Olá ;)

Bom, só pra esclarecer algumas coisinhas: a cidade é Forks, mas o estado é Wisconsin. Fiz isso porque fiquei com preguiça de procurar alguma cidadezinha desse estado, mas eu amo o clima de Wisconsin e achei que seria ligar adaptar para ele.

É uma long-fic, ainda não terminei de escrevê-la, mas espero conseguir. É uma história bem leve e divertida.

Espero que gostem, deixem reviews. 3


A primeira sensação é de derrapada. Parar abruptamente na esperança de que o solavanco faça você acordar e perceber que você está no meio de uma alucinação. Uma alucinação maldosa e dolorida. Era como se eu estivesse voltando no tempo, diretamente para mais de dez anos atrás, estática e olhando para aquela figura alta e pomposa que me desconectava da realidade.

Eu ainda tinha a capacidade de ficar quinze minutos, estática, admirando Edward Masen. Era quase um dom.

Para um maior entendimento, farei um resumo breve do meu sofrimento interior.

Eu tinha onze anos quando conheci Edward, na época ele já tinha quase 16 e era um excelente atleta com um supercérebro. Ele fora o primeiro garoto que me fez ver que o sexo masculino podia ser lindo, alto, forte e com cabelos cor de bronze e que a vida podia ser feliz se eu me casasse um dia. Claro, eu nunca consegui expor este pensamento para fora de mim, já que ele era o primo da minha melhor amiga, Alice, e recém chegado em Wisconsin para um período de recuperação depois da morte de seus pais. E eu tinha 11 anos. E ele me chamava de "Bella pequenininha". E Alice riria da minha cara e gritaria que garotos eram nojentos e eu era nojenta por achar um deles legal. Mas o fato de Edward ser um cara de 15 anos que perdia, consideravelmente, seu tempo brincado com duas garotinhas tinha amolecido ainda mais meu coração infantil, e a partir deste ano, todos os meus cadernos eram enfeitados com "Bella e Edward"'s e corações por toda parte.

Mas, felizmente, o tempo passou, e finalmente eu havia ingressado ao Loraine's High School, aos 14 anos, e andar pelos mesmos corredores que Edward andava, com um porém de que ele já estava com a partida marcada. Ele iria embora para Illinois, fazer sua faculdade em Chicago com uma bolsa generosa que ele havia conseguido jogando futebol e com suas notas indefectíveis, e eu ficaria sem aquela figura esguia e perfeita para preencher meus dias.

Pensar que quando eu fosse estudar na casa de Alice, Edward não se debruçaria mais sobre nós duas, bisbilhotando nossas anotações e dizendo que éramos duas nerds e ser espantado por uma Alice raivosa, fazia as lágrimas brotarem nos meus olhos.

Eu indagava Alice no que eu esperava ser meu melhor tom de desinteresse, e a cada detalhe da viagem de Edward que eu recebia, mais eu notava que eu nunca, nem sequer, chegaria a conversar com ele às sós de garota para garoto – e não mais de criança para garoto.

Então, eu fiz o que qualquer garotinha desesperada faria por um atleta popular da escola: entraria para o time de líder de torcida, usaria saias minúsculas e puxaria o amor dele com uma corda e o amarraria em volta de mim.

Eu só havia esquecido que minhas habilidades físicas não poderiam ser consideradas como armas vantajosas no meu plano. Na minha primeira partida como animadora da torcida dos Royals, meu pé enfiou-se em um tufo de grama do campo e eu consegui girar meu tornozelo em um ângulo de 180º… Isso resume meu período de quase um ano afastada das atividades de cheer e quando eu pude finalmente voltar a animar, Edward já havia partido.

Eu acompanhara Alice e os pais dela até o aeroporto de Green Bay, o único da região. Edward me dera um abraço fraternal, mandara eu cuidar melhor dos meus tornozelos e foi embora para Chicago. Eu havia ficado paralisada, eu nem ao menos acenara como o resto da família fez, eu só podia encarar o espaço vazio onde antes Edwad estivera me abraçando. Eu nunca mais veria os olhos verdes, as sardas, nem ouviria a voz debochada nem sentiria meu coração marretar contra minha caixa torácica como ele fazia toda vez que Edward me rondava.

A vida era injusta.

Mas eu estava paralisada de novo. Eu estava sofrendo o efeito Edward Masen novamente.

Espreitei meus olhos, engatando a primeira marcha e dirigindo lentamente pelos curtos metros que faltavam para adentrar a minha entrada da garagem.

Será que aos 26 anos eu estava tendo uma crise de idade, e imaginando coisas que espalhavam meus desejos de quando eu era uma adolescentezinha? Eu realmente esperava que não, pois isso era um pouco decadente.

Eu guiei a minha picape velha e barulhenta pela entrada, descendo com as minhas compras com um olhar desconfiado. Eu não iria indagar se aquele homem que estava descarregando uma montanha de caixas de uma picape – vergonhosamente muito mais nova e brilhante que a minha – era mesmo Edward Masen ou apenas um produto do meu cérebro carente de homens interessantes. Pois ele estava ali, no quintal da casa ao lado da minha, onde antes minha melhor amiga morava. Quais as chances?

Caminhei normalmente, um pé após o outro, embora eu sentisse minhas costas mais eretas que o normal e meus olhos teimassem em girar até o máximo que a minha visão periférica conseguia alcançar. Suspirei, mantendo meu passo lento até a minha porta da frente, subindo com calma os degraus que me lavavam até a varanda.

- Hei! Hei, hei! Cuidado!

Meu corpo tremeu e as sacolas de papel vibraram em meus braços. Aquela voz definitivamente era de Edward, eu nunca esqueceria aquele tom de voz que derretia ovários. Meus ouvidos não podiam estar tentando me enganar também.

