Quatro jovens estudantes do terceiro ano conversavam animadamente e seguiam para fora do colégio ao fim de mais um dia de aula.

- O que você colocou no seu formulário de carreira Kagome ?

- Hein? Não, não...eu entreguei em branco Eri-chan, não é como se eu soubesse que curso quero fazer ou algo assim. Preciso pensar mais. - Respondeu a garota de longos e ondulados cabelos castanhos. Ela revirou os olhos e riu ao ver que a outra a olhava inconformada. - E vocês?

As outras três falaram com entusiasmo sobre seus planos muito bem traçados. Eri queria ser professora, Yuka decidiu continuar os negócios da familia, que administrava um restaurante, e Ayumi sonhava com uma bem sucedida posição em uma grande empresa.

- Credo! Parece que vocês já tem o roteiro do resto de suas vidas e eu nem sei o que vou fazer no sábado. - Brincou a estudante. - Eu vou por ali, preciso pegar o trem.

- Não vai esperar o Houjo-kun para irem juntos ? - Questionou Yuka. Houjo era o namorado-sempre-doente de Kagome.

- Ele não veio...está com gripe, eu acho. -Ela se de despediu das amigas e atravessou a rua, seguindo em direção a estação. Ela sempre fora uma garota sem muitas preocupações, na verdade, nem mesmo o fato de ter sido adotada ainda bebê lhe causava alguma inquietação. Acelerou o passo ao perceber seu trem se aproximando da plataforma.

- Caramba, pensei que não ia dar tempo... - Em pé, começou a revirar a mochila, e se surpreendeu ao encontrar uma pequena joia que colocara na bolsa há dias.

- Filha, o que está fazendo? O Houjo-kun já está na sala! - A voz veio do andar de baixo, chamando uma adolescente que procurava um brinco no quarto da mãe.

- Achei ! - O objeto estava escondido em uma caixinha no fundo do guarda-roupa, junto com outras coisas antigas, entre elas, uma bolinha brilhante lhe chamou a atenção. - Uma perola...?

- Kagome ! - Chamou a mãe novamente.

-Já vou! já vou! - Apressada, colocou os brincos na orelha e guardou a jóia consigo por algum motivo.

- È tão linda... - Comentou enquanto brincava, admirada, com a pedra. - Mas só uma...o que será que aconteceu com o resto do colar?

A Constatação que de que vinha sendo observada a tirou de seus pensamentos. Uma mulher magra, de aparencia estranha tinha os olhos fixos na colegial, mas ela não deu atenção e foi para o fundo do vagão ao ver um assento disponível, a desconhecida sentou ao seu lado.

- Não se mexa. E faça tudo que eu dizer. - Anunciou, mostrando uma faça que carregava dentro do casaco que vestia. Assustada, a jovem apenas assentiu com a cabeça.

Durante meia hora, Kagome permaneceu petrificada, sem saber exatamente o que fazer. Subitamente, a outra fez sinal para que saíssem do trem.

- Venha comigo...e não irá se machucar. Quero saber aonde conseguiu esta jóia. - A estranha sussurrou no ouvido da colegial, pegando-a pelo braço e com uma faca na outra mão. Por que não deveria obedecer? Era apenas uma pedra inútil que sua mãe talvez nem lembrava possuir. Contudo, por alguma razão, Kagome se soltou e correu, não sem antes ser atingida no braço pela arma. - Volte aqui sua desgraçada ! Não vai escapar de mim!

Desesperada e confusa, ela aproveitou o principio de confusão para fugir, e correu até se dar conta de que estava na rua, completamente perdida e chorando como uma criança. Precisava encontrar alguma loja de conveniência ou coisa do tipo, ligar para casa, ou para a polícia.

- Não pode ser...Kikyou? - Uma senhora a olhou com espanto, como se visse um fantasma, e se aproximou, parando ao perceber o estado da garota e o ferimento. - Oh meu Deus !Quem é você...menina?

- Senhora por favor me ajude! Eu quase fui assaltada e...e...ela pode estar me procurando ainda! Por favor precisa me ajudar a fugir!

