Ai, ai...
Eu devia estar escrevendo o capítulo 4 de Promessas ou pesquisando um pouco mais pra próxima fic que tô escrevendo, mas isso aqui foi mais forte que eu.
O enredo dessa fic surgiu como um estalo na cabeça e eu passei a noite em claro pensando nela, porque as ideias pipocavam na cabeça - mesmo que eu tentasse dormir pra acordar cedo e trabalhar no dia seguinte.
Um episódio do anime (611, se não me engano) mostrava todos os times em dia de folga, e os pais da Sakura – que são comerciantes – estavam pedindo que ela fosse trabalhar com eles. No fim, ela não foi, mas essa cena me deu uma ideia. E essa ideia me coçou tanto que eu não me senti em paz até escrever o capítulo e postar aqui, então espero que se divirtam tanto quanto eu me divertir escrevendo o primeiro capítulo, e que sei que me divertirei escrevendo os próximos. ^^
Rated M, só por segurança
Ah, só pra avisar, a fic não foi betada. Se encontrarem alguma coisa, por favor, me avisem!
Boa leitura!
Medidas
Por Paty Selenita
Capítulo 1: Medidas de Dimensão
Tédio. Tédio.Tééééédio...
Inspirando pela enézima vez, repito essa palavrinha de cinco letras, três vogais, duas consoantes e duas sílabas com diversas entonações e velocidades.
Não havia pêlo em meu corpo que não sentisse o tédio.
E esse era o meu dia de folga, diabos!
Toda vez era a mesma história: Eu me matava de trabalhar no hospital quase todos os dias (fora as missões!), e quando tinha uma folga, mamãe não parava de dizer quão ingrata eu era por não ajudar a ela e ao papai na loja. "Agora que não precisa mais, não dá valor ao nosso trabalho, não é?" – Ela berrou, fazendo drama – "Mas quando você não tinha profissão, era com o nosso salário que você comprava roupas e aquelas armas pontudas. Armas, pelo amor de Deus! Um dia eu comprei lacinhos para os seus cabelos e no outro você chega em casa com eles cortados na altura das orelhas por causa daquelas malditas armas. Então, por ter carregado você durante sofridos nove meses, por cada vez que cortei meus dedos com sua faca esquisita quando tirava uma roupa suja da sua mochila de viagem e por cada fio de cabelo cortado, você vai ajudar na loja hoje."
E cá estou eu, olhando para o teto enquanto torço para ver algum genin esbaforido entrar porta a dentro, gritando por mim e dizendo que surgiu uma emergência no hospital.
Um parto que fosse, eu faria. Melhor do que ficar aqui, na alfaiataria de papai. O dito cujo estava guardando um rolo de tecido azul canelado e um de linho bege nas prateleiras mais altas ao fundo da loja enquanto mamãe acenava para o último cliente, que colocava o embrulho com suas camisas novas embaixo do braço e sorria afavelmente para a tirana que me deu à luz.
Eu a amo, muito mesmo. Mas seria pedir muito que eu pudesse fazer compras com Ino na paz de nossos comentários ácidos e mordazes sem minha mãe acabar com a graça? Eu também trabalho, tenho dois empregos e nunca pedi que ela me ajudasse com qualquer um deles.
Sorri maliciosamente com o pensamento de pedir para que minha mãe suturasse um baço antes que seu rosto esverdeasse de enjôo e ela desfalecesse, só com a ideia. E foi nesse exato instante em que a campainha da porta soou. Provavelmente o cliente anterior esqueceu a nota fiscal ou algo assim, pensei, dando de ombros. Qual não foi minha surpresa quando uma mão que não era minha entrou em meu campo de visão, balançando rapidamente para me despertar de minha distração.
- Ah, boa tarde! – eu disse preparando o mesmo sorriso comercial que usava ao atender um paciente – O que desej... Você?!
- Yo Sakura!
De todas as pessoas que esperava encontrar ali, Hatake Kakashi era a última delas. E o estado surrado de suas roupas era o que me dava essa ideia. Em todos esses anos, nunca vi Kakashi usar publicamente qualquer outra coisa que não fosse seu uniforme Jounin.
- Desculpe o susto, Sensei. Estava distraída, não o vi entrar.
- Pensei que estivesse de folga hoje.
- Sabe, estudar gramática quando era mais nova teve seus benefícios. Tudo depende do tempo do verbo, e nesse caso, estava de folga se aplica bem à situação. Enfim, o que deseja?
