O Novo Cavaleiro

Autora: Berta Kurosagi
Beta Reader e Co-autora: Bela-chan
Anime: Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco)
Categoria: Drama/Romance
Classificação: Yaoi, Lemon.
Casal: Mu x Shaka
Status: Incompleta

Saint Seiya(Cavaleiros do Zodíaco) propriedade de Kurumada, Toei e Bandai

Resumo: AVISO: YAOI(LEMON) -- Shion traz seu pupilo para o Santuário. Por causa de alguns problemas que o Grande Mestre estava enfrentando, encarrega um outro Cavaleiro de Ouro para concluir o treinamento de Mu.

Capítulo 1

Era um dia quente de verão e o sol brilhava com tal intensidade que fazia os curtos cabelos arroxeados do garoto colarem na nuca. O menino caminhava incerto, subindo uma das montanhas da cordilheira do Himalaia por uma trilha tortuosa que subia em espiral até o topo. Caminhava a no mínimo três horas, carregando a mochila pesada nas costas, o ar rarefeito já começava a fazer efeito, deixando-o um tanto tonto. Quanto mais teria que subir? Não sabia. Só sabia que teria que encontrar alguém naquela trilha. Não sabia ao certo quem. Não sabia sequer o que estava fazendo ali. Balançou a cabeça, tentando fazer o cérebro funcionar melhor, mesmo com pouco oxigênio. Não era hora de pensar naquilo. Era hora de se concentrar no caminho, que se tornava mais estreito e mais perigoso a cada passo.

Depois de mais uma hora de caminhada, a temperatura havia caído drasticamente, mesmo com o sol ainda quente, e a trilha estava tão estreita que ele estava escorado na parede, andando com um pé à frente do outro. Arriscou uma olhada para baixo. Uma queda daquela altura e ele poderia dizer "Adeus" até para os anjos que por ventura viessem pegar sua alma. Anjos? Que besteira! Ele não era católico. Ah, tanto faz. Na hora do medo, até crenças absurdas tornavam-se plausíveis. Medo. Era isso que ele sentia. Tontura e medo. A mochila pesada insistia em puxar seu corpo para baixo, obrigando-o a adquirir o equilíbrio de um acrobata. O ar estava muito rarefeito, sentia-se extremamente cansado. Por que raio estava naquele lugar? O que buscava lá? Viu o mundo enevoar e rodar, ficando de ponta cabeça. Sentiu quando o chão sumiu de debaixo de seus pés, fazendo-o sentir uma leve brisa a balançar os cabelos. Seus olhos fecharam-se gradualmente, sem que ele percebesse que estava despencando do alto da montanha.

"Ajuda..." foi tudo o que conseguiu pensar.

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Estava tudo escuro, o garoto não conseguia enxergar nada. Caminhava sobre um chão firme, mas negro como tudo em volta. Não sabia se seu corpo estava lá, não conseguia ver suas mãos. Queria correr, mas aquele lugar lhe dava medo. Não se lembrava de nada. Não sabia como fora parar ali. Uma montanha. Muito calor. Exaustão. Vertigem. Depois tudo sumira. Será que estava morto?

"Yohan..." sussurrou muito baixinho uma voz desconhecida

Então aquilo era morrer? Que coisa sem graça! A morte não passava de um vazio. Lembrou-se das fantasias que as pessoas criavam sobre a vida após a morte e de repente até o Inferno lhe pareceu mais divertido, com todo o seu fogo e bichos vermelhos com garfos gigantes. Esses garfos tinham nome. Qual?

"Yohan..." Tornou a voz, um pouco mais alta

Dessa vez ele ouviu. Era o seu nome.

- Eu? - Perguntou surpreso, dançando os olhos pela escuridão, ou pensando que o fazia. Tudo parecia exatamente igual. - Quem está aí!

"Yohan..." A voz mais cada vez mais alta.

Continuou andando, agora com passos mais fortes e decididos. Não reconhecia aquela voz. Era melodiosa, suave... Quase sedutora.

