Vida Privada pertence parcialmente a Barbara McCauley! Quanto aos personagens, uns pertencem a Barbara McCauley e outros a J.K. Rowling.
Vida Privada
Marlene olhou pela janela da cabine do trem e contemplou a paisagem do Texas.
Era como olhar para um cartão-postal, pensou Marlene, encostando a cabeça no assento de couro. Um céu azul intenso. Nuvens brancas e pesadas no horizonte distante. O balanço suave do trem no trilho.
O estridente toque de seu celular.
Mil e quinhentas milhas entre ela e Los Angeles e ainda não era o suficiente.
Marlene olhou para o relógio de pulso. Oito e meia no horário de Los Angeles. Estava esperando a ligação, sabia que sua empresária pegaria o recado que deixara para ela há alguns minutos: Narcisa, aqui é Marlene. Estou tirando três semanas de descanso. Por favor, cancele meus compromissos e marque um outro horário com May. Obrigada.
Ao toque insistente do celular, Marlene suspirou. Resolva isso logo, disse para si mesma. Sabia que apenas adiaria o inevitável se não fizesse isso. Tirou o celular do bolso de seu casaco azul-marinho, respirou fundo e apertou o botão verde.
— Alô, Narcisa.
— Marlene, querida — disse Narcisa, sem fôlego. — Recebi mensagem e estou a caminho de sua casa. Vamos tomar um café e conversar.
— Não temos nada para conversar. — Marlene podia visualizar sua empresária nesse momento, passando a escova pelo cabelo loiro, examinando meticulosamente a agenda de compromissos e mentalmente revendo os eventos do dia, tudo isso enquanto falava ao telefone. — E não faz sentido você vir, pois não estou em casa.
— O quê? Você não está em casa? Onde está?
— Já parti.
— Já partiu? Como assim? Você não pode ter saído dessa maneira — insistiu Narcisa. — Temos uma reunião editorial à uma e meia de hoje para fechar a edição de novembro. Ainda temos de discutir aquele artigo sobre como criar um centro de mesa com os lençóis da vovó e, além disso, precisamos de uma maneira nova e criativa para rechear um peru.
— Narcisa, já disse. Estou viajando. Já saí de Los Angeles. Na verdade, já saí da Califórnia.
— Você o quê?
— Eu disse que precisava de uns dias de folga este mês. — Marlene pegou os convites do chá-de-panela e do casamento da bolsa de lona e colocou-os no colo. — Estou tirando estes dias.
— Marlene... — suspirou Narcisa pacientemente —, querida, falamos sobre isso e concordamos que esta não era a melhor época. Você tem uma entrevista com a revista Casas Elegantes na quarta, uma reunião na quinta com o coordenador de assuntos para a estréia do seu programa de televisão e um almoço beneficente de celebridades no Ritz-Carlton na sexta.
O pensamento de reuniões sem fim, dias longos e agitados e a correria de um evento a outro fez Marlene instintivamente pegar antiácido em sua bolsa.
Ela observou a caixinha de pílulas na palma da mão e a atirou de volta para dentro da bolsa. Em seguida, pegou o saquinho de emergência cheio de cerejas cobertas com chocolate. O açúcar podia não acalmar seus nervos, percebeu ela, mas certamente a faria sentir-se melhor.
— Nós não concordamos que esta não era a melhor época, Narcisa. Você concordou.
— Marlene, precisamos de você aqui — disse Narcisa com firmeza. — Vamos encontrar uma época melhor e eu prometo que você vai poder...
— Não.
Pronto. Falou. Ela disse um não de verdade. Surpreendentemente, não apareceram raios no céu e o trem não descarrilhou. Narcisa, ao contrário, ficou aparentemente atônita e silenciosa.
— Não — disse Narcisa calmamente, depois de um longo momento. — O que você quer dizer com "não"?
— Eu quero dizer não. — Marlene soltou o ar que estava segurando. — Não vou voltar atrás.
