Supernatural? Que Eric Kripke o quê... SPN é nosso o/
Spoiler: 5.14
"E eis que vi a Fome montada num corcel negro
e ele entrará na terra da fartura
e grande será a fome do cavaleiro.
Pois ele é a Fome."
Fome'
Por Mells Evans
Você nunca se perguntou? Como poderia andar em minha presença?
Sim, eu vejo. O profundo e obscuro nada que você tem aí, Dean.
Não dá para encher, não é?
O líquido acre passou por sua traquéia como centenas de agulhas, o nó da garganta estava mais apertado do que nunca, as lágrimas estéreis teimavam em saltar de seus olhos enquanto ele tentava se concentrar apenas no álcool que lhe invadia as entranhas. Os gritos de dor ainda estavam lá, lá dentro. Gritando o seu nome. Sammy – aquele que já nem precisava mais dizer que era seu – gritava o seu nome, invadido por aquela sede maldita. Mas não era isso que lhe doía, não era isso que corroia sua alma. Eram aquelas palavras que simplesmente teimavam em dançar diante de seus olhos. Aquelas palavras que ele nunca aceitaria que fosse verdade, porque não era. Simplesmente não era.
Não dá para encher com comida, bebida ou mesmo sexo, não é Dean?
Você pode mentir para o seu irmão, mentir para si mesmo, mas não para mim.
Eu posso ver dentro de você. Eu posso ver o quão quebrado você é. O quão você é derrotado. Você não pode vencer e você sabe.
Mas você continua lutando, vivendo sem certeza.
Dean sabia que não podia lograr Sam (pelo menos não por muito tempo) e nem a si mesmo. Mas afinal, ele não estava enganando ninguém, ele apenas queria um rumo, um norte para os seus desejos. Ele comia, bebia, respirava, fazia sexo – com Sam ou não, ele tentava não pensar nisso – e sabia que as palavras daquele cavaleiro, daquele velho caquético que se ensoberbecera diante de si, não podiam ser verdadeiras, não podiam passar de uma afirmação hipócrita.
Dean Winchester não lutava com monstros, criaturas noturnas, demônios ou mesmo anjos. Ele lutava consigo mesmo. Lutava por uma vida com Sammy, lutava por uma família que há décadas não existia mais, mas ele estava lá ao lado de Samuel, seu pequeno Samuel, para o que desse e viesse, porque ele queria viver, porque ele queria sentir verdadeiramente seu sangue correr em suas veias, respirar o ar em seus pulmões e ter uma vida – dar a vida que seu irmão sempre quis.
Não está com fome, Dean, porque por dentro você já está morto.
O mais velho dos irmãos Winchester sabia que algo de errado estava lhe acometendo por dentro, embora não quisesse atentar para aquela verdade-mentira diante de seus olhos, para a verdade que escorregava por entre os seus dedos falhos e – infelizmente – humanos, capazes de fazer absolutamente nada do que Deus já havia permitido. Mas ele não queria acreditar naquilo, ele não era capaz de aceitar. Como ele poderia não estar vivo se sua vida era Sam? Como ele poderia ser apenas uma casca ambulante que servia de recipiente apenas para um anjo egoísta, se o que ele sentia toda noite em cima de alguma cama de hotel – com Sam, é claro – era tão especial, tão quente, tão apertado, tão Sammy? Ele sentia suas necessidades (embora elas se resumissem apenas em uma única pessoa e de seu próprio sangue), tinha sua vida. Mesmo que não fosse a mais perfeita – ou normal – do mundo.
Ele não estava morto, tinha plena consciência disso.
Ele estava com fome. Fome de Sam.
Fim.
Eu adoraria ter gostado disso aqui, mas sem sucesso... Reviews?