- Quem é você? O que quer comigo!

"Yo--!" A voz começou a gritar, mas ele não pôde terminar de ouvi-la. Subitamente sentiu seu corpo abandonar aquele lugar, sendo sugado para baixo, como se ele tivesse sido atirado de um avião em pleno vôo. Estendeu as mãos para cima para segurar-se nas bordas do "alçapão", mas nada encontrou. Girou os braços ao redor do corpo e nada. Podia sentir a gravidade agindo sobre seu corpo. Começou a gritar, implorando que o dono da voz ajudasse. Nada.
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- Nã... n-não... - Ergueu o tronco num gesto espasmódico, sem se apoiar na cama, parecendo um morto que acabava de retornar a vida. - NÃO! - Gritou tão alto que se assustou com a própria voz.

Seu peito subia e descia violentamente. Mechas de cabelo lilás coladas à testa e à nuca com suor frio. Os olhos verdes-mortos estavam vidrados, como se ele estivesse vendo o Demônio à sua frente. Não se mexia.

Depois de alguns instantes naquele estado de choque, começou a perceber que... Não conhecia aquele lugar. Estava num elegante quarto com adornos antigos chineses, todo enfeitado com tecidos vermelhos. A cama em que se encontrava era pequena e pouco luxuosa, mas igualmente bonita. A janela estava aberta e ele podia ver a paisagem lá fora. Dava para ver a cordilheira tibetana inteira dali de onde estava.

- Que lugar é esse...? - Pensou alto, tentando se levantar e percebendo que suas pernas ainda não haviam se recuperado do choque. - Eu não estou me lembrando daqui... Não me lembro de nada do que aconteceu... - Massageava a cabeça, tentando lembrar o que havia acontecido antes do seu pesadelo.

Sabe quando você sente que tem alguém além de você no seu quarto fechado?

Ele arrepiou-se ao sentir uma presença além da dele naquele cômodo. Virou o rosto rapidamente para o lado. Não soube nem o que perguntar.

- Acordou, Yohan? - A voz vinha da cadeira que estava na parede ao lado da cama.

Era um homem, trajando longas vestes brancas de aparência pesada, ombreiras de ouro, aparentemente maciço, com detalhes em alto relevo e vários colares no pescoço. Não pôde deixar de reparar como ele era bonito! Yohan admirou cada detalhe daquele humano que tinha a beleza de um deus. Os cabelos rebeldes, jogados para todos os lados, iam quase até o chão e tinham um tom de verde brilhante. Os olhos eram púrpuros, tão penetrantes e hipnóticos que pareciam poder rasgar qualquer um que ousasse encará-los por muito tempo. A pele era muito alva, pura e angelical. O menino então notou algo de realmente muito estranho. Na testa, onde qualquer humano normal possui sobrancelhas, ele possuía duas pintas grandes e redondas, de cor bordô.

- Ei? Acordou mesmo, menino? - o homem levou os dedos a altura da cabeça e estalou-os para chamar a atenção de Yohan.

- Ahn? - Ele balançou a cabeça. - Ahh, sim, acordei, mas... Onde estou? E quem é você!

Ele viu quando o homem se levantou e caminhou até a cama, sentando-se na beirada. Só então Yohan reparou que ele não sorria, nem estava irritado. Ele simplesmente... Não sentia nada. Ou não demonstrava o que sentia. Seus olhares se encontraram e o garoto sentiu seu corpo todo arder. Encarar aqueles olhos violetas era exatamente como ele pensara. Hipnótico e doloroso. Não conseguia desgrudar seus olhos dos dele. Seu coração estava disparado. Seu cérebro não pensava. Não conseguia. Estava encantado.

- Gostaria de dizer que você é um inútil. - Disse com calma.

O encanto sumiu.

- Eu nem bem acordei e você já me chama de inútil! O que eu fiz! - Perguntou, inconformado.

- Você quase morreu subindo a montanha sabia? - Continuou no mesmo tom. - Você se desequilibrou. Por sorte eu estava por perto.

