Ufa, vamos lá, contagem regressiva e respiração pausada... *cantando mantras indianos mentalmente para me acalmar*

Olá! Como vão? \o/

Depois de muito pensar, planejar e temer, cá estou eu mais uma vez saindo da minha zona de conforto e postando minha primeiríssima fanfic no mundo de Harry Potter. Um breve resumo: a história se passa oitenta e cinco anos após a guerra final e gira em volta de Helga Parks, colunista do consagrado O Profeta Diário e grande fã da biografia de seu herói. Após conhecer Draco Malfoy, pouco a pouco de seu passado e relação com Ginny Weasley será mostrado e... Por enquanto é isso mesmo, haha.

Meu grande OBRIGADA à Angelique Lebrun, autora dos fantásticos "Maldita Adorável Aposta" e "To Hell - A Ginevra's Tale", que tanto me apoiou e revisou com cuidado e paciências os primeiros capítulos dessa história. Seu apoio foi inimaginável, sua paciência, carinho, atenção e inspiração que me fez saltar de cabeça nessa aventura! Não tenho palavras para lhe agradecer, Angel! Obrigada! E, lógico, à PatyAnjinha Malfoy Potter por aturar minhas pirações com sua igualmente incrível história "Amor e Ambição". Vocês são as melhores escritoras de Drinny na língua portuguesa (em minha humilde opinião *joga glitter*)!

Desejo a todos uma ótima leitura! Qualquer dúvida estou à disposição!


Helga Parks pegou se grosso casaco de lã e saiu correndo para a rua, o vestindo como podia. Seus cabelos castanhos e onduladoscaíam sobre a gola amassada da blusa e estavam mais armados do que de costume, alguns fios arrepiados formando uma espécie de moldura emaranhada ao redor de sua cabeça. Infelizmente, um acidente de percurso fez com que metesse sua mão em uma das grandes lentes de seus óculos, o que resultou em uma digital impressa que muito a incomodava, mas que não tinha como ser removida dali.

Há mais de uma semana o Profeta Diário fazia aquela contagem regressiva sobre o aniversário de Draco Malfoy. "Grande coisa", foi o que disse dando de ombros antes de seu chefe berrar o quanto aquilo era importante.

Importante porque Draco era o único estudante da época de Harry Potter que ainda estava vivo.

Importante porque completaria centro e dois anos.

Mas o que tanto as pessoas queriam saber de um velho gagá que não sabia mais nenhum detalhe da própria vida e ficava sustentando o discurso ensaiado para todos que vinham lhe perguntar — maldosamente, até Parks precisava admitir — sobre sua família?

"Dos quatro, só um vive.", dizia dando uma ou duas tossidas e depois, o silêncio. Nunca chegava a completar a frase, mas todos já sabiam que ele se referia aos pais e seu herdeiro, mesmo que Scorpius, o qual nascera de seu conturbado casamento com Astoria Greengrass, não estivesse mais vivo há bons anos.

Nas raríssimas ocasiões em que se arriscava sair de sua mansão para respirar e "tirar o mofo", como brincava Helga, o aposentado-bruxo era bombardeado por flashes, perguntas gritadas e tentativas de invasão. Rabugento e provando que o espírito sonserino permanecera mesmo depois de décadas, conseguiu processar pelo menos sete jornalistas que se arriscaram a pular os muros de sua mansão. Era uma enorme besteira, visto que além de um braço quebrado pelo tamanho da queda, Malfoy os fazia perder até as calças no tribunal. E sem nenhum receio, diga-se de passagem.

Estava um pouco atrasada, mas conseguiu alcançar o grupo e, devido sua baixa estatura, se enfiar nos espaços que podia para ter alguma chance de chegar perto do entrevistado.

Sim. Draco Malfoy, depois de quarenta anos, iria ceder uma coletiva de imprensa.

A mídia não poderia estar mais agitada.

Por uma sorte do destino, Helga conseguiu substituir o jornalista que tinha sido escalado para a tão esperada coletiva. George McKanley resolveu se casar na mesma época e ele próprio fez questão de colocar o nome da colunista como opção. Única opção, na verdade.

Helga Parks, eterna colunista novata do Profeta Diário escrevendo sobre o retorno triunfal de Draco Malfoy à mídia televisiva[A3] e impressa. Com certeza aquilo renderia a promoção que esperava há três anos.

Os cochichos aumentaram para um alvoroço de perguntas gritadas e diversos "Senhor Malfoy!" surgidos de todos os cantos. Só então, sendo empurrada pela multidão agitada, que Helga notou que uma cabeça prateada estava andando - ou tentando - entre eles como o lorde inglês que era, apoiando parte do peso sobre uma bengala de madeira escura e polida que ela não soube identificar o tipo. O traje elegante em tons de negro combinava com a postura inabalável que nem os anos puderam mudar. Lá estava ele: Draco Malfoy.

