"Hum... Então..." Murmurou um pequeno Bak, olhando à sua volta. Era uma sala escura, na verdade praticamente uma catedral, mas em vez de imagens religiosas ou cruzes, motivos e mandalas estranhas coloriam as paredes. Era o famoso "quarto onde você não pode entrar, Bak-san, até seu avô deixar."
"Tem alguém que eu quero te apresentar, Bak." A voz grave do seu avô, que lhe lembrava raízes de um velho carvalho, flutuou até os ouvidos do garoto.
E, de súbito, uma luz branca fortíssima, como uma explosão de relâmpagos, assustou-o. Havia alguma coisa de estranho naquela parede, ela ondulava.
"... Pirralho..." Uma voz que definitivamente não era a do seu avô zombou.
"V... Vô! O que é isso?!" Bak exigiu saber, com uma autoridade precoce.
"Isso?" A luz desapareceu, e o garoto finalmente ousou olhar. "Tenha mais respeito! Se eu não existisse, você nem mesmo existiria, pivetinho!"
"O nome dela é Fo, Bak." Seu avô disse, e Bak sabia que ele sorria. "Ela é a guardiã desse lugar... E acredite quando eu digo que ainda salvará a sua vida."
"Rieki, tenho algo para lhe ped..."
"Ah, já terminei!" O rapaz disse, sorrindo. "Todos os registros de acontecimentos estranhos em Maldivas já foram deletados."
Bak entreabriu os lábios, deixou a prancheta cair e piscou.
"... O quê?"
"Como o senhor pediu, há uma hora, lembra-se?" Rieki murmurou, muito menos confiante do que antes. "Porque eles... não eram... necessários..."
"... Rieki... Onde você estava quando... eu... lhe pedi para fazer isso?"
"No segundo corredor de ciências da área leste, senhor."
"... Há uma hora?"
"Sim, senhor."
"Certo. Pode se retirar, Rieki." Bak disse finalmente, abaixando-se para pegar a prancheta. "Depois eu lhe digo do que é que se tratava... O assunto de agora."
"Sim, senhor." E o rapaz simplesmente desapareceu.
Ao ver-se sozinho em sua sala, Bak tentou forçar um sorriso, apertando a borda da mesa de madeira até as articulações ficarem brancas. Respirou fundo uma vez, duas vezes.
"FOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!"
"... E nenhum, repito, nenhum documento pode ser perdido, Fo! Está me escutando?!"
Fo colocou as mãos atrás da cabeça, desdenhosa.
"Acha mesmo que uma Inocência acertaria uma minúscula ilha em Maldivas e não o oceano? Baka Bak."
"Não é algo impossível, Fo! Cada Inocência encontrada é preciosa!" Bak bradou em resposta, irritado a tal ponto que começava a sentir os ombros coçando. "E, de qualquer forma, quem a autorizou a sair por aí com a minha forma dando ordens aos pesquisadores?!"
"Ora, baka Bak..." Fo piscou os olhos avioletados, zombeteira. "Não se lembra do que eu lhe disse? Se eu não existisse, nunca teria salvado seu avô de um perigo mortal, e você nunca teria nascido."
Nesse instante, Bak estremeceu, a coceira subindo para o pescoço e escorregando para os braços.
O tempo para Fo não significava nada. Ela o veria tornar-se um velho caquético, conheceria seus filhos, netos e bisnetos. Algo ainda mais perturbador pesou na sua mente: Fo nem mesmo era uma humana.
"Certo... Certo, Fo..." Desabou na cadeira, abalado. "Vá... Tratar de seus assuntos, então."
"O quê?" Ela disse após alguns segundos. "Não acredito. Está me perdoando?" Perguntou, frisando o verbo com incredulidade.
"É. Está perdoada." Bak confirmou, sem ousar encará-la. Sem ousar encarar o rosto que permaneceria para sempre jovem.
"Ora, e quem disse que eu precisava do seu perdão, baka Bak?!" Um soco no ouvido fez a raiva de Bak aflorar novamente.
"FO!" Mas ela já estava indo embora. Arrastando a vontade de se zangar consigo. "Fo..."
Fo era inconseqüente. Era bruta. Era até mesmo deselegante.
E era uma pestinha. A adorável e eterna pestinha de Bak.
Yay :D Tá, nunca escrevi uma fic de D.Gray Man antes. Acho que... Dá para engolir essa.