A idosa se chamava Kaede, era baixa e gorda, e aparentava ter uns 60 anos ou mais. Ela se ofereceu para levar a menina até sua casa, que ficava a poucos minutos dalí, em uma rua de casas antigas e mal conservadas. A colegial se perguntava constantemente o que estava fazendo, mas a acompanhou. Era seguro confiar naquela velhinha aparentemente inofensiva? Pelo menos a vizinhança parecia conhecer e gostar muito da senhora que recebia saudações de todos que a viam, ao mesmo tempo em que pareciam surpresos ao ver Kagome.

- Por que eles estão me olhando assim?

- È por que você parece muito com uma pessoa que viveu aqui há alguns anos, eu mesma não consigo acreditar que não seja ela... Oh, veja, chegamos. - A explicação deixou a garota curiosa e aflita por um instante, mas ela logo creditou tudo a uma mera coincidência, e sua atenção se voltou á residência apontada por Kaede.

A casa era muito maior do que aparentava ser quando vista da rua, ao passar pelo pequeno portão, estreito corredor levava a um pátio.

- Um orfanato? - Indagou, ao perceber a grande quantidade de crianças no local. Elas estavam por toda parte. Havia pelo menos seis ou sete, das mais variadas idades.

- Sabe querida, nunca me casei ou tive filhos, ou dia, pensei que cuidar destes pequenos anjos pudesse dar um sentido à minha existência...e hoje eles são a minha vida. - Disse a ultima frase acenando alegremente para duas garotinhas que brincavam no chão. - Não é exatamente um orfanato, a maioria deles morava na rua e provavelmente nunca serão adotados. Venha, é por aqui.

- Será , será que eu posso mesmo entrar? - A história da idosa certamente tocou a jovem, que viu nela um grande exemplo de vida, e a fez se sentir um pouco culpada pela primeira vez por sua incapacidade de escolher sequer uma faculdade.

- Não se preocupe, pode ficar o tempo que quiser, está ficando escuro. Quer ligar para sua casa ?

- Eu ligo do celular, obrigada. - Ao checar o aparelho, viu as dezenas de ligações perdidas, o que era obvio. Tentou, em vão, explicar tudo o que acontecera de uma forma que não deixar a mãe desesperada, e finalmente, garantiu que estava bem, e que daria um jeito de voltar no dia seguinte.

- Mora com seus pais...Kagome-chan? - Kaede, que havia até a cozinha, voltou trazendo um bandeja com um jantar. - Aqui, coma.

- Com a minha mãe, o meu avô e o meu irmãozinho Souta, o meu pai já faleceu. Sou muito grata pela minha família, mesmo que não tenhamos o mesmo sangue eu...

- Espere...está dizendo que é adotada ? -A jovem estranhou a surpresa.

- Desde de que me lembro, meus pais sempre me disseram que eu era a filhinha do coração deles, um presente sabe? Não é como se eu tivesse algum complexo. Hum...isto aqui está muito bom senhora. - Disse.

A senhora sorriu agradecida, disfarçando as dúvidas que a descobertas lhe causaram. Era impossível...não tinha como existe uma ligação entre elas. Mesmo assim, decidiu que investigaria melhor aquilo no dia seguinte. Após o jantar, ela conduziu Kagome até um quarto que apesar de bem organizado, não era utilizado pelas crianças.

- Pode dormir aqui esta noite meu bem, descanse bastante e amanhã lhe ajudarei a voltar para casa.

- Obrigada mais uma vez dona Kaede...se não fosse pela senhora não sei o que teria sido de mim. - Estaria morta com certeza, concluiu a jovem. Na verdade, sabia que ainda não estava segura, aquela mulher ainda deveria estar lhe procurando. Precisava se livrar daquela pérola...mas algo em seu coração lhe dizia para não fazer isto.

Enquanto tentava dormir, continuava se perguntando se tudo aquilo era real, ou se não passava de um sonho.

- Bom dia... - A colegial disse ao chegar bocejando na cozinha onde os pequenos moradores já tomavam café da manhã, estes, sorriram e desejaram "bom dia" à nova hóspde.

- Dormiu bem? - Perguntou a velha senhora lhe oferecendo uma xicara de leite. - Aqui, coma alguma coisa e depois saímos. E vocês crianças, se apressem ou vão se atrasar para a aula.

