A dor era indescritível. Sua pele queimava como se tivesse atravessado por mil sóis, na verdade quase não tinha mais pele. Sentia a famosa dor dos membros fantasmas, queria movimentar a perna e o braço mas eles não estavam mais lá. Não sabia quantas vezes já tinha desmaiado de dor e acordado de repente sentindo mais dor ainda.

Luke percebia as coisas de forma muito vaga. Sabia que tinha sido resgatado. Sabia que estava deitado numa maca e havia robôs e máquinas tentando mantê-lo vivo. Ele não queria isso. Queria que a dor acabasse. "Matem-me!", pensou, "Matem-me!". Não conseguia pronunciar as palavras, mal podia respirar. Mas aquilo não ia acabar nem tão cedo.

Havia uma luz muito forte na sua frente. "É agora. É a morte.". Então alguma coisa escura surgiu entre ele e a liberdade. Enquanto ela se aproximava percebeu que era uma máscara. Não tinha como fugir dela, era sua pequena prisão. Quando a máscara fechou-se em seu rosto deformado e ele repirou por ela pela primeira vez, viu que era tarde demais.

Sentiu a maca erguer-se e ao ficar na vertical Luke ficou de pé com suas pernas artificiais. Na verdade, ele sentia que tudo nele era artificial.

-Lorde Vader... pode me ouvir?- disse a voz ranhosa de Palpatine ao seu lado.- Lorde Vader, pode me ouvir? - repetiu.

-Sim, mestre.- disse uma voz que não mais soava como a dele, mas Luke sabia que era.- Onde está Padmé?

Olhou bem para Palpatine. Não via mais as coisas de forma nítida, estava tudo encoberto por uma luz avermelhada. Mas ainda assim conseguia ver o rosto receioso do seu mestre.

-Ela está a salvo?- tornou a perguntar.- Ela está bem?

Padmé era a única coisa verdadeira que ele ainda tinha. A única coisa de carne e osso que ainda fazia parte dele.

-Parece que... na sua ira... você a matou.- respondeu Palpatine.

-Eu... eu não poderia... ela estava viva! Eu senti!

"É mentira", pensou, "Mas por que meu mestre mentiria? Padmé... está...". Sua ira preencheu todos os espaços. Do seu traje. Do lugar onde estava. Da galáxia. Livrou suas mãos e pés das amarras da maca. Andou pela primeira vez como Sith. Não era como imaginou que seria. Era para ser um momento glorioso, com Padmé ao seu lado. Viva. E...

"Não!"

Foi só o que conseguiu pensar. Sem seu corpo, sua mãe, Qui-Gon Jinn, Obi-Wan, Padmé... ele estava morto. Seu mestre era tudo que ele tinha agora. Aquele era o nascimento de Darth Vader. E o funeral de Anakin Skywalker.

ele traiu e matou o seu pai...

Seu pai? Sim, poderoso Jedi ele era.

Luke.

eu não quero perdê-lo como perdi Vader.

Ela era triste... linda... mas triste.

Você estava certo sobre mim, Luke. Diga a sua irmã...

Luke!

Luke Skywalker acordou com um salto, sua mão foi em direção ao sabre de luz até perceber que não havia motivo para aquilo tudo. Estava encharcado de suor e repirava ofegante. Levantou-se e foi pegar uma jarra de água para lavar seu rosto. Achuva caía forte lá fora. "Esse foi diferente.", pensou. Geralmente sonhava com seu pai lutando com Obi-Wan ou via sua avó morrer. Era a primeira vez que vira ele se tornando Darth Vader, também era a primeira que ele dizia o nome de sua mãe.

A Força o fazia sentir tudo em dobro. A dor era insuportável. Sentir todos aqueles pensamentos odiosos que seu pai já teve... gostaria de sonhar com um momento agradável. Sua única lembrança boa com o pai foi justamente durante sua morte. Seu espírito estava agora tendo um merecido descanso e ele nunca mais o viu.

Gostaria de sonhar com sua mãe também. Nunca vira seu rosto, nem sabia seu nome até agora. "Padmé.", sussurrou. Soava acalentador, sentiu-se mais relaxado ao pronunciá-lo. Podia até ouvir a voz do seu mestre Yoda agora. "Concentrar-se você deve! Afastar esses pensamentos inúteis é preciso!". Sorriu. Yoda nunca teve paciência pra ele...

Sim, ele sabia que deveria ir atrás de Jedi e transmitir os ensinamentos da Força. Sabia que os Sith continuavam lá fora. Mas era impossível não pensar em seu pai. Sua família. Leia entenderia, pensou, mas não posso vê-la agora. Tenho trabalho a fazer.

Leia era sua única parente viva. Quer dizer, parente de sangue ("Será que ela e o Han já se casaram?"). Mas tinham caminhos diferente a trilhar, por ora. Ela se lembrava de sua mãe. Arrependia-se de não ter perguntado mais coisas quando teve a chance. Suas costas doíam de ter que ficar sentado o tempo todo. Outra coisa que se arrependia: Ter voltado para Dagobah.