- Ah... Sei... - Ele conseguiu abaixar os olhos, as lembranças sobre os últimos acontecimentos voltando aos poucos. - Obrigado por ter me salvado...

- Não agradeça, eu não ia te salvar. - Ele passou a mão pelos cabelos, ajeitando-os.

- Não estou te entendendo! - Sua voz passou a apresentar irritação. - Você não iria me salvar, mas me salvou! Aliás, o que eu estou fazendo aqui? O que eu estava fazendo subindo a montanha?

- Você só me provou que era um fraco quando tropeçou e caiu. Eu não estava procurando um discípulo fraco. Quando te encontrei no vilarejo, pensei que fosse mais forte.

- Continuo sem enten--

- Fique quieto e não interrompa! - Ordenou ele, sem alterar o tom. Ao ver que o garoto se encolheu todo sob a coberta de veludo, voltou a falar. - Um garoto que vivia sozinho e que era tão determinado só poderia ser forte, capaz de subir essa montanhazinha. Depois de tantos que eu convidei terem caído, eu pensei que seria praticamente impossível isso acontecer mais uma vez.

As lembranças foram surgindo na cabeça de Yohan. Um homem de elmo dourado e trajes brancos que encontrara enquanto trabalhava na feira do vilarejo. Ele lhe convidara para treinar alguma coisa que não se lembrava. Mas para isso ele teria que subir a montanha que levava a um lugar místico chamado Jamiel, e ele o encontrava no caminho. Yohan chegou a subir... Então ele também caíra.

- Você seria apenas mais um para engrossar o número de mortos. - Vendo que o garotinho ainda estava encolhido e com a cabeça baixa, ele seguro seu rosto pelo queixo e ergueu-o, aproximando seu rosto do dele, fazendo seus narizes se tocarem levemente. - Mas você tem algo. Algo que é especial demais para ser desperdiçado.

O menino corou violentamente, sentindo o hálito quente do homem em seus lábios. Tinha medo dele, daquela expressão indiferente e da calma com que ele falava. Tentou puxar o rosto, sem sucesso. Ele era forte!

- C-como assim especial? - gaguejou ele, sem esconder seu nervosismo.

- Você não se lembra. - Ele agora sussurrava. - Você me pediu ajuda...

- Isso é normal, eu estava caindo de--

- Shh! - Ele colocou o indicador da outra mão sobre os lábios de Yohan, pressionando levemente. - Você não gritou. Não falou. Eu "captei" o seu pedido de ajuda.

- Captou...? - murmurou, mexendo muito pouco os lábios sob o dedo dele.

- Sim... você só pensou em pedir ajuda, Yohan... Não chegou a pedir.

- Você ouviu... Um pensamento...?

- Sim.

- Você lê pensamentos...?

- Não. Você se comunicou telepaticamente comigo.

Um instante de silêncio. De repente Yohan explodiu numa gargalhada, soltando-se da mão do outro e caindo para trás de tanto rir.

- Telepatia? HAHAHAHAHAHAHA, claro! claro! - E continuou rindo.

Ergueu os olhos a fim de ver qual a expressão no rosto do outro. Mais uma vez seus olhares se encontraram e ele sentiu um medo absurdo invadir seu corpo. O homem perfurou-o com o maior olhar de censura que ele já vira e isso o fez calar a boca imediatamente, tremendo de medo.

- Você nasceu com um dom muito raro, menino. - Ele tocou a sobrancelha lilás esquerda de Yohan, fazendo ele ficar vesgo tentando ver o que o outro fazia. - O da telecinese.

- Mas isso é impossível! - Disse, totalmente descrente. - Eu nunca li o pensamento de ninguém, ninguém nunca leu ou "captou" o meu, eu nunca consegui entortar colheres!

- Você não tem treinamento, seu dom só se manifesta quando você sente algo muito forte.

- Mas você leu meu pensamento, isso sim! Como é que eu já pensei um monte de coisa e nunca ninguém normal - ele deu bastante ênfase na palavra "normal". - conseguiu "captar"?

