Ele sabia dos pontos fracos dela depois daquelas duas semanas observando seu alvo e foi fácil imobilizá-la. Tudo bem, ele admitia, não tão fácil assim. Era difícil se concentrar no modo de luta dela e nas suas habilidades quando o corpo dela chamava sua atenção, ainda mais num vestido curto, justo e com um belo decote. Era assim que ela atraía suas vítimas e as matava? Mas Clint Barton não estava ali pra seduzir aquela mulher ou ser seduzido, mas pra matá-la e ele conseguiu se concentrar.
Natasha ficou imaginando há quanto tempo ele devia estar perseguindo ela, pra saber de suas técnicas e movimentos de luta. E ficou impressionada que ele não tivesse prestado mais atenção em seu corpo do que em seu estilo de luta, como fazia a maioria dos homens. Ele era duro na queda, então.
Clint estava em cima dela. Natasha estava de bruços no chão com as mãos presas atrás de seu corpo pela mão forte do agente.
- Você sabe que eu estava observando. Sabe que meu objetivo é matá-la e agora posso ver porque te acham um perigo, mulher.
- Faça logo o que tem que fazer. - ela respondeu grosseiramente.
Ela queria acabar logo com isso. Nunca tinha tempo a perder e, de qualquer forma, sua vida não valia muita coisa. Só umas dívidas não pagas e algumas ameaças. Talvez fosse melhor que ela morresse. Talvez assim ela deixasse seu lado obscuro, seu lado que matava por dinheiro e dívidas e que era cruel e frio.
- Eu acho que não pretendo matá-la ainda. - ele respondeu, calmamente.
- Ah, você é mais um desses loucos que querem prazer antes de matar sua vítima. Eu que sou a Viúva Negra, não você, não se esqueça.
Ele levantou uma das sobrancelhas e abriu um sorriso, mas ela não podia vê-lo.
- Já fez isso, agente Romanoff? Quer dizer, quando alguém lhe pediu?
Ela não se impressionava com o fato de que ele sabia seu nome, mas se impressionou com a pergunta.
- Não.
Ele não conteve um riso e ela achava que esse agente sentado em cima dela era um louco. Agora estava imaginando como poderia fazer pra sair dali, antes que ele resolvesse de fato fazer alguma coisa com ela sem seu consentimento.
- Não pretendo fazer nada com você. - ele deu uma pausa. - Que você não queira. Agora, escute. - seu tom passou a ser sério. - Você é um perigo pra minha agência, por isso fui mandado pra matá-la. Mas desobedecerei e farei uma proposta. Você trabalha comigo e eu te deixo viva.
As mãos dele relaxaram, mas continuaram segurando o pulso dela.
- Por que você ia querer uma parceira de trabalho como eu? Sou uma assassina.
- Eu também, agente Romanoff.
Ela não tinha nada a perder. Ele não parecia mal, pervertido ou louco como os caras para quem ela trabalhava. Mas seria mais uma dívida. Com ele, por tirá-la dessa vida que odiava e na pátria que a traíra, bem, ele provavelmente a tiraria dali, afinal ele tinha sotaque americano e com certeza não era da Rússia.
Clint deu uns minutos pra ela pensar. Mas com a vida que ela tinha e ele vinha observando, achava que tinha ganhado uma parceira e uma agente pra SHIELD. Isso era bom, ele não gostava de trabalhar sozinho, mas depois que sua antiga parceira saiu do cargo, ele não tinha achado ninguém para ocupá-lo. Ninguém que trabalhasse em sintonia com ele. Mas desde que viu Natasha Romanoff tinha pensado nessa possibilidade. Ela era uma ótima opção.
- Eu topo. Mas eles vão vir atrás de mim. Vão me matar. - ela falava num tom sombrio.
- Sou EU quem vai matá-los. - Clint respondeu no mesmo tom e se levantou, soltando os pulsos dela.