Bem, mais ou menos. Quer dizer, ele precisava. As coisas de Yoda ainda estavam lá. Talvez achasse alguma coisa relevante... mas até agora nada. A casa dele sempre fora pequena e agora estava ainda pior, Luke crescia a cada ano que passava. Não era muita coisa, mas era o suficiente. Às vezes, quando podia sair via seu reflexo na água suja do pântano, e percebia um projeto de barba se formando em seu rosto. "Ah, agora que sou Jedi você me aparece!", falava sozinho, "Cadê você quando eu queria impressionar as meninas de Tatooine?". Se bem que... podia ser só a sujeira do lago...

Luke não sabia há quanto tempo estava lá, mas sabia que não podia ficar para sempre. Yoda lhe disse para passar seu conhecimento, mas por onde começar? Então, ele decidiu começar por onde tudo sempre começa: em Tatooine.

Cada dia ele reunia mais coragem para abandonar o seu antigo lugar de treinamento e voltar ao que outrora fora seu lar.

-Ai!- exclamou quando um bicho lhe mordeu.

Tatooine estava ficando bastante atraente...


-Fico feliz por ter corrido tudo bem.- disse Lando Calrissian.- Os bespinianos sempre foram bem receptivos a Nova República.

-Exatamente.- respondeu Leia séria andando ao seu lado. Lando franziu a testa pra ela.

-Algum problema?

-Eu só acho que estamos perdendo tempo. A Nova República tem pouquíssimos adeptos, para ela se espalhar rapidamente precisamos ir para os planetas que não confiam ou não conhecem a Aliança. Se nos demorarmos muito, é possível que o Império retorne.

Ela já dissera isso várias vezes nas reuniões da Aliança, mas não foi ouvida. Para convencer o Senado de que a Nova República é a melhor opção para a Galáxia, a Aliança Rebelde precisou enviar representantes para diversos planetas. Leia estava nessa "turnê" há alguns meses. Como ela é única pessoa que esteve na Batalha de Endor que tem alguma experiência em situações diplomáticas, a princesa achava melhor ser enviada aos planetas mais remotos e hostis pois iria inspirar mais confiança. Ao invés disso, lhe deram Bespin.

-Leia, você sabe que alguns planetas não confiam em humanos, sua presença lá não seria bem recebida.

-Sim, eu sei que Bespin tem uma população maior de humanos. Mas a Nova República foi criada e liderada por humanos, se esse planetas não confiarem em nós estamos todos perdidos.

-Mas a Nova República não é composta apenas por humanos. Acalme-se, vai dar tudo certo.

Leia bufou. Se tinha uma coisa que odiava era que mandassem ela "se acalmar". Estava perfeitamente calma, a questão é que homens não gostam de discutir com mulheres então sempre acham um jeito de tratá-las como malucas para que ninguém as leve a sério. Leia estava acostumada com esse tipo de coisa, mas uma pequena parte dela ainda sentia falta da ação e das batalhas. Lá ninguém a mandava "se acalmar", todos se uniam para a luta.

Suspirou. Sentia falta de Alderaan também. Era o lugar mais pacífico em que já estivera, uma oposição ao seu "eu" agitado, quando era princesa e fazia viajens como aquela chegava um momento em que precisava voltar para Alderaan e recuperar seu espírito. Achava que aquele era um desses momentos, mas não havia mais Alderaan para voltar.

-General.- chamou um dos soldados de Lando quando os dois saíram da casa do senador.

-Sim?

-Acabamos de receber uma mensagem da Aliança, a princesa deve voltar imediatamente para Coruscant. É um assunto urgente.

-Voltar?! Eu mal saí de lá.- protestou Leia. O soldado se encolheu. Ela teve que se segurar para não revirar os olhos. Não gostava que a tratassem com grosseria, mas também não suportava quando a endeusavam/temiam. O único homem que a via como ser humano estava a vários anos-luz de distância, mas não queria pensar nesse assunto agora.

-Do que se trata?- perguntou Lando.

-Não fomos informados. A mensagem dizia que era um assunto a ser tratado apenas com a princesa Leia.

-Pode ser uma armadilha, sabia?- disse Leia sem paciência. Estava cercada de idiotas.

-Nossa fonte é segura.

Ele virou-se e apontou para uma nave. Na frente dela estava R2-D2.

-R2!- exclamou Leia surpresa.

-Muito bem, a princesa irá agora mesmo.- delcarou Lando imponente.

-Com licença, eu não sou uma mercadoria, Lando. Ouvirei a mensagem primeiro.

E sem olhar para os dois, Leia andou em direção a R2 que a recebeu com seus apitos regulares.

-Sim, R2, eu também senti sua falta.- respondeu a princesa com um sorriso.- Transmita a mensagem para mim.

Um holograma do Comandante Ackbar surgiu na sua frente.

-Essa mensagem é de vital importância e deverá ser destruída o mais cedo possível.- ele dizia.- Princesa Leia, teremos que interromper sua viagem e trazê-la de volta à Coruscant imediatamente. Infelizmente não posso revelar o motivo nessa gravação pois ela pode chegar a outros ouvidos que não os seus, mas por favor venha rápido. A Nova República depende disso.

A mensagem acabava aí. Leia ficou espantada por alguns segundos, mas depois seu rosto revelou determinação.

-Alteza.- outro soldado disse cauteloso parando ao seu lado.

-Leve-me até Coruscant.

-Sim, senhora.

Ela entrou na nave com R2-D2 a seguindo. Não se despediu de Lando. Algo a dizia que já sabia do que se tratava, mas rezou para que não fosse o que estava pensando.