- Isso eu não posso explicar agora. Só explicarei se você aceitar ficar comigo para treinar e se tornar o herdeiro da minha armadura de ouro.

- O que? Explica isso direito que é agora que eu não entendo mais nada mesmo!

O homem então explicou tudo sobre a deusa Athena e seus 88 cavaleiros protetores, cada um regido por uma constelação. Contou sobre as guerras épicas, sobre os deuses inimigos, sobre as armaduras. O sol se põe e a narrativa ainda parecia longe do fim, Yohan cada vez mais envolvido com a história que os livros não contavam. Ao terminar, o homem percebeu que a muito já passara da meia noite. Deveria ser duas ou três horas da manhã.

- Entendeu agora?

- Sim... - o garoto sorria fascinado. - E eu quero me tornar um cavaleiro!

- Calma, não haja por impulso. Eu não te contei tudo na feira por que você ainda precisava passar pelo primeiro teste.

- Então conte o resto! - pediu, ansioso.

- Eu farei você aprimorar esse dom e lhe ensinarei a lutar como um digno cavaleiro de Athena. Ademais, eu sou o único cavaleiro no mundo que tem o dom de consertar armaduras quebradas, e você será meu sucessor nesse serviço também. Quantos anos você tem?

- Seis.

- Serão no mínimo mais oito anos de treinamento árduo. Saiba que se você aceitar treinar comigo, estará embarcando num tour pro inferno para o Inferno. Poderá morrer durante o treinamento e pode esquecer que eu não vou mais te salvar. Você pode ser especial, mas tem que aprender a agir sozinho. Passará por duras provações antes de colocar as mãos na armadura. E eu não aceito desertores. Se você fugir, eu irei atrás de você e te matarei.

A voz dele agora estava tão séria que Yohan sentiu que só a idéia de treinar com aquele homem já era suficientemente assustadora. Mas se voltasse atrás agora, voltaria àquela vida miserável de antes. Pelo menos ali teria comida, água e um lugar para dormir. Poderia esquecer de sua vida de criança abandonada. Novamente, até o Inferno lhe pareceu mais convidativo.

- Eu quero treinar aqui. - Ele falou com uma firmeza tal, que pela primeira vez, desde que acordara, viu aquele homem erguer levemente seus pontinhos na testa e esticar os lábios rapidamente, no que lhe pareceu ser um meio-sorriso.

- Então eu serei seu mestre daqui por diante. Tudo o que eu mandar deverá ser cumprido com precisão, entendeu? - Yohan fez que sim com a cabeça. - Meu nome é Shion. Mestre Shion pra você.

- E eu me chamo--

-Yohan, eu sei.

Yohan levou a mão à testa. Shion o chamara de Yohan o tempo todo! Ele havia se apresentado aquele dia quando conversaram na feira.

- Mas a partir de agora, esqueça esse nome.

- Esquecer...?

- Sim. Seu nome agora é Mu.

- Mu? Por que "Mu"? "Muuu" é o som que a vaca faz! - Disse, novamente inconformado.

- Mu é japonês. Significa "nada".

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No primeiro dia de treinamento, Mu já esperava o Inferno.

Ele só não sabia que existia lugar pior que o Inferno.

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Fazia pouco mais de um ano que estavam treinando. Mu havia melhorado muito, tanto física como telecineticamente.

- AHHHH! - O corpo de Mu descreveu um arco no ar, explodindo com violência contra uma pedra, fazendo lascas se soltarem. Seu corpo escorregou até alcançar o chão. Sua cabeça latejava como nunca, mas apenas alguns leves ferimentos fizeram escorrer sangue. Shion o ensinara já há algum tempo a controlar seu fluxo sangüíneo, para que mesmo que se machucasse conseguisse intimidar o inimigo. Sua técnica ainda não era perfeita, mas já estava melhorando.

- Levante-se, Mu! - Berrou Shion com energia.