Ela se levantou, ficou de frente pra ele e esfregou os pulsos. Pela primeira vez ela o observava atentamente. Flechas pendurados nas costas com um arco. Um arqueiro. Os músculos do braço - e do resto do corpo - definidos. Nada mal. Ele estendeu a mão e ela apertou.
- Agente Clint Barton ou Gavião Arqueiro.
- Agente Natasha Romanoff ou Viúva Negra, à seu dispor.
Ele sorriu e ela não conseguiu conter um sorriso de volta, apesar de querer manter uma expressão séria.
- Vamos.
Ele começou a andar na frente dela descendo as rampas do estacionamento em que estavam, mas Natasha logo o acompanhou.
- Pra quem eu trabalho agora? O que devo fazer? Vamos pros Estados Unidos? - a vida dela acabava de tomar rumo diferente de uma hora pra outra e ela tinha necessidade de saber das coisas.
Ela sabia que agora tinha definitivamente mudado de vida. Mas não era essa oportunidade que ela estava esperando? Sabia que se resolvesse voltar atrás, o agente Barton a mataria e ela não queria arriscar.
- SHIELD. As missões variam. Como eu desobedeci minhas ordens, você está sob minha responsabilidade. Vai ser minha parceira, tudo bem? Ainda tenho o que fazer aqui na Rússia. Vamos ficar mais uns dias.
- Além de me matar, o que mais tem que fazer?
Ele olhou de relance pra Natasha. Não sabia ainda se podia confiar nela, mas sentia que sim. Ele tinha receio de que estivesse sendo persuadido, afinal, ela era extremamente sensual e seu olhar o intimidava um pouco. Mas sabia que podia manter o controle e que talvez, realmente, pudesse confiar.
- Natasha, eu preciso ter certeza de que você está ao meu lado pro que tenho que fazer agora.
- Eu queria confiar nas pessoas pra quem trabalho, mas sei que não posso, por isso aceitei sua proposta. Você está me salvando da minha vida. Eu tenho uma dívida com você. Parece que foi fácil, mas minha mente ainda tenta me obrigar a voltar atrás. Mas eu não quero. Eu não quero muitas coisas, agente Barton, mas a chance de ir embora daqui é tentadora demais pra que eu não queira. Pode ter parecido fácil demais, mas eu estava esperando uma oportunidade pra me livrar disso há muito tempo pra recusá-la. Agora eu estou ao seu lado.
As palavras dela eram vagas, mas Clint sabia que tinha alguma coisa que ela odiava nesse país, mesmo que fosse russa, mesmo que tivesse passado um grande tempo de sua vida ali. Ele sabia, também, que não teria essa informação tão cedo.
Natasha sentiu que tinha falado demais, mas não se importou. Na verdade, podia até dizer que tinha sentido um certo alívio de ter tomado uma decisão certa. Mas ou era isso ou ele a mataria e o risco de morte talvez tivesse influenciado sua decisão.
- Quem são eles? - Clint perguntou e parou em frente à sua moto.
- Pra quem eu trabalhava? A cede deles é em Budapeste, mas meu trabalho é aqui na Rússia.
- Eles estão em Budapeste? - um pequeno interrogatório.
- Provavelmente. - disse Natasha, avaliando se a missão dele era matar MESMO seus antigos chefes.
- Quantos? - ele perguntou enquanto entregava um capacete pra Natasha.
- Dois irmãos. Você vai matá-los, agente Barton?
- Você disse que eles viriam atrás de você. Vou fazer que não venham, Natasha. - ele colocou outro capacete e subiu na moto.
Natasha percebeu que ele tinha dois capacetes e não só o dele e isso era estranho. Quem mais estava com ele? Ou ele sabia que ela aceitaria a proposta? Ela subiu na moto e procurou algo em que se segurar, mas não tinha nada. "Merda." As motos geralmente têm onde se segurar, mas a dele parecia moderna demais pra isso.