— Senhor Malfoy, o que o fez sair de casa? — Alguém gritou.

— Senhor Malfoy, quem o convenceu a ceder à coletiva? — Outro rapidamente emendou.

— Por que se escondeu todo esse tempo? — Opa, esse havia se esquecido das palavras-chaves "senhor" e "Malfoy".

Helga empurrou mais alguns enxeridos e acabou tropeçando na barra da própria calça de moletom, em um tom verde-musgo. Irritou-se e bufou ao sentir as palmas das mãos arderem com o atrito contra o chão de pedra e pensou contrariada que quando tivesse tempo mandaria a peça para a costureira resolver aquele pequeno detalhe, isso se ainda restasse algum pedaço do tecido puído... Foi então que ela notou o silêncio, até mesmo os pássaros contribuíram para a quietude. Nem mesmo o som da respiração dos outros ao seu redor era escutada e, se acreditasse nisso, teria pensado que o mundo havia parado de repente, apenas restando ela viva.

Voltando a focar seus pensamentos, enquanto batia o pó nos joelhos ralados de sua calça, notou um par de sapatos pretos e lustrosos ao seu lado, zombando toda sua soberba de couro italiano contra as vestes de segunda mão de Helga. Dois segundos foram necessários para que ligasse os pontos, a fazendo segurar a respiração, como se tivesse engasgado com um pedaço de alcachofra.

Em toda agitação acabou esbarrando no sonserino, que apenas levou seu olhar de desdém sobre a jornalista. Os demais se calaram no mesmo instante e quase todos juntos recuaram um passo, com medo de algum processo que pudessem levar.

Percebendo que os olhos cinzentos apenas a fuzilavam e que dos lábios enrugados nenhum termo pejorativo saía, a moça juntou a coragem que havia esvaído por um instante e começou.

— Senhor Malfoy, qual sua opinião sobre os nascidos trouxas? — A pergunta saiu com menos vivacidade do que ela planejara.

Neta de avô trouxa e ciente do ódio mortal do senhor à sua frente pela classe, quis enfrentá-lo apenas para ver seu rosto envelhecido corando de raiva. No entanto, o tom que usou mais pareceu como um pedido de desculpas do que qualquer outra coisa.

— A mesma de sempre. — ele respondeu.

A primeira pergunta em décadas.

O grupo de jornalistas se agitou de forma enlouquecida e Helga acabou sendo jogada para o fundo da fila, perdendo o contato que de forma inesperada acabou conseguindo. Logo viu James Larsen acenando animadamente, do alto de uma das sacadas das casas ao redor. Estava pulando de telhado em telhado, como uma rena incontrolável, a fim de promover o evento. O estagiário espinhento e ruivo do jornal faria questão de entregar logo ao redator que a primeira resposta de Draco Malfoy foi para o Profeta Diário.

..

Mesmo com tantos jornalistas - e mais um punhado de pessoas que diziam o ser - se concentrando na frente da porta do salão reservado para a coletiva, apenas vinte entrariam. Depois de ser menosprezada pela sua aparência nada convencional, foi com alegria descarada que Helga mostrou seu crachá na entrada, logo sendo levada para um lugar privilegiado. Ah, as alegrias de ser do Profeta Diário...

A agitação na sala era mais contida agora, coisa que não se aplicava aos indignados de plantão que já começavam a bradar o quanto a elite era opressora e seguranças davam de ombro enquanto continham com magia os mais revoltados, que logo eram detidos ou jogados porta afora, o que viesse primeiro.

Ansiosa, Helga roeu o restante de unhas que tinha em seus dedos e puxou um fio solto do casaco, fazendo-o descosturar parte da manga dobrada. Em comparação aos demais presentes, ela era a mais inapropriada e, tentando fingir que não se importava, sustentava em seu guarda-roupa peças cada vez maiores e, a jornalista sabia; feias. Surradas, desbotadas... Ser diferente era o jeito que Helga encontrara para chamar atenção de alguma forma.

Nem assim Draco lhe dava a palavra.