Kaede se ofereceu para levar Kagome de volta a estação, e a grande aventura da colegial podia ter terminado ali, mas o destino tinha outros planos.

- Como assim o proximo só sai ás duas da tarde? Isto não faz sentido, eu pego ele todos os dias e sei muito bem os horários dele. - Ao tentar o bilhete, a garota acabara de descobrir que provavelmente entrara no trem errado desde de o começo. - Você não está entendendo, eu preciso ir para Kanto. Agora.

- Sinto muito senhorita...

- Eu nunca ouvi falar de um trem que saísse de canto com destino a... Que diabos de lugar é este mesmo?

- Região de Sengoku, senhorita.

- Impossivel ! Impossivel ! Este lugar está sequer nos mapas!

Kagome aceitou resignada a situação e comprou a passagem para ás duas da tarde. E como não tinha nada para fazer e ainda eram nove horas, aceitou acompanhar Kaede até o hospital onde ela precisava visitar um conhecido.

- Não precisa vir se não quiser, pode esperar lá em casa...

- Não, não senhora, não será nenhum incômodo.

As duas entraram o prédio, e logo a jovem percebeu que as visitas da senhora eram frequentes, já que ela tinha amizades por todos os cantos do local. Subiram pelo elevador e chegaram a um quarto de UTI.

- Oh não, esqueci de assinar a ficha...Espere aqui fora um instante, eu volto logo. - E virou em direção ao elevador novamente.

Depois de alguns minutos de espera, a garota decidiu abrir a porta e se surpreendeu ao ver uma unica cama aonde um jovem parecia dormir. A cautela inicial se transformou em curiosidade, e logo Kagome se viu diante dele, se aproximando para poder vê-lo melhor. Tinha cabelos prateados ,um rosto sereno, e uma beleza única.

- O nome dele é Inuyasha. - Kaede disse, fazendo a colegial que parecia estar hipnotizada sair do transe.

- Quem é...? - Ela perguntou, se afastando e sentando em uma poltrona próxima.

- È apenas mais um garoto que eu tentei salvar...mas eu falhei com este aqui. Ele está em coma há cinco anos, foi um acontecimento muito doloroso...

- Sinto muito... - Kagome se sentiu triste por ele, por ver alguém tão jovem em uma situação como aquela. - A senhora vem aqui?

- O coitado está sozinho no mundo, se eu não vier, ninguém virá. - A idosa suspirou profundamente. As duas ficaram ali mais algum tempo, embora quisesse perguntas mais coisas sobre o garoto, a jovem permaneceu em silêncio, apenas observando-o.

- Senhora Kaede. - Um médico veio e a chamou.

- Eu volto logo. - A menina apenas concordou. Sozinha, ela se levantou e mais uma vez se aproximou da cama, e tocou levemente a mão do rapaz, que moveu os dedos de forma quase imperceptível.

- Ele se mexeu! - Gritou, fazendo com que Kaede, o médico e uma enfermeira, que estavam no corredor, voltassem correndo.

- Isto é impossivel. - Disse o homem de branco. Eu estava justamente dizendo à Kaede-sama que o quadro do Inuyasha permanece o mesmo, sem nenhum avanço.

- Eu sei o que vi. E eu vi ele mexer os dedos. Eu juro. - Ela olhou diretamente para a senhora, que tinha os olhos marejados e confusos. - Olhem ! Está mexendo outra vez.

O que se seguiu foi uma grande correria, médicos e enfermeiros entravam e saíam do quarto, faziam mil exames e, quando já creditavam tudo a um simples reflexo inconsciente, Inuyasha abriu os olhos.

- O que...o que está fazendo aqui...? Kikyou, sua desgraçada! – E então, os mesmos olhos se voltaram para Kagome.


Fim do primeiro capitulo. Bem, esta história estava na minha cabeça desde que revi Inuyasha e eu decidi tentar escreve-la, mesmo tendo abandonado as fanfics há anos. Se tiver algum review eu sigo publicando. A idéia é basicamente levar o universo de Inuyasha para o tempo presente, e recontar a história. A maioria dos personagens originais estarão presentes, e sua ordem de aparição será semelhante ao anime, ou seja, aos poucos e tal.