- Hmmm, por um instante imaginei que tinha entrado em uma alfaiataria. Acho que me enganei. – disse ele sorrindo com ironia para a minha pergunta, que tinha a melhor das intenções. É isso o que dá ser gentil com esse preguiçoso.
- Perdoe nossa filha, Hatake-san. Ela está meio aérea hoje – respondeu mamãe que vinha a nosso encontro, me olhando de soslaio e se segurando pra não me dar uma resposta mal-criada pela presença do meu tutor.
- Não me tratem como uma estúpida. É só que, se bem o conheço, Kakashi-sensei deve ter vindo aqui pra me chamar para alguma missão, acertei?
- Mebuki-san, boa tarde. – sussurrou curvando com displicência a cabeça, cumprimentando informalmente a Haruno mais velha - Não, não dessa vez, Sakura. Preciso de um terno.
- Você. Em um terno. Por que será que isso me parece tão estranho?
- O casamento de Genma está chegando. – disse, dando de ombros.
- Ah, claro que tonta eu sou. Você foi convidado pra representar a família de Genma, né?
-É uma pena que os pais do Shiranui-san não estejam mais vivos... – falou mamãe, se intrometendo e ajeitando a franja que caia sobre os olhos – Eram ótimas pessoas. Cheguei a conversar com Kioko-san uma vez. Ela estaria orgulhosa do filho se casar com a primeira aprendiz da Hokage. Shizune-san é tão doce e dedicada quanto sua falecida sogra foi.
Shizune e Genma já estavam juntos durante meu treinamento com Shishou, mas só foram assumir publicamente cerca de um ano e meio atrás. De lá para cá, ela conseguiu o impensável: fisgar de vez um dos maiores mulherengos da Vila. O outro, é claro, era Kakashi – que continuava com suas escapadelas casuais e tão desapegado a algo ou alguém como sempre. Não que ele comentasse isso conosco, é claro. Tudo o que sabíamos eram apenas boatos.
- Sem dúvidas. Entretanto, confesso que fiquei surpreso quando ele me contou que iriam se casar. Me pergunto o que pode tê-lo feito aceitar se amarrar assim. – enquanto comentava com reticência, Kakashi coçava o maxilar, como sempre fazia quando queria demonstrar estar pensando, mas sem dar muita importância ao assunto.
- Três palavras definem Shizune-san, Sensei: Especialista em venenos. Nem Genma é imbecil o bastante pra tentar enrolá-la, sabendo o que poderia acontecer. Isso sem mencionar que Tsunade-shishou faria dele uma pasta vermelha, se ele pensasse em algo assim. Ela tende a ser superprotetora, às vezes.
- Vou me lembrar disso – exclamou enquanto me lançava uma piscadela.
Era impressão minha ou Kakashi estava flertando comigo?
Mamãe olhava repetidamente de mim para ele e vice-versa, sorrindo um sorriso quase diabólico, me dando a ideia de que ela estava tramando algo.
- Diga querido, não era hoje que deveríamos buscar aquela encomenda de algodão e tricoline? – Ela gritou. Papai, que tinha descido das escadas móveis e caminhava em nossa direção enquanto guardava os óculos que só usava no trabalho, olhava com ar de concentração para os verdes e astutos olhos da minha progenitora.
- Era? Eu jurava que era pra daqui uma semana...! Oh, onde estão meus bons modos? Boa tarde, Hatake-san!
- Kizashi-san – devolveu meu Sensei, da mesma forma que fez com mamãe.
- Não, era hoje. –continuou o diálogo, chamando a atenção de meu pai.
- Papai está certo, mamãe. No vidro do caixa tem uma nota com a sua letra dizendo que Yaname-san só teria os pacotes semana que vem, até especificando a metragem de cada tecido.
Haruno Mebuki era uma agenda ambulante. Lembrava de cada telefone, cada data importante e cada compromisso. E, por conta disso, ela nos lembrava com muita antecedência e frequência tudo o que tínhamos para fazer. E é ainda pior quando se trata da loja.
O fato de ela ter se lembrado tão subitamente sobre essa encomenda me deixou ressabiada.
O que diabos está acontecendo aqui?
- Não acredito que me esqueci de dizer a vocês! Yaname-san ligou anteontem, avisando que nossos pedidos já chegaram, e que queria que fizéssemos a gentileza de ir buscar o quanto antes. Parece que ele tem uma viagem para fazer próximo ao País da Lua e não queria ficar preso a compromissos de trabalho.