Quem antes invejava a jovem jornalista por ter tirado algumas palavras do sonserino, agora ria de suas falhas tentativas de conseguir mais alguma pergunta. Parecendo mais interessado na escultura de cobra prateada que compunha a parte de cima da bengala, poucos eram os profissionais que realmente captavam seus olhares ou alguma frase que respondesse a pergunta feita. Frases como 'cuide de sua vida' ou 'esse é o máximo que consegue?' desarmavam todos e aos poucos ninguém tinha coragem de abordá-lo. Foi necessário uma hora e alguns minutos, talvez quinze a mais, para que a moça pudesse ver enfim uma oportunidade: ergueu-se de sua cadeira e esticou o braço direito para cima.

Não podia ser ignorada agora.

— Sim? — O advogado de Malfoy lhe apontou uma pena, dando assim a vez à moça. Não que alguém fosse interferir...

— Senhor Malfoy, — Draco lhe ergueu os olhos em um tédio tão grande que a constrangeu por um momento. — Helga Parks, d'O Profeto Diário.

— Nunca ouvi falar. — desdenhou e alguns jornalistas se entreolharam.

— Mas... — A moça engasgou. — É o jornal de maior influência e... — Antes de terminar, ele retomou.

— Nunca ouvi falar de você.

Só então Helga notou o braço exageradamente esticado. O abaixou e voltou a se sentar, ninguém se atrevendo a dizer qualquer palavra, fosse de consolo ou para contestar. Com o silêncio predominando, a fracassada coletiva encerrou sem protestos e o entrevistado foi visto indo embora sozinho antes de subir em uma carruagem negra e discretamente adornada, a última lembrança dos tempos de glória dos Malfoy.

Do espaço em que estava, foi direto para sua casa. Escreveria a matéria depois de dormir, tomar um banho e se encher de doces. Se quisesse. Toda sua postura muito bem ensaiada se desfez com o comentário muito direto de Draco Malfoy. Ele nunca ouviu falar dela. Na verdade, ninguém havia. Quem se importava, afinal, em ficar lendo o nome assinado no fim das colunas de O Profeta Diário? Para os leitores, não importavam suas pesquisas ou a quantidade de dias estudando e perdendo o sono para abordar qualquer assunto: ela não existia.

Precisou de um pote inteiro de sorvete de chocolate com passas e cada vez que engolia uma colherada generosa, tentava levar com ela qualquer sentimento negativo, porém entre uma dose e outra, vinham juntamente lágrimas de frustração consigo mesma e com o decorrer de sua vida. Sempre sonhou e idealizou ser grande, vencedora. A história de Harry Potter e seus amigos a fascinava desde pequena e entrar para a Grifinória era questão de honra. Chegou a brigar mentalmente com o Chapéu Seletor, que ficou muito irritado com a prepotência da menina ao desconsiderar qualquer outra casa. Quem ela pensava que era, afinal? Centenas de anos mandando os alunos para suas casas a fim de oferecer a eles o melhor lugar para iniciar e concluir seus estudos e agora esse tipo de discussão... Mais para se vingar do que atender aos caprichos de Helga, ele a indicou para Grifinória, deixando bem claro somente para a menina que ela se arrependeria daquela decisão.

Helga tinha hoje vinte e cinco anos e ainda não conseguia associar o que o Chapéu Seletor havia lhe dito, mas os anos em Hogwarts não foram tão mágicos como ela idealizou; ironia maravilhosa. Thomas Silfo foi um dos desencontros desastrosos que dia ou outro ela infelizmente encontrava por aí. Um perfeito sonserino, e isso não era qualidade. Quase instantaneamente se odiaram e esse sentimento perdurava desde então.

— Parks, deixaram contas suas na minha caixa de novo. — disse Thomas do lado de fora, batendo na porta com a delicadeza de um Trasgo. Ele parecia muito ofendido com os erros do carteiro, descontando tudo como se fosse culpa da moça. — Parks, eu sei que está aí. — Sua voz grave soou como se ele estivesse dentro do apartamento.

Naquela situação humilhante com sorvete manchando seu rosto e parte de seu pijama de flanela gasto e desbotado, ela não se daria ao luxo de ver Silfo em toda sua pompa de família rica desdenhando e rindo de sua aparência deplorável. Isso se não o matasse de susto primeiro, mas preferiu ficar em silêncio até que o ouvisse bufar contrariado, empurrando alguns envelopes por debaixo da porta. E esse era seu azar: ser vizinha de sua inimizade escolar.

Contava no calendário o dia do casamento dele com Pandora Fary quando ele finalmente iria para uma grande mansão de pedras sabia Merlin onde. Já tinha o ouvido falar disso inúmeras vezes, aumentando o tom de voz apenas para atingi-la, em uma atitude notoriamente infantil. Fary era outra sonserina irritante, sempre batendo seus perfeitos cabelos brancos para todos os lados e eternamente atrás de Silfo, era uma das quem Helga sempre quis dar uns bons tapas, ou raspar sua maldita cabeça, parte pela inveja que tinha dos fios brilhantes, outra por se irritar ao ser atingida propositalmente por eles. Thomas e Pandora... Bem que se mereciam.

