Primeiramente gostaria de agradecer a todos que leram e seguiram as duas outras fics da saga: Novas Direções e Funny Girl! Espero que gostem dessa terceira parte. E em segundo lugar não poderia deixar de agradecer novamente a Hestiaa por me permitir traduzir essa fic, mas acima de tudo por escrever tamanha maravilha: Gracias! Boa leitura a todos.


A irmã mais velha

Por um tempo tudo é perfeito. Pelo menos para Amy Hudson.

Sim, definitivamente a vida lhe sorri. Tem uma mãe linda e um pai que a satisfaz muito e um par de irmãos que são muito graciosos. Serio, de verdade que eles são divertidos. Por um tempo.

Ela não se queixa. Não lhe parece justo. Afinal, ela pediu para ter dois irmãos, gêmeos. Ela recorda o dia em que disse para sua mãe que esse era seu desejo. Seguramente que isso teve algo a ver. Se tivesse sabido que as coisas seriam assim, teria preferido ter um só (agora não poderia escolher qual. Quer muito os dois. Que desastre).

Por um tempo Amy tolera. É seu trabalho, não? Ser irmã mais velha, cuidar deles e ajudar a sua mãe e... tudo isso.

Mas então as coisas mudam... muito. Mamãe já quase não tem tempo para lhe dar aulas privadas de ballet e canto, porque sempre está cansada pelo trabalho ou os bebês e papai não pode lhe ensinar (ele realmente não sabe dançar). E seus tios estão ocupados com Harry e... tudo está mudando. Ela já não é mais a única. Tem outros. Outros para os quais comprar coisas e para os quais cantar todas as noites antes de dormirem. E Amy se debate entre o amor incondicional que tem por eles e o ciúmes que a consome aos poucos.

- "Hoje tem ballet, pulga?" – lhe pergunta seu pai, enquanto coloca o casaco apressadamente.

- "Amanhã. Hoje é terça." – ela responde, remexendo o cereal que ele preparou.

Finn olha para ela um segundo, como se tateasse o terreno.

- "Te passa algo? Os meninos continuam te incomodando na escola?" – questiona, se sentando ao lado dela e dando um gole em sua taça de café.

- "Não, não me acontece nada." – ela responde, mecanicamente. "Esses meninos não sabem valorizar meu talento. Algum dia darão conta de quão mesquinhos são." – agrega, terminando seu café da manhã.

Finn sorri. É ao típico sorriso que seu pai tem em seu rosto quando ela diz esse tipo de coisa. Aparentemente, lhe recorda muito a mamãe (algo que deixa Amy muito contente, porque sua mãe é a pessoa mais incrível do mundo).

Finn pega o pincel verde e marca outro dia no quadro que tem na cozinha. Amy já nem sequer olha esse quadro. Seus pais tem uma aposta ali: cada um marca uma data em que acham que os bebês diriam sua primeira palavra e brigam por isso todo o tempo (Ok, não brigam... discutem. O que for).

- "Bom. Vá se despedir da mamãe, para irmos." – ordena seu pai.

Amy obedece, ficando de pé com destreza e subindo as escadas até o quarto de seus pais. Quando abre a porta, a ira a consome: sua mãe está recostada na cama, lendo algo em seu computador, enquanto seus irmãos dormem ao lado dela. Ela também quer estar ali. Ela quer tirar o horrível uniforme da escola e ficar na cama com a mamãe o dia todo, comendo biscoitos e falando de... de coisas.

- "Já vai carinho?" – pergunta sua mãe com um sussurro, estendendo os braços para que ela se aproximasse.

- "Sim, vim me despedir." – ela responde, se sentando na beirada da cama.

Rachel a rodeia com seus braços, beijando a testa e ela se aperta um pouco a sua mãe, respirando seu doce perfume, cedendo diante suas carícias.

- "Está bem?" – pergunta, quando ela demora um pouco a se soltar. Amy só assente com a cabeça. "Nos vemos mais tarde então. Te amo!" – diz, dando um beijo sonoro na bochecha.

Amy beija cada um de seus irmãos na testa e se retira do quarto, tentando que seu coração não se rompesse em mil pedaços.

- "No sábado podemos fazer um piquenique no parque, o que acha?" – lhe propõe seu pai, enquanto ambos sobem na caminhonete.