Papai e eu fitamo-nos nos olhos antes de erguermos uma sobrancelha para ela.
- Ora, meu bem... Yaname-san não está muito velho para fazer uma viagem dessa distância? – Cruzando os braços, ainda com a sobrancelha quase tocando seus cabelos, papai olhou desconfiado. Kakashi nada dizia, apenas observava a nossa estranha interação.
- Isso não é da nossa conta. Agora vamos, já está quase na hora de fecharmos mesmo. E tenho certeza que nossa Sakura-chan consegue atender Hatake-san, não é? – ela disse olhando-o enfaticamente, mas ainda assim, papai parecia não ter entendido nada. Isso até que ela indicou a mim e a meu sensei veladamente com os olhos e papai entendeu o que quer que ela quis dizer com isso.
- Sim, claro, claro! Devemos ir já. Sakura, florzinha do papai, atenda bem o Hatake-san e certifique-se de organizar tudo o que bagunçar e fechar a loja. Aqui estão as chaves. – disse, enquanto sacudia para mim o molho de chaves mencionado.
- Ouça, Hatake-san, acha que poderia acompanhar nossa filha para casa depois?
- Mãããããe, eu não sou uma mocinha indefesa. Eu posso me virar, você sabe. Não precisa incomodar o...
- Não vai ser incômodo algum. Eu preciso passar por ali mesmo.
O que eu estava perdendo? Kakashi olhava para mim com aquele sorriso característico por detrás da máscara, quase fechando os olhos em meia-lua.
Meus pais me chamando com adjetivos carinhosos – coisa que só fazem quando precisam de um favor – e meu Sensei sendo mais solicito do que o de costume... Se é que algum dia ele foi solicito. Se eu não os conhecesse bem, acharia que meus pais estavam jogando Hatake Kakashi, o solteirão velho e pervertido, pra cima de mim.
Ok, ele não era caquético e era pelo menos quase duas décadas mais novo que meu pai, mas ainda assim, velho demais. Desligado demais. Despreocupado demais.
Melhor não pensar mais nisso, andar logo com o trabalho e aproveitar o pouco que restou da minha folga.
- Desculpe por isso, Sensei. Não sei o que deu neles. Mas vamos lá, temos trabalho a fazer. Tire a roupa, por favor.
- Perdão?
- A roupa, Kakashi. Tire-a.
- Ora, ora, mal esperou seus pais virarem as costas, Sakura-chan. Você não perde tempo e é objetiva. Gosto disso.
- Cale a boca e tire logo a porcaria da roupa! – disse pela última vez, com o rosto quase púrpura de vergonha, enquanto beliscava a ponte do nariz, respirando fundo para não jogá-lo janela a fora. Ele precisava mesmo ser tão pervertido? Dei-lhe as costas, para me recompor e ceder a ele o mínimo de privacidade.
- Diga Sakura, trata todos os seus clientes assim?
- Só os insuportáveis.
- Tem muitos clientes insuportáveis?
- Atualmente só você.
- Ótimo. Adoro atendimento personalizado.
Inspirei, segurei o ar por poucos segundos e expirei. Repeti o processo até que parte da impaciência se esvaísse com o gás carbônico que eu liberava. Kakashi definitivamente tem o dom de me tirar do sério. E isso tem ficado cada vez mais frequente, visto que o número de missões com o Time 7 aumentou exponencialmente após a Grande Guerra.
- Me avise quando terminar. – eu disse por cima do ombro.
- Já terminei. Só estava aproveitando a vista.
Quando me virei, antes de poder perguntar sobre qual vista estava falando, o notei olhando descaradamente para a minha... err... parte inferior traseira.
- Cretino.
- Observador, Sakura, apenas observador.
Evitando olhar para ele mais que o necessário, vasculhei o avental verde em minha cintura, em busca de uma fita métrica. Quando não pude mais protelar, fitei-o com discrição. Ele agora vestia apenas a camisa de lycra azul que seguia com a gola que fazia o papel de máscara e uma bermuda do mesmo tecido.
Confesso que não imaginava que ele ficava tão bem nesse tipo de roupa, já que eu só o tinha visto usar o folgado uniforme Jounin ou os péssimos aventais que cedíamos aos pacientes no hospital.
- Erga os braços, por favor, Sensei.
