Crepúsculo

Capítulo 01 – Irrealidade real.

Uma garotinha se encontrava perto de um rio, em meio a uma leve tempestade de neve. A menina aparentava ter entre três e quatro anos de idade. Sua expressão era apática. As muitas lágrimas que chorara já tinham secado. Não havia mais lágrimas para chorar. Não queria mais chorar. Ela tinha que ser forte... Forte para sobreviver. Não ia dar o gostinho de sua morte para o mundo... Sobreviveria. Mostraria que o mundo não a venceria... Era mais forte que aquela cruel realidade...

- ... Eu... Nunca mais ninguém vai me fazer chorar! Cerra os punhos, como se fizesse uma promessa a si mesma. Promessa a qual quebraria muitas e muitas vezes na penumbra... Nunca na presença de outrem.

Palavras amargas e cruas começavam a assombrar sua mente. Lembranças de um passado recente doíam-lhe profundamente na alma...

--- Flashback ---

- ... Por que... Mamãe? Perguntava a garotinha em meio à lágrimas.

A mulher a deixara sozinha perto de um rio, e ia andando sem olhar para trás. Estava aliviada e triste ao mesmo tempo. Triste, pois aquela menina, apesar de tudo, era a sua filha. E, ela sentia pena por aquela linda garotinha ser "amaldiçoada". E aliviada, pois se livraria das constantes esquisitices da menina, as quais não eram normais para um ser humano. Decidira, então, a abandonar para a sua própria sorte. Tinha medo da garota, não podia mais conviver com o poder daquela maldição...

- ... Mamãe! A garotinha estendia suas mãos em direção à sua mãe, em prantos.

- Todos irão embora... Você ficará sozinha! Sempre... A mulher vira-se para sua filha, dizendo-lhe palavras severas, palavras as quais a menina jamais esqueceria...

--- Fim do Flashback ---

"Você ficará sozinha!" Essas palavras duras eram como facas penetrando-lhe na pele... Abrindo uma ferida profunda... Que jamais se cicatrizaria... Ela estava sozinha. Ela sempre fora sozinha. As pessoas jamais a compreenderam. Ela jamais tivera amigos. Seria mesmo uma menina amaldiçoada? Estava começando a acreditar que o fosse...

Escuridão... É envolta pela Escuridão...

A menina, que já aparentava ter uns sete anos, estava caminhando pela província, sozinha... À medida que se aproximava da multidão, as pessoas iam se dispersando, se afastando dela... Ninguém ousava chegar perto daquela garota. Ninguém ousava ter uma conversa com ela. O medo, o receio, o ódio dominavam aquelas pessoas... Uma onda de pensamentos começava a invadir a mente da garota...

"Fique longe dela! Ela é amaldiçoada...".

"Não é bom ficar perto de uma garota com poderes estranhos... Isso é coisa do demônio...".

"Toda vez que ela sai na rua algo de ruim acontece... Quero distância dessa criatura!".

"Como podem permitir que ela saia na rua? Devia ficar trancafiada a quatro paredes!...".

"Uma menina estranha! Não é bom exemplo para nossas crianças...".

"Tenho muito medo...".

" Menina-demônio...".

A garota, para não entrar em desespero, sai correndo para longe daquela multidão... Aproxima-se de um rio... O mesmo no qual perto fora abandonada... Aproxima-se daquelas águas tão tristes e olha para o seu reflexo, como se fosse um espelho... Um espelho a refletir a essência de sua alma... Tristeza... Solidão... Vazio... Ódio...

- ... Menina-demônio... Uma lágrima triste escorre pelo seu rosto...

Escuridão... É envolta pela Escuridão...

A garota, agora já adolescente, tendo uns dezesseis anos de idade, se encontrava passeando por um belo bosque. Era primavera, flores e árvores de todos os tamanhos e todas as cores compunham a paisagem daquele paraíso natural. Porém, toda aquela beleza era insuficiente para alegrar o coração da menina... Ele estava apertado, receoso, ansioso... Uma ansiedade que chegava-lhe a doer no profundo da alma... Receio o qual aumentava à medida da proximidade de uma pessoa...

Um garoto. Não um garoto qualquer. Mas, o seu amor. Yoh Asakura aproximava-se lentamente em sua direção. Diferentemente do habitual, o shaman não tinha um sorriso gentil na face, nem, ao menos, um olhar alegre e tampouco uma expressão suave. Tinha uma expressão severa, um olhar um tanto triste e caminhava a passos pesados. Aquela imagem poderia se confundir com um pesadelo...

