Marlene mantinha o olhar fixo pelo corredor de sua casa, desde que tinha entrado nela, há minutos. A sensação de perda era sufocante, agora mais do que nunca. Não receberia um abraço de seu irmão, não teria que suportar as suas brincadeiras... Seus pais não lhe disseram nada, permitiram que ficasse onde estava, pelo tempo que quisesse, para acostumar-se.

Apoiou sua mala na parede do corredor, e deu a meia volta. Abriu a porta, e saiu de casa, sem dizer uma palavra. Correu para longe por vários minutos, esbarrando em algumas pessoas, pelo caminho.

Quando parou para tomar fôlego, percebeu que estava em uma praça. Sentou-se em um dos bancos, apertando o casaco mais contra si. Não choraria, sabia que não, já tinha chorado o suficiente, ao receber a notícia, mas doía. Como um ataque cardíaco.

Permitiu-se ser egoísta, como fazia desde que ele tinha morrido. Permaneceu ali, sem importar-se com a preocupação de seus pais. Eles entenderiam...

Sentiu algo peludo em sua perna, e estremeceu, repentinamente nervosa pelo que seria. Mas, olhando para baixo, relaxou instantaneamente. Era um cão vira-lata, o pelo não era curto nem comprido, da cor preta. Sem poder evitar, sorriu, ele era uma graça.

Enquanto ele se aconchegava junto a ela, e era acariciado, Marlene sentiu como se já o conhecesse, sentiu uma conexão diferente. Quando tinha 5 anos, pediu um cão a seus pais, mas eles não permitiram. Não era um animal tido por bruxos. Tinha uma espécie parecida, chamada crupe, mas era caro demais. Embora a família dela tivesse condições, não suportaria abandoná-lo, ao ir a Hogwarts.

— Não entendo por que as pessoas preferem cães de pedigree — pensou em voz alta — Quero dizer, cães sem raça são únicos. Nunca se encontraria outro no mundo. E bem mais fofos...

Ela riu, ao notar que estava conversando com ele, mas sentia que o cão lhe entendia.

— Preciso ir... Nos vemos — ela deu um beijo em sua cabeça peluda.

Se sua mãe a visse, surtaria, dizendo sobre os perigos de cão de rua, mas aquele não parecia ser de rua. Talvez estivesse passeando ou perdido.

Ela não teve tempo suficiente para pensar em leva-lo a um canil, ou algo assim. Ele pareceu entender que deveria ir, pois afastou-se, correndo para uma direção fixa.

Marlene deu de ombros, pensando que iria atrás de seu dono, e voltou para sua casa, sem ter ideia de que esse mesmo cão aparecia, ruas depois, na aparência de um homem, bem conhecido por ela. Sirius Black.