Título: Polissuco
Sinopse: - não era, definitivamente, daquele modo traumático que pretendia contar a James sobre ele e Remus.
Nota: 'Tô ligada na falta de criatividade no título, mas são 4 horas da madrugada, então sejam bonzinhos.
James Potter era a pessoa mais engenhosa de toda Hogwarts. Ele não precisava perguntar isso a ninguém, porque ele simplesmente era. Estava sentado no chão do banheiro, tentando lidar com sua própria genialidade sem surtar completamente. Só era estranho o fato de estar sozinho durante a preparação para a piada mais hilária de toda a história. Não podia contar a Sirius, porque era exatamente ele quem queria enganar. Peter provavelmente não aguentaria guardar o segredo durante um mês inteiro, baseado no fato de que nem ele próprio estava conseguindo se segurar. Rapidamente o mês de preparo para a Poção Polissuco chegou ao fim, coisa que James calculara para que caísse perfeitamente na noite de lua-cheia.
Acondicionou cuidadosamente a poção em um frasco. Era translúcida e de um tom castanho, quase dourado, depois que adicionou um fio de quase mesmo tom de Remus Lupin. Agora precisava esperar o momento exato. Olhou pela janela do banheiro abandonado, depois consultou o relógio. Não havia tempo para recolher o caldeirão e esconder os vestígios de suas atividades ilícitas. Ao contrário, levantou-se com pressa, quase derrubando tudo no processo, e saiu correndo do banheiro.
Ele viu Remus saindo da Sala Comunal. Despediu-se de Sirius e Peter com uma expressão pouco animada, embora os dois tivessem dito que com certeza estariam na Casa dos Gritos dali a uma hora. Nunca desciam juntos, e os outros três sempre iam acobertados pela Capa da Invisibilidade de James.
— Wormtail, você viu Prongs? — Sirius lançou um olhar pela janela da torre, preocupado com o pôr-do-sol que já se apresentava magnífico.
— Mmm. Não. Provavelmente está com Lily. Deve aparecer logo. Aliás, ele tem andado meio sumido nesse último mês... — murmurou pensativo, embora seu olhar para o céu quase noturno denotasse certa preocupação.
James ouviu o pequeno diálogo atrás do retrato da Mulher Gorda. Não tinha tempo a perder e, sob a Capa da Invisibilidade, virou o frasco de Polissuco na garganta. Era gostosa, com um gosto de chocolate derretido na boca. Alguns segundos aflitivos se passaram quando sentiu a visão milagrosamente dispensar o uso dos óculos, que guardou nas vestes. Sentiu-se decrescer alguns poucos centímetros, e passou a mão nos cabelos alinhados pelo que possivelmente devia ser a primeira vez em sua vida.
Ele parou um momento. Ergueu o próprio suéter, sentindo-se um pouco mal com a própria curiosidade, e quase se correndo de culpa quando viu as cicatrizes no torso que o lobisomem tanto tentava esconder. Aquilo despertou sua vontade de quase abandonar o plano e se juntar ao licantropo, ao mesmo tempo em que uma onda de afeição completamente atípica se apossou dele. Mas passou rápido quando viu Peter sair pelo retrato, e James sabia que ele se dirigia clandestinamente até a cozinha, indo buscar o suprimento para a noite na Casa dos Gritos.
Perfeito.
Poucos minutos separavam o pôr-do-sol laranja da luz prateada da lua-cheia. Era hora de agir. Despindo-se da capa, ele girou o retrato e entrou na sala comunal, encontrando Sirius absorto no fogo que crepitava na lareira. Tinha os olhos tristes, e James sabia que a causa disso era Remus. No entanto, viu o pesar ser substituído por assombro e pânico quando ele se deu conta de sua presença. Ergueu-se de uma só vez, avançando na direção de James.
— Moony, você está louco?! — e lançou um olhar tenso para a janela, sussurrando aflitivamente. — Está quase na hora, o que está fazendo aqui?!
James se surpreendeu tanto com o tom da voz de Sirius — um tom que nunca tinha ouvido antes —, que piscou os olhos castanhos, sem saber como lidar com aquele Padfoot tão atípico.