Mas… Cuidado?

Olhei para trás, buscando a causa de seu desespero, mas não fora tão difícil encontrá-la.

Minha picape vermelha e enferrujada deslizava com graciosidade pela entrada da garagem, as rodas guinchando enquanto descia devagar em direção à rua.

Minhas compras voaram e meus pés pularam os degraus da entrada, minha voz gritando sem nenhum sentido, como se a picape pudesse obedecer meus comandos de voz.

O homem, seja lá se fosse Edward ou não, veio em meu auxílio, suas pernas muito maiores que as minhas alcançando o carro primeiro. Ele conseguiu fazer a volta pela frente da picape, esbarrando em mim quando abriu a porta com dificuldade.

Quando ele conseguiu puxar o freio de mão, a picape já tinha metade da caçamba bloqueando uma das vias da rua, mas como essa cidade tratava-se de Forks e as ruas eram mais preenchidas por pessoas e folhas de árvores do que por carros, aquilo não foi um grande problema.

Suspirei aliviada, olhando em torno da pintura vermelha desgastada para me certificar que tudo estava inteiro e nos trinques. O homem desceu, o rosto um pouco avermelhado, mas ainda assim, lindo.

Deus não seria tão bom para fazer dois homens como este. O queixo um pouco quadrado, mas ainda assim delicado e em perfeita sintonia com o nariz reto que acabava para dar espaço a um par de lábios rosados e perfeitos. Os olhos verdes com rajadas de azul e cinza, os cílios espessos e as sardas quase invisíveis que só poderiam ser notadas por quem sabia que elas existiam por passar horas demais observando. Aquele era Edward, um pouco maior, um pouco mais largo e com um cabelo curto e diferente, mas ainda Edward.

Senti minhas pernas vibrarem de um jeito entorpecido, como se fossem parar de funcionar a qualquer momento. Respirei com dificuldade e senti que poderia desmaiar com felicidade nos braços dele.

- Cara, você tem que começar a puxar esse freio de mão antes que… ei, você está bem? – Ele estendeu os braços, certificando-se de que estaria ali caso eu desabasse. Com uma malícia da qual eu não me orgulho, enrolei meus dedos em seus braços, sentindo os músculos duros sob o tecido. – Acho que você precisa se sentar. Vamos.

Acompanhei com gosto, ainda me apoiando em Edward enquanto ele atravessava a pequena barreira de arbustos de jardinagem que eu havia plantado para dividir os dois quintais. Edward me depositou no primeiro degrau da sua varanda, me aconselhando a ficar na sombra da área enquanto ele ia buscar um copo de água.

O dia estava rachando de tão quente, mas eu desconfiava que o suor da minha nuca tinha outras origens. Eu sentia minhas mãos geladas, e as esfreguei nas minhas coxas descobertas pelo short.

Parei por um segundo, imaginando que eu não estava em minha melhor aparência. Era verão e eu estava de férias, mas férias nunca significava viajar para mim. Geralmente, Charlie vinha de Washington para me visitar e passar uns dias, ele dizia que isso o fazia se sentir um bom pai por algumas semanas. Então, eu estava sempre em casa, esperando o telefonema de Charlie avisando que estava a caminho. Ele nunca demorava menos de trinta horas para chegar até Forks, o que me dava uma boa margem de tempo para abastecer minha geladeira. Eu usava meu short mais velho e gasto e os fiapos das barras das pernas eram vergonhosamente numerosos. Minha camisa xadrez fora atacada pela minha tesoura e agora ela era uma regata xadrez e meus tênis possuíam cadarços amarelados e solados descolados.

Eu era uma mendiga suada sentada na porta de Edward, tendo um frenesi porque ele estava ao redor.

Esfreguei as mãos com mais força em minhas pernas, até a pele ficar avermelhada e eu me odiar por não ter pego um bronzeado durante o verão. Provavelmente ele gostava das bronzeadas.

Edward voltou com uma caneca na mão e uma toalha em outra.

- Desculpe, não achei a caixa dos copos – ele sorriu com embaraço, me entregando a caneca. Ele enrolou a toalha na própria mão e eu notei que sangue manchava o tecido lentamente.

- Você se feriu? – Indaguei com os olhos arregalados, fazendo menção de levantar e sendo empurrada gentilmente para baixo. Ele atirou-se ao meu lado, esticando as pernas e erguendo as sobrancelhas.

- Sua picape é um pouco velha, sabia? Quase decepei meu dedo tentando abrir aquela porta – ele sorriu e eu engasguei com o ar. – Calma, não é nada demais.

- Você está sangrando…

- Eu só estou querendo parecer heroico. É só um corte, vê? – Ele afastou a toalha para que pudesse ver e, embora a quantidade de sangue parecesse demais, era apenas um corte na lateral do dedo. – Beba sua água.

Acenei com a cabeça, agradecida pela água fresca. Fiquei espiando sua expressão por cima da borda da caneca, mantendo-a por mais tempo do que o necessário. Ele entortou a cabeça, começando a sorrir.

- Espere aí… eu te conheço – depositou a mão grande e sem cortes no meu ombro esquerdo, o empurrando levemente para trás para que pudesse me olhar de frente.

Eu corei.

Muito.

- Isabella? – Edward afirmou em tom de pergunta.

Suspirei, baixando a caneca e forçando um sorriso sem graça. Eu podia sentir o calor em minhas bochechas e não era nada proveniente do Sol.

Abri meus braços, afirmando com a cabeça, derrotada. Sim, era eu, Isabella, a amiga estranha da sua prima que mantinha uma foto sua colada na porta do guarda-roupa e quebrara um tornozelo tentando te seduzir.

- É, oi, sou eu. Desculpe não poder fazer algo melhor – sorri, buscando algum tipo de veