Está rolando um fest muito bom no Potter Slash Fest (links no meu perfil)

Está rolando um fest muito bom no Potter Slash Fest (links no meu perfil).

Essa fic e outras que estou postando são resposta a esses desafios. E são todas slash. Não sabe o que é? Fics com dois homens se pegando. Não gosta? Não leia.

Harry Potter e cia não me pertencem. Mas eles estavam tão tristes sem sexo, drama e vexames que nós achamos melhor levar os personagens que são da Tia JKR para dar uma voltinha na PSF. Não ganhamos nem um centavo, só gastamos nossas horas de sono, mas eles se divertem e a gente também.

Ivi e Lilibeth, sem vocês eu não escreveria nem um décimo do que escrevo. As duas têm minha gradidão eterna.

Desafio respondido: 33 -O vício não poderia tê-lo afundado mais.

Desafio proposto por: Alis com algumas exigências bem específicas da Ivi

Quebrando o Ciclo

Dias de Fúria

Foi a náusea que acordou Harry. Mal teve tempo de virar-se e vomitar no chão, ao lado da cama mesmo. Quando terminou, seu corpo inteiro tremia.

-Merda. – resmungou entre os dentes, deixando-se cair de volta na cama, enquanto esperava o segundo sintoma da falta da droga passar.

Só quando se recuperou da tremedeira, deu-se conta de outra pessoa ao seu lado. Afogou as memórias da véspera que queriam despertar. Já bastava para ele saber que o sujeito a seu lado era um trouxa que o pegara em um bar e o levara para casa.

Sentou-se na cama, planejando sair dali antes que o trouxa acordasse. Uma fisgada no seu traseiro acabou com sua boa intenção de limpar a sujeira antes de sair. O filho da puta havia comido seu rabo sem nenhum cuidado. Que lavasse seu próprio chão.

A segunda onda de tremedeira o alertou que a crise de abstinência era séria. Sem preocupar-se em colocar as roupas, apenas agarrou as que pôde achar e aparatou em Grimmauld Place, direto em seu próprio quarto. Precisava de outra dose, e precisava logo. Ergueu a tábua do assoalho que ficava sob a escrivaninha. Velhas memórias da época que vivia com seus tios o assaltaram. Precisava apagá-las logo. Precisava da poção.

Sentado no chão, tateou o esconderijo, um dos poucos que Mione e Ron ainda não descobriram, encontrou suas agulhas e os dois frascos de poção. Estavam no fim. Em breve ele precisaria de mais.

Encheu três quartos da seringa com Poção da Euforia e completou com a Poção Desinibidora. Murmurou o feitiço para aquecê-las e misturá-las, transformando as duas poções inócuas em uma droga potente. Usou um trapo velho para fazer um garrote no braço esquerdo. Já sentia a terceira fase da abstinência chegando quando começou a injetar a mistura na veia. Queimava. Mas as muitas marcas no seu braço, por si só, já eram um indicativo que ele estava habituado a essa dor.

Habituado à dor. Há anos, Harry estava habituado à dor. Não seria uma queimação temporária no braço que o deteria.

Recostou-se à parede, esperando o efeito. Podia ver seu reflexo no espelho pendurado na porta do guarda-roupa. Era uma figura patética. Mais magro que em qualquer outra época de sua vida, de uma palidez doentia e olheiras que nem os óculos velhos conseguiam esconder mais. Estava horrível. Sua vida era horrível. Estava afastando e magoando todos ao seu redor.

Sentia as lágrimas queimando em seus olhos e começando a descer pelo seu rosto. Estava tão ferrado!

A poção fez o efeito, e o pranto tornou-se uma gargalhada semi-histérica que fez Harry deitar-se no chão para rir à vontade.