— Eu... — ele balbuciou, sentindo seu plano genial ruir aos poucos diante daquele pânico chuvoso que eram os olhos de Sirius. — Vim devolver a capa do James. — ele disse idiotamente, metendo a mão nas vestes e retirando a capa. Empurrou-a nas mãos de Sirius, de repente se dando conta de que queria sair de perto daquele poço de aflição e medo que ele se tornara. Não sabia lidar com ele daquele jeito, com aquela preocupação como nunca havia visto, mesmo quando sob a ameaça iminente de ser expulso definitivamente de Hogwarts.
Sirius ergueu as sobrancelhas, suavizando um pouco a expressão, para alívio de James.
— O que diabos isso está fazendo com você? — escondeu rapidamente a capa dentro das vestes, lançando um olhar ao redor.
— Mmm. James me emprestou ontem para ir até a sessão restrita da biblioteca — respondeu rápido, pela primeira vez acreditando que fora convincente.
Sirius pareceu pensar isso também, pois revirou os olhos de maneira pouco convincente.
— Escute, Moony, não faça isso de novo. Agora corra, antes que seja tarde. — ele tocou o braço de James com certa delicadeza que certamente ele não achava comum em Sirius. Refreou-se de recuar no último instante.
James apenas acenou a cabeça, pelo menos satisfeito que tivesse conseguido desesperar Sirius por alguns minutos. Mas ainda não conseguira processar o que aquele olhar dele queria dizer. Virou-se de costas para sair da Sala, quando ouviu.
— Hey, Moony — novamente as mãos em seus pulsos, o puxando de volta, e James se virou.
Seus olhos se arregalaram e quase saltaram das órbitas quando Sirius selou seus lábios, muito docemente e deixando transparecer um olhar carinhoso antes de fechar os olhos cinzentos. Sentiu as mãos calosas e firmes em sua nuca, tocando-lhe atrás das orelhas e enroscando os fios de sua nuca. Seu sangue gelou nas veias, e o pânico foi a única razão para que ele não tivesse empurrado o animago com toda a sua força. Sentiu os lábios dele roçando contra os seus quando tornou a falar. — Logo estaremos lá, certo?
James engoliu em seco, seu coração disparado e seu cérebro muito mais confuso do que quando testava seu potencial etílico com os Marotos. Inclusive, ele pensava que precisava fazer isso naquele exato segundo. Virou-se de costas e deixou a torre, correndo pelo corredor quando achou que seria seguro. Virou-se sem pensar que poderia encontrar alguém quando, de súbito, chocou-se contra alguma coisa.
— Sr. Lupin? — ele reconheceu a voz instantaneamente, e soube que estava ferrado. — O que está fazendo aqui? — McGonagall agarrou seus ombros, sacudindo-o com muito mais ímpeto do que James esperava de uma senhora como ela. — Você tem ideia de que horas são? O que está fazendo aqui? Pelas barbas de Merlin, se Dumbledore souber disso! É assim que você retribui a confiança dele? Pondo em risco todos nós e, principalmente, a você mesmo? Por Merlin, por Merlin, saía já daqui!
James se impressionou ainda mais com o surto de McGonagall, que não parecia capaz de perder a compostura daquele jeito, derrubando todos os livros que trazia no chão. Ele teria se acabado de rir se a situação fosse outra.
— James, seu imbecil, cadê você? — Enquanto isso, na Sala Comunal, Sirius apanhou o Mapa do Maroto e seu coração disparou quando viu dois pontinhos muito familiares.
James Potter e Minerva McGonagall juntos nunca significava boa coisa. Ele correu para fora da torre, guiando-se pelo mapa até onde os dois estavam. Parou derrapando um pouco antes de virar o corredor, escutando a professora agitar-se como nunca antes havia visto.
— O que diabos você fez, Prongs? — admirou-se vagamente, como se os malfeitos de James fossem dignos de admiração.