Amy balança os ombros, sem fazer muita ilusão. Fica em silencio o resto do caminho até a escola, mesmo que ele cantarolasse um par de suas músicas preferidas, convidando ela a se unir.

- "Pulga?" – chama ela, antes de que ela possa descer do carro. Amy se vira em seu assento para olha-lo e seu pai segura ma de suas mãos. "Sei que ultimamente as coisas estão mudando e quero que saiba que... mamãe e eu estamos muito orgulhosos de você. Está se comportando tão bem e ajuda ela tanto com os bebês... sério, Amy, realmente nos faz sentir orgulhosos." – diz para ela, arrumando a jaqueta do uniforme dela.

Amy tenta não chorar. Engole saliva para liberar um nó que se forma em sua garganta e só assente, dando um beijo na bochecha de seu pai antes de descer do carro.

Pensa que as vezes deve se conformar com esse tipo de coisa.

-oo-

- "O que faz?" – pergunta sua mãe mais tarde naquele mesmo dia, enquanto ela brinca com a casa de bonecas que o avô Burt e a avó Carole lhe deram.

- "Nada." – responde.

- "Vamos então." – Rachel lhe diz, estendendo uma mão.

Amy franze a testa.

- "Aonde?" – questiona segurando a mão dela.

- "Oh, já verá."

-oo-

- "Quer me contar o que te acontece?" – questiona Rachel, olhando para ela por sobre o menu do pequeno café que estavam sentadas.

Amy suspira.

- "Por que todo mundo acha que me acontece algo?" – ela responde, cruzando os braços e olhando pela janela o parque que se encontrava em frente.

Sua mãe coloca o menu novamente sobre a mesa e segura uma das mãos dela. São suaves e sempre cheiram a coco e Amy adora. Lhe encanta quando lhe arrumam o cabelo ou lhe acaricia a bochecha ou... ou simplesmente seguram as suas mãos. As vezes Amy custa a recordar como era sua vida antes de que Rachel se convertesse em sua mãe.

Ainda agora, quando não passam tanto tempo juntas como a menina gostaria, Amy se pergunta como seria se tirasse sua mãe novamente. Não é que pense muito nisso. É muito triste.

Sua mãe fica em silencio, esperando outra resposta e Amy não olha nos olhos dela. Não pode. Se olhar para ela vai dizer a verdade, vai confessar que acorda algumas manhãs sonhando que os bebês já não estão e que ela volta a ser a rainha da casa. Se sente tão envergonhada de si mesma que é como se as doces mãos de sua mãe estivessem queimando as dela, então ela se solta dissimuladamente e coloca as próprias mãos no colo.

- "Olha Amy..." – continua Rachel, suspirando e a menina rompe o coração quando vê a expressão triste nos olhos de sua mãe. "Papai e eu sabemos que está crescendo e que... que as coisas estão mudando, sobretudo com a chegada dos bebês e meu novo trabalho. Mas deve saber que... tanto para ele como para mim não tem nada mais importante no mundo do que vocês. Você é nossa filha e sempre será. Sempre. Mesmo se tiver... dois, três ou cem irmãos. Está bem?" – finaliza, enquanto o garçom traz as duas taças de chocolate quente e os biscoitos que pediram.

Amy contem as lágrimas, tomando um gole do chocolate para tirar o nó da garganta. Como sua mãe faz para saber, sempre, exatamente o que acontece com ela?

- "Posso ir com você ao teatro essa noite?" – pergunta.

Rachel sorri.

- "Claro que sim, carinho." – responde, mais animada, segurando a mão dela.

Amy finge um sorriso, só porque sua mãe merece.

-oo-

Não deveria estar escutando, mas não pode evitar. Sobretudo quando escuta seu nome.

- "Não me disse nada. Nem uma palavra." – sussurra sua mãe, com um tom triste.

- "Acha que os meninos estão incomodando ela de novo?" – responde seu pai, no mesmo tom.

- "Não, não acho que seja isso. Ela teria me dito."

- "E talvez... talvez tenha algum menino...?"

- "Não... não, disso também conversamos."

- "Talvez só devemos esperar um pouco mais." – ele propõe e sua mãe suspira.

- "Sim. Não gosto de ver ela assim, Finn."

