Prólogo
Meu nome é Kiara. Nasci na Tribo da Água do Sul. Sou uma das últimas dobradoras de água de lá.
Quando eu tinha seis anos, os soldados da Nação do Fogo invadiram a minha aldeia para eliminar os últimos dobradores de água. Na época, havia apenas duas dobradoras: eu e a Katara.
Não me lembro bem o que aconteceu nesse dia, apenas que meu pai e minha mãe conseguiram fugir comigo para o continente. A ideia inicial era irmos para a Tribo da Água do Norte, mas devido a nossa grande desvantagem e a longa viagem que teríamos pela frente, decidimos nos esconder e esperar até eu estar mais velha.
Meu pai era um guerreiro da nossa tribo, portanto sabia caçar e esconder nossos rastros. E minha mãe, cuidava de mim e das nossas refeições. Enquanto isso, eu procurava qualquer fonte de água para treinar minhas habilidades de dobra de água.
Quando eu fiz dez anos, a área onde estávamos estabelecidos foi atacada pela Nação do Fogo e tivemos que fugir rapidamente. Depois de semanas caminhando, chegamos a um pântano medonho. Lá conhecemos outros dobradores de água que, felizmente, nos acolherem e passamos algum tempo com eles, apesar de serem estranhos. Pude aprender novas dobras de água, inclusive como dobrar a água que havia nas plantas, como eles faziam com os cipós.
Assim que estava mais experiente, eu, meu pai e minha mãe seguimos viagem. Durante esse tempo, meus pais começaram a me ensinar como caçar, cozinhar, fazer roupas e me incentivavam ainda mais a melhorar minha dobra d'água. Eu não entendia porque eles estavam fazendo isso, mas agora vejo que era para eu poder me virar sozinha caso algo acontecesse com eles, como foi necessário depois.
Viajamos por muito tempo e como só tínhamos nossas pernas para isso, as viagens eram longas e cansativas, sem contar o tempo que ficávamos parados devido à doenças e contaminações que acabávamos pegando.
Eu estava com doze anos quando meu pai anunciou que, de acordo com seu mapa, dentro de poucas semanas estaríamos avistando o oceano. Eu fiquei extremamente feliz. Finalmente poderíamos nos estabilizar e viver em paz na Tribo da Água do Norte. Ou era o que eu pensava.
O que eu mais estranhava era como os soldados da Nação do Fogo não nos encontravam. Meu pai devia ser muito bom mesmo em esconder os rastros. Porém, em uma noite, ele deve ter deixado escapar alguma coisa.
Eu estava dormindo quando minha mãe me acordou apressada. Imediatamente senti o forte cheiro de fumaça vindo por todos os lados e algumas fontes de chamas. Meu pai já tinha empacotado todas as nossas coisas e estava nos chamando para correr. Eu levantei meio desnorteada ainda devido ao sono e comecei a correr cambaleante segurando a mão da minha mãe. Meu pai ia à frente segurando uma lança, pronto para a luta caso houvesse. Minha mãe segurava uma faca em uma mão e a outra se mantinha firme na minha.
Meu pai dava instruções a minha mãe, mas eu não conseguia entender nada. De repente, os dois pararam e eu bati contra as costas de minha mãe e caí. Ela e meu pai balbuciaram alguma coisa e então minha mãe me levantou e me abraçou. Meu pai veio e nos abraçou e eu soube que isso não poderia ser um bom sinal.
Depois do abraço, minha mãe estava com os olhos marejados de lágrimas e meu pai com uma expressão triste. Eu perguntei o que estava havendo e meu pai disse apenas que era para eu escalar a árvore mais próxima e ficar em silêncio.
Eu ouvi vozes ao longe. Alguém (ou várias pessoas) estava se aproximando.
Eu perguntei de novo o que estava acontecendo. Novamente sem resposta, minha mãe me deu um beijo da bochecha, me abraçou e disse que me amava. Meu pai fez o mesmo e me deu nossas coisas, inclusive todas as armas que ele fizera, exceto a lança e a faca de minha mãe. Ele me puxou até uma grande árvore e me ajudou a subir.