Depois de outra pausa, Narcisa disse, hesitante:
— Marlene, querida, você está se sentindo bem?
— Narcisa. — Marlene lutou para manter a voz firme. — No mês passado, pedi a você para não marcar nada nas próximas três semanas.
— Querida, eu não achei que estava realmente falando sério e você nunca deixou claro por que queria tanto. Sei que os últimos quatro anos têm sido uma correria estafante. Mas agora estamos tendo a compensação. As assinaturas de A vida com Marlene McKinnon quadruplicaram, sua coluna de dicas para o lar está vendida para os periódicos, seu último livro está na listas dos mais vendidos em não-ficção da revista Times e seu programa de TV a cabo começa em cinco semanas. Há muitas pessoas contando com você. Mais tarde, você vai ter tempo para descansar. Prometo. Neste momento, precisamos de você.
Marlene fechou os olhos e concentrou-se no suave balanço do trem. Talvez estivesse sendo egoísta. Querendo tempo para si mesma especialmente quando todo mundo a sua volta também estava trabalhando duro. Não queria deixar ninguém triste. Não queria desapontá-los.
E três semanas era muito tempo.
Marlene olhou novamente para os convites. Lily Evans tinha sido a única pessoa na vida de Marlene que tinha desviado o caminho para fazer amizade com uma garota diferente das outras. Uma garota extremamente tímida que usava óculos de armação marrom.
Como era irônico o fato de que o que a fazia tão diferente quando estava crescendo fosse, agora, sua marca registrada.
Foi convidada por Lily para ser madrinha do casamento e dissera sim. Não ia mudar de idéia. Marlene enfiou os convites de volta na bolsa e ajeitou-se na cadeira.
— Deixei notas enormes e os arquivos dos projetos com a May. Ela os conhece tanto quanto eu, provavelmente melhor. Pode ficar no meu lugar até eu voltar.
Narcisa suspirou.
— Você quer que a sua assistente dirija sua empresa? Pelo amor de Deus, me diga que não está falando sério.
— Estou falando muito sério. May está conosco há dois anos. É mais do que capaz. Você saberia disso se desse uma chance a ela.
Marlene achou melhor não mencionar que May era a única pessoa que sabia para onde e por que ela estava viajando. Se Narcisa soubesse, Marlene sabia que nunca conseguiria levar isso adiante.
— Marlene, olhe, sei que ela é uma ótima garota. — A voz de Narcisa ficou frenética. — E admito que ela trabalha muito, mas...
— Desculpe... — Marlene passou os dedos pelo telefone —a ligação está falhando. Tenho de desligar.
— Marlene, não por favor, me ouça, há uma coisa que você não sabe. Eu devia ter contado. Precisamos conversar pessoalmente. Me diga onde está...
Ela acha que vou cair nessa, pensou Marlene. No entanto, ainda com medo de fraquejar, desligou o telefone e colocou-o de volta no bolso do blazer.
Nos últimos quatro anos, cada aspecto de sua vida havia sido cuidadosamente orquestrado. Reuniões, aparições na TV, mais reuniões, divulgação de livro, programas de rádio, eventos beneficentes. Mais reuniões. Ela ainda amava seu trabalho tanto quando antes, mas nesses quatro anos, não havia tirado um único dia para fazer algo que não estivesse de alguma maneira ligado ao trabalho.
Estava tirando esse dia hoje.
Nervosa, mas animada, Marlene cruzou as mãos elegantemente sobre o colo, olhou pela janela do trem e sorriu.
Sirius Black estava de pé em frente a uma janela de parede inteira olhando para a piscina olímpica. O calor de hoje trouxera uma série de hóspedes bem interessantes. Na parte leste da piscina, três homens mais velhos com camisas havaianas e chapéus de caubói debaixo de um guarda-sol azul. No lado oeste, uma morena grávida afastava duas meninas pequenas do jogo de basquete na parte funda da piscina.