- "Eu sei carinho, eu tão pouco gosto, mas... devemos respeitar o espaço dela."

- "Tem razão." – concede.

As vezes, Amy se pergunta o que fez para merecer os pais que tem.

-oo-

- "Não vai dizer nada para mim também sobre o que te acontece?" – questiona o tio Kurt, uma semana mais tarde, enquanto ambos arrumam a decoração para a festa de Natal do dia seguinte, com a ajuda de Harry (ok, Harry não ajuda muito, mas... está ali).

Geralmente eles voltam para Lima para essa época do ano, mas Rachel e Kurt devem estar no teatro e Finn e Blaine tem um jogo, então os avós virão visitá-los e terão um par de festas ali em sua casa.

Amy está muito entusiasmada: passarão juntos as noites de Hannukah e Natal e quando os avós vem tem mais gente na casa e saem para se divertir sempre. Talvez possa convencer o avô Burt de montar um boneco de neve ou algo assim.

Sim, Amy realmente não quer falar com o tio Kurt justamente agora que está começando a se animar um pouco mais. Porém ele não parece opinar o mesmo.

- "Sério Amy... seus pais estão preocupados. Talvez se falar com eles..."

- "Não posso falar disso com eles..." – ela diz, negando com a cabeça, enquanto coloca purpurina nas pequenas estrelas que ambos cortaram.

Não quer falar, mas não pode evitar. É quase como se... se já não pudesse conter as palavras. Se alegra que isso aconteça com o tio Kurt, já que não teria sido conveniente que acontecesse com sua mãe ou seu pai.

Suspira antes de continuar e seu tio deixa o que está fazendo para prestar atenção nela.

- "Se envergonhariam de mim. Não posso."

- "Carinho, acredite em mim. Nada do que você fizer fará com que seus pais deixem de te amar."

- "Eu sei, mas... não posso dizer para eles. Eu... estou com ciúmes, tio. Não posso tolerar." – Kurt solta uma gargalhada e Amy acha que talvez foi muito dramática (de todas formas ela não acha muita graça).

- "Eu sinto muito Amy, mas é que... isso é o mais natural do mundo!"

- "Mas não gosto de me sentir assim! Eu amo meus irmãos, amo muito. Mas as vezes..."

- "As vezes quer que levem eles para longe." – ele finaliza, se recompondo e dando uma olhada cúmplice para Amy.

Amy concorda e pouco a pouco esse peso que sentia em seu peito por um tempo vai se aliviando. O tio Kurt olha para ela com determinação por um segundo antes de falar.

- "Quer que eu te conte algo que não contei nunca para ninguém?" – murmura, se aproximando mais. Amy assente. "Eu acostumava a ter muitos ciúmes do seu pai. Muitíssimos." – confessa e a menina abre os olhos em sinal de surpresa.

- "Mas... por que? Papai e você são melhores amigos!"

- "Somos agora, mas não fomos sempre. Veja... quando o avô Burt e a avó Carole se conheceram eu fiquei muito feliz. Tínhamos uma família. Ela era muito doce comigo, como a mãe que eu havia perdido e passávamos muito tempo juntos. Começamos a ir as compras e ao cinema, ou sentávamos para tomar chá e conversar... e eu adorava. E então... Finn começou a passar tempo com o avô Burt. A fazer coisas com ele que eu não fazia com meu pai. E isso Amy, isso me incomodava. Era como se queimassem minhas entranhas cada vez que via eles assistindo uma partida de basquete na televisão ou conversando sobre as corridas de automóveis. Morria de ciúmes."

- "E como... como superou?"

- "Entendendo que nas famílias deve compartilhar tudo. O espaço, os brinquedos, o tempo... e as vezes o carinho de nossos pais. Eu sofri muito, não vou mentir, mas então me dei conta de que esse era o preço que devia pagar para ter uma mãe tão incrível como a Carole e um irmão como Finn, que se preocupava por mim, que me defendia e que estava sempre comigo. Tem um irmão Amy... é uma das melhores coisas que pode acontecer. Te dá a certeza de que nunca estará só. E você tem a sorte de ter dois. E sim, as vezes é difícil de ter a ideia de que não está mais sozinha. Mas... por acaso isso não é mais positivo do que negativo?" – finaliza, voltando a tarefa de colar as estrelas no teto.