Era tão engraçado. Ele era o herói do mundo bruxo, o poderoso Potter, o desejo de consumo de dez entre dez piranhas interesseiras. O bom moço que beijava criancinhas e senhoras idosas com a mesma boca que chupava o pau de qualquer desconhecido. O arremedo de bruxo que Dumbledore declarara ser melhor que ele. Era o desgraçado que tivera a vida fodida desde que nascera, e quando ninguém mais parecia interessando em acabar com ela, ele mesmo se encarregava. Era tão divertido, poderia rir disso por horas. Pelo menos enquanto durasse o efeito da mistura de poções que usava.

Ainda estava rindo quando Hermione entrou no quarto.

-Mione, bom dia! Voltei. – Cumprimentou-a com a alegria induzida pela mistura e um sorriso sincero.

O suspiro, que ele não sabia se de alivio, cansaço ou desapontamento, o fez ficar momentaneamente sério.

-É boa tarde, Harry.

Diante da resposta, ele riu alto, sem nenhum motivo.

-O final de semana foi agitado, comecei mal a segunda-feira.

-Hoje é quarta. Você ficou fora dez dias, não dois.

Nessa fase do efeito, a poção filtrava qualquer sentimento que não fosse de euforia. Ao invés de se desculpar, comentou como se não se importasse:

-O tempo voa quando a gente está se divertindo.

-Para o banho, companheiro. Sua diversão deixou você fedendo.

Ron estava parado na porta. Nem ocorreu a Harry que os dois amigos deveriam estar trabalhando numa quarta-feira à tarde e não ali, tomando conta dele.

-Estamos os três juntos. Se não formos agora caçar um bruxo das trevas, temos de dar uma festa.

Riu da brincadeira sem sentido.

-Deixe ele comigo, Hermione.

-Não, não se vá, Mione! – reclamou sem perceber que a amiga saía do quarto com lágrimas escorrendo pelo rosto. – Ela se foi. Eu gosto dela, Ron. Dela e de você.

-Eu sei. E ela também. Agora vem.

-Para onde?

-Para o banho, Harry.

-Não quero. Não quero ficar sozinho no banheiro.

-Eu fico lá com você.

Harry deixou-se levar.

Ron encheu a banheira com um movimento de varinha e fez Harry entrar nela.

Sentou-se na banheira e reclamou:

-Meu rabo está dolorido.

-Transou com quem, Harry?

-Com quem? Sei lá. Um trouxa. Devia ser trouxa, ele não sabia meu nome. Ele não sabia nada de mim. – Riu como se tivesse contado a piada do século. – Eu podia ser qualquer coisa, qualquer um. Ele disse que ia cuidar de mim, mas só queria me comer. Fodeu igual um cavalo e dormiu. Mas ele não sabia. Por uma noite inteira eu estive com alguém que não sabia quem eu sou.

-Lava a cabeça.

Harry obedeceu sem perceber o tom embargado de Ron nem que o amigo despejava uma poção curativa na água do banho. Estava eufórico demais por não ter sido ninguém, além de um rabo atraente, por uma noite inteira.


Harry saiu do banheiro já vestido e comentando animado sobre quadribol. Hermione o esperava no quarto, com uma expressão carrancuda e uma bandeja que continha uma refeição leve.

Harry olhou para o esconderijo debaixo da cômoda e viu que ela o fechara. Nem a perda da droga o abalou. Estava totalmente incapaz de se preocupar ou de se chatear com alguma coisa. Abraçou Hermione.

-Não fica brava comigo. Está tudo bem. Eu estou ótimo. Você é tão linda. – Puxou Ron para o abraço. – Vocês dois são. Os melhores do mundo. Os amigos mais lindos e perfeitos do mundo todo.

Hermione fez menção de dizer alguma coisa, mas Ron interferiu:

-Obrigado, companheiro. Agora come alguma coisa.

-Não tenho fome.

-Mas foi a Mione quem fez. Come para ela ficar feliz.

Harry sorriu quase inocentemente para a amiga, mais uma vez sem ver as lágrimas em seus olhos.

-Só para você ficar feliz.

Harry pegou um sanduíche e um copo de suco de abóbora. Sentou-se na poltrona perto da janela e deu uma mordida empolgada no sanduíche.