Finalmente, esticadas em cadeiras de sol, na parte sul, havia uma fila inteira de mulheres de biquíni.
Sirius sorriu.
Era solteiro e estava de férias num hotel com uma convenção de modelos de biquíni.
A vida não poderia ficar melhor.
— Isso é estranho, ela não está atendendo o celular.
— Hummm? — Sirius olhou sobre os ombros e viu a noiva de James. Estava sentada em sua mesa de madeira com tampo de vidro, parecendo mais uma das modelos de biquíni que a dona de um hotel de alta categoria. A jaqueta do terno tinha o mesmo tom verde de seus olhos, usava uma saia preta e o cabelo ruivo estava batendo na cintura. E embora admirasse suas qualidades delicadas e femininas, Sirius já pensava em Lily Evans como a irmã que nunca tivera.
— Quem não está atendendo o celular?
Enrugando a testa, Lily colocou o telefone no gancho.
— Marlene. Cai sempre na caixa-postal.
Oh, certo, Marlene. Lily mencionara que a madrinha de casamento chegaria hoje para o chá-de-panela de amanhã e ficaria até o dia do casamento.
— Talvez ela tenha desligado — sugeriu ele.
— Marlene nunca desliga o telefone.
— Sem sinal.
— Não deveria estar. — Lily olhou para o relógio da mesa, pegou o telefone do gancho e apertou a tecla de rediscagem. — Ela está pegando o trem de Los Angeles e queria falar com ela antes que chegasse à estação. Disse a ela que a buscaria, mas o editor-chefe da Texas Travel apareceu dois dias mais cedo e quer que eu mostre o hotel a ele.
— Eu vou buscá-la para você — disse Sirius distraidamente enquanto olhava um dos garotos da piscina atirar uma bola molhada no estômago de uma loura bem-dotada. Garoto esperto, pensou Sirius com um sorriso no rosto.
— Obrigada por se oferecer. — Suspirando, Lily desligou o telefone. — Mas não é necessário. Posso mandar um dos carros do hotel.
— Não tem problema. — Para o prazer de todos os homens à volta, a loura levantou-se e caminhou até a beira da piscina e depois, fazendo um grande floreio, jogou a bola de volta. — Além disso, eu não disse a James que cuidaria das coisas até que ele voltasse da Filadélfia amanhã?
— Ele está em Boston. — Lily levantou-se de sua cadeira, parou ao lado de Sirius e olhou para a piscina. — Estou feliz em ver que está levando o trabalho tão a sério — disse ela, enrugando uma sobrancelha. — Talvez eu realmente deva mandar um carro do hotel.
Desviando o olhar da janela, Sirius sorriu para ela.
— A que horas o trem chega?
— Onze e quinze — disse Lily, hesitante. — Tem certeza de que não tem problema?
— Me diga como ela é e já estou a caminho.
Lily foi até sua mesa novamente e pegou uma revista para lhe mostrar.
— Aqui.
A Vida com Marlene McKinnon.
A revista tinha como capa um rosto familiar com óculos de armação marrom sentada num campo de lavanda.
Quando Lily dissera que o nome da amiga era Marlene, nunca ocorrera a Sirius que estava se referindo àquela Marlene.
— Marlene McKinnon é sua madrinha de casamento?
— Já ouviu falar nela?
— Com certeza. — Sirius folheou os artigos da revista: como fazer cartões de marcação de lugar com pedaços de papel parede; como preparar um jantar elegante em menos de trinta minutos; a reforma de uma suíte. — Ela não escreveu um livro?
Lily balançou a cabeça.
— Dois livros. A Vida Fácil com Marlene McKinnon e A Vida Definitivamente Fácil com Marlene McKinnon. Dicas para as donas-de-casa. Fez um bom nome desde os nossos tempos de colégio.
