Sem Medo de Morrer
As delicadas patinhas batiam em seu peito, animadas. Assistia o amado tentar pegá-las, e o cachorrinho não permitindo, entrando naquela travessa brincadeira. Ora o bichinho arriscava um latido, e Saga travava uma conversa séria com ele. Acompanhava com um riso.
Estava sentado à poltrona do escritório do apartamento onde moravam, e o gêmeo, estava deitado ao chão, brincando com o cachorro. Cruzou as pernas, por um momento parando de rir, apenas para admirar com um sorriso. Virou o rosto e observou alguns retratos à prateleira na parede. Suspirou para momentos depois, se levantar.
-As duas crianças terminaram? – Aproximou-se e pegou o animal no colo, vendo o irmão se levantar em seguida. -Vem jantar, meu amor. – Saga lhe respondeu com um selinho assim que ficou de pé.
-Irei lavar as mãos e já irei. – O mais novo balançou a cabeça, seguindo para a sala de jantar, a espera-lo. Beijou o cachorro algumas vezes e o colocou no chão, que foi em busca de alguma coisa. Ainda estava animado pela brincadeira com o dono.
O geminiano ficou a observá-lo, para se sentar à mesa. Serviu duas taças de vinho, ouvindo os passos do amado, enquanto ele se aproximava e nisso, recebeu um carinhoso beijo em sua face, para vê-lo sentar.
Olhou Saga por um momento, sorrindo ao fazê-lo. Vivendo aquele momento ali, com o irmão, com o amado, realizando alguns de seus sonhos. A situação era linda, e ele, ainda mais belo.
Sentiu em seu âmago, uma nostalgia, tomou o copo entre os dedos, brindou com o gêmeo, mas se demorou, alguns instantes para tomar. Quando o fez, sorriu, com um fio de tristeza, que não deixou o mais velho perceber.
O braço se ajeitou em seu ombro, deixando o copo a ser segurado em sua mão livre, sem sentir-se capaz de beber o conteúdo. -O que eu faço? Ele veio mesmo! – Engoliu, seco. -Não posso ficar bêbado.
-Então me dá esse copo. – Arrancou o copo de plástico, com o ponche que o amigo havia pego há momentos atrás. -Milo, ou você chega mais ou esse cortejo vai dar lugar para outro.
-Camus. Veio. – Enfatizou, incrédulo. Kanon riu.
-Primeiro, seu cotovelo está doendo no meu braço. – Ergueu o olhar. Estava sentado em um banco, e o outro, em pé, apoiando-se em si. -Quer que eu fale com ele? – Ameaçou de se levantar e o outro lhe fez sentar de novo.
-Eu vou. Eu... Vou. – Milo tomou coragem em um suspiro e se afastou. Kanon sorriu.
-Até que enfim.
Segundos depois, ainda sem perde-lo de vista, o escorpiano retornou. -Não posso. Não sou páreo.
O geminiano virou os olhos e riu, divertindo-se. -Não concordo. Só saberá se for falar com ele.
-Ahh... Kan... O jeito que ele conversa... Sorri... – Deixou um sorriso surgir enquanto ainda observava o ruivo conversando com alguns amigos. -O jeito que mexe nos cabelos... Até o jeito que lê...
Pouco depois, o escorpiano viu um guardanapo na sua frente, estendido pelo amigo. -Para de babar e vai, caramba. Pega, senão o Aiolia pega. – Brincou, e na ameaça, Milo sumiu da sua frente. Riu e tornou a se sentar, uma vez que a música do baile estava tediosa para o seu gosto. Esperaria Saga retornar.
Fechou as suas mãos em punhos, pois sentia-se tremer por inteiro. Estava apaixonado por aquele francês, que havia vindo para o seu colégio, de intercâmbio há alguns meses. Não só era belo, como o admirava. Poucas foram a coragens e oportunidades de conversar com ele, tinha vergonha, pois ele era diferente de si, culto, educado, inteligente.