Ele ligou a moto e ela ainda decidia se seguraria na cintura dele ou não.
- Pode segurar, não me incomodo. - Clint falou como se estivesse lendo os pensamentos dela.
"Lógico que não. Uma mulher de vestido curto e justo sentada na sua moto e ainda segurando firme em você. Me surpreenderia se você se importasse." ela pensou, mas não disse, ele não parecia um homem aproveitador, apesar de todo homem ter um pouco desse instinto.
Por fim, Natasha segurou ao redor da cintura dele. A agente não viu, mas Clint Barton deu um sorriso embaixo do capacete.
Ele andava rápido pelas ruas de Moscou como se conhecesse muito bem a cidade. Depois de uns dez minutos, eles pararam em frente à um Hotel. Clint colocou a moto numa vaga do lado de fora e esperou que Natasha descesse antes de fazê-lo também.
- Eu preciso pegar minhas coisas. - ele pensou um pouco antes de se mover. - Desculpe, às vezes eu me esqueço que tenho que levar em consideração suas opiniões. Estou há um tempo sem trabalhar com uma parceira. Prefere ir pra Hungria hoje ou amanhã? E temos que ir pegar o que você precisa no seu apartamento e pedir que eles mandem o resto pra SHIELD.
- Amanhã, ok? Na verdade, o apartamento é deles, mas minhas coisas estão lá.
- Muita coisa?
- Só roupas, o resto não posso pegar.
- E não vai precisar. Vamos buscar suas roupas primeiro, então. Amanhã, certo.
Natasha não precisou guiar Clint até sua rua, porque ele já sabia o caminho. Quando chegou, estacionou a moto. Ele tinha feito algumas ligações e estava no telefone enquanto eles subiam no elevador do prédio.
- Fury, você tem que entender... Sim, mas isso não tem nada a ver... Eu não preciso que você mande ninguém... Está tudo sob controle... O agente Truman já comprou as passagens, eu vou resolver tudo em Budapeste e volto pros Estados Unidos... Tudo bem, menos de cinco dias... Certo. Obrigado, Fury... Não vou esquecer: minha responsabilidade.
Natasha escutava atenta e imaginava se ela estava sendo aceita na SHIELD. Pelo jeito o tal Fury mandava em alguma coisa e não estava gostando muito da ideia. Clint desligou o celular exatamente quando a porta do elevador abriu.
- Tudo certo. Bem-vinda a SHIELD, agente Romanoff.
Natasha sorriu de alívio. Viveria e longe do passado. Longe das dívidas e ameaças.
- Obrigada.
- Quando chegar aos Estados Unidos, eles te darão algumas instruções, mas eu sou responsável por seu treinamento. Suas roupas já devem estar no hotel quando voltarmos. E eu tenho algumas armas, você pode escolher.
Natasha abriu a porta e Clint ficou do lado de fora. Ela observou a roupa dele e imaginou se a dela seria no mesmo estilo. Calça preta e jaqueta de couro - talvez por causa da moto - da mesma cor.
- Não vai entrar?
- Quer ajuda?
Ela deu de ombros e ele entrou.
Natasha foi em direção ao quarto e tirou suas roupas do armário, colocando em cima da cama. Não eram tantas como Clint imaginava e ela conseguiu colocá-las dentro de uma mochila grande com uma bolsa amarrada com alguns sapatos, mas quando ele foi se sentar na beira da cama, percebeu que ela tinha deixado metade - ou mais - das coisas no armário.
- Eu posso mandar que venham buscar o resto.
- Não quero. Vire de costas.
Ela ia trocar de roupa, ele sabia pela calça e casaco que tinha deixado separados. Clint levantou e virou pra parede, embora seus músculos estivessem querendo tomar o comando e virar pra vê-la. Ele a ouviu abrindo o zíper do vestido e retirando-o e sua mente tentava ilustrar essa realidade que ele não podia ver pois estava virado de costas. Respirou fundo tentando se concentrar no fato de que deveria se comportar. Mas ele tinha a observado tanto e... "Clint Barton, você não pode fazer isso. Não pode gostar dela", ele falava com si mesmo, tentando se convencer.
