Primeiro dia

Ele era uma criatura desagradável de se lidar e mais difícil ainda de se agradar. Superior insuportável, pensou ela com raiva enquanto esfregava com força o chão enquanto permanecia de quatro, os joelhos começando a doer por sustentarem seu peso. A echarpe negra estava pendurada em uma cadeira no presente quarto. Por mais que hesitasse em fazê-lo, fora necessário para que não acabasse varrendo o chão com ela e não com a vassoura que levara.

A voz do quarto do lado era claramente dele e embora não expressasse emoção alguma — como o usual — estar repreendendo Eren fora o suficiente para fazer com que ela se erguesse rapidamente, pegando a echarpe no caminho e saindo do quarto apressada, invadindo o quarto com violência instantes após ele afirmar mais uma vez que a limpeza efetuada por Eren não era boa o suficiente.

Seus sentimentos por ele já eram apenas uma vontade de vingança pelo que ele fizera com Eren durante o julgamento. Vingança. Ele ainda se veria com ela por isso — mas por ora estava de mãos atadas. E sua personalidade detestável e o jeito com o qual ele parecia tratar Eren algumas vezes a faziam ter ainda mais vontade de transformá-lo em um saco de ossos quebrados.

Quando deu por si, os olhos dele lhe encaravam por cima do ombro embora não houvesse nenhuma mudança de expressão. Ante ele, Eren parecia confuso sobre sua aparição ali, mas ele deveria ter adivinhado que surgira assim que ouvira suas reclamações sobre Eren. Não era difícil fazê-lo devido sua super-proteção com relação ao "irmão".

— Você já terminou seu quarto, Ackerman?

— Não.

— Não deveria estar aqui então. — ela o observou virar o corpo antes de seguir em sua direção e passar pela porta entreaberta às suas costas — Vamos ver como ele está.

— Eu não terminei. — reafirmou ela

— Eu ouvi.

Um som de porta se abrindo indicou que talvez o melhor a se fazer fosse segui-lo, ação esta que os amigos decidiram tomar, seguindo-o até o quarto que Mikasa anteriormente limpava. Ele se encontrava no meio dele e parecia observá-lo por longos segundos antes de ter seu veredicto.

— Você deveria aprender com sua irmã — a frase fora inesperada para ela — Ela ainda não terminou, mas está melhor que o seu.

— Obrigada. — resmungara a contra-gosto

— Eu disse melhor, não perfeito. Termine. — dissera jogando-lhe a escova que ela capturara no ar com apenas uma das mãos

Cerrou o punho, irritada com o comentário enquanto observava suas costas a medida em que ele se afastava. Avançou um passo, mas foi parada pela mão de Eren em seu braço e um olhar significativo. Ela não faria nada. Por enquanto.


— Eu deveria deixar vocês sem comida pelo serviço porco. — foi a primeira palavra pronunciada por ele durante o jantar

A mão de Mikasa que segurava o garfo fechou-se com força a ponto de os nós dos dedos ficarem brancos. Eren a encarou de canto de olho, percebendo a clara irritação da amiga. Na ponta da mesa, ele os encarou por cima da xícara de chá, a mesma expressão usual.

— Claramente... — ele disse antes de colocar a xícara sobre o pires — Vocês preferiram fazer um serviço porco para depois poderem se ocupar com outras coisas... — ele fez uma breve pausa — Roubar comida da cozinha era assim tão importante? — Sasha corou no seu lugar — Ou ficar conversando...? Ou o que quer mais que vocês estivessem fazendo.

— Dá um tempo... — resmungara ela em um baixo tom, sentindo todos os olhares voltando-se para si

— Disse algo, Ackerman?

Ela se ergueu da mesa repentinamente. Sentiu Armin se encolher ao seu lado como se achasse que acabaria sobrando para ele apenas por ser seu amigo. Mas se fossem parar para perceber, o clima estava pesado para todos eles, que alternavam o olhar de Mikasa para Levi.

— Que perdi a fome. Com licença, Heichou.

— Se não vai comer, posso ficar com ele... — disse uma Sasha repentinamente animada com o pão no prato de Mikasa

— Posso abrir uma exceção.

Dissera pegando o pão. A colega estendeu a mão rapidamente, esperando a comida e sendo frustrada ao vê-la levar o pão à boca e mordê-lo. Mikasa pôde ouvir um gemido decepcionado dela quando deu as costas para a mesa e um "Pode ficar com o meu" de Krista seguido por uma exclamação de felicidade.


— Você não deveria ter agido daquela maneira, Mikasa. — ouviu a voz de Eren falar do outro lado de seu quarto — Você deveria parar com isso.

E ele deveria parar de ser um psicótico louco por limpeza, pensou ela sem verbalizar. Sentada em sua própria cama, observava Eren de pé perto da porta do quarto. O amigo confiava nele. Então ela devia confiar também. Mas como poderia se mal conseguia entender como Eren o perdoara. Definitivamente ela não o fizera.

— Eu vou parar.

Dissera, mas sem sentir firmeza em sua própria voz, sentiu como se estivesse mentindo embora se forçasse a pensar que sim, ela conseguiria parar de atacá-lo constantemente ou apenas deixando de não conseguir aceitar sua liderança, desgostando-se com o fato de ter que obedecer tal — em suas próprias palavras — pivete.