Seus passos hesitavam a cada momento mais. Não sabia se conseguiria dizer oi para ele, não sabia se convidá-lo para dançar era uma boa saída. Limpou a garganta e se aproximou de Aiolos, Aiolia e então, Camus.
O leonino cutucou o irmão, quando o escorpiano se aproximou, ambos riram, e o aquariano, se virou com a aproximação.
-Você veio. – Milo iniciou, à ele.
-É, eu disse para você que talvez viesse, se eu não tivesse nada para fazer. – O sorriso que Camus exibiu ali, o outro leu como um flerte, inclusive, as suas palavras.
-Olos, vamos pegar um ponche?
-Não, você não vai tomar. Mas vamos. – Aiolia contestou e os quatro riram, enquanto os amigos se afastaram. Milo ficou ainda mais nervoso e trêmulo.
-É bom vê-lo aqui. Fico feliz. – Respondeu, assim que se voltou à ele.
-Achei que estaria com o seu par. – Camus brincou naquelas palavras, olhando o escorpiano de forma felina. -Que não me notaria aqui. – Viu o outro enrubescer.
-Sinto decepcioná-lo, mas meu par acabou de chegar, olha a coincidência! – O viu dar um breve riso e aquilo lhe fez sorrir, assim como fitar o gesto do ruivo, que notou.
Milo estendeu a mão. O outro olhou. -Dança comigo, Camus? – O viu, olhar em volta. -Não me importo nem um pouco com o que vão achar. – Suas palavras foram mais firmes e agradáveis aos ouvidos do aquariano. -Se incomodarem você, fugimos para outro lugar.
Entrando no flerte, o francês estendeu a mão, mas hesitou tocar na do outro. -É tão firme em saber que fugiria com você.
-E por que não? – Sorriu, da mesma forma. -A festa está parada, embora, o melhor dela esteja já aqui, agora.
-Essa cantada funciona?
-Você quem vai me dizer. – Ambos riram, mas o riso do francês chegou a ser sensual.
-Vamos então ver pela dança, como você se sai. – Por fim, Camus tocou na mão do loiro. Ambos se entreolharam e Milo não evitou entrelaçar os seus dedos aos dele, que permitiu o gesto.
-Tão radiante! – Kanon comentou, virando a dose do copo. Ria, vendo o melhor amigo sorrir, bobo. -Se você não fosse meu amigo, poderia acreditar que você parecia uma menininha. – Levou um tapa do escorpiano.
-Ah! Kan, eu fiquei tão feliz! Ele aceitou namorar comigo. Kanon! Estou n-a-m-o-r-a-n-d-o. Com o homem da minha vida.
-Falando assim, parece que já quer casar.
-Quem sabe. – Olhou o amigo e sorriu, com carinho.
-Está mesmo apaixonado?
-Amo o Camus. Desde o primeiro momento que ele surgiu na minha frente. Eu sabia que era ele... Sabia, Kanon. – Encostou a sua cabeça com a do amigo, que sorriu com o carinho.
-Milo. – Olhou para o copo dele, pensativo. -Crescemos juntos. Desde os cinco anos, né?
-Sim. Tenho que suportar você e o Saga desde os cinco anos. – Brincou e levou um cutucão.
-É a primeira vez que vejo você dizer que ama alguém. Claro, além de mim, porque... Sou eu. – Disse, orgulhoso e o amigo concordou com a cabeça.
-Vish. Presunçoso. Credo. – Brincou e beijou o rosto do geminino.
-Vão achar que sou seu namorado.
-Pelo Amor de Deus, Kanon. Que horror. – A brincadeira surtiu um riso alto do geminiano. -Kanon, eu te amo. – O relembrou, virando o rosto para olhá-lo, sério. -Isso ninguém vai me tirar. Amo você e amo o Camus. A diferença é que você é o meu irmão bebê.
-Friendzoned, Milo? Que mancada, trabalhei desde os cinco anos para te impressionar e isso o que eu levo, que merda. – Praguejou, ainda na zoeira e Milo tornou a rir, divertido. -Bebê uma ova, sou mais maduro que o Saga. – Fez certa pose ao balcão.
