Uma noite sem lua. O céu negro cobria a cidade... Uma bela luta; o mármore reluzente que recobria a cidade de Prontera era o farol de muitos viajantes incautos na noite escura. O breu do desespero chocava-se com o luxo branco.
Mesmo com toda a majestade, Prontera encontrava-se às escuras. Aquela batalha, o manto negro do firmamento vencia, cobrindo as ruas de medo. O aroma estranho denunciava; algo estava por vir.
Nos feudos, o burburinho aumentava noite adentro. Os donos dos castelos do Feudo das Valquírias eram os mais próximos ao Rei Tristan. Cabia a eles decidir o que fazer. Mas contra o quê? Ninguém sabia. Os membros das guildas só sabiam que algo funesto estava por vir. E nada mais.
Em Gondul, a atmosfera pesava. Todos estavam em alerta máximo. As luzes do suntuoso palácio permaneciam acesas, em vigília. Mas era possível notar uma das janelas na mais completa escuridão.
Quando o Reino de Rune-Midgard foi instituído, criaram-se as cidadelas, locais onde os líderes mais bravos poderiam desfrutar de um sem número de riquezas que se estendiam por alas intermináveis, cheias de tesouros. Cada um dos vilarejos de Midgard possuía uma cidadela mágica, destinada às batalhas dos ungidos pelos guerreiros-deuses nesta Terra. Aquele que vencesse as batalhas e conquistasse um dos castelos da cidadela, extraindo toda a força vital dos núcleos de Emperium, tornava-se senhor do tesouro e do palácio, desde que jurasse lealdade ao Reino e envidasse seus melhores esforços para manter o equilíbrio no continente. Em Prontera, capital oficial do Reino, existia o Feudo das Valquírias. Reza a lenda que a própria Brunhilde carregou as pedras que agora erguiam os cinco castelos que compunham a cidadela mágica: Skoegul, Kriemhild, Brynhildr, Hrist e... Gondul. E justamente, nesta noite tão minaz, que fazia os senhores iluminarem tudo que lhes era possível, o quarto dos tesouros de Gondul jazia no mais absoluto breu.
Na tapeçaria do quarto, poças negras e espessas se formavam. A origem era certa; o corpo que jazia sobre um grande baú de ouro, trajando veludo. Um arquimago, de cabelos brancos e longos, jazia ali, sem vida, tingindo o áureo de rubro. Mas... Aos pés de uma silhueta esguia, outra poça se formava. Grossas gotas pousavam no chão de madeira, perto da janela. Vinham das lâminas afiadas que repousavam nas mãos daquela sombra, sedentas por mais.
- Bom trabalho.
A madeira rangia, produzindo sons metálicos a cada passo do intruso. A capa vermelha dava uma cadência ímpar a seus movimentos. Eram firmes, mas graciosos... Como um rei, ou um senhor do feudo. Os olhos azuis eram grandes e luzidios, contrastando com os cabelos brancos e displicentes. A armadura trazia o brasão da cavalaria.
Devagar, aproximou-se da silhueta, que mais parecia uma estátua de sal na penumbra. Olhos nos olhos... A silhueta tinha cabelos igualmente brancos. Mais ainda; Longos, caídos nas vestes negras do mensageiro da morte, pareciam prateados. Por trás da longa cortina lunar, olhos negros e brilhantes, destacados da tez de jambo, não esboçavam reação alguma.
- Você deve se apresentar ao Conselho agora.
A assassina deu um passo à frente, maculando a poça de sangue que se formava ao seu redor. Uma bela mulher. Sinuosa, como uma cobra.
- Vocês partirão antes dos primeiros raios de sol.
- Entendido.
A mão do cavaleiro, pesada com as manoplas de aço, tocou o ombro nu da assassina, que se dirigia rapidamente para a porta do quarto.
- Nossas vidas e nossos destinos estão em jogo.
- Conosco, não há jogo. Apenas vitórias.
Dito isto, partiu. Sem um som, sem nada que denunciasse sua presença. Era sua especialidade; era sua vida.
O cavaleiro permaneceu na sala, olhando o arquimago morto. Em seu rosto, apenas desprezo. Cuspiu no rosto do bruxo, enquanto sorria e caminhava lentamente para a porta. No corredor, um guerreiro vinha esbaforido ao encontro do senhor do palácio.
- Meu lorde, a Cúpula solicita sua presença no salão.
- Eu já estava indo, Darius.
O guerreiro leva a mão esquerda ao peito, segurando seu rosário cravejado de pedras preciosas, enquanto faz uma reverência.
- Onde está Avra, Darius?
- Ela está com as irmãs, preparando os rituais.
- Diga a ela que quero vê-la antes da meia-noite.
- Mas os rituais não podem ser interrompidos!
- Por isso, eu disse "antes da meia-noite".
O cavaleiro retirou-se rapidamente, deixando o guerreiro desconcertado. Darius sabia que nenhum membro da guilda havia entrado em duelo durante o dia, e o líder, menos ainda. Mas havia sangue em suas vestes. E ele não conseguia compreender a origem daquilo.
Como todo bom templário, fez o sinal da cruz, oferecendo uma rápida prece à Rosa. E retirou-se depressa para as masmorras. Quando Avra Eran'eil era solicitada, o mais sábio a se fazer era trazê-la.
