The Morning After

Um devaneio de Christine Waters

" Trancado de encontro à guerra outra vez

Hora de arrepiar outra vez no bar

Nunca apreenda para se surpreender nas mentes

Assim eu apenas durmo... durmo... durmo...

Por favor não

Me acorde na manhã seguinte

Me acorde na manhã seguinte"

( The Morning After – Linkin Park)

Sua dor de cabeça piorava a cada instante.

Seus cabelos castanhos se espalhavam pelo tapete fofo onde se encontrava. Estavam úmidos, talvez pelo calor sufocante da sala. Aquele ambiente nem poderia ser considerado uma sala, pensando bem. Não havia cadeiras, sofá, mesas, nada. Apenas aquele tapete cor de vinho, macio e sedoso como o pecado original. E aquela lareira de mármore... parecia mesmo cara. Ficara acesa a noite toda, apagando-se, como por encanto, no amanhecer, assim que os primeiros raios de sol invadiram o ambiente. De suas cinzas agora exalavam uma fumaça perolada... linda, mas terrivelmente enjoante. A garota torceu o nariz. Não sabia como havia agüentado aquele cheiro a noite toda.

Seus olhos verdes, cor do mar em certas regiões da Nova Inglaterra, olhavam diretamente para o teto da sala. Teto que já havia sido da cor de seus olhos, mas agora desbotava lindamente... tristemente... ficando numa cor cinzenta deprimente. A cor da sua alma naqueles tempos de guerra.

A Segunda Grande Guerra estava ficando violenta... na base de puros e simples duelos entre os Comensais e os Aurores. Não era mais uma coisa perspicaz, inteligente... era bruta. Era sangue. Era dor. Era morte. Uma guerra perdida para o Lorde das Trevas.

Morte... a palavra sempre a assustara. Desde criança até ali. Nunca contara para ninguém de seu medo. Um temor tão comum, mas desde criança haviam lhe ensinado que puros-sangues não temiam nada. Não tinham medo. Ela discordava, claro. Mas suas opiniões sempre eram engolidas garganta abaixo. Garota, puro-sangue, escorpiana, sonserina. Tudo isso colaborava para o seu silêncio.

Silêncio. Medo. Uma combinação que nunca deu certo. Quem via de fora não acreditava, mas ela era sensível como um copo de cristal ao mínimo toque. Todos os dias, ela lia sobre os massacres, as tragédias... seu espírito ficava abalado. Era escorpiana demais. Sensível demais. " Escorpião... profundidade e intensidade..." lembrava-se do tom místico da professora Sibila ecoando pela sala de aula. Merlin, como ela era estranha! Nunca gostara muito de horóscopo... sempre achou que eles dividiam as pessoas em grupos de comportamento. Acreditava que cada pessoa era única. Mas realmente achava que as descrições batiam. Profundidade... Intensidade...

Ela não agüentava. De noite, chorava, chorava e chorava, arrasada por uma dor que nem era dela. Lembrava-se da mãe ninando-a quando tinha pesadelos... perto do pai ela nunca faria isso, mas como ele quase nunca estava em casa, ela se consolava em Emily freqüentemente. Ouvia sua mãe balançando-a, abraçando-a, chamando carinhosamente por ela...

Ela não gostava do nome. Na verdade, odiava o nome. Seu nome era esquisito. Da mitologia grega, como tantos outros nomes bruxos. " O nome de uma rainha... é honroso, querida. Muito honroso. " lembrava-a Emily, os olhos negros piscando amorosamente para ela, enquanto a preparava para dormir. " Sim, uma rainha que chifrou o marido com um touro... Muito honroso mesmo.", ela costumava responder em mente, sarcasticamente. Nunca falava, claro.

Nunca ia entender como a mãe havia lhe dado um nome estranho daqueles. E como o pai havia concordado.

Um movimento brusco ao seu lado quebrou a linha de seus pensamentos e fez ela desviar os olhos do teto. Olhou para a garota ao seu lado. Uma razão para não ter desviado os olhos do teto durante horas foi para não encarar os olhos cor de mel da grifinória. E assumir a verdade.

Havia passado a noite com uma garota. Dormido com ela, trocado carícias.

Devia sentir nojo.

Mas o que lembrava... podia ser veneno, mas tinha o gosto doce do paraíso.

Hermione Granger sentou-se rapidamente, tentando cobrir seu corpo despido com alguma coisa, mas suas roupas, assim como a da outra garota, haviam sido jogadas para o outro lado da sala. Tentou se proteger da melhor forma que podia, com as mãos. Não adiantava quase nada, as palmas mal conseguiam cobrir os seios. Ao seu lado, a sonserina mal se mexeu. Não ia adiantar de nada fazer papel ridículo. Sua cabeça latejou forte. Maldita dor de cabeça.

Os cabelos cacheados de Hermione estavam completamente despenteados. Também estavam úmidos pelo calor da sala. Suas rosto estava corado. Seus olhos estavam arregalados. E sua voz não passava de um sussurro incrédulo quando chamou a outra garota, igualmente nua:

"--- Par...Parkinson?"