Pequeno histórico: A OPAREAU (como foi apelidada) é o que eu gosto de chamar de MINHA obra prima. Não por ser algo extremamente maravilhoso, mas por ser especial para mim. Comecei a escrevê-la em julho de 2006, em uma tarde tediosa onde eu só desejava encontrar meu grande amor. Sim, eu fui uma idiota. Mas foi esse pensamento infantil que me levou a escrever um dos meus grandes orgulhos e,antes disso, minha primeira fic, que agora vou mostar a todos vocês! Espero que gostem e Boa leitura!
Disclaimer: A história é minha, os personagens são meus e da Nathykita (chapeleiro. para ler suas histórias, vá até os meus escritores favoritos - Eu recomendo! ;D), Epifania é minha, as comidas são minhas, a mansão é minha, o céu e meu e TAO REN também é meu! O Ah... Digo... bem... .. Vocês entenderam ¬¬ PORTANTO, não os use sem a devida permissão, tá? Obrigadinha, doçuras!
O pavão, a raposa e as uvas.
Capítulo 1: A pequena ilusão de Lolindir, o servo.
Em uma noite quente de verão, os desejos fluem como em uma fonte de águas vulcânicas. De forma mansa e cautelosa, essas águas cálidas transbordam e nos seguem. Quando nos alcançam, lambem-nos a mente transfigurando a realidade; tudo se mistifica e se transmuta, e assim, nosso mundo passa a ser formado...pela mesma matéria dos sonhos.
Lólindir já não era o mesmo e não tinha dúvida nenhuma quanto a isso. Olhou-se o espelho: formado, inteligente, lindo e rico... muito rico. Como um cavalheiro, e acima disso, como homem de princípios bem fixados, nunca pagou a ninguém por sua diversão. Não poderia. Além de imoral, esse era um gasto desnecessário, já que por si só ele conseguia tudo o que pudesse querer. Sua aparência e seu físico garantiam seus desejos, e seu dinheiro garantia o resto... Ele e sua fortuna, sem dúvida formavam uma dupla perfeita.
Enquanto abotoava a camisa social vermelha, se lembrava do agradável jantar que acabara de aproveitar, além dos rostos importantes que se sentaram à mesa naquela noite. Prefeitos, deputados, escritores...todos reunidos para um verdadeiro banquete. É claro que, na realidade, tudo o que ele queria durante o jantar era que este acabasse logo, para que pudesse conversara sós com "alguém"...
Agora, cansado e satisfeito, tentava dar nó em sua gravata enquanto via o reflexo das duas pessoas que mais amava: além de sua própria, uma outra. Os longos cabelos loiros (e tão loiros que quase chegavam ao branco) desse alguém se estendiam lisos e maravilhosos pelo tórax e até a cama de lençóis revirados onde se sentava. Quando se levantou, Lólindir estremeceu.
-Como você é desajeitado... não consigo acreditar você ainda não tenha aprendido a fazer um simples nó de gravata! – disse, enquanto desfazia o nó mal-feito e começava um novo.
-E pra que eu aprenderia a fazer isso... – enlaçou-se em um abraço- ... se tenho você aqui comigo? – e sorriu.
Beijaram-se, e Loli sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha... Apoiando o livro sobre os joelhos, mordeu a parte inferior dos lábios, onde ficcionalmente beijava o amor de sua existência. Respirou fundo e sorriu enquanto fechava o livro. Ainda estava se deliciando com aquele pensamento, quando uma voz ríspida cortou o ar, acompanhada de fortes batidas na porta.
-LOLINDIIIIIIR! Acorde, seu pequeno porco! Criança estúpida e preguiçosa... já é hora de levantar!!!
-Já estou acordado, senhora. Estava só lendo um pou...
A porta se abriu com violência e uma mulher usando um vestido inteiramente negro de mangas longas e gola alta apareceu por trás dela. Parecia furiosa. Foi até o garoto, puxou o livro de suas mãos e, segurando-o em riste, gritou mais uma vez:
-Quantas vezes já lhe disse que NÃO QUERO QUE LEIA!? Esses... esses livros só servem para encher a mente de crianças inúteis como você de porcarias! Onde já se viu! "Alice no país das maravilhas" ?! Aposto que isto é pura indecência!... Não ouse fazer novamente!
-Me... M-me desculpe, senhora. Não farei novamente, e-eu prometo.
-É bom, mesmo. –disse ela, agora tomando uma postura cheia de garbo. Olhando o garoto de cima, a velha percebeu seu olhar distante e deprimido. Sorriu, virou-se e foi caminhando até a porta. Estancou antes de sair do quarto. Sem sequer se virar, ainda dirigiu algumas últimas palavras para Loli - Por sua desobediência, hoje ficará sem jantar... e saiba que eu QUEIMAREI esse livro! Huhuhu! Agora... vá trabalhar que eu não vou sustentar vagabundo nenhum por aqui.
Um"sim senhora" foi dito de maneira quase inaudível. A porta foi fechada com a mesma violência com a qual foi aberta, e Loli sentiu seus pêlos se eriçarem.