Ele o fez sem relutância e eu logo tomei as medidas de ambos os braços, costas e tórax, tentando me concentrar no que estava fazendo e lembrando que a pessoa de quem eu tomava medidas era meu mestre. Meu professor. O cara que me conhecia desde os meus doze anos, quando eu não sabia pra quê servia um absorvente. E que, nesse momento, enchia minha cabeça de pensamentos um tanto quanto impróprios para alguém que o conhece como eu conheço.
Pigarreando, pedi que afastasse só um pouco as pernas, para que eu passasse a fita métrica entre elas, medindo, assim, as coxas e a virilha, pensando que meus pais poderiam ter me poupado dessa situação.
- Há quantos anos seus pais trabalham nesse ramo? – disse, puxando conversa.
- Bom, papai trabalha a mais ou menos trinta e dois anos, quando começou no País do Chá, de onde eles sempre fazem suas encomendas. Minha mãe disse tê-lo conhecido quando ela acompanhou minha avó à alfaiataria que ele trabalhava, quando ela ainda era adolescente.
- Reparando bem, ela parece ser mais nova que ele, mas não imaginei o quanto.
- É nove anos mais nova que ele. Disse que teve problemas com a aceitação dos pais, e por isso fugiu com papai para cá. Meus avós maternos nunca a perdoaram, já que eram de família abastada e meu pai era só um alfaiate. Mas ela diz não se arrepender. Claro, ela ainda pensa na família e chorou quando soube da morte dos pais, mas uma vez quando perguntei se tinha valido a pena, ela disse que valia e continua valendo tanto que ela faria tudo de novo.
- Não conhece esses parentes, presumo.
-Não... Mas não lamento por isso.
- E sua família paterna?
- Só restou vovó agora, de quem eu e meu pai puxamos a cor de cabelo. Meu avô morreu quando eu era muito pequena, antes de me formar como Genin. Ela acha pouco feminino ser uma Kunoichi, mas sempre faz inveja pra todos os vizinhos, dizendo ter uma neta médica que sabe chutar umas bundas. – terminei com um sorriso nos lábios. Sempre ia visitá-la quando podia, mas tinha também que aguentar as dezenas de rapazes que ela me apresentava como pretendentes. Me tornei um Shinobi, uma médica das boas, lutei, sobrevivi e fui parte importante da Grande Guerra, mas não seria uma moça de bem enquanto eu não arranjasse um namorado. Quem pode entender as avós?
- Corrija-me se estiver errada, Kakashi-sensei, porém, essa não era a pergunta que queria me fazer, estou certa?
-Perceptiva, como sempre.
- Obrigada. E então...?
- Nada demais. Só achei estranho sua família ter deixado você ficar aqui, sozinha, tomando medidas de qualquer homem que poderia estar seminu neste exato momento.
- Não é bem como se você estivesse vestido de verdade, Kakashi-sensei...
- Fico feliz que tenha notado – cantarolou, me lançando um olhar que poderia ser tudo, menos inocente – Mas é justamente esse o ponto. Seus pais costumam deixá-la sozinha com outros homens despidos?
- Ah, Sensei... Não seja tão antiquado. Isso não é muito diferente de um hospital, sabe? Com certeza meu trabalho me fez e continua fazendo ver uma boa cota de homens nus... Mas não, não é comum da parte deles. Nas poucas vezes que faço esse trabalho, sempre tem mais alguém aqui na loja, ou mamãe os mede e eu apenas anoto os números.
- O que faz de mim uma exceção?
- Isso você teria de perguntar a eles. Só que, bem, você é meu Sensei. Eles devem pensar que nos vemos como irmãos ou alguma coisa assim, dada a nossa convivência. Além do mais, eu já o vi usar nada mais que aventais hospitalares vezes demais.
- E por que então seu rosto está tão vermelho, Sakura-chan?
Touché.
- Porque diferente de quando o vejo no hospital, você está acordado, me tirando a concentração e me constrangendo. – respondi, anotando as últimas medidas num bloco de papéis sobre a bancada. – Pode se vestir.
Ouvi o farfalhar de roupas e deduzi obviamente que ele estava se vestindo. Depois de certo tempo, voltei-me em sua direção, dando tempo de vê-lo afivelar o colete verde, olhando para mim de uma forma que nunca tinha olhado.
- Eu a faço perder a concentração, hein? E sobre se constranger... Depois de tudo o que viu num hospital, como você mesma ressaltou, não imaginava que ainda tinha pudores.