-Viu, Mione? Por você. – falou de boca cheia.

Foi Ron quem o incentivou:

-Isso mesmo, companheiro. Come tudo.

-Ron – A voz de Mione era baixa, mas irritada -, não mima ele assim.

-Mione, ele ainda está na fase eufórica do ciclo. Nem adianta conversar com ele.

-Eu sei. Eu sei. – Hermione abraçou Ron. – Eu estou tão cansada de ver Harry assim. Ele precisa de ajuda, e nós não estamos conseguindo fazer nada.

-Lembra de como foi no St. Mungus, da última vez?

-Lembro. Oh, Merlin! O que vamos fazer com Harry?

-Ei! Eu estou aqui, sabiam? E não sou surdo.

Harry sempre detestara que falassem dele como se não estivesse presente ou não fosse capaz de entender. Normalmente se zangaria, mas sob o efeito da poção, achava tudo divertido. Ron e Mione eram tão engraçados que largou o sanduíche, que não chegara a morder novamente e o copo intocado de suco, para abraçá-los.

-Eu estou bem. Não preciso de ajuda. Estou ótimo. Nunca estive melhor.

-As poções...

-As poções são apenas para diversão. Não preciso delas. Posso parar quando quiser.

-Harry...

-Você sumiu com as que estavam ali, não sumiu? Pois é! Não estou nem preocupado. Parei, Mione. Parei com elas agora, se isso te deixa feliz. Só quero te ver feliz. Você e Ron. – Puxou o amigo mais para perto. – Vocês são o que eu preciso. Só vocês. Minha família.

Harry sorria feliz. Determinado a não usar mais a mistura de poções. Convicto na sua promessa aos amigos. Acreditando piamente na centésima promessa de largar as poções que fazia aos dois amigos. Não via o ar cansado de Mione e nem reparava na melancolia do sorriso de Ron.

-Eu tive uma idéia ótima. Vou dar uma festa. Chamar todo mundo. Mione, eu preciso de dinheiro.

Há alguns meses, depois de descobrir o uso que Harry estava fazendo das poções e os gastos descontrolados que vinha tendo, Mione conseguira que ele transferisse o controle de seu dinheiro e bens para ela. Ron recolhera tudo de valor que havia na casa, depois de perceber que Harry estava vendendo as coisas de Sirius. No início, eles lhe davam uma mesada, depois passaram a comprar o que Harry precisava. Fazia mais de um mês que Harry não tocava em um nuque de seu próprio dinheiro. Não conseguia se zangar com isso. Tinha seus meios de conseguir as poções – que afinal eram de venda liberada – e com elas estava sempre feliz demais, agitado demais para realmente perceber o quanto já caíra.

-Não, Harry. Nada de festas.

-Mas, Mione, eu preciso celebrar que parei com as poções. Vida nova. Merece celebração. Festa!

-Mione, e se a gente levasse ele naquele encontro de trouxas? Aquele que você falou, para ajudar a parar de beber.

-Eu não bebo.

-Ele teria de querer, Ron. Sem Harry admitir que é viciado e que precisa de ajuda, não adianta.

-Não sou viciado, parei com as poções. Eu já disse.

-Claro, companheiro. – Ron deu um tapinha no ombro de Harry. – Toma seu suco.

-De qualquer forma, ele precisa desintoxicar primeiro. Ele mal raciocina sob o efeito da poção.

Harry detestava ser ignorado. E seus amigos ficavam tão engraçados sérios, discutindo sobre ele, como se ele não estivesse ali ou fosse algum tipo de drogado. Harry sentia que precisava se afastar. Assim eles parariam de brigar. Sem pensar direito ou dar nenhum aviso, desaparatou com destino ao Caldeirão Furado.


O Caldeirão Furado era engraçado. Pelo menos Harry conseguia achar isso quando estava na fase certa da poção. Todo mundo vinha apertar sua mão. Metade deles lhe fazia os pedidos mais inusitados. Dinheiro, magia para curar alguma doença, até mesmo que fosse o pai de seus filhos. Harry sorria. Apertava mãos. Deixava-se abraçar, mas nem toda a euforia da poção o fazia gostar daquilo. Só tornava suportável.