Com os olhos mareados, o menino tomou seu banho de bacia, colocou sua melhor camisa, shorts e prendeu os suspensórios –afinal, hoje era dia de servir o patrão. Arrumou sua cama e foi até a janela. A abriu. Ao ver a figura do dono da casa andando pelos jardins, seu coração palpitou mais forte, e ele sentiu algo gelar bem abaixo de sua barriga. "Ah se eu pudesse ser uma daquelas flores que ele cuida com tanto carinho!" Loli pensou.
Bagunçou os cabelos esverdeados, chacoalhou a cabeça e desceu as escadas do pequeno quarto de empregados que dava diretamente para a cozinha. Ao chegar lá, Madame Mildret, a velha governanta, olhou-o do mesmo jeito que havia feito de manhã.
-Espero que tenha tomado um banho. Não quero receber reclamações de nosso sublime patrão por ter lhe enviado uma criança fedida servi-lo logo no café da manhã.
Loli meneou a cabeça positivamente. Já estava acostumado aos maus tratos dados por Madame Mildret. Ele imaginava que se existissem mais pessoas que pudessem aturar bruxas velhas como ela, então o mundo ainda não estava perdido... Além disso, para que seu sofrimento fosse mais ameno, ele tinha a sorte de ser muito querido pelas outras empregadas da mansão de Lashére. Elas não podiam fazer muito mais do que consola-lo e dar-lhe presentes simples como cachecóis e pulôveres, mas isso já lhe era uma ajuda gigantesca.
"Cabeça ereta, olhos baixos, mãos cruzadas atrás do corpo, roupas alinhadas, cabelo penteado e sem expressão facial..." Era isso que Mildret havia dito naquela manhã. Normalmente, a mesa era posta e a sala de refeições era fechada para os empregados. Uma vez por mês, porém, o patrão deixava-se ser servido. Hoje era esse dia especial: o dia em que Loli tinha a oportunidade de estar na presença da pessoa que, segundo ele, era a mais maravilhosa de todo o mundo.
Assim que a mesa terminou de ser posta, a porta da sala de refeições foi aberta para dar passagem para duas figuras singulares: Esther Nicolas Lashére, o dono da casa, tinha um rosto afinalado, pele alva e lisa. Cílios longos e grossos, sobrancelhas finas e unhas bem manicuradas. O corpo esguio, a estatura alta. Sua pequena boca carnuda tinha um formato perfeito, e em contraste com seus longos cabelos quase-brancos, um par de olhos azul-celeste completava o conjunto espetacular que ele era. Já o homem que vinha a seu lado – que segundo Esther era um antigo amigo, e agora sócio em seus negócios-, era meio palmo mais baixo que ele, e por isso, surpreendentemente alto. Seus cabelos não eram tão longos quanto os do anfitrião, porém tinham um liso ainda mais perfeito, e se igualavam em beleza quanto a sua cor. Os maravilhosos fios rubros chegavam a cintura do homem, e estavam presos por um laço de fita vermelha. Alto, magro, com feições sérias, e talvez por isso tão atraente. Olhos verdes semicobertos por uma franja simétrica. "Uma fábrica de diversões, fechada para visitantes", como diziam as outras.
-Bom dia. –saudou o patrão, diante do silêncio arrasador que já se estendia desde a sua chegada.- Algum problema?
Estavam todas nervosas demais. Com exceção de Loli e de mais uma garota, todos os outros três serventes nunca antes haviam visto o patrão pessoalmente. Nem ele, nem seu convidado ruivo. Depois de encher suas xícaras de chá, o garoto recolocou o bule em cima da mesa e se curvou polidamente, pedindo permissão para falar. Esther meneou a cabeça positivamente.
-M-me desculpe, meu senhor. Mas... não... eu não acho que haja algum problema. O-o senhor est-tá radiante, como sempre.
Assim que Loli começou a frase, tanto Esther quanto seu convidado levantaram o rosto em direção a ele. "Nunca o vi aqui antes. Será que é um dos novos empregados?", pensou.
-Ah, muito obrigado, er...?
-Servo.
-Servo? É esse o seu nome? "Servo"?
Loli baixou seus grandes olhos prateados. –Na verdade, esse não é o meu nome, mas...o senhor não deve se preocupar com bobagens como essa! Por favor, chame-me de "servo"!
O ruivo riu alto, acompanhado por Esther. Beberam um gole de chá e o patrão mandou-o se sentar. Loli horrorizou-se: como poderia? Como poderia ele, um simples empregado, sentar-se à mesa de seu patrão? ... Como? Não, não poderia. Ruborizado, o garoto cambaleou para trás.
-Me... d-desculpe, senhor, mas...!
-Apenas sente-se, sim?
-Me perdoe! Eu não posso! Não...
-O que está fazendo aqui ainda? Está perturbando nosso patrão! Retire-se imeeediatamente!
Era Mildret. A bruxa. O garoto sentiu seu sangue congelar. Ele virou-se naquele mesmo segundo, esperando vê-la com um machado em uma mão e uma máscara preta na cabeça, pronta para decepa-lo.
[.Continua.