- Pronto.
Natasha tinha colocado uma calça jeans e uma blusa preta com uma jaqueta de couro. Era quase o estilo dele, então estava bom e era um alívio pra ela não ter que ficar andando de moto de vestido curto. Ela foi até o banheiro e pegou mais algumas coisas. Clint resolveu esperar na porta do apartamento e pegou a mochila, agora pesada, enquanto ela fechava a porta e deixava as chaves embaixo do tapete.
Eles voltaram para o hotel e Clint falou com o segurança alguma coisa antes de subirem pelo elevador.
- Amanhã às 13h é o nosso voo.
- E a sua moto? - ela sabia que era tosco perguntar isso, mas foi a primeira coisa que pensou.
- Já foi mandada pros Estados Unidos. Um agente está na Hungria e vai dirigir pra gente lá. Você quer que peça um quarto pra você?
- Tem lugar pra mim no seu quarto?
- Tem.
- Então não precisa.
Natasha sabia que o mais sensato era pedir um quarto só pra ela, mas não tinha ideia do por que de ter feito ao contrário.
A porta do elevador abriu e Clint pegou o cartão pra abrir a porta do quarto que era quase em frente. Ele ainda estava com a mochila dela - tinha deixado suas flechas e o arco dentro da moto - e não reclamava de estar pesada.
Natasha entrou e deitou do lado direito da cama de casal. Ela ainda não podia acreditar que estaria no mesmo quarto que o arqueiro por uma noite toda. Até pra alguém sem sentimentos, ficava difícil se controlar assim. Mas se ela estava escolhendo alguma mudança, alguma vida melhor do que a que ela levava somente matando um monte de gente por aí porque a mandavam, sem nem saber se eram pessoas boas ou ruins, então talvez ela não fosse tão sem sentimentos assim.
Clint colocou a mochila em cima do sofá e ficou observando ela.
Natasha olhava pro teto e pensava no quanto podia estar mudando de um dia pro outro. E não se arrependia. Na Rússia, ela podia se arrepender de muitas coisas, mas queria prometer pra si mesma que não se arrependeria na SHIELD dos americanos.
- Pedi o jantar. Mas não sei se você gosta. Quer alguma coisa específica? - ele parecia preocupado e, de fato, estava, porque ainda não tinha a confiança dela, assim como ela não tinha a dele. E porque não conhecia ela direito e mesmo assim estava sentindo alguma coisa, apesar de não admitir nem pra si mesmo.
- Tudo bem, eu devo gostar. - ela respondeu, olhando pra ele que estava em pé. - Agente Barton, pare com isso, por favor. - ela nunca pedia por favor, mas agora foi necessário.
- O que foi?
- Ah merda. - ela se sentou na cama. - Venha aqui, agora.
Ordens? Ela estava lhe dando ordens e, por um momento, Clint cogitou não obedecê-la, mas se sentou ao lado dela.
- Silêncios assim me matam. Por favor, pare. Se ficarmos em silêncio e for só silêncio, tudo bem, mas não está sendo. Um fica querendo entrar na mente do outro e imaginar o que ele pode estar pensando. Puta merda, o que você quer saber?
Clint arregalou os olhos, surpreso por ela ser tão... direta, objetiva e... sensual enquanto falava num tom rígido.
- Por que você trabalhava pra eles?
- Eu não tive escolha, assim como há algumas horas quando você me imobilizou e disse que ou me matava ou eu aceitava sua proposta.
Clint se sentiu mal por isso, por ter obrigado Natasha.
- Isso não explica muita coisa, mas eu tenho a impressão de que você não gosta de falar do passado, Natasha.
- Prefiro o presente e o futuro, agente Barton.