Riu mais uma vez. -Isso eu sei que não. – Tomou o fim de seu copo, havia dividido a dose da tequila em duas vezes. Estava casual com o amigo, e a bebida não era o foco da noite de ambos. -E você e o Saga, hein? É duro ainda esconder dos pais, né?
Kanon balançou a cabeça. -Tenho muito medo da mãe nos pegar e eles nos separarem. – Virou o seu corpo para ele. -Não aguentaria ficar separado do Saga. O amo mais que tudo. – Disse, sério e apaixonado. -Não podemos contar, não podemos revelar. Você é o único que sabe.
-Morreria com esse segredo se assim quisesse. Embora eu sempre vá votar em que conte para eles e o mundo. – Deu de ombros. -É a felicidade de vocês.
-Deixa nós terminarmos o colégio, trabalharmos. Saga e eu teremos a nossa casa, nosso cachorro e nosso filho e você e o Camus vão ser os nossos vizinhos de porta, combinado?
-Ah! Eu queria morar com vocês, mas isso não vai dar certo. – Brincou, sorrindo ao olhar para ele.
-Não faço ménage, Milo, esquece isso. – O escorpiano riu divertido pela seriedade fingida nas palavras dele. -Nem seu voyeurismo, por favor.
-Mas combinado. Nós quatro vamos achar um lugar para sermos vizinhos. – Milo levou a mão ao rosto do outro, sorrindo, com carinho.
Colocou o caderno em cima da pia, certificando-se se o local estava seco. A mochila, deixou aos seus pés, no chão. Prendia o cabelo loiro e ondulado em um rabo de cavalo médio. Olhava a si mesmo no espelho, sério.
-Essa seriedade toda é apreensão? Milo, você não é virgem, e o Camus lhe disse que também não é.
-Para você ver o que sinto por ele. Estou suando frio desde ontem. Não é o nosso primeiro encontro, mas é a nossa primeira vez. Combinamos de ir jantar e depois ir par um motel.
-O que falou para os seus pais?
-Eles conhecem o Camus, então pelo jeito deles, que eles acham, disse que iria estudar. Eles estão orgulhosos, dizendo que me tornei disciplinado. – Kanon gargalhou e Milo acabou rindo. -O Saga ficou lá fora, não é?
-Sim. Ia esperar o Camus para você. Preciso avisar o Sa que - O geminiano se interrompeu. Se incomodou ao ouvir uma gritaria do lado de fora do banheiro masculino. Atreveu-se ir até a porta, viu muitos alunos correndo.
-O que aconteceu, Kan? – Em seguida à sua pergunta, um estouro assustou o escorpiano. -Kanon. – O chamou, para que entrasse.
-O que será que houve? – Murmurou, entrando de volta. -Vamos?
-O que-?
-Tem um monte de aluno gritando, correndo, uns chorando e esse barulho. Pareceu um tiro. - Milo engoliu seco e pegou no braço dele. -Ou a gente sai com o povo ou a gente se esconde.
-Milo, o que tá sugerindo? – Pouco depois, o barulho foi cessando. Um olhou para outro.
-Será que isso é treino de emergência? – Em seguida, novos estouros. -Kanon, eu estou com medo. – Confessou. Pegou seus pertences e ajudou o amigo a pegar os dele. -Vamos nos esconder.
-A gente pode fugir. – Kanon sugeriu, sacando o seu celular para avisar Saga. Ao retirar o aparelho de dentro do bolso da mochila, viu diversas ligações dele, assim como mensagens. Foi sua vez de engolir seco, pelo que leu, mas, escondeu-o dentro da calça, assim que a porta do banheiro se abriu.
-Achei que eu tivesse assustado todo mundo. – Disse, maldoso e notando que ambos os garotos à sua frente, olharam para a sua mão, que empunhava um fuzil.