- Só desça quando estiver totalmente seguro. Então siga para o norte, leia o mapa que está na bolsa. Quando chegar à praia, use sua dobra de água para chegar até a Tribo da Água do Norte. – ele me disse e foi embora.
Eu estava assustada. Subi mais alguns galhos até estar totalmente escondida pelas folhas. Sentei em um galho e agarrei-me ao tronco e, antes que eu percebesse, estava chorando. Meus pais não disseram, mas era óbvio pela fumaça e pelas chamas que os dobradores de fogo estavam por ali.
Ouvi os passos de meus pais se distanciaram só um pouco quando ouvi um grito. O grito da minha mãe. Senti um arrepio da barriga e um temor se apoderar de mim.
Logo em seguida, sons de luta. Som de dobra de fogo. Outro grito, dessa vez de meu pai. Outro frio na barriga e mais medo. Meu coração batia a mil por hora. Mordi meu lábio inferior para tentar conter o nervosismo com tanta força que começou a sangrar.
Eu não queria ter a certeza de minha suspeita. Minhas lágrimas escorriam como cachoeiras e eu chorava o mais silenciosamente possível. Eu queria olhar por entre as folhas e avistar meus pais de pé e bem. Mas não conseguia desgrudar do tronco em que me agarrava, sentindo que não seria a cena que encontraria.
Foi então que eu ouvi a voz de um homem.
- Estão mortos?
Som de folhas sendo pisadas.
- Sim, não há pulso.
Quase soltei um soluço audível, mas coloquei minha boca contra meu ombro a tempo. Minhas lágrimas caíam mais do que nunca. Meu nariz estava entupido e estava difícil de respirar. O que eu mais queria era pegar aqueles soldados pelo pescoço e acabar com eles da forma mais cruel que eu podia pensar no momento.
- Mas onde está a menina?
Senti um arrepio na espinha e congelei. Era de minha que estavam falando.
- Ela deve ter fugido. Não deve ter ido longe. Com essa fumaça ela logo desmaiará e será fácil encontrarmos. Vamos tirar esses corpos daqui.
Ouvi os homens arrastarem meus pais e depois andarem para o sul de acordo com o meu senso de direção não confiável no momento. Fiquei parada na árvore, mesmo depois de não ouvir mais nada.
As chamas se extinguiram, não faço a menor ideia de como. Não sei quanto tempo fiquei ali. Um dia, eu acho. Lembro-me de ter visto o sol nascer e se por.
Quando decidi que não podia mais ficar ali por ter necessidades fisiológicas a satisfazer, eu me movi. Minhas pernas estavam doloridas por terem ficado abertas em torno do tronco da árvore por tanto tempo. Minhas mãos estavam muito machucadas de tanto eu me agarrar ao tronco.
Coloquei uma perna do lado da outra e me curvei. Minhas costas também não estavam em seu melhor estado. Espiei por entre as folhas, mas não consegui ver nada. Já estava de noite e não havia a luz das chamas para clarear dessa vez. O cheiro de fumaça já tinha sumido.
Desci do tronco, bebi um pouco da água que minha mãe pegou antes e comi uma fruta. Apesar do longo tempo sem comer, não sentia a mínima fome. A tristeza de perder meus pais ocupou lugar em todo o meu ser.
Subi de volta a árvore, me ajeitei e me amarrei para não cair. Tentei dormir, mas não conseguia parar de chorar. Arranquei umas folhas da árvore e assuei o nariz porque estava impossível de respirar.
Fiquei em cima da árvore por alguns dias, só descendo quando extremamente necessário. Quando percebi que minha água e comida estavam acabando, e como nos últimos dias tudo estava calmo pelas redondezas de onde eu estava, decidi que era hora de seguir viagem. Abri o mapa de meu pai e estudei suas anotações e consegui me localizar. Desci da árvore e segui para o norte.
Não consegui me virar tão bem quanto imaginava. Cacei muito mal, peguei poucos animais, mas pelo menos frutas eu consegui encontrar. Água também não foi difícil.