Shion usava apenas uma calça verde de treinamento já bem surrada e sandálias de treinamento com amarras nas pernas. Seu corpo era repleto de músculos firmes e proeminentes. Mu firmou as mãos no chão e, esquecendo-se da dor, ergueu o corpo, tentando se por de pé sem fraquejar. Admirava o corpo definido do mestre. Queria ter um igual, e faria de tudo para conseguir. Mera vaidade.

Mu arremessou-se sobre o mestre e eles começaram a lutar. Digladiaram-se com fervor, tentando um furar a defesa do outro. O mestre estava impressionado com as habilidades do pequeno. Ele havia melhorado tanto em tão pouco tempo! Nunca pensara que pegaria tão pesado com aquela criança, mas a força dela era irreal. Não sabia o que o motivava, mas certamente era algo muito forte. Depois de segundos intermináveis, Shion conseguiu furar a defesa de Mu, acertando-o com um murro certeiro em seu queixo, fazendo-o voar metros acima do chão e cair como uma pedra na arena de treinamento.

- De pé! - Mantinha os punhos erguidos.

Mu não conseguiu se levantar dessa vez. Sua cabeça agora doía mais do que antes. Tanto que ele não conseguia sequer pensar direito.

- Mu? Mu, tudo bem aí! - O mestre abaixou lentamente os punhos, percebendo que algo estava errado. O pupilo não reagia.

A cabeça do pequeno doía demais. Ele não ouvia a voz do mestre. A única coisa que ouvia era a música de ossos triturados. Talvez nem tivesse mais costelas. Sentiu um ódio profundo de Shion. Ele era só menino! Mesmo com uma força superior ao de qualquer outro de sua idade, apenas um menino! O ódio cresceu de forma descomunal. Só havia dor e ódio em sua cabeça.

Shion estava se aproximando, quando sentiu alguma coisa acertar seu rosto, deixando um filete de sangue escorrer pela bochecha esquerda. Tocou o rosto, limpando o sangue. Alguma coisa viera em sua direção. Será que haveria mais alguém ali? Não, claro que não. Os cavaleiros mortos teriam feito estardalhaço se alguém tivesse entrado. Jamiel só tinha aquela entrada! Outro golpe, dessa vez em seu ombro. Esse não passou de raspão, caindo no chão e deixando uma marca na pele que certamente ficaria roxa mais tarde. Agachou-se e pegou o objeto. Uma pedra de mais ou menos dez centímetros de diâmetro. Soergueu os olhos. O rapaz parecia desacordado, mas...

Não teve tempo para pensar em mais nada. Uma das pedras gigantescas que cercavam o lugar fora arremessada contra Shion, forçando-o a se esquivar. Não tivera tempo de pensar em uma reação diferente. Acompanhou pela visão periférica a pedra explodir contra os muros da sua Torre Sem Portas. Em seguida outra pedra se ergueu muito maior do que a primeira, seguindo o mesmo trajeto de sua antecessora. Desta vez, o mestre não fugiu. Estendeu as mãos em frente ao rosto, as palmas abertas voltadas para a pedra. Seus olhos e "sobrancelhas" emitiram um brilho púrpura. Um grito grave e a pedra parou, flutuando no ar a poucos centímetros de seus dedos. Mais um grito e a pedra se despedaçou, tornando-se poeira e chovendo sobre a arena. Pressentiu outro ataque e antes que este acontecesse, aproximou-se de Mu e recolheu-o nos braços. Com o indicador e o dedo médio da mão direita esticados, tocou a testa dele, recitando um mantra budista. O pupilo desacordado forçou as sobrancelhas e em seguida relaxou-as. Shion deixou de sentir a aura descontrolada do garoto. Os ataques cessaram. O rapaz perdera o controle sobre o fluxo sangüíneo e agora rios de sangue começavam a escorrer por todos os ferimentos, superficiais e profundos. Se demorasse muito, ele morreria. Com um único pensamento fez a Torre se reconstruir em questão de segundos, ficando idêntica ao que era antes da colisão. Recolheu-o no colo, sentindo que pelos menos duas costelas dele haviam se partido e que seu pescoço estava deslocado. Teletransportou-se para o quarto de seu discípulo, no último andar da Torre. Deitou-o na cama e cobriu-o com uma coberta de veludo. Colocou novamente os dedos sobre as sobrancelhas dele e começou a entoar outro mantra. Aos poucos, o corpo do garoto foi voltando ao normal. Ele não corria mais risco de vida.