Milo e Kanon estavam encostados às pias, um colado ao outro. Os corações saltados, e visivelmente, o escorpiano era o mais desesperado; enquanto Kanon praguejava mentalmente que não tinha visto a mensagem antes.
-Meu amor! Sai daí, tá acontecendo alguma coisa! SAI AGORA!
-Por favor! – A voz trêmula de Milo cortou o silêncio pesado ali. Via que o homem à sua frente estava abatido, desgastado, louco. -Nos deixa ir embora! Prometemos não contar nada para ninguém. – Aquela altura, Milo começava a tremer. Pegou na mão de Kanon, entrelaçando os dedos, frios de medo. O outro lhe apertava os dedos, não mais calmo, mas ligeiramente mais controlado.
-Ah claro! Deixarei. – Riu, sádico. -Aí me entrego a polícia e tudo termina um conto de fadas. – Ambos assistiram o outro recarregar a arma.
Houve um ímpeto de Kanon, puxar Milo e saírem correndo do banheiro enquanto o outro parecia se distrair, houve a tentativa, mas para a surpresa do geminiano, houve um revolver revelado, retirado da calça dele, apontando para ambos. -Seu amigo pediu, eu vou deixar.
Olhou para o melhor amigo, com lágrimas nos olhos. Milo tremia mais e Kanon começava a fazer o mesmo, devido à frustração de não ter conseguido fugir com ele. Começou a pensar em Saga, e no desespero que ele também estava. Queria revê-lo. Abraçá-lo e jogar Milo nos braços de Camus.
-O que vai fazer? Vale tanto a pena assim? – Arriscou, bravo, ao atirador.
-Shh! Kanon. – Chamou sua atenção, perdendo o chão. – Para, ele vai atirar.
-Foi decidido. Estou aqui, agora terminarei o que tenho para fazer. Tem gente que merece pagar. É foda, mas é assim. – Disse, mostrando-se ressentido, mesmo que seu semblante fosse cruel. -Nossa, o seu amigo aí tá se acabando de chorar, hein? PARA, AGORA. – A mira era Milo, naquele instante.
Kanon sentia o melhor amigo quase se aninhar em si, de medo, mas notava que ao mesmo tempo, tinha muito medo de se mexer e levar um tiro. -Milo, vai ficar tudo bem. – Murmurou.
-Vai mesmo. Vou ser bondoso, porque essa cena de um homem assim é cômica. – Kanon o olhou com ira. Ia responder quando o viu continuar. -Pode ir. – Olhou de um a outro. -Um dos dois. – O sangue no rosto do geminiano fugiu ao ouvir aquilo.
-O quê?
-Loirinho, você é idiota? Eu disse que um pode ir embora, o outro fica, porque não terminei o que vim fazer.
Milo, ao se dar conta do que ouviu, também, entreolhou Kanon. -Mi, vai. – Via a cabeça dele, balançar, negativa, desesperadamente.
O escorpiano se recordou de Saga, assim como os planos que o amigo ali, lhe revelou dias atrás. Seria um pecado cortar a relação daqueles gêmeos. Seria um pecado cortar o sonho de seu melhor amigo.
Ainda tremia, quando olhou o atirador. -Eu fico.
-Milo, cala a boca! – Respondeu, nervoso. -Sai daqui.
-Sério que eu vou ter que resolver isso, mocinhas? Um ou dois, para mim que se foda. Estou dando a chance de um de vocês sair e espalhar o meu legado.
-Legado? Você é covarde. – Saga veio à sua mente novamente. Pedia perdão ao amado, por aquilo. Era revoltante e o desejava. Mas não podia deixar que Milo, que estava tão feliz e realizado com o namorado, não tivesse a oportunidade de ficar com Camus.
O escorpiano se afastou do amigo. Ficar junto à ele, seria pior. E Saga também o esperava. Fechou os olhos, mentalizando Camus por um momento. Como desejava ficar com ele. Não havia dúvidas, o francês tinha sim roubado o seu coração.