— Pode repetir isso? — Sirius olhou a capa da revista novamente. Até que ela é bem bonitinha, pensou ele. — E então, ela é solteira?
Lily tirou a revista das mãos dele.
— Sim, é solteira, mas acredite em mim, não faz o seu tipo.
Ele piscou para ela.
— Querida, toda mulher faz o meu tipo.
— Talvez não devesse confiar em você com ela — disse Lily, levantando a sobrancelha.
— Comigo? — Sirius colocou a mão sobre o coração. — Sou inofensivo.
— Se há algo que você não é, Sirius Black, é inofensivo. — Mas sorriu ao dizer isso. — Além disso, vamos fazer com que essa viagem de Marlene seja a mais tranquila possível. Ela vai viajar incógnita. Procure um chapéu branco enorme.
— Isso é viajar incógnita?
— Para Marlene, sim. — Lily tirou uma chave em forma de cartão do bolso. — Vou colocá-la na suíte em frente à sua. Acha que consegue se comportar?
Ele deu um sorriso malandro.
— Prometo me controlar.
— Foi isso o que James falou quando nos encontramos pela primeira vez. — Lily mostrou a aliança de casamento para Sirius. — E agora, olhe para nós.
— Não se preocupe. — Sirius esquivou-se para trás como se a aliança fosse feita de criptônima. — Vou transportar sua amiga sã e salva.
Depois de falar isso, deu mais uma olhadinha pela janela do quarto em direção à piscina.
Precisamente às onze e quinze, Marlene desceu do trem com outros passageiros. Era tão presunçoso quanto ridículo vestir um chapéu de abas enormes e tirar os óculos, mas ela preferia ser precavida. Embora as probabilidades de que alguém na estação de trem a reconhecesse fossem muito pequenas — e era exatamente essa a razão de ela ter escolhido viajar de trem em vez de voar —, não queria brincar com a sorte ou comprometer a recém-conquistada liberdade.
Marlene foi para um canto e colocou a mala no chão. Nenhum sinal de Lily, mas sobre as cabeças das pessoas correndo na estação, ela não pode deixar de prestar atenção em um homem de cabelos escuros, bem mais alto que a maioria ali. Braços cruzados sobre o peito largo, ele observava os passageiros que ainda saiam do trem.
Céus.
Marlene sabia muito pouco — tudo bem, não sabia coisa alguma — sobre homens, mas a falta de experiência certamente não a impedia de apreciar uma requintada amostra masculina quando via uma. Ela eslava de férias, afinal, então por que não apreciar o cenário? E, de qualquer maneira, não parecia que ele não a notara. Homens como aquele raramente lhe davam mais que um olhar superficial.
Ele estava imóvel como uma pedra no fluxo movimentado de pessoas. Um metro e noventa e três, pensou ela, talvez mais alto. Forte era a melhor palavra para descrever o homem, embora bonito fosse certamente a segunda. Ao ver sua pele morena e seus braços musculosos, imaginou que ele provavelmente trabalhava ao ar livre. Maxilar quadrado. Queixo largo, mãos grandes. O cabelo grosso e escuro, deslizava sobre a gola da camiseta preta.
Os olhos — cinza? — enrugaram ligeiramente, e Marlene seguiu seu olhar, percebendo que ele avistara uma ruiva atraente descendo do trem. A mulher sorriu para o homem e devolveu o sorriso, Marlene sentiu o coração disparar. Se ela o achara bonito antes, bem, quando sorriu, era completamente letal.
Mas então, surpreendentemente, depois que a mulher ruiva hesitou por um momento, caminhou na direção contrária. Curiosa, Marlene não conseguia tirar os olhos do homem, desejando saber por quem ele esperava.
Uma loura elegante desceu do trem, definitivamente uma possibilidade, pensou Marlene, mas foi saudada por duas garotinhas e um homem. Em seguida, uma morena linda vestindo um top de frente única e calça justa apareceu. Tinha de ser ela, e Marlene olhou para o homem para ver a reação dele.
— Com licença.
Marlene deu um salto com o toque inesperado em seu braço. Duas mulheres, em tomo de quarenta anos, estavam de pé a seu lado.
— Você é Marlene McKinnon? — perguntou a de cabelo castanho curto e cacheado.
Marlene sentiu um frio no estômago.
— Eu?
Não era exatamente uma mentira, mas também não era uma confissão.
— Eu disse que não era ela, Berta. — A segunda mulher, uma loura platinada e esquelética, franziu os olhos e aproximou-se. — Não parece nem um pouco com ela.
— Ah, por favor, Betty Lou. — Exasperada, Berta balançou a cabeça. — É exatamente igual a ela. Coloque os óculos.
— Eu não preciso dos meus óculos — retrucou a loura. — Não é ela.
— Lógico que é. — Berta olhou novamente para Marlene e sorriu. — Seu artigo no mês passado sobre cartões de saudação feitos em casa foi maravilhoso. Quem algum dia pensaria em usar botões velhos e pedaços de fita daquele jeito?
— Ela é magra demais — insistiu Betty Lou. — E alta demais.
Berta revirou os olhos, colocou a mão na boca e sussurrou:
— Não ligue para Betty Lou. Ela adora discordar.
— Eu não sou surda, sabia? — resmungou Betty Lou e depois cruzou os braços olhando para Marlene de cima a baixo. — Estou dizendo: não é ela.
— Marlene. — Berta suspirou. — Você poderia, por favor, dizer a minha amiga que estou certa?
Se havia uma coisa que Marlene realmente não sabia fazer era mentir.
— Bem, eu...
— Querida. Aí está você.
Ao som de uma voz grossa e masculina. Marlene virou-se.
E ficou imóvel.
O homem que ela estava encarando estava exatamente a seu lado, sorrindo para ela.
Ele a havia chamado de querida? Obviamente a confundira com outra pessoa, mas antes que pudesse corrigi-lo, ele a puxou para seus braços.
— Estava procurando você por todos os cantos.
Marlene estava chocada demais para reagir, não conseguiu abrir a boca. Quando ele colocou a boca nos lábios de Marlene, o coração quase saiu pela boca. Ele a apertou ainda mais e o peito dele contra o seu parecia uma parede de tijolos.
Sirius arrastou a boca pelo rosto dela e sussurrou em seu ouvido:
— Lily me mandou aqui.
O hálito morno provocou um arrepio em Marlene. Levou um tempo para as palavras fazerem sentido. Lily me mandou aqui.
— Lily?
— Lily, sua amiga.
Imaginando se teria cometido um erro, Sirius ergueu a cabeça e olhou atentamente para a mulher. Supôs que ela era um pouco diferente das fotos que vira na revista. Não apenas porque não estava usando os famosos óculos, mas alguma coisa nela parecia mais suave, e os olhos, embora assustados, eram azuis. Ele não podia ver o cabelo dela por causa do chapéu ridículo que usava, mas baseado no castanho claro de suas sobrancelhas, estava quase certo de que estava com a mulher certa.
Sirius soltou Marlene, depois escorregou o braço por sua cintura.
— Quem são essas suas amigas, querida?
— Elas... — a voz de Marlene falhou — acham que sou Marlene McKinnon.
— Berta acha — disse a loura. — Eu não.
— É exatamente igual a ela.
— Minha mulher ouve isso o tempo todo. — Sirius sorriu e puxou Marlene para mais perto de si. — Não há um lugar que ela vá que não apareça alguém para pedir um autógrafo, não é, meu docinho?
— Eu... É... — Marlene balançou a cabeça. — Acontece de vez em quando.
— O que foi que eu disse? — Betty Lou cruzou os braços e sorriu para Berta. — Marlene não é casada. E agora, quem está certa?
— Juro que você podia ser a irmã gêmea dela — disse Berta, sacudindo a cabeça. — Impressionante!
— Vocês vão ter que nos dar licença agora, senhoritas. — Sirius pegou a mala de Marlene, depois piscou para ela. — Mas eu gostaria de levar minha mulher para casa e dar a ela um olá apropriado, se vocês não se importam.
Betty Lou sorriu e pegou o braço de Berta.
— É claro que não nos importamos. Desculpem o incomodo.
Por medidas de segurança. Sirius abraçou Marlene com força mais uma vez e depois a virou na direção contrária à pequena multidão.
— Bem, essa foi por pouco, embora não tenho muita certeza de que tenhamos convencido Berta e ela provavelmente...
— Espere. — Marlene puxou o braço dele. — Espere!
— O que foi? — Ele parou tão abruptamente que ela teve de agarrar o chapéu para evitar que caísse de sua cabeça.
— Quem é você?
— Sirius. — Ele olhou para trás para ver se não havia ninguém os observando, depois a puxou em direção a um corredor que dava na sala de achados e perdidos. — Sirius Black.
— Black? — Ela enrugou a testa e depois a descontraiu, reconhecendo o nome. — O padrinho de James?
— O único. — Ele sorriu para ela. — Lily tentou ligar para seu celular para avisar, mas você não atendeu.
— Eu desliguei.
— Lily teve uma reunião inesperada. Se está preocupada em ir para o hotel comigo, pode ligar para o escritório de Lily e...
— Não estou preocupada. É que você me pegou desprevenida. Não é todo dia que um homem estranho me beija e me chama de meu docinho.
— Desculpe por isso. — Ele sorriu para ela. — Lily me disse que você não queria ser reconhecida. Quando vi aquelas duas mulheres com você, tentei ajudar.
— Na verdade, você ajudou — disse ela, depois colocou as mãos nos bolsos do blazer. — Desculpe. Não quero parecer mal-agradecida.
O rubor no rosto da mulher a iluminou e fez com que o azul dos olhos parecesse mais escuro. Ele percebeu que a havia surpreendido, mas aquele selinho mal podia ser considerado um beijo.
Mas tinha um gosto bom, pensou ele agora. De cereja... e chocolate. E os lábios eram incrivelmente macios.
Um casal virou a esquina e fitou Marlene. Sirius puxou-a para perto, protegendo-a da visão dos dois. Depois que se afastaram, ele voltou a se distanciar.
— Vamos pegar o resto de suas malas? — perguntou ele.
Ela olhou para a mala que ele segurava.
— Só trouxe isso.
Ele enrugou a testa.
— Você só trouxe uma mala para passar três semanas?
— Fazer as malas significa tomar decisões em relação ao que você realmente precisa ou não. — Ela ajeitou a mala de lona no ombro. — Roupas que pesam pouco, combinam entre si e não amassam, dois pares de sapatos, um par de sandálias, meu nécessaire e um chapéu.
— Parece que você escreveu um livro sobre isso.
— Só um pequeno artigo na seção de viagem do número anterior.
— É mesmo? — Aparentemente ela não percebera que ele estava brincando. Parecia que a senhorita Marlene McKinnon estava um pouco tensa. — Escreveu algum artigo sobre como descer numa estação de trem sem ser vista?
— Esse assunto está marcado para o número de janeiro. Ainda estou pesquisando.
Por um mísero segundo, pensou que ela estivesse falando sério, mas depois percebeu o canto da boca se curvar. Então, afinal, ela possuía um senso de humor. Isso era bom, especialmente porque passaria os próximos trinta e cinco minutos no carro com ela.
Sorrindo, Sirius pegou o braço de Marlene.
— Pronta para partir, Srta. McKinnon?
— Quando você estiver, Sr. Black. — Enterrou o chapéu na cabeça e colocou os óculos de volta no rosto. — Mostre-me o caminho.