Levou umas duas semanas para eu chegar à praia. Quando cheguei, não sabia ao certo o que deveria fazer. O melhor seria ter uma barco, uma canoa, um pedaço de qualquer coisa para eu boiar na água, mas não tinha nada disso por perto e eu não sabia construir algo do tipo. Decidi, então, que o melhor seria congelar a água formando um caminho. Não sabia se daria certo ou se era seguro, mas não tinha muitas opções. Esperei até anoitecer, assim chamaria menos atenção de possíveis inimigos.
Assim que anoiteceu, eu comecei a congelar a água e a correr por ela. Não tenho noção do tempo que levei, sei que não parei um segundo de correr e quando estava amanhecendo, guardas da Tribo da Água do Norte me impediram de continuar. Assim que parei, me senti tonta e desmaiei.
Quando acordei, estava em um quarto com paredes de gelo. Estava na Tribo da Água do Norte, sem dúvidas. Havia uma senhora no quarto e foi ela que cuidou de mim enquanto estava desacordada. Ela me disse que os guardas me trouxeram para dentro, não como prisioneira, pois eles tinham fortes suspeitas de que eu pertencia à Tribo da Água.
Assim que me recuperei, fui falar com o chefe da tribo e lhe contei tudo pelo que passei nos últimos sete anos. Ele me acolheu, assim como todos da tribo pelo tempo que precisasse. Disse a ele que queria aprender novas habilidades de dobra d'água e me aperfeiçoar nelas. Porém, o mestre de lá não permitia mulheres no treinamento. As mulheres deveriam aprender as habilidades de cura com a água. Como nunca fui uma pessoa insistente, logo aceitei a condição. Decidi que aprenderia tudo que podia sobre cura e então partiria para onde eu pudesse treinar ataques com a água.
Nesse tempo, conheci a princesa Yue. Eu e ela ficamos bem amigas durante minha estadia lá, mas, desde que parti um ano e pouco depois, não tive mais notícias dela ou da Tribo da Água do Norte.
Quando saí, o rei me presenteou com algumas armas, suprimentos e remédios, me deixando mais aliviada quanto à viagem que tinha pela frente. Yue deu a mim dois pergaminhos de dobra d'água escondidos de seu pai e do mestre, assim poderia treinar mesmo sozinha. Agradeci muito a ela por isso e pela companhia durante minha estadia e me despedi.
Os guardas me acompanharam de volta à praia e então retornei à minha jornada. Dessa vez, meu objetivo era treinar a dobra de água o máximo que conseguisse. Sem um mestre, ia ser difícil, mas os pergaminhos ajudaram bastante no meu aperfeiçoamento.
Viajei bastante até encontrar um grupo de jovens refugiados intitulados de Lutadores da Liberdade. Nosso primeiro encontro foi desagradável, já que eles me atacaram sem motivo aparente. Depois descobri que eles queriam roubar meus equipamentos.
A minha sorte foi que, mesmo tendo perdido a luta, eu dei a eles um pouco de trabalho e o líder Jato gostou disso e me convidou para fazer parte dos Lutadores da Liberdade. Eu aceitei e passei a viver com eles.
Durante os dois anos que fiquei com eles, ajudei-os a combater os soldados da Nação do Fogo, a atacar seus acampamento e pegar tudo de útil que encontrávamos. Dessa forma, tinha um real treinamento para minha dobra de água e eu melhorava a cada dia. Como consequência desses encontros, ganhei uma queimadura permanente nas costas, abaixo do ombro esquerdo.
Quando estava com dezesseis anos, Jato propôs um plano para mim para acabar com os soldados da Nação do Fogo que estavam em uma vila próxima a nós, a Vila Gaipai. Ele queria que eu dominasse a água para que ela invadisse a vila e assim acabasse com os soldados.
