Prefácio
Normalmente, histórias de contos de fadas começam com um "era uma vez", mas a minha história não é um conto de fada, então acho que não preciso usar esse início brega – mesmo que a chapeuzinho vermelho o utilize. Na minha história não há ratos e sapos que se transformam em homens, nem carruagens que antes eram abóbora; as bruxas não têm poderes mágicos ou voam em vassouras, só dão aulas de literatura e francês. E as piores vilãs eram as garotas populares da escola, que se achavam as melhores por vestir roupas de marca cara.
Sou Samantha Portland, tenho quinze anos e moro em uma pequena cidade chamada Shanksville, no condado de Somerset, Pensilvânia. Meus pais não são camponeses, como na maioria dos contos, muito menos reis de grande palácio. Na verdade, meu pai é enfermeiro e minha, a qual se foi quando eu possuía apenas nove anos, era, pelo o que sei, apenas uma faxineira. Meus irmãos de seis anos, gêmeos, são de longe os menos educados. Mal sabem amarrar os sapatos e fazem pirraça quando meu pai diz que não comprará o cereal favorito deles. A única coisa que temos em comum são a cor morena da pele, os cabelos negros e o nariz comprido e fino por herança genética. Fora isso, mais nada.
E minha casa não era um grande palácio, com longas escadarias nas extremidades das paredes que levavam às grandes suítes como os dos nobres. Não havia um extenso porão onde uma princesa estaria trancada à espera de seu príncipe encantado que a levaria a um lugar muito, muito distante. Também não era casa da vovozinha, e não era uma longa torre onde uma garota com um cabelo incrivelmente longo estaria presa. Era uma casa normal, de dois andares e uma lavanderia no porão. Tinha um sótão que servia de lar para insetos e roedores e três quartos divididos entre mim, meu pai e meus dois irmãos. Pelo menos, havia uma lareira, mas não existia uma chaminé do lado de fora.
E o bosque era logo atrás da minha casa. À noite, era escuro e perigoso, mas ao dia, podiam-se ver alguns animais inofensivos escondidos por entre as árvores enquanto ia ao ponto do ônibus. Com uma caminhada não muito longa, você a atravessaria sem grandes problemas, e logo poderia ver o amplo estacionamento da minha escola. Três grandes prédios, uns ao lado dos outros. Eram altos, mas não largos, e tinham uma cor semelhante à casca do ovo. Felizmente, meus colegas de sala de aula eram humanos que usavam roupas, não animais falantes. Esses eram meus professores.
E o lindo príncipe encantado não vinha montado em um cavalo branco, com roupas brancas de tecido fino e medalhas no peito, nem ao menos uma coroa dourada e reluzente nos cabelos loiros naturais bem penteados tinha, mas ainda mais legal que isso, tinha um Mustang 500 GT de deixar qualquer outro carro parecendo uma lata velha. Era loiro, mas seus cabelos eram estranha e perfeitamente bem bagunçados, e ao invés de medalhas reluzentes, ele escondia um grande segredo...
