Olhando de fora a casa dos Berry estava completamente escura e silenciosa, mas um segundo olhar deixava claro os carros na garagem, e quem se concentrasse mais ouviria sons. No quarto de Hiram e Leroy se ouvia uma conversa acalorada sobre processar alguém e no de Rachel eram ouvidos soluços e gemidos. A moça que estava sentada no chão perto da porta do closet abraçada aos joelhos, não lembrava há quanto tempo estava chorando. Não estava arrependida de ter contado a verdade, estava assustada e decepcionada com os pais. Só de lembrar a maneira que Leroy passou a falar mais alto e que Hiram a mandou esquecer aquilo tudo suas lágrimas voltavam com força total. "-Esqueça isso Rachel! Essa mulher não é sua mãe e não deveria se aproximar de você! Você não tem mãe! Você foi gerada por uma barriga de aluguel." A voz de Hiram ecoava no quarto de Rachel, e ela chorava ainda mais. "Quem autorizou ela a se aproximar de você? Ela não pode! Amanhã mesmo entrarei com o processo contra ela!" "Ela não podia" "Ela não deveria ter feito isso." Agora era a voz de Leroy que era ouvida por ela. Rachel já não tinha mais forças para chorar, agora apenas soluçava, apertando as pernas mais forte contra o corpo, como se abraçasse a si mesma.

"Eu estou muito decepcionado com você, mocinha! Nós não éramos bons o suficiente para Rachel Berry?"

Ela deu um pulo, havia dormido sem perceber e a única coisa que foi capaz de sonhar foi com Leroy gritando com ela.

Ela secou as lágrimas e se levantou. As palavras doíam de mais. Ela havia tentando ser sincera com os pais, contando que havia encontrado Shelby e que queria uma relação mais próxima com a mãe mas eles havia perdido o controle por completo e dito coisas fortes e falado alto e os olhos dela já estavam tomados de lágrimas de novo. Eles foram injustos quando ela apenas tentou ser sincera, então ela seria injusta com eles também.

Rachel Berry era a imagem da tristeza, tinha os cabelos desgrenhados, os olhos inchados, e rosto vermelho. Estava usando um suéter preto com a estampa de um gato e um a calça que parecia pertencer a um pijama, trazia nas costas uma mochila rosa coberta de estrelas. Carole Hudson deu um pulo pra trás ao dar de cara com ela ao abri a porta.

"-Bom dia, Sra Hudson. Espero não estar incomodando mas a senhora poderia chamar o Finn?" Seu tom de voz era forçadamente animado.

Carole olhava para a menina tentando entender o que havia se passado ali.

"-Acho melhor você entrar, querida. Finn está dormindo, afinal são 4 da manhã."

Rachel piscou os olhos rapidamente, suas ações eram quase robóticas.

"Ah sim, claro. Dormindo. Vou entrar e esperar se não for incomodo. Afinal detestaria incomodar."

Carole apenas abriu mais a porta e conduziu Rachel até a sala. A menina não parava de falar um minuto sobre como odiaria estar incomodando.

"Acho melhor ligar para os seus pais, eles devem estar preocupados."

Ao ouvir essa frase Rachel teve mais uma crise de choro, suas lágrimas eram pesadas e Carole sentiu vontade de abraçá-la.

"Aconteceu alguma coisa com seus pais?" Carole perguntou enquanto se aproximava da menina.

"Hey, o que está acontecendo aqui?" Finn estava parado no topo da escada, c ompletamente descabelado e com o rosto ainda inchado de dormido. O choro de Rachel o acordara. Olhando novamente para as duas ele percebeu o quanto ela estava desarrumada.

"-Eu. Meus pais. Shelby. Mãe." Ela chorava muito e apenas essas palavras foram compreensíveis.

Ele entrou em desespero, desceu as escadas o mais rápido que pode e a abraçou. Não sabia o que dizer, não sabia o que fazer então apenas a abraçou o mais forte que pode. Seus olhos buscaram o de sua mãe e ela entendeu que aquilo era um pedido de socorro.

"-Leve a para o seu quarto querido, Rachel precisa de uma noite de sono. Amanhã ela estará em melhores condições de nos contar o que aconteceu."

E assim ele o fez, em silêncio, pois tinha medo de dizer algo que a fizesse chorar ainda mais. Rachel deixou a mochila aos pés da cama dele e virou-se de frente pra ele. Olhando-a assim de perto era nítido o quanto ela havia chorado, seus grandes olhos negros haviam se tornado pequenos de tão inchados e isso o deixava de coração partido. Ele não tinha ideia do que a havia deixado tão triste, mas iria fazer impossível para voltar a vê-la sorrir.

"-Assim que o dia amanhecer vou a casa da Shelby. Não importa o que eles digam, ela é minha mãe." Ela disse entre soluços.

Finn não entendeu exatamente o que ela quis dizer, mas a abraçou e sussurrou em seu ouvido "Eu vou com você." Beijou o topo da cabeça dela e sorriu ao perceber o quanto estava apaixonado por ela.

"Agora acho melhor você dormir."

"Deita comigo?" Ela disse enquanto se deitava na cama dele.

Rapidamente ele deitou-se ao lado dela. Ela se aconchegou no colo dele e rapidamente pegou no sono, se sentia tão protegida que não sonhou com os gritos dos pais. Ele permaneceu acordado, sentindo o cheiro do cabelo dela, por um bom tempo.

Quando Carole entrou no quarto, não conseguiu conter um sorriso. O filho parecia tão grande abraçado àquela moça tão pequena e frágil. Ela saiu do quarto e encostou a porta sem fazer barulhos.

Seja lá qual fosse o problema de Rachel, ela parecia ter esquecido enquanto dormia.