Imediatamente eu recusei. Não ia apenas matar os soldados, mas também os moradores inocentes do Reino da Terra. Jato ficou furioso comigo e nós brigamos feio naquele dia. É claro que eu odiava a Nação do Fogo, mas não colocaria em risco a vida de pessoas inocentes por vingança. Por isso e por outras atitudes que eu discordava, eu resolvi abandonar os lutadores e ir para outro lugar. Finn e Ian, dois outros lutadores que também estavam descontentes, partiram comigo.
Viajamos até chegar à Baía da Lua Cheia, onde pegaríamos uma balsa para a grande cidade do Reino da Terra, Ba Sing Se. Chegamos lá e levamos um choque ao descobrirmos que precisaríamos de passaportes. Teríamos que ir por outro caminho.
O outro caminho, no entanto, era inviável. A Passagem da Serpente era perigosíssima e a chance de sairmos vivos dela era mínima. A outra solução era forjar documentos falsos para viajarmos.
Para a nossa alegria, Finn era muito bom nesse tipo de coisa. Ele conversou com alguns viajantes para poder ver como eram os passaportes, conseguiu o material necessário e fez documentos para ele, para mim e para Ian.
Finalmente conseguimos embarcar e estávamos indo para a tão esperada Ba Sing Se, onde estaríamos seguros e poderíamos começar uma vida nova e estável.
Agora, faz alguns meses que estamos aqui. Nós três arrumamos empregos para nos sustentar. Ian trabalha em uma oficina, consertando todo tipo de utensílios; Finn trabalha apenas de sexta, sábado e domingo durante uma grande feira, mais ou menos como um festival só que menor, que tem em uma das principais ruas de Ba Sing Se durante a noite; e eu trabalho em um restaurante servindo os clientes até às três da tarde (fiz um acordo com o dono e ele aceitou). Depois desse horário vou treinar ou conhecer a cidade e passo muito tempo com Finn, já que ele tem a maior parte da semana livre.
Pedi a ele que me ensinasse a usar arco e flecha, que é a arma que ele tem bastante experiência. Aos fins de semana, Ian me ensina a lutar com espada e corpo-a-corpo. Percebi que não poderia ficar dependente da dobra d'água. Está certo que tem água em todos os lugares e seres vivos, mas na hora da batalha posso não ser capaz de encontrar uma fonte rápido o suficiente. Pensando nisso, um pouco de treino com armas seria uma boa ideia.
E tudo bem que Ba Sing Se é super segura, mas há um guerra acontecendo do lado de fora. É sempre bom estar preparada.
Por enquanto estamos bem e é um alívio não ter que me preocupar com nossa segurança e possíveis ataques da Nação do Fogo. Durante esses anos, meu ódio por eles só aumentou e depois do que aconteceu com meus pais eu jurei que nunca mais chorararia. Meu estoque de lágrimas deve ter se esgotado naquele dia e eu acabei substituindo a minha tristeza por raiva. E apesar de eu querer uma vida nova em Ba Sing Se e estar lutando muito contra meus instintos, não creio que meu desejo de vingança sumirá tão cedo.
N/A: Oiii, gente :)
Antes de vocês continuarem lendo e acabarem se decepcionando lá na frente, vou falar qual é a minha intenção com essa fic.
A estória geral de Avatar será praticamente a mesma. O que eu vou fazer é tentar mostrar um outro lado dessa estória, com uma personagem nova e encaixá-la no contexto original. Então, o Time Avatar estará fazendo as coisas dele e a Kiara estará fazendo as dela. E é claro, sendo uma mulher como eu sou, vai ter um romancezinho lindo =^.^=
Outra coisa, eu suponho que todos que lerão a fic já assistiram Avatar, então eu não vou ficar explicando os acontecimentos ao redor, o Time Avatar e nem vou entrar em detalhes quanto a isso, ok? Só quando for necessário, é claro :)
E o que me inspirou de verdade em fazer essa fic foi quando eu fui procurar uma fanfic com o shipper Zuko/OC em português e não tinha! Gente, como assim? Se eu por acaso não achei por desatenção, me avisem!
Acho que é isso aí. Reviews são importantes, mas mandem se vocês quiserem, sei que é chato ficar pedindo hehehe
Beijos! ^^
A.S.