Ela não sabia se tinha o direito de chamá-lo de Clint, porque apesar de ser seu nome, era informal demais pra quem tinha se conhecido há algumas horas. Mas ele estava chamando-a de Natasha, talvez ela pudesse.
- Quer saber algo? Você disse que estava tentando entrar na minha mente pra saber o que estou pensando. Então, quer. - ele afirmou.
Ela sorriu.
- Foi uma constatação e você também estava fazendo isso comigo. Mas... você disse algo sobre ter trabalho com uma parceira antes. O que houve?
- Com ela? Parou de trabalhar.
- Você parece sentir falta.
Eles pareciam quase amigos conversando agora e Clint soube que não seria difícil um ganhar a confiança do outro se as coisas fossem assim.
- Sinto. Mas de trabalhar em equipe. Não dela, exatamente. Não como você deve estar pensando, Natasha.
Ele, definitivamente, nunca tinha tido nada com sua antiga parceira de equipe. Eles eram amigos e mais nada. E ele não sentia por ela essa atração que estava sentindo pela agente Romanoff.
- Ah, não? Como pode saber o que estou pensando, Clint?
Ele sorriu diante do fato de ela ter o chamado pelo primeiro nome.
- Não sei, foi um palpite.
Natasha deu de ombros e levantou, indo na direção do banheiro, mas antes passando perto de sua mochila pra pegar uma roupa. Antes de entrar, ela se virou e riu pro arqueiro que continuava sentado do lado esquerdo da cama.
- Acho que vamos nos dar bem, Clint Barton.
"Eu tenho certeza que sim, Natasha Romanoff." ele pensou, mas não pronunciou essas palavras.
Quando Natasha voltou do banheiro, agora de pijama, Clint estava deitado, com os olhos fechados e sorrindo. Ela deitou do outro lado da cama sem encostar nele.
- Por que está sorrindo? - Natasha não conteve sua curiosidade, apesar de sempre se controlar muito bem quanto a essa e qualquer coisa.
- Nada importante.
Clint não responderia. Ele estava simplesmente pensando em como Fury mudaria de ideia quanto à Natasha quando a visse. Não bastava ela ser boa com armas, ela parecia ser boa em tudo.
- Tá bom. - ela respondeu, mal-humorada por ele não querer falar.
Foram interrompidos pela campainha do quarto que tocou. Clint foi até a porta e voltou com um pequeno carrinho com o jantar. Natasha se levantou e foi se sentar na mesa, junto com Clint.
Era pelmeni e ele serviu os dois. Antes de começar a comer, levantou e pegou o controle de um aparelho de som, depois de colocar seu iPod conectado lá. Natasha não costumava ouvir música. Muito menos americana.
- Não gosta de algum tipo de música?
- Não costumo ouvir, acho que não sei nem do que não gosto.
Ele ligou o som e começou a tocar Romeo and Juliet no aleatório. Clint diminui e deixou tocando, baixo, no fundo.
Eles começaram a comer em silêncio, mas já não era mais tão constrangedor quanto antes. Eles iam se dar bem, ela tinha dito.
Quando terminaram, Clint trocou de roupa e colocou uma calça e uma camisa e se deitou do lado esquerdo da cama. De repente, ele se sentou.
- Quer que eu durma no sofá? - ele perguntou, olhando pra ela, que estava de costas, virada pra janela, em pé.
- Não.
Natasha se virou pra ele e foi até a cama, deitando do lado direito e virada pro lado contrário ao dele.
- Não tente me matar enquanto durmo, Natasha.
- Não vou fazer isso. - ela percebeu a veracidade de suas palavras enquanto as pronunciava.
Natasha não tinha pensado nisso. Não pensara porque talvez ela fosse preferir essa vida nova, mesmo que não tivesse tido chance de fazer outra escolha. Não pensara porque ela não podia e nem queria aguentar mais os chefes antigos dela. Não pensara porque agora ela teria mais liberdade e isso dependia do arqueiro. E não pensara porque, pensando bem, talvez ela não conseguisse matá-lo. E não só porque ele era bom no que fazia, mas porque ela gostava dele o suficiente pra não pretender fazer isso. A agente se repreendeu mentalmente por estar pensando nisso.