- Alguém já te disse que sua inconveniência é quase um dom? – comentei por alto - E sim, tenho pudores. Não é porque sou uma médica que preciso aceitar seus comentários pervertidos e piadas sem-graça.
- Você me deu a deixa, lembre-se.
- Ok, vamos fingir que eu concordo e voltar ao que interessa. Que tipo de tecido prefere?
- Qualquer um que seja preto e não pinique.
- Essa resposta não facilita nada. Vejamos: Temos linho, lã e algodão. E variações desses tecidos; alguns sintéticos também. Aguarde um momento que vou pegá-los para que você veja.
-Você falou sobre facilitar, vamos fazer isso. Eu não sou alguém que se preocupa com essas bobagens, mas é do casamento de um amigo que estamos falando, e eu confio mais na sua experiência e seu bom gosto do que nos meus. Se você visse um homem formalmente vestido na rua, que te atraísse o suficiente para olhá-lo uma vez mais sem que ele percebesse, que terno ele estaria vestindo?
- Um de lã merino, preto ou cinza.
- Pronto, escolha feita. Mantenho o preto, pela tradição. Qual o próximo item?
- Nossa, mas assim? Não quer nem sentir o tecido pra saber se gosta?
- Sakura – ele começou, como se explicasse para uma criança de cinco anos o porquê de ela não poder colocar o dedo na tomada – somos ninjas, você e eu. Apesar de você ser uma garota e comprar mais roupas do que realmente precisa, você sabe a importância de vestir roupas confortáveis. E é por isso que estou confiando em você e no seu bom senso, mesmo achando que não há alguém em todo o planeta que consiga me convencer que esse tipo de roupa pode ser confortável.
- Ok, se não quer ver, tudo bem. Mas não se preocupe, fez uma boa escolha. São muito elegantes, os ternos de merino.
- Não me preocupei nem por um minuto, se quer mesmo saber – disse com ar de riso.
- E camisa? Alguma preferência?
- Voltando ao cara atraente, qual você recomendaria?
- Branca, de algodão. O tecido respira mais, é simples, bonito, clássico e incomoda menos.
- Ótimo.
- Gravata?
- Seda preta, sem frescuras.
- Certo. Hã... Como fará com sua máscara? Tem alguma preta em bom estado para a ocasião?
- Tenho algo em mente.
- Perfeito! Acho que terminamos por aqui, a não ser que não tenha um bom par de meias.
- Correto. E eu não seria tão estraga-prazeres pra atrapalhar seu descanso, mesmo se não tivesse.
- Não que isso fosse estragar mais o dia, mas agradeço a consideração – murmurei enquanto tirava o avental da cintura, me espreguiçando em seguida, ainda sentindo o único olho visível do outro ocupante do lugar em mim.
Caminhamos em silêncio para a porta, e ele a atravessou enquanto eu pegava do molho de chaves aquela que eu usaria para fechá-la.
- Desejo uma ótima tarde pra você, Sensei.
- Sim, ela está sendo – replicou, enquanto me seguia. Alguns minutos depois, quebrei o silêncio entre nós.
- Não que eu me importe, mas... O que pensa que está fazendo?
- Me pergunto como pôde se tornar uma médica tão competente tendo uma memória tão ruim. Eu disse a seus pais que a acompanharia até sua casa, não se lembra?
- Sim, me lembro muito bem. E...?
- É isso o que estou fazendo.
- Ora, não seja ridículo. Não preciso disso, além do mais a sua casa é bem longe da minha. E não tente vir com a desculpa de que passaria por ali. Te conheço tempo suficiente pra saber quando está mentindo. Meus pais podem ter caído nessa, mas eu não.
- Quem disse que é mentira? Ao contrário do que você pode pensar, eu tenho uma vida. E acontece que tenho negócios a tratar por aqueles lados.
- Que negócios?
- Curiosa?
- Claro que não... É só que você nunca fala sobre a sua vida, assim como nunca larga aquele livro pornô, nem quando estamos em missão. E hoje não o vejo em lugar algum.
- Não é pornô, é literatura de qualidade. Nunca o levo comigo quando vou encontrar uma mulher, Sakura.
- Ohh, é isso, então? Está tendo um caso com alguém? Alguém que eu conheço?
- Você definitivamente a conhece, mas não é um caso. Não ainda. – disse com o costumeiro sorriso escondido, descansando as mãos na cabeça.
- Confiante, não?
- Com certeza estou.