Não se preocupara com a hora e acabara aparecendo no momento mais movimentado do dia. Toda aquela adoração e agito desgastava rapidamente a fase eufórica das poções. Estava ficando difícil respirar. Ainda sorrindo como um idiota, Harry saiu para a Londres trouxa e se afastou a passos rápidos do lugar. Quanto mais longe fosse do Caldeirão, menos bruxos e adoração ele encontraria, mais tempo as fases suportáveis do efeito da poção durariam, e mais tempo ele teria até precisar voltar em casa, abrir seu último esconderijo e se perder atrás das sensações toleráveis que a poção lhe dava.

O ruído da cidade o incomodava quase tanto quanto a adoração dos bruxos. Buscou refúgio no parque St. James. Gostava dali. A primeira vez que viera foi antes de começar a usar a poção, quando só queria se afastar de tudo. O nome do parque o atraiu. Depois disso, voltava sempre. Mesmo depois que começou a usar a bendita mescla de poções. Que parou de bebê-la e começou a injetá-la. De uma forma ou de outra, na segunda ou terceira fase, sempre acabava ali.

Escolheu um banco afastado. Podia sentir sua euforia diminuindo gradativamente. Sentia sua fase favorita da poção se aproximando. A fase onde não sentia. Onde podia recordar e não sentir.

Ron e Mione estavam errados. Dava sim para conversar com Harry enquanto a poção agia. Nessa fase de lucidez fria, ele assinara os papéis que protegiam seu dinheiro da sua loucura. E sua vida também. Nem ele mesmo podia imaginar o que faria em um acesso de euforia com todo esse dinheiro na mão.

Sentado ali, no final de tarde, Harry podia se ver como realmente era e não sentir nada. Via sua fragilidade, seu avesso. Não sentia nem mesmo remorso, apenas um leve desprezo. Com meticulosidade masoquista testou a fase indiferente da poção. Pensou na morte dos pais, em Sirius caindo no véu, em Mione chorando de preocupação por ele, na decepção de Molly quando descobriu das poções, em Teddy que ele não tinha mais coragem de visitar, nos inúmeros homens sem rosto que chupara ou fodera, e que deixara fodê-lo. Nada. Nem dor, nem remorso, nem desejo, nem medo, nem saudades, nem nada. Reviu Voldemort em sua mente. Nenhuma raiva. Vazio. Abençoadamente vazio.

Algumas vezes poderia ficar assim por dias. Era quando seus amigos pensavam que ele estava "limpo" das poções. Outras vezes, esse estado durava apenas alguns minutos.

Cada fase do efeito das poções tinha seus mecanismos desestabilizadores. A euforia era dissipada pela adulação, o constrangimento de inúmeras pessoas que ele não conhecia sugando sua energia, precisando dele para se sentir especiais. Agradecendo. Idolatrando-o. E pedindo mais dele. Mais sorrisos, mais esperança, mais força para carregar os problemas que elas não queriam resolver. Apropriando-se de sua vida, julgando-se donas dele, querendo torná-lo um eterno Salvador. O Escolhido. E então vinha a sensação de vazio. De Frieza.

Era só nesse estado de vazio que Harry conseguia lidar com isso tudo. Mas o vazio tinha suas armadilhas também. Ele queria ser preenchido por lembranças. Todas as lembranças de Harry. E queria torná-las dor. Até o gosto do primeiro sapo de chocolate podia se tornar uma memória dolorosa pela sensação de perda que causava.

E Harry não conseguia afastar as lembranças. No máximo, conseguia se fixar que já eram ruins. Nessas, ele podia mergulhar por horas e não sentir nada. Mas bastava um pensamento feliz, e o dementador interno que ele mesmo alimentava vinha cobrar sua cota.