Então, ela se calou muito de repente. Sirius aguçou a audição canina, e ouviu uma exclamação muito alterada quando novamente McGonagall deixou cair os livros que havia recolhido do chão. Vencido pela curiosidade, ele meteu a cabeça no corredor, e se viu mais confuso do que nunca quando viu a cabeleira castanha de Remus Lupin. Ele conferiu o mapa. O nome de James estava bem ali, diante de seus olhos, mas era Remus quem causara toda aquela comoção com a professora.
— Que merda está acontecend... — ele parou de repente. Juntou as peças. — Você só pode estar brincando comigo. — mas suas piores suspeitas se confirmaram quando viu o cabelo desgrenhado de James Potter brotar em sua cabeça.
Ele quis rir, e o teria feito, quando seu coração parou de bater. Oh, Merlin. Tinha beijado James. Oh, merda, merda, merda, merda!, não era, definitivamente, daquele modo traumático que pretendia contar a James sobre ele e Remus. Por que as coisas davam tão fodidamente errado em sua vida?
— James Potter, seu filho de uma...! —sibilou antes que pudesse evitar. McGonagall e James viraram as cabeças até ele, e o amigo pareceu prestes a desfalecer.
— Meu Deus! Por que sempre vocês dois?! — a professora exasperou-se, soltando o braço de James como se ele tivesse uma doença venérea contagiosa. — Na minha sala! Já!
Nenhum dos dois falou nada. Pela primeira vez, não estavam nem um pouco preocupados com a possibilidade de serem expulsos — e era preciso dizer que era uma possibilidade bem real. Não prestaram atenção quando foram mandados para a detenção, que prometia ser a mais traumática de suas vidas, e foram sentenciados a visitar o escritório de Dumbledore pela manhã. Sirius pensou tê-la ouvido murmurar algo como "e é melhor fazerem suas malas", pouco antes de a porta se fechar.
James e Sirius caminharam lado a lado. Não se olharam nos olhos. Sirius suava frio, esperando a qualquer momento que o amigo surtasse completamente, embora pensasse que nada podia ser pior do que a exasperação de McGonagall. Entraram na torre Leste em silêncio, abrindo o armário de vassouras que, já sabiam muito bem, guardava o que precisavam. Pirraça havia explodido uma Bomba de Bosta e Chumbinhos Fedorentos no corredor inteiro. Limpar aquilo tudo sem usar magia seria terrível, ainda mais com a companhia calada de James. Mas pelo menos serviria para manter sua mente ocupada. Pensava em Remus. Em sua decepção ao não vê-los aparecer naquela noite. A ideia era quase insuportável.
— Padfoot — James chamou cautelosamente, antes que começassem a limpar coisa alguma. Sirius virou-se e se deparou com o amigo estendendo-lhe a Capa da Invisibilidade. Sirius a tomou com um olhar confuso. — Eu encoberto você. Vá ficar com Moony. Passe no banheiro do sétimo andar antes. Tem um caldeirão com um resto de poção Polissuco. Use um fio de cabelo seu e faça Wormtail beber, e mande-o para cá.
Sirius piscou diante da velocidade com a qual James bolara aquele plano intrincado, mas depois se lembrou de que estava falando com James Potter.
— Vá logo, idiota, antes que a gente se foda ainda mais! — ele empurrou o amigo pelos ombros, parecendo mais familiar com aquele brilho engenhoso nos olhos castanhos.
Sirius acenou. Pensou em dizer "obrigado", mas aquilo pareceria meloso e constrangedor. E, no final, nunca agradecera James por nada antes. Mesmo sabendo que precisava agradecer exatamente por tudo. Mas o olhar que trocaram naquele momento era cheio de significado, e James sorriu antes que Sirius o acompanhasse.
Ele correu, e, antes de dobrar o corredor com pressa, ouviu a voz de James.
— Hey, Padfoot.
Sirius virou-se com curiosidade.
— você nunca mais poderá me chamar de veado. — e riu.
NA: Eu estava deitada, pronta para dormir, quando esse plot magicamente surgiu na minha cabeça. E sabe aquelas coisas que você precisa colocar no papel rápido, porque se deixar pra depois vai perder os detalhes? Então.
Espero que tenham gostado, e obrigada pelo carinho!