- Como pode ter tanta certeza que ela vai cair nessa sua conversa mole?
- Não tenho. Ela é bastante inteligente, para o seu próprio bem. É isso o que faz tudo muito mais divertido.
- Fala dela como se fosse uma presa... – comentei com desgosto. Eu não gostaria de ser vista assim, então posso apenas sentir pena da pobre mulher.
- De certa forma, ela é. Shinobis como eu gostam de caçar, Sakura. Se torna a nossa natureza, depois de algum tempo de carreira. Mas existem caças e caças. Existem aquelas boas, que te satisfazem durante algum tempo – e neste caso é benéfico para ambos –, e existem outras que você aposta a vida. É muito arriscado, perigoso até, mas tão excitante que não se pode permitir parar. A não ser que a caça te vença.
Durante alguns instantes, me calei, ponderando o que ouvi.
Kakashi, como disse antes, não é uma pessoa que divide seus pensamentos e hábitos com frequência – se desconsiderarmos todo o histórico dele como comprador compulsivo de livros eróticos. Talvez ele se abra um pouco mais com Sasuke do que com o resto do time, mas não acredito que Sasuke queira emprestar seus ouvidos para esse tipo de assunto, sendo ele tão estoico.
Esquecendo momentaneamente ter visto Kakashi vestindo algo tão justo a ponto de parecer uma segunda pele, foi nesse momento que eu o vi como homem. Não meu Sensei, não o preguiçoso, não o desligado. Nem mesmo só um cara o sarado (eu disse que esqueceria apenas momentaneamente). Ele era um homem, com desejos e atitudes de homem, como qualquer outro da sua espécie. Ou talvez um pouco mais que qualquer outro, já que ele parece ter experiência em "caçar", como ele disse.
Subitamente, comecei a imaginar o tipo de mulher que ele consideraria atraente. Uma loira alta, confiante e curvilínea, como Ino? Uma morena e delicada, como Hinata? Alguém despreocupada, de bom humor e corpo atlético, como Tenten?
De tanto pensar, senti inveja.
Não me entenda mal, ele continua sendo meu velho Sensei pra mim, e detesto ser vista como um pedaço de carne. Gosto mais de deixar que as coisas aconteçam sutilmente do que me envolver em jogos de sedução. Não faz meu perfil... Pelo menos sempre achei que não fizesse.
Eu não estou desesperada a procura de romances melosos, mas faz tempo que meu ego não é alimentado por alguém que me veja como uma mulher que valha mais do que alguns beijos numa noite de sábado, em um barzinho.
Tenho encontros como toda mulher da minha idade, saio com gente legal... Mas nada que valha lembrar no dia seguinte ou que me faça sentir desejada de verdade, pra algo mais que uma ficada.
Talvez Kakashi esteja certo. Talvez, só talvez, shinobis como nós não se contentam com algo facilmente conquistado. É preciso de um pouco de adrenalina e uma pequena dose de medo de rejeição pra nos fazer sentir vivos e dar mais valor à famosa arte da conquista e à pessoa.
Talvez.
Cortei a linha de pensamentos quando já estava na calçada de casa, alcançando meu chaveiro em forma de shuriken do bolso, voltando-me para Kakashi para despedir-me dele.
- Volto a dizer que não precisava, mas obrigada por me acompanhar.
- Às ordens.
- Agora vá, Sensei. Já estou segura e não quero atrapalhar o seu encontro – falei, enquanto abria a porta e despia meus pés das botas de sempre.
- Não se preocupe com isso – e piscou de novo para mim. Considerei seriamente em comentar se ele estava desenvolvendo algum tipo de tique-nervoso, mas ele já havia virado as costas. Gritei um tchau para ele, e ia fechando a porta, quando ele me chamou de repente.
- Sim?
- Só pra que saiba, Sakura, eu não te vejo como uma irmã.
Foi a última coisa que disse antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça, bem em frente aos meus olhos.
O que será que ele quis dizer com isso?
E esse foi o capítulo um :D
Admito: Essa foi uma ideia meio estranha trabalhada apenas em uma palavra, que pode ter uma infinidade de significados, e pretendo trabalha-los todos nessa fanfic tão gostosinha de escrever ^^
Espero agradar a todo mundo que for acompanhar, então peço que deixe aqui a sua review, comentando o que achou, o que gostou, o que não gostou... A participação de vocês é sempre muito bem-vinda!
Até o próximo capítulo!
Bitocas.