A discussão recente com os amigos o lembrou da primeira vez que bebera a Poção Desinibidora. Sempre odiara falar em público. Ficar na frente de toda aquela gente, sentindo-se menor do que elas imaginavam. Assustado com tanta gratidão. Ouviu alguém comentar da poção e resolveu experimentar. Fez um discurso brilhante. E sentiu-se bem. Mas os cumprimentos e a adulação, sincera ou mentirosa que se seguiram o incomodavam. Consultou os livros que tinha em casa. Na próxima solenidade, tomou as duas poções, a Desinibidora e a Euforizante. Foi a alma da festa.

Depois disso, só ia a esses eventos depois de bebê-las. O efeito era cada vez menor e passava mais depressa, e com sua nova boa vontade em ajudar em eventos e comparecer a festas e solenidades, os convites se multiplicavam. Descobriu que aquecendo e misturando-as o efeito se potencializava. Por algum tempo bastou. Por um tempo bem curto foi o suficiente.

Foi de uma piada inocente de Dean que tirou a idéia de injetar. Deu certo. O resultado era muito mais intenso e prolongado. Pelo menos se ele conseguisse controlar os fatores externos desestabilizantes. Foi quando percebeu que o efeito era composto de um ciclo de três fases: euforia, frieza e carência. E que a abstinência também tinha três fases: vômito, crises de tremedeira e dor. Harry supunha que a dor poderia eventualmente passar ou matá-lo. Nunca teve força para testar o limite.

Os ciclos hoje pareciam incrivelmente curtos. Isso era sempre tão inconstante. Tão variável que Harry por um tempo brincou com a idéia de aumentar a dosagem.

Há alguns meses, Harry não lembrava exatamente há quantos, estava em plena fase de carência, sentindo-se sozinho e abandonado. Chamou Ron pela lareira, e seu amigo o mandara dormir que já eram duas da madrugada. Precisava ficar bem novamente e rápido. Foi quando teve a idéia de parar de brincar e resolveu realmente aumentar a dose. Aplicou um Engorgio na seringa, tornando-a cinco vezes maior.

Não chegou a aplicar a dose toda e entrou em choque. Só sobreviveu porque Ron havia comentado com Mione que achava que Harry estava bêbado, e ela resolvera conferir. Depois de alguma discussão, sua amiga arrastara o namorado para Grimmauld Place em plena madrugada. E encontrara Harry tendo convulsões no chão, com uma seringa trouxa ainda espetada no braço.

No St. Mungus, os amigos souberam pelo medibruxo que Harry tinha uma quantidade anormal de substâncias mágicas no sangue, beirando perigosamente a dose fatal.

Foram dias de longas conversas e muito constrangimento, e Harry preso na fase de frieza. Repórteres na porta do hospital, Molly chorando, medibruxos querendo aparecer na mídia e o Ministério interferindo para abafar o escândalo.

Quando sentiu a fase de carência chegando, Harry fugiu de lá, aplicou uma dose normal de poções e sentiu-se bem. De lá para cá o padrão se repetia: ele se drogava, ia a festas trouxas, boates onde pudesse se enroscar com alguém, de preferência homens. Dançava, gastava o que tivesse – ou pelo menos até Mione e Ron conseguirem cortar sua fonte de renda – depois se sentia frio e ia para algum lugar isolado. Algumas vezes até para casa. E ficava lá, pensando em tudo de ruim que já lhe acontecera na vida. Depois acontecia uma lembrança ou evento feliz e vinha a carência. Precisava de alguém o abraçando. Precisava seduzir, sentir-se desejado. Precisava ter alguém para cuidar, o que pelo menos fingisse realmente gostar dele, desejá-lo que fosse.

Então voltava às boates e bares trouxas, deixava-se levar pelo primeiro que acenasse. E se deixava usar, feliz que não soubessem que ele era o herói dos bruxos, que o quisessem apenas por ele mesmo.

Dois garotos e uma garota passaram rindo juntos. Pareciam os melhores amigos do mundo. Foi o que bastou para que as memórias dos tempos mais tranqüilos de Hogwarts voltassem. E com ela a dor, a solidão e a necessidade de um corpo quente junto ao seu. Sabia onde tinha de ir.