Era irrevogável que permaneceria com ele.
-Eu disse que eu fico! – A voz do escorpiano ressoou o banheiro. E tremia ainda mais ao ver o revolver ser empunhado a si.
Ainda mais revoltado, Kanon pegou o amigo pela roupa, puxando-o para fora do banheiro, mas foi repelido, com dificuldade. Milo lhe empurrou para longe.
-Não tenho o dia todo! – Gritou o atirador, já não mais evitando o dedo ao gatilho.
-MILO! – Kanon caiu no chão, se arrastando a um primeiro momento, para um canto do banheiro, abraçando a si, assustado. Notou que o outro tornou a empunhar a arma, Kanon fechou os olhos e cobriu a orelhas, tentando abafar um segundo tiro que ocorreu.
Ao abrir os olhos, se deu conta que era o único ali, restante. Tornou a tremer de horror ainda mais, ao se arrastar para perto de Milo, que gemia de dor. Colocou sua cabeça em seu colo. -Mi! Vai ficar bem! Idiota! Porque fez isso? – As lágrimas, não conseguia cessá-las. – Colocou uma das mãos a pressionar a ferida dele, evitando o sangue que perdia, em seu peito. -Mi, fica comigo! Que porra, você é meu vizinho! – Chamava a sua atenção, não podia perde-lo.
Com a outra mão, buscou o celular. Ligava para o próprio gêmeo, que ainda tentava contato consigo.
-Sa! Sa! – Clamava pelo irmão. -O Milo!
-Kan... – Se interrompeu ao celular ao ouvir a voz dele, consigo.
-Fala. – Embargado e trêmulo em sua voz, lhe dava total atenção.
-Camus... Eu... O Amo... – Tentou sorrir, com muita dificuldade, a dor era intensa, dilacerante. -Kan... – Buscou pelos olhos dele, enquanto o outro buscava por sua mão, a apertando. -Eu... Te amo, Kanon.
As batidas em seu peito falharam, assim como a sua voz, ao sentir Milo cedendo.
Era um pesadelo. Tinha que ser.
Rosas vermelhas. Sabia que Milo não era muito entendedor de flores, mas essas, ele sempre achava as mais bonitas. Apertou o buquê ao seu peito, enquanto caminhava em silêncio. Por mais que o sol batesse na grama, bem presente, não lhe indicava conforto. Jamais.
A cada passo, se recordava. Milo tinha fama no colégio, mas não havia conhecido nada daquilo, durante a sua estadia. Uma de suas maiores qualidades, era o seu ciúme. Brigavam, mas no fundo, sentia-se amado, só da maneira dele. Em sua cabeça, jamais pensou deixar espaço para um relacionamento, sério, quando encontrou com o escorpiano a primeira vez.
Mesmo na juventude, tinham planos. Após o seu intercâmbio terminar, tinha que voltar à Paris. E Milo disse que iria com ele, se assim quisesse. A dedicação que ele lhe dava, jamais alguém quis se aproximar tanto. Cansava de ouvir que era frio, que não gostava de ninguém.
Milo passou essa barreira de incômodo. Quis mais. Muito mais e que estava sim disposto a lhe dar. Mas o tiraram de si.
Tiraram o seu Milo de seus braços.
Uma lágrima teimou em escorrer atrás dos óculos escuros, e então, se sentou. Depositou o buquê vermelho vivo por cima do mármore, tirou algumas folhas caídas.
-Estou bravo com você. Prometeu ir para Paris comigo e acabei indo sozinho. Talvez eu devesse ter ficado lá, mas me sentiria ainda mais sozinho, Milo. Aqui... Ainda posso te ver, mesmo que... Dessa forma. – Camus fitava cada letra escrita, cada detalhe que talvez tivesse perdido.
Mas conhecia tudo, minuciosamente. Há dez anos o visitava, toda semana. Cuidava de seu local de descanso, trazia nova flores, limpava e conversava. Seguiu em frente com os estudos e o trabalho, mas apenas nisso, pois em outros campos, não dava atenção, não dava prioridade.