- Anna... Diz seriamente Yoh, se postando em frente à garota.

- ... Yoh... Torna a garota, com semelhante severidade no tom de voz.

- Nós precisamos conversar...

- Diga o que tem que ser dito. Sem rodeios, Yoh... Pede a itako.

Yoh suspira.

- ... Eu vim aqui para me despedir de você, Anna... Ele tenta ser o mais objetivo, porém mais suave o possível no tom de voz.

Silêncio. Essas palavras tinham acabado de estraçalhar o coração remendado de Anna. Novamente uma despedida. Novamente uma rejeição. A solidão novamente fora de encontro a ela. Sempre iria. Era a sua sina. A solidão seria a sua eterna companheira... Sempre a lhe assombrar os sonhos, os desejos de felicidade. Ela olha para o garoto. Seus olhos tristes lhe pediam para ficar, porém seu coração machucado pedia que ele fosse embora, que não prolongasse mais a sua dor...

- Adeus, Anna... Foram as últimas palavras de Yoh, antes de sumir no horizonte...

Escuridão... É envolta pela Escuridão...

Fora levada pelo vento... Para um local frio e escuro. Não havia luz, não havia nada... Havia apenas a sua dor. O que tinha ela além de sua dor? Nada! Tinha perdido tudo! Não tinha família, fora abandonada. Não tinha amigos, nunca alguém se aproximara dela. Não tinha amor, ele a tinha deixado... Sozinha... Não restara nada além da solidão... Ela, então, esperaria pelo eterno abraço da Escuridão...

Silêncio. Apenas o silêncio...


Abriu os olhos. Seu coração palpitava apertado, machucado. Outro terrível pesadelo invadira o seu sono. Não conseguiria mais dormir, ela sabia. As dores passadas e uma possível dor futura tinham se juntado em um só sonho... "Todos irão embora...". Seria verdade? Ele também a abandonaria? O que ela significava para ele? Uma obrigação, ela pensava. Apenas uma noiva por obrigação.

A itako levanta-se e acende a luz. Caminha até o espelho e se posta de frente a ele. Olhando o seu reflexo... Olhando-se nos olhos... O que eles sentiam? Medo... Solidão... Vazio... O que eles refletiam? Uma alma perdida e vazia... Ela não sabia quem era, quem fora e quem seria... Estava perdida, a procura de si mesma, de sua essência. Estava vazia, a procura do calor do amor.

"Você ficará sozinha! Sempre...". Sozinha. Perdida. Vazia. Sempre sozinha... Para sempre perdida... Sem nada para se completar, sem nada para se sentir inteira. Vazia de alma... Coração vazio. Coração despedaçado. Coração aos gritos no vazio de sua alma... Anna já não se enxerga mais no espelho, não em sua integridade. A visão refletida de si mesma é a imagem do abismo de seu ser...

Sai da pousada. Um vulto andando no meio da pesada chuva que despencava dos céus. Seu corpo é molhado pela água fria da chuva de outono. Dirige-se ao jardim da Pousada En. Senta-se encostada numa parede. As folhas que caíam das árvores eram como os pedaços estraçalhados de seu coração... Um vento fino e gelado assobiava na calada da noite, dando um aspecto mais sombrio àquela cena melancólica.

De repente, toda a paisagem da noite é engolida por uma escuridão, a qual vai se tornando cada vez mais densa. Não se via mais nada. Não se ouvia mais nada. Só se sentia a morbidez das Trevas... A dor do desespero... Desespero latente de sua alma...

- Está... Tudo escuro... Por quê? Por que você me deixou... Sozinha, Yoh...! Ela abraça as suas pernas, não fazendo nada para deter o desespero que a consumia... Não tinha forças para lutar contra a sua dor... Achava-se ser uma alma fadada à solidão...

Escuridão... É envolta pelo silêncio da Escuridão... Apenas o silêncio...

Continua...


Notas da autora

Well, finalmente eu tive uma idéia para um fanfic novo :) Isso me deixa feliz! Eu amo escrever!

Eu ia fazer esse fanfic ser um OneShot, mas resolvi fazê-lo em dois capítulos! Assim, vocês ficam um pouquinho curiosos sobre o que vai acontecer depois, hehehe xD

Espero que gostem!

Deixem reviews!

Até o próximo capítulo! Não percam!

Abraços,