Entrou no pub, era um dos muitos pubs gays nas imediações de King's Cross. Sabia que enquanto a poção estivesse agindo, sua aparência abatida e as marcas de agulha em seu braço desapareciam. Sem sinais do que se tornara, estava atraente e confiante. Um predador ou uma presa. Não importava. Vestia a pele que traria um corpo quente para sua cama.

Olhou a área, pensando em escolher alguém para a noite, enquanto ainda tinha algum controle sobre si mesmo.

Seu coração disparou de um jeito estranho quando reconheceu Draco Malfoy bebendo sozinho em uma mesa afastada. Sua escolha estava feita. O que restava de seu bom senso o alertou que dali viria muita dor, que Malfoy provavelmente o rejeitaria e que ele acabaria com qualquer um que lhe pagasse uma bebida. Ignorou o medo, e aproveitando-se do efeito da Poção Desinibidora, aproximou-se sorrateiro por trás de Malfoy e se agachou junto à cadeira em que ele estava sentado.

-Olá, Malfoy.

-Potter!

Malfoy praticamente saltou do assento. Harry levantou-se e aproveitou para colar seu corpo no dele e segurá-lo pela cintura.

-O que está fazendo aqui, Potter?

-Provavelmente o mesmo que você. Não sabia que gostava desse tipo de interação com trouxas.

Malfoy estava tão obviamente chocado em ver Harry ali que nem parecia perceber o quanto seus corpos estavam juntos.

-E o que pretende fazer agora que sabe? Pedir que seus amigos publiquem isso naquela revista horrorosa?

-E por que eu faria isso? Estou aqui também, não?

-Até parece que alguém falaria algo contra o Potter-Perfeito.

-Não sou perfeito.

-Eu sei. Foi uma ironia. Seu cerebrozinho grifinório consegue assimilar o conceito?

Harry riu e atraiu o corpo de Malfoy ainda mais para perto.

-Você nunca me achou nada demais.

-Escuta aqui, Potter – Draco praticamente cuspia seu nome, exatamente como na época de escola. -, se está a fim de adoração, por que não vai se esfregar no Weasel ou em qualquer outro desses seus fãs idiotas?

-Porque eu não quero adoração. E deixa Ron e Mione fora dos nossos assuntos.

-Não temos nenhum assunto.

-Temos sim. Temos um assunto antigo pendente entre nós dois.

-Não faço idéia do que possa estar falando.

-Claro que faz.

-Você se acha mais interessante do que realmente é.

-Tem certeza?

-Admita, Potter. O fato de você ter uma paixonite enrustida por mim, não quer dizer que ela seja correspondida.

-E quem falou que sou apaixonado por você?

Malfoy corou e tentou pela primeira vez se afastar.

Harry o segurou com mais força.

-Quem agora está se achando mais interessante do que realmente é, Draco? – Harry enfatizou o nome de Malfoy.

-Me larga.

Harry riu e sussurrou no ouvido de Malfoy:

-Tesão não é paixão. E eu morro de tesão por você. Vai dizer que eu não te deixo de pau duro?

Malfoy estremeceu. Sua voz estava meio incerta quando falou:

-Mandei me largar.

Ao invés de obedecer, Harry subiu uma das mãos até as costas de Malfoy numa caricia lenta e desceu a outra para o quadril, pressionando-o contra o seu sem nenhum pudor de mostrar que estava excitado. Vendo a expressão de choque de Malfoy, provocou:

-Ou vai fazer o quê? Me azarar?

-Potter...

-Psiu! Sem escândalos. Estamos entre trouxas.

-Não faz psiu para mim.

Harry riu. Ele segurava Malfoy tão colado nele que o sonserino via-se obrigado a inclinar o rosto para trás para poderem conversar. Mesmo assim o espaço entre suas bocas era mínimo.

-O que estava bebendo? – Passou a língua entre os lábios de Malfoy. – Uísque? Hummmm o gosto fica bom na sua boca.