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Mu acordou quase um dia depois do acontecido. Não conseguia se lembrar de nada com detalhes.

- Mestre Shion!

Imediatamente, Shion apareceu no quarto, sentado naquela cadeira ao canto.

- Me chamou, Mu?

- Sim! - Ele se pôs sentado sem muito esforço. - O que aconteceu comigo?

Shion soergueu suas pintas, levantando-se e se aproximando da cama.

- Mu, tenho uma coisa muito séria para falar com você.

O menininho piscou.

- O que é? Eu fiz algo errado?

Shion sentou-se ao seu lado na cama. Pousou a mão no joelho dele, fitando-o com olhos sérios. Tudo bem que Shion nunca sorria, mas ele também não fazia aquela cara de sério com freqüência. Mu ficou preocupado. O mestre tomou ar.

- Está na hora.

- Hora de quê!- Seus olhos se arregalaram e suas sobrancelhas foram passar do meio da testa.

Shion estendeu os dedos, tocando levemente as sobrancelhas dele. Com a outra mão fez um gesto rápido, fazendo uma pequena caixa de madeira pousar com delicadeza na cama. Ele abriu-a e retirou uma fita de seda vermelha, amarrando os cabelos de Mu atrás da cabeça com ela.

- Sabe o que você fez? - Ele pegou uma navalha dentro da caixa e continuou sem esperar resposta. - Você me atacou. Inconscientemente. Você sentiu ódio por mim e mesmo desacordado conseguiu arremessar pedras imensas sobre mim.

Mu gelou. Ele iria matá-lo com aquela navalha. Sabia que não devia ter pensado em ódio, mesmo que estivesse sentindo.

- Está vendo isso aqui? - Ele tocou a testa onde estavam suas estranhas pintas. Mu olhou, o medo misturado com a curiosidade. - Meu mestre só fez em mim depois de quatro anos de treinamento e meu poder ainda era tão fraco que só conseguia mover objetos pequenos, como essa caixa. Hoje eu vou fazê-las em você.

- Mas eu só treino há--...

- Um ano. Você está muito avançado em termos de poder. Já está na hora. - Ele posicionou a navalha no canto da sobrancelha direita dele. - Agora não se mexa... Eu não quero te cortar...

Mu obedeceu. Via os pelos lilases chovendo a frente de seu olho enquanto sua sobrancelha deixava de existir. Viu o mesmo se repetir com a outra. Por que não poderia ter sobrancelhas?

- Para que servem essas pintas? - Perguntou enquanto ele recolhia a navalha e tornava a guardá-la dentro da caixa.

- Ela deixa o seu poder em contato direto com o ambiente. - Ele retirou um frasco bem lacrado e um pequeno recipiente de algo transparente, que parecia vidro. - Quando movemos objetos ou nos teleportamos, fazemos um esforço sobre-humano e facilmente nos esgotamos mentalmente. Com elas, você pode mover tudo o que quiser com o menor esforço possível, pois as ondas telepáticas se propagam mais facilmente.

- Isso não faz muito sentido...

- Muitas coisas - Ele despejou um pouco do líquido no recipiente. - não fazem muito sentido.

Mu não disse mais nada. O mestre tinha razão.

- Agora se prepare... - Os olhos e as pintas do mais velho brilharam como nunca, fazendo o menino se encolher. Os polegares dele também brilhavam. - Isso - Ele molhou os polegares do líquido de cor amarelada. - vai doer muito...

Mu aquiesceu rapidamente, estufando o peito. Enfrentaria qualquer dor como um homem. Aliás, nenhuma dor poderia ser pior do que as que sentiam durante o treinamento. Fechou bem os olhos sem franzir a testa. O que um óleozinho poderia fazer?