Clint não sabia se era verdade que ela não o mataria, mas preferia acreditar que sim. Ele tinha deixado a música tocando ao fundo e agora era Wish you were here. "Malditas músicas românticas que o aleatório resolve tocar em momentos inapropriados", ele pensou. Mas a questão era que ele precisava dormir e tinha que confiar na agente Romanoff.
Clint se virou pro outro lado e observava os cabelos ruivos e cacheados dela. Sua mente queria obrigá-lo a imaginar que ele estivesse segurando esses cabelos, mantendo ela presa pra que pudesse fazer...
- Boa noite, Clint.
- Boa noite, Natasha.
A agente Romanoff sabia que ele estava virado pra ela e não muito longe. Sabia que se quisesse, poderia segurá-lo e obrigá-lo a fazer qualquer coisa que ela mandasse. Há alguns meses ela estava evitando homens e dormir na mesma cama que um era tentador. Ela se virou e agora os dois estavam cara a cara de olhos abertos e com os rostos um perto do outro.
Ela ficou imaginando se ele estava sentindo alguma coisa. Ainda mais agora, enquanto estavam olhando um nos olhos do outro.
Uma corrente elétrica parecia percorrer o corpo dos dois e quase obrigá-los a se agarrem e fazerem tudo que fosse possível, mas eles não falavam nada e estavam paralisados.
Clint sabia que não podia fazer isso. "Mantenha a razão, resista, resista, resista.", ele pensava e repreendia a si mesmo por ter se colocado nessa situação. Se ele, ao menos, tivesse resolvido dormir no sofá...
Natasha queria beijá-lo, passar a mão em seus cabelos, provocar arrepios no corpo dele, mas... "Você está ficando louca? Homens não te deixam maluca desse jeito há muito tempo, você devia matá-lo por estar fazendo isso.", ela se repreendia, mas sabia que a culpa não era exclusivamente dele. Era de seus corpos que pareciam ansiar por isso.
- Vamos dormir antes que eu me descontrole e faça besteiras. - o arqueiro falou, de repente.
Natasha concordou com a cabeça e virou pro outro lado, apesar de querer que ele se descontrolasse e que fizesse besteiras.
Os dois dormiram, mesmo com toda aquela tensão e com uma música romântica no fundo, piorando a situação.
Quando Natasha acordou de manhã, o arqueiro estava com a mão ao redor da sua cintura, ainda dormindo. Ele tocava a parte da barriga dela que estava à mostra, pois sua blusa tinha levantado - propositalmente?
De repente, ele se moveu e tirou a mão dali percorrendo toda a cintura dela.
A agente se virou e o arqueiro estava abrindo os olhos e se espreguiçando.
- Bom dia, Natasha. Pelo visto você se comportou e não tentou me matar.
- Eu disse que não faria.
Tocava Try a little bit harder enquanto eles se levantavam. Clint foi até o som, desligou e começou a arrumar suas coisas na mochila. O agente entregou a Natasha sua nova roupa da SHIELD e duas pistolas.
- Não quer ficar com uma?
- Eu tenho uma, mas, de qualquer forma, prefiro meu arco.
Ela deu de ombros e foi tomar banho. Clint terminou de arrumar suas coisas e deitou na cama, esperando.
Estava tudo certo, então. Fury tinha aceitado Natasha Romanoff na SHIELD. Clint tinha arrumado uma parceira. Agora ele só estava preocupado com as pessoas pra quem Natasha trabalhava e ele teria que matá-las. Ele não queria riscos de que sua parceira fosse perseguida e pudesse ficar em perigo, apesar da profissão deles ser perigosa, então eles partiriam pra Hungria pra resolver isso de uma vez. Fury tinha dado cinco dias pra ele, mas ele acreditava que precisaria de um ou dois. Não enrolaria, não como fez com Natasha, passando uma semana observando-a.