-O que está fazendo?

-Beijando você. – Harry roçou os lábios na boca de Malfoy, antes de realmente beijá-lo.

Uma parte remota de sua mente percebeu os braços que Malfoy mantivera pendentes ao longo do corpo estavam agora envolvendo Harry pelo pescoço. Teria sorrido, se não estivesse tão concentrado em praticamente devorar a boca de Malfoy. A boca, o rosto, o pescoço...

-O que você quer, Potter? – A voz de Malfoy soava entrecortada e meio rouca junto ao seu ouvido. – Qual a droga de plano que você tem em mente?

-O que eu quero? – Harry esfregou o quadril no de Malfoy.

-Sim. – Não dava para ter certeza se Malfoy gemera ou respondera a pergunta de Harry.

-Eu quero chupar você. – Harry segurou Malfoy pelo queixo e o encarou. – Depois quero te foder até perder a noção da realidade. E quando você estiver pronto, quero que me foda até que nenhum de nós saiba mais o próprio nome.

Malfoy arregalou os olhos por um instante, como se tivesse dificuldades de assimilar o que Harry dissera. Então pareceu entender. Entender e gostar da proposta.

-Vem. – Discretamente, Malfoy puxou Harry para fora do pub.

Entraram no beco que havia ao lado. Se o plano de Malfoy era desaparatarem dali, Harry não lhe deu tempo de executar. Mal haviam entrado no beco, e ele já empurrava o outro contra uma parede, voltando a beijá-lo e esfregar-se nele como se sua vida dependesse disso. Malfoy gemeu e Harry sentiu a mão dele agarrando seus cabelos com força. O atrito das duas ereções através do tecidos das roupas trouxas que usavam era enlouquecedor.

Harry descolou os quadris apenas o suficiente para enfiar a mão entre eles e segurar o pau de Malfoy, que gemeu:

-Merlin!

Harry desabotoou a calça de Malfoy e enfiou a mão dentro dela. Sentiu a força com que seus cabelos eram puxados quando começou a masturbar Malfoy.

-Puta que pariu.

-Desbocado.

-Cala a boca e me beija. Ahhh!!

Malfoy gemeu alto quando Harry ajoelhou-se e abocanhou seu pau.

-Oh, Merlin! Isso é bom demais. – Malfoy movia os quadris totalmente entregue.

Os gemidos incoerentes de Malfoy estimulavam Harry. Era uma espécie de afrodisíaco, cuja potência era aumentada pela fase de carência que as poções induziam. Harry simplesmente precisava ter alguém. E Malfoy gemendo seu nome e pedindo por mais em um beco escuro era o ápice de seus desejos.

Chupou, lambeu, beijou, levando Malfoy quase a ponto de gozar. Então passou a lamber e sugar os testículos do sonserino que movia os quadris e se esfregava no rosto de Harry.

Desceu as calças de Malfoy até o tornozelo. Mordeu suas coxas, lambeu e chupou seu pau e suas bolas mais uma vez. Quando Malfoy estava quase ganindo de tesão, virou-o de costas, fazendo com que apoiasse as mãos e o rosto na parede do beco e empinasse a bunda. Usou a língua para lubrificá-lo e prepará-lo. Depois os dedos, enquanto se erguia e beijava o pescoço e roçava seu quadril no traseiro de Malfoy.

-Mete logo, porra!

Harry riu satisfeito com a impaciência do outro. Abriu a própria calça, executou um feitiço lubrificante e começou a foder Malfoy lentamente.

Era estreito, quente e Malfoy gemia e se mexia junto com Harry. Logo os dois estavam se movendo mais rápido e com mais intensidade. Harry gozou primeiro. Com uma estocada firme, meteu até o fundo e deixou-se levar.

Quando sua respiração normalizou-se, começou a masturbar Malfoy, sem sair de dentro dele. Logo ouvia os gemidos do parceiro aumentarem e sentia seu gozo melar sua mão.

Continua...