A forma como ele lhe lia, era inigualável.
-Dez anos, né... – Sorriu, com cordialidade ao ouvir a voz de Kanon. -E esse puto me deixou na mão. – Camus riu pela forma que se referiu ao amado. Às vezes se constrangia, às vezes tinha ciúme, mas a forma quase que pueril com que Milo e Kanon se tratavam, era divertido e puro.
O ruivo virou para olhá-lo. -Acho que se ele tivesse vivo, eu tinha o matado de novo.
Saga sorriu, enquanto Kanon buscava o seu peito para se aninhar, em um choro silencioso. -Não só você tinha feito isso, Camus, eu garanto.
-Reunião... – Camus se ajeitou, onde se sentava.
Aiolia vinha em sua direção, com Aiolos atrás. Cada um, levava uma flor branca nas mãos. O leonino depositou a sua, enquanto o irmão ainda estava longe.
Abraçou Camus, com força. Pouco depois, o mais velho se aproximou e colocou a sua homenagem junto das outras. -Sinto muito, Camus. – Aiolos murmurou, enquanto assistia com tristeza Aiolia permanecer abraçado com o francês. Depois, olhou os gêmeos. Doía ver o mais novo deles naquele pranto.
-Porque nós cinco não saímos hoje? Acho que o Milo ia gostar. – O geminiano mais velho sugeriu.
-Ou ficar bravo que a gente não o convidou. – A graça feita pelo leonino relaxou o clima no grupo.
-Saga está convidando, depois o Mi não pode reclamar. – Kanon complementou, se afastando dos braços do amado.
Tirou do bolso de trás de sua calça, um pequeno porta-retratos, uma foto sua com o melhor amigo, depositou perto das flores. Mantinha uma cópia da mesma foto, em casa.
-Vamos, Sa... ? – Pediu, pegando em seu pulso. Saga consentiu, silencioso.
-Conseguiram adotar o cachorrinho? – Camus perguntou, educado, se levantando e se afastando de Aiolia, que ainda permaneceu perto de si.
-Anteontem. – Kanon respondeu. -Milo iria adorá-lo. – Complementou, em um sorriso triste.
-Vem, Olia. – Tocou no ombro do irmão, com carinho, não evitando não chorar. -Vamos recusar a saída, mas nos veremos. O mais novo balançou a cabeça, concordando, não gostava dos gêmeos, e não participaria daquilo.
-Camus, me liga mais tarde. – Aiolia pediu ao amigo, de forma preocupada e assim, se despediu depois de pegar carinhosamente na mão do francês.
-Pode deixar. – Depois da despedia, virou para os gêmeos. -Sim, podemos sair, seria bom. – Deixou a demonstrar que precisava anuviar a mente. Saga, pousou uma mão sua no ombro dele. -Kanon, como está?
-Não estamos diferentes. – Respondeu, triste e sincero. -Ainda não lido, ainda não supero, apesar de ter me conformado.
-O Milo vai ficar nos devendo essa. A gente cobra, vai ver. – Camus deu um sorriso nostálgico, ao ouvir aquilo.
Notas:
-Por mais que possa parecer, esse enredo não é Milo x Kanon. Quis trabalhar a amizade deles, trazendo o Universo Original e a cena de Hades, aqui, assim como os mais próximos deles: Olos, Olia, Camus e Saga.
-A história de inspiração, veio de um filme que assisti há um bom tempo: Sem Medo de Morrer (Life Before Her Eyes), que segue essa linha.
-A cronologia pode confundir, mas segui o estilo do filme. Ora pulava para o atual (a personagem que ficou viva e adulta, da mesma forma que pulava para a juventude e o fatídico momento), ora para o passado.
-Gosto muito de death fics e dramas e tudo mais, mas é doloroso, sempre, escrever coisas assim com shipps que amo.
-Geminha, espero que tenha gostado desse toque de draminha. S2.
