Logo

Quando ela abriu os olhos, naquela manhã, muito preguiçosamente, a primeira coisa que viu foram umas cortinas diferentes das suas. Sua cabeça doía como nunca antes tinha doído. Resolveu se sentar e então se deu conta que estava nua sob as cobertas, que não eram as dela. Não tinha o hábito de dormir despida, e definitivamente não tinha o hábito de dormir debaixo de outras cobertas que não as suas. Em choque, encontrou, saindo do banheiro, seu mais querido amigo. Ele vestia uma de suas longas túnicas. Uma lilás, toda bordada. Ela só soube apertar as cobertas sobre seu colo, não teve cabeça para se lembrar de continuar respirando.

- Bom dia, minha cara. - ele sorria ternamente - Perdemos o café da manhã no Salão Principal, pedi então que os elfos nos trouxessem algo aqui mesmo. Não deve demorar.

Ela não agüentou contato visual por muito tempo, acabou tendo que desviar os olhos.

- Você está bem? – ele mordeu o lábio, dando alguns passos na direção dela. E por um momento ela não soube o que responder, então... disse apenas o seguinte:

- Minha cabeça...

- Hm, eu tenho uma poção em algum lugar aqui... - ele voltou ao banheiro, reapareceu logo depois com um frasco transparente em mãos. - Isso vai ajudar.

- Albus... ontem... - ela colocou a mão sobre os olhos, de repente as memórias voltavam todas de uma vez só. Queria um buraco onde se esconder, não podia acreditar no que estava acontecendo.

- Fala sobre a parte de ter invadido meu gabinete inteiramente bêbada ou sobre a parte em que praticamente me violentou? - ele tentava parecer sério, mas o cantinho da boca insistia em se curvar.

E ela... bem, queria morrer.

- Vamos, apenas beba isso.

Ele entregou a poção e ela obedeceu, bebendo toda a dose de uma vez. O resultado foi instantâneo, logo já não havia nenhuma dor, nenhuma pontada ou desconforto. No entanto, o constrangimento ainda estava lá e parecia ganhar força a cada segundo que se passava. Ele pegou o frasco de volta e o colocou sobre a mesinha de cabeceira, depois se sentou na cama, voltado pra ela. Ele já sorria, não podia evitar.

- Eu não... eu... - ela estava tão nervosa e tão ruborizada, que até o fez dar um risinho suave.

- Minerva, por favor... está tudo bem. O que aconteceu ontem, já aconteceu. Eu sinto por ter permitido... nunca quis vê-la arrependida de nada, mas... você foi muito persuasiva, tem que admitir, hahaha... Veja, temos agora duas saídas, podemos fazer de conta que nada aconteceu, ou podemos encarar o fato de que... nos damos muito bem... na... cama, mesmo com você alcoolizada, o que é fantástico. Você disse algo ontem... disse... disse que me ama... disse que me ama há tempos. Se for verdade, eu sinto muito, mas...

Eles se encaram seriamente nesse momento. Minerva congelou. Todo o sangue havia fugido de seu rosto para seu coração, que pulsava violentamente.

- ... eu não vou poder deixar que vá. Porque a amo também mais que a qualquer outra coisa. Se também quiser, eu gostaria de tentar... algo... algo além. Sua amizade e sua companhia são, sempre foram, impressionantemente preciosas pra mim, ah! Merlin o sabe! Não gostaria de ter minhas memórias alteradas, mas posso providenciar isso, se quiser, e então tudo volta a ser como antes...

Nesse momento brotaram lágrimas nos olhos dela. Ele se aproximou um pouco mais, levou a mão ao rosto dela, afastando as lágrimas com o polegar.

- Você quem decide, minha... doce Minerva... minha tão querida...

Ela então se curvou em direção a ele e depositou em seus lábios um tímido e carinhoso beijo. Ela também gostaria de tentar, oh, decididamente gostaria! Mas, pelos céus, tinha que se lembrar de NUNCA MAIS na vida pensar em levar aos lábios qualquer coisa mais forte que Gillywater.

Fim