha em mente...
Moveu a ponta dos dedos da mão esquerda e tocou a ponta da cauda do rato, que respondeu com uma pequena corrente elétrica como todo o resto do corpo fazia. Era o incentivo que faltava para fazer o que não acreditava que estava prestes a fazer. Mas já era tarde demais para voltar atrás, tarde demais para descobrir que homem algum poderia competir com a sensação de uma cauda em forma raiada oprimida contra sua feminilidade...
E então ela o fez.
Seis meses se passaram.
Nesses meses em diante a sexta-feira especial de Larissa finalmente teve um significado especial como ela queria originalmente, embora não fosse nada do que ela (ou qualquer um na verdade) poderia esperar. De uma certa forma estranha e doentia, Larissa acabou encontrando algo especial para seu momento especial em seu dia especial "dela" e essa história poderia terminar aqui, apenas como uma aventura louca adolescente. Entretanto não termina. As coisas não são tão simples assim. O nosso mundo é um pouco mais doente do que isso...
Depois de alguns meses, Larissa começou a se sentir um pouco estranha. No começo foi apenas dor de cabeça, que rapidamente evoluiu para febre e calafrios que passaram como sendo um resfriado a principio e com isso ela podia lidar. Entretanto eventualmente seus olhos tomaram uma tonalidade amarelada e mesmo aos 16 anos uma pessoa sabe que isso não é um bom sinal. Mas o que ela podia fazer? Não podia pedir ajuda sem explicar o que estava fazendo, já que parecia bem obvio que havia uma ligação entre seus estranhos sintomas e suas atividades extracurriculares.
A isto juntaram-se os problemas respiratórios, dor abdominal e diarréia, aos quais ela tentou disfarçar bravamente entretanto quando vieram os desmaios, bem, isso foi algo um pouquinho alem da liga dela e contra isso não pode evitar. E mesmo seus pais, sempre tão ausentes quanto antes, não podem deixar de perceber quando a sua filha desmaia de cara na sopa (bem, a maioria deles pelo menos)
O que aconteceu, e isso Larissa veio a descobrir só quando acordou zonza já nua no hospital, coberta apenas por um fino avental que deixava sua bunda descoberta, é que ela havia contraído uma rara doença bacteriana transmitida por roedores que causara danos nos rins, falha nos rins e problemas respiratórios e inflamação na membrana ao redor do cérebro e cordão espinhal. Este ultimo, lhe informaram com pesar, complicava em muito o tratamento.
A principio porque o médico e seus pais fizeram aquela cara, o que "complicar o tratamento" significava. Entretanto quando entendeu a explicação, seu coração já fragilizado quase parou de vez. Infelizmente ela não teve tanta sorte. Acontecia era que os danos cerebrais impediam que ela tomasse anestesia sem ter um colapso cardiorrespiratório irreversível, o que não seria um problema tão grande assim não fosse o único tratamento disponível: a bactéria disseminada pelo organismo podia ser tratada com antibióticos leves, mas o mesmo não poderia ser feito no foco da infecção. Antibióticos leves não resolveriam a tempo e antibióticos pesados a matariam. Quando assimilou essas informações, Larissa simplesmente vomitou o pouco que conseguiu, o que seria feito com ela era, era...
Basicamente, o médico explicou, a única solução seria remover cirurgicamente as áreas mais afetadas pela bactéria, o que no caso dela se resumia ao clitóris e boa parte da parede vaginal. Sem anestesia. Larissa novamente quase vomitou, exceto que dessa vez não havia mais nada para por para fora senão a própria bile. Era demais para ela, tão horrível, mas tão horrível MESMO numa situação dessas, vergonha não chegou nem perto de ocupar seus pensamentos. Se a vergonha quisesse um lugar dentro da cabeça dela, teria que pegar uma senha e esperar o pavor, o pânico e o desespero brincarem até cansar.
Mas
não havia alternativa. Alias, havia: morrer. Mas seus pais jamais
permitiram isso.
Seus pais jamais fariam essa escolha, jamais
escolheriam a dor e o sofrimento (alem das responsabilidades
criminais) deles por alguém que eles mal conheciam. Larissa teria de
ser mutilada, destituída da sua feminilidade em sua carne, pois era
o caminho mais confortável para todos, exceto para ela. E sem
anestesia.
"Se
tiver sorte",
ela pensou "talvez
eu desmaie ou mesmo morra antes de ficar realmente
ruim".
Infelizmente
para ela, a essa altura Larissa já devia ter aprendido que ela não
era uma menina de sorte.
15 horas depois, não podia se dizer
sequer que ela era uma menina. Ela esteve consciente o tempo todo.
Ninguém da equipe do hospital jamais esqueceu os gritos que ouviram naquele dia.