Infelizmente ele estava prestes a descobrir. Sentiu os polegares de Shion tocarem sua testa. Nada. Mas ele não tirava os dedos. De uma hora para outra, seu corpo arrepiou-se. A dor lancinante atravessou sua cabeça e desceu até seus pés. A pele sob os polegares parecia queimar como o fogo e aquele calor insuportável tomava todo o seu rosto e seu corpo parecia fritar. As lágrimas que brotaram involuntariamente em seus olhos escorreram pelo rosto, queimando a carne no caminho. Mu entendeu vagamente o que Shion colocara ali... Era ácido! Como ele pudera colocar ácido em sua testa? Essa foi a última pergunta consciente que ele conseguiu se fazer. Um mantra entrava pelos seus ouvidos. Nunca havia ouvido aquele mantra... Ou será que já? A dor confundia seus sentidos e sua memória. A dor diminuía, mas não passava. O que estava acontecendo com ele? O que causava aquela dor mesmo? Cabeça girando, o mundo girando. Sua visão não passava de um monte de cores misturadas num imenso borrão. Depois breu. Breu total. Breu e vertigem. Nada além daquela escuridão tortur--

- MU!

Abriu os olhos assim que ouviu a voz de Shion lhe chamando. Suava frio, o cabelo colado ao rosto, o peito subindo loucamente, ansiando por mais ar. Dançou os olhos pelo quarto. Algo ainda ardia em sua testa. Mas dessa vez, ao contrário de todas as outras em que perdera a consciência, ele se lembrava de tudo. Com detalhes.

- O que é que você pôs na minha testa! - Gritou, esquecendo-se que Shion era seu mestre.

Shion não deu ouvidos a má-criação. Passou a mão pela testa dele, afastando os cabelos e fazendo-o esboçar uma leve careta de dor ao passar próximo de onde estavam as marcas.

- Ficaram lindas...

- Ah é! Que bom! - Gritou com ironia. - O que você pôs na minha testa!

- Um ácido de ervas...

- Ácido de ervas!

- Sim. É a única substância no mundo que consegue fazer a ligação perfeita entre a mente e o ambiente. - Ele remexeu na caixinha. - Eu avisei que iria doer! Mas você agüentou bem. - Tirou um espelhinho e fitou sua imagem, ajeitando os cabelos enquanto falava. - Você só fez cara de dor. Meu mestre disse que eu gritei e esperneei. - Ele tocou as pintas na testa, olhando-as pelo espelho. Só então Mu percebeu que aquilo não eram pintas e sim cicatrizes. - Por isso que as minhas são meio deslocadas na testa. - Estendeu o espelhinho para ele. - Veja. Não ficaram bonitas?

Mu segurou o espelhinho e levou-o à altura dos olhos, virando-o para a testa. Leve dor. Mantra ecoando cabeça adentro. Cada coisa estranha! Fitou a imagem refletida no espelho. A carne vermelha viva na forma de dois ovais irregulares, mais finos para o lado de dentro, não lhe parecia tão ruim agora que a dor esvaíra-se quase que por completo. Tocou-as levemente, primeiro pelo espelho, depois levando os dedos à testa, sentindo a diferença de relevo entre a ferida e o resto da pele. Ao sentir a dor voltar aos poucos, tirou a mão.

- Sim... Ficaram realmente muito lindas... - Comentou, sem tirar os olhos do espelho.

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Oie!

Até agora me pergunto de onde surgiu essa idéia -.-´´ ... A Bela-chan me disse que nunca viu uma fic parecida, mas ela me parece tão "lugar comum" que é estranho não ter nada assim... bom, deve ser só paranóia minha -.-´´... mas se alguém souber de algo parecido, me fale, por favor!.

Estou com medo que essa e"Acampamento de primavera" acabem tomando o mesmo rumo pelo fato de eu estar escrevendo as duas ao mesmo tempo. Peço também para se perceberem que isso está acontecendo, me avisem, ok?.-

Arigatou! Kisu!