Terminada sua decadente punição a si mesma, tomou um banho e lançou-se sobre sua cama desarrumada, dormindo com o triste pensamento de que sua vida era um fracasso.

E a culpa era toda sua.

..

— "Provando ser o bom sonserino que sempre foi, Draco Malfoy recebeu os jornalistas como há quarenta anos, mostrando a todos que a falta de respeito com esses profissionais não havia apaziguado." — O homem parou e encarou Helga, quase escondida embaixo da enorme gola de seu casaco. A veia pulsava na testa dele e seu tom estava mudando gradativamente para um vermelho vivo. — O que é isso, Parks?

— A matéria da coletiva com Draco Malfoy, senhor. — respondeu, mascarando muito bem seu desconforto com o olhar de condenação do homem.

— Jura? — Riu nervosamente, voltando a ficar sério quando percebeu que ela não iria se manifestar. — Vejamos, "provando ser O BOM SONSERINO QUE SEMPRE FOI." O que isso significa, Parks?! — gritou e ela pôde jurar que aquela veia havia crescido para o calvo couro cabeludo.

— Foi um trocadilho, senhor.

— Isso eu percebi! Imagine se isso fosse publicado! — Então o choque.

— Não vai? — Sua postura se desmanchou e Helga sentiu-se sem chão.

— E como poderia? Esqueceu que nosso sócio foi estudante da Sonserina? Aliás, qual sua implicância, afinal? Não precisava trazer à tona de qual casa ele foi, não interessa a ninguém, o que o povo quer saber é como tudo correu! Pelo amor de Merlin, menina! — Dito isso, jogou as folhas sobre a mesa, fazendo-as se espalhar pelo tampo bagunçado. — Melhore isso ou se esqueça de ter essa matéria com seu nome.

Frustrada e decepcionada, Helga se afastou e foi para casa. Tinha até o fim do dia seguinte para entregar a matéria que iria ajudar a compor o especial para os cento e dois anos de Draco Malfoy. Até lá, pensaria em algo para inventar sobre sua personalidade. Talvez os anos enclausurados o tivessem deixado pior, mas não era uma versão que Helga aceitaria; algo lhe dizia que sonserinos tinham esse dom de serem insuportáveis. Volta e meia esbarrava em um, adquiriu larga experiência de vida para saber o que era reflexo do tempo ou personalidade.

— Chegou mais cedo, Parks. — Thomas quase cuspiu seu nome. — Os profissionais d'O Profeta Diário não trabalham mais? Ah, me esqueci de que você não é grande coisa lá dentro. - Recostou-se no espelho da cabine recoberta por uma espécie de tapete decorado ou sabe-se lá o que era o tecido felpudo que forrava aquele lugar.

Haha, Silfo. – Emburrada, encostou-se do lado oposto.

— Dia difícil? — Os olhos em tom de mel a fitaram, brincalhões. — Desculpe não poder ajudar, desconheço dessas tais adversidades rotineiras na vida de pessoas como você. — O sorriso estava tão escancarado que ela podia notar perfeitamente o canino esquerdo lascado, resultado de uma cotovelada muito bem dada na sua estreia pela BallycastleBats há cinco anos. Helga nunca vira alguém ter um conhecimento em palavrões tão extenso quanto Ludmila, fanática pelo time, quando isso aconteceu.

— Claro, afinal, sua família já deu o golpe nos Fary com esse casamento entre você e a herdeira deles, não? — A expressão de Thomas se fechou em uma carranca. — Ora, todos sabem como vocês estão afundando... Certas coisas pedem medidas desesperadas, não? — Arqueou as sobrancelhas, o ironizando da mesma forma que ele adorava fazer quando era ela o alvo da chacota.

— Diz isso porque seu ex não conseguiu te aturar e desde então a felicidade alheia te incomoda. — Desceu em seu andar, tendo retomado seu humor e sustentando novamente o tom sarcástico.

Indignada, Helga apressou o passo, esbarrando nele de propósito e fazendo com que sua pasta de couro de serpente — que apropriado... — caísse no chão antes de entrar em seu apartamento. Ouviu algo sendo dito entre risos e isso fez seu rosto corar mais do que queria. Pior do que ter que encontrar Thomas Silfo,era se lembrar de Donald Williams, seu ex-noivo. Mais essa agora...

Ela precisaria de uma boa dose de Whisky de Fogo se quisesse sobreviver àquela noite.