Amy sabe que o tio Kurt não espera que ela responde essa pergunta, mas que pretende que ela reflita sobre isso. Então ela também volta a suas tarefas, sem abrir a boca e passa o resto da tarde pensando nas palavras dele.

-oo-

Amy acorda na manhã de Natal se sentindo como não se sentia a muito tempo. A casa cheira a biscoitos e a chocolate quente. Ela calça suas pantufas ara descer para a cozinha, pulando os degraus de dois em dois.

- "Tranquila pulga! Ninguém vai roubar seus biscoitos." – diz seu pai, bagunçando o cabelo dela um pouco quando ela entra na sala, onde todos estão esperando de pijamas para começar a troca de presentes.

Se sentam nos sofás para comer biscoitos e conversar, enquanto o tio Kurt e a mamãe repartem os presentes para poderem começar a abrir.

- "CHRIS! Para de morder esse pacote, esse é da Amy!" – o repreende sua mãe, já que seu irmão está comendo o brilhante embrulho rosa de uma pequena caixa.

Chris olha para ela por um momento, como se estivesse a chorar e Amy tem que conter uma bufada (sério, nem sequer pode ter uma manhã de Natal tranquila, sem que seus irmãos arruínem?).

Porém Chris não chora, mas faz algo muito estranho: fica de pé, tropeçando um pouco e dá um par de passos até onde ela está sentada na almofada. Quando chega ao lado dela cai, entregando a pequena caixa para sua irmã. Amy abre os olhos e toda a sala fica em silencio. Chris olha para ela por um segundo e Amy acha que está pedindo perdão.

- "Amy." – diz Chris, forte e claro, estendendo sua mão para tocar uma das dela.

- "Amy." – repete Funny no mesmo tom, também caminhando aos tropeços até ela e se sentando ao lado.

- "O que disseram?" – ela pergunta para eles, sem entender.

- "Amy." – repetem os dois.

Amy olha para sua mãe, que tem ambas mãos na boca e os olhos cheios de lágrimas.

- "É... é a primeira vez que falam." – murmura seu pai, olhando para seus filhos com a mesma expressão de ternura que sua esposa tem nos olhos.

- "Nem 'papai' e nem 'mamae'. 'Amy'." – diz o tio Kurt para ela, a olhando fixamente para e ela sabe a que se refere.

Amy acaricia o liso cabelo de Chris e dá um beijo na bochecha de Funny.

- "Obrigada." – diz para eles e o resto dos mais velhos solta uma gargalhada.

- "Amy!" – repete Funny, mostrando o elefante de pelúcia que acabam de lhe dar.

- "É muito lindo, Fan. É muito lindo." – ela murmura, tentando não chorar.

Seu pai busca a câmera de vídeo e sua mãe abraça e beija eles um milhão de vezes (Amy não se queixa nem um pouco). A avó Carole dana a chorar e Harry começa a gritar 'Amy, Amy, Amy' porque acha que é algum tipo de jogo ou algo assim.

Amy nem sequer pensa em seus presentes ou nos biscoitos ou no boneco de neve. Nunca havia se sentido tão estúpida como agora, quando se dá conta de que, realmente, ter dois irmãos é a melhor coisa do universo. Nunca se sentiu tão estúpida e ao mesmo tempo nunca se sentiu tão feliz.

-oo-

- "Mamãe?" – diz mais tarde, enquanto ambas se sentam com seu pai no grande sofá da sala.

- "Sim?" – ela pergunta, a abraçando com mais força.

- "Se... se quiserem ter mais filhos... por mim está bem. Eu posso manejar." – responde, olhando para o pequeno cercado em que seus irmãos dormiam.

Seus pais se olham por um momento e Amy adora isso. A forma em que seus pais se olham. São como esses... esses casais de filmes.

- "Obrigada." – murmura seu pai, abraçando as duas e beijando ela na bochecha.

Ela adormece essa noite com a impressão de que lhe custará muito superar esse Natal.

Pelo menos para ela.


OBS. 1: História original escrita por Hestiaa na fanfic PEQUEÑAS DELICIAS DE LA VIDA CONYUGAL ( s/7403289/1/Pequenas-Delicias-de-la-Vida-Conyugal)