A agente saiu do banheiro de toalha.
"Puta que pariu, Natasha, o que você faz comigo?", Clint pensou assim que aquela corrente elétrica, que atraía ele para ela, percorria o seu corpo.
O arqueiro se levantou da cama e foi tomar banho antes que fizesse qualquer coisa.
Natasha sabia que causava alguma coisa nele, assim como ele causava nela. Ela lembrou DAQUILO na noite passada. Daquela estranha sensação e vontade.
Ela vestiu seu uniforme da SHIELD e colocou sua jaqueta preta por cima, fechando-a, assim ela não atrairia qualquer suspeita sobre suas pistolas penduradas na roupa e alguns outros acessórios.
"Como as coisas mudaram de um dia pro outro." foi seu pensamento quando Clint saiu do banheiro com seu uniforme e o cabelo molhado. Ela andou pensando que, dependendo da pessoa, ela talvez não tivesse aceitado a proposta. Mas Clint tinha alguma coisa e ela se sentiu tentada a mudar de vida, a deixar seu passado pra trás como sempre queria.
Clint mexeu no seu cabelo com as mãos, parecendo bagunçá-lo ainda mais e vestiu sua jaqueta de couro.
- Essa é sua roupa de Gavião Arqueiro?
- Não, essa é de agente Barton. - a roupa dele era parecida com a da Natasha, mas numa versão masculina. - E a sua é de agente Romanoff. Você quer tomar café? Ou comer qualquer coisa no aeroporto?
Ela deu de ombros como quem diz: "tanto faz."
- Então vamos para o aeroporto logo.
Clint pegou sua mochila e Natasha pegou a dela. Ele verificou se tinha deixado alguma coisa, mas estava tudo certo. Entraram no elevador.
- Vamos de táxi. Quer se despedir de alguém? Temos que estar no aeroporto ao meio-dia e ainda são dez e quarenta.
- Acho que não tenho ninguém de quem eu deva me despedir. - ela respondeu, dando de ombros.
- E nenhum lugar?
- Esse país não foi bom pra mim, Clint. Não há nada aqui que eu queira levar pra minha nova vida.
- E nenhum homem? - ele decidiu insistir.
Ela respirou fundo antes de responder.
- Nenhum. Eu não amo ninguém, Clint. Amor é coisa de criança. - ela olhou nos olhos dele enquanto falava.
- Ah, é? Acho que você está completamente errada, Natasha. Talvez um dia eu te convença disso.
As portas do elevador se abriram e Natasha ficou tentada a perguntar "Como?", mas Clint foi falar com uma recepcionista pra fechar a conta.
A recepcionista era loira e bonita e olhava do canto do olho pra Natasha. Essas recepcionistas eram deprimentes. Além de dar em cima dos clientes, ficavam olhando feio pras acompanhantes. Clint percebeu que Natasha estava encarando ela.
A agente escutou quando a loira pediu o nome dela pra deixar no arquivo e queria pedir a Clint que não desse seu nome, mas não foi preciso, porque ele respondeu simplesmente: "Миссис Бартон". Senhora Barton. Natasha sorriu pra ele. As contas foram fechadas e eles pegaram um táxi.

N/A: Primeira história com narrador onipresente que eu escrevo e eu espero que não esteja uma merda. Bem, era pra ser uma oneshot, mas ai passou das 7000 palavras e ia ficar mt grande e pá, ai eu resolvi escrever uma long de dois capítulos ou três, vamos ver. Ah, as músicas que tocam ao longo do capítulo são do Dire Straits (Romeo and Juliet), Pink Floyd (Wish you were here) e Janis Joplin (try a little bit harder). AH, e a tensão sexual entre eles vai se resolver logo logo ((: