Dor, uma imensurável dor era tudo o que eu sentia, mas não dor física, essa há muito foi atenuada pela dor emocional, a dor de nunca mais poder sentir o cheiro de maçãs, a dor de nunca mais poder sentir aquele toque quente e suave, de ouvir a voz rouca, ou de poder olhar naqueles olhos castanhos e me perder neles, mas sabe qual é meu maior arrependimento? A de nunca de ter dito... Eu te amo Regina.
Nunca ter dito ao menos pessoalmente, porque eu escrevi uma carta contando sobre todo o sentimento que venho mantendo dentro de mim há cinco anos, mas eu nunca recebi uma resposta, recebi apenas o silêncio, as cartas que você me mandava nunca mais vieram desde então, eu planejava ir até você e repetir olhando em seus olhos tudo o que disse por carta e se ainda assim você me ignorasse eu entenderia o que significava.
Oh céus! Eu não quero morrer, oras vocês devem estar dizendo a maioria das pessoas não deseja isso, mas acontece que eu não poderia partir agora, não quando o amor da minha vida mais precisa de mim; ok, vocês devem estar um tanto quanto confusos, deixe eu me apresentar, me chamo Emma Swan, tenho 36 anos e sou capitã da força aérea dos Estados Unidos da América.
Fecho os olhos tentando aplacar a dor e tentar trazer um pouco de ar para meus pulmões; as lembranças do dia em que nos conhecemos tomam minha mente, eu me apaixonei por você no momento em que olhei em seus olhos, era meu primeiro dia na base de Boston havia sido transferida de Ohio, eu estava tão nervosa por estar atrasada, me xingando eternamente em cima da minha Ducati acelerando o máximo que podia até a base e qual é a primeira coisa que faço quando chego? Quase atropelo a sobrinha do Major Booth, só não a atropelei, porque consegui evitar a colisão desviando dela no último minuto, mas acertei em cheio seu carro e fui arremessada para fora da moto, foi uma confusão generalizada, mas graças a Deus tudo acabou bem.
Eu só queria uma chance de te dizer tudo o que você representou a mim desde então, dizer que tudo bem caso não sentisse o mesmo por mim eu ainda seria a sua pessoa. Mas como a minha vida é uma merda desde o dia que nasci, as coisas tinham que dar errado não é mesmo?! Fui abandonada na beira da estrada por meus pais quando não tinha nem um mês de vida, desde então fui jogada de orfanato a orfanato, já que ninguém queria cuidar da garota problema. As coisas melhoram quando conheci Graham e Killian, eles foram o mais perto do conceito família que conheci, amo tanto eles, o tanto quanto amaria meus irmãos se eu tivesse.
Conheci Graham em uma palestra que ele deu no orfanato que eu estava, ele me contou a sua história que era um pouco parecida com a minha ele e o irmão foram abandonados pelo pai, ele disse que vira potencial em mim, e que toda a raiva que eu carregava no olhar poderia ser muito bem usada em outro lugar, após alguns meses de treinamento pesado e estudos fiz o teste para entrar na aeronáutica.
Sou tirada dos meus pensamentos ao ouvir uma pequena explosão, no momento tudo a minha volta cheira a sangue e morte, pedaços de corpos espalhados para todo lado, o fogo tomando conta de tudo o que alcanço com meus olhos, está quente, extremamente quente e a cada minuto fica difícil de se respirar, está tudo muito barulhento também, ainda posso ouvir algumas explosões, gemidos e gritos de dor dos meus companheiros, viro a cabeça e me deparo com um belo par de olhos azuis expressando o vazio, olhos que há algumas horas antes tentavam me passar força, mas agora não há nada a se fazer além de encarar o rosto sem vida de Graham, meu grito não sai, fica preso em meu peito que está sendo esmagado pelos destroços do meu caça, sinto o gosto de sangue em minha boca, minha visão está ficando turva, mas antes de tudo ficar escuro eu vejo seus olhos, não só eles como seu lindo rosto banhando em lágrimas, acho que estou delirando, ela não pode ser real, não tem como ela estar em meio a este inferno, ela toca meu rosto e me diz alguma coisa, mas já não consigo ouvir.
"Eu te amo Regina", finalmente eu lhe disse, pena que foi apenas em pensamento, pois minha voz foi tragada para o abismo tal qual minha vida.
Regina
Estou a horas esperando alguma notícia nesse maldito hospital, ninguém vem me dar nenhuma informação, passei a noite toda acordada, simplesmente não consegui pregar os olhos. Tudo o que consigo fazer é chorar desde a hora que a encontrei no meio daquele inferno, não consigo tirar a imagem da minha loira toda machucada e coberta de sangue da mente, sim minha loira, quando li a carta que ela me mandou dias atrás meu peito explodiu de felicidade, foi um bálsamo para minha alma que estava devastada com a perda do meu filho.
Meu pequeno príncipe sofria de uma doença rara, não viveu mais de sete anos, ele na verdade nunca deixou o hospital desde que dei à luz a ele, eu vivia para ele e apenas para ele, mas quando conheci uma certa loira idiota, essa, aos poucos foi tomando espaço nos meus pensamentos, na minha vida e passou a ser a minha pessoa; sorrio entre ás lágrimas incessantes por causa do apelido dado a ela por mim devido a uma série que sou completamente fã e que claro a obriguei a assistir.
Sou tirada dos meus pensamentos quando escuto meu primo August dizer que o médico que a atendeu está vindo, prefiro não tirar conclusões precipitadas, mas o seu semblante não é dos melhores, prendo a respiração, me levanto e vou de encontro a ele.
- Srta. Mills, Sr. Booth fizemos tudo o que estava ao nosso alcance...
- NÃO! NÃO SE ATREVA A DIZER QUE ELA MORREU... – Vertigem toma conta de mim e sinto minhas pernas falharem, ela não pode ter morrido, não posso ter perdido ela também, Emma tem sido meu oxigênio desde tudo o que aconteceu.
- Calma Regina. - August me ampara e me coloca sentada novamente no sofá da sala de espera.
- Desculpe-me se passei a impressão errada. – O médico com o sotaque forte se desculpa. - A srta. Swan está viva, a cirurgia foi um sucesso embora tenha sido extremamente difícil, exigiu muito do seu organismo, tanto que ela teve duas paradas cardíacas na mesa, mas conseguimos trazê-la de volta.
- Muito obrigado doutor, quando podemos vê-la?
- Ainda não será possível no momento, ela está na UTI e vai ficar lá em observação, as primeiras horas após uma cirurgia são crucias ainda mais pelo desgaste sofrido por conta das paradas que ela sofreu, além é claro das possíveis infecções que ela pode vir a ter e de qualquer forma a srta. Swan encontra-se em coma induzido.
- E o pior já passou?
Escuto August conversando com o médico, mas tudo na minha cabeça está um verdadeiro caos, parada cardíaca, só de saber que o coração dela parou e por duas vezes, a dor e o desespero tomam conta do meu ser, sinto a bile me subindo a garganta e tudo girar, mas tento me recompor esse não o momento de me deixar abater Emma precisa de mim.
- Não podemos afirmar isso Sr. Booth, as lesões que a srta. Swan sofreu foram extensas, mesmo que a cirurgia tenha sido bem-sucedida tudo vai depender de como seu organismo vai reagir a partir de agora, honestamente vocês devem rezar para que ela consiga sobreviver as próximas 24 horas.
Vejo o médico se afastar e apesar de tentar com todas as minhas forças não consigo conter o choro, sinto August me abraçando e dizendo que tudo ficará bem, mas ele não consegue me acalmar, aliás a única pessoa capaz de me confortar nesse momento está lutando pela vida em algum lugar deste hospital.
Duas semanas, já fazem duas semanas que Emma está em coma, mas agora não é coma induzido, embora ela tenha sobrevivido as 24 horas ditas pelo médico, quando eles retiraram os medicamentos que a mantinham em coma induzido dois dias mais tarde, minha loira não acordara, não esboçara nenhuma reação.
Novamente estou vivendo em um hospital, peço a Deus todos os dias por sua vida, assim como pedia por Henry, mesmo sabendo que meu menino não viveria por muito tempo eu rogava na esperança de um milagre. Eu não posso perdê-la também, não suportaria perder mais uma pessoa que amo em tão pouco tempo.
Hoje vamos voltar para Boston e levaremos Emma conosco, a força área dos Estados Unidos nos disponibilizou um avião especial para levarmos Swan, o que foi fácil de conseguir levando-se em conta que hoje em dia meu tio é o General de toda a força aérea, além de um avião, um grupo especial irá até a base para recolher os corpos dos soldados e levá-los para casa. Mesmo que os médicos daqui tenham salvado a vida dela, fiquei feliz por partimos, lá ela terá um tratamento melhor, além do que é claro estaremos em casa com nossos amigos. No momento estou no seu quarto ao lado da sua cama segurando sua mão, como tenho feito todos os dias desde que a liberaram para visitas.
- Vamos voltar para casa Swan e você nem se atreva e me assustar ok? – Me abaixo e deposito um beijo em sua testa. – Eu ainda te devo uma resposta a sua carta e eu preciso de você minha loira. – Respiro fundo enquanto algumas lágrimas caem dos meus olhos. – Eu preciso de você viva para continuar. – Minha voz que está embargada pelo choro, me permite apenas sussurrar. - Eu já perdi meu anjo, não posso perder a minha pessoa também.
Quando li sua carta, foi como se todo o chão que havia cedido sobre meus pés se refizesse, eu não lhe respondi, não tencionava dizer a ela que também compartilhava dos mesmos sentimentos que ela por carta, eu queria lhe dizer pessoalmente, olhando naqueles olhos verdes onde eu adorava me perder.
Sei que devo ter deixado ela angustiada e até mesmo magoada com a falta de resposta, mas queria lhe surpreender com minha presença na base em que estava; convencer meu tio a me deixar ir foi difícil, ele só permitiu minha ida na companhia de meu primo e mais alguns outros homens de sua confiança.
Em algum momento durante a nossa ida a base foi atacada, recebemos a mensagem do quartel ordenando a nossa volta imediatamente, mas eu me neguei a aceitar, tínhamos que continuar, eu precisava da minha Emma. Mesmo com todos dizendo que era perigoso, que haviam perdido a comunicação com a base e que provavelmente todos estariam mortos, algo dentro de mim me pedia para não permitir a volta do avião, alguma coisa me impelia a fazer com que continuassem.
O piloto não seguiu até a base, mas consegui convencê-lo com a ajuda de August a nos deixar no aeroporto internacional, arrumamos um carro e seguimos até a base. Quando estávamos próximos já era possível ver uma fumaça densa vindo do local de lá e ao chegarmos a visão que tivemos de total destruição foi horrível.
Confesso que me deixei abater por uns momentos achando ter chegado tarde demais, mas logo espantei estes pensamentos, saí do carro e me pus a correr em busca de Emma, deixando August e os outros gritando por mim, mas eu não podia escutá-los só me importava Emma eu precisava dela e sabia no meu íntimo que ela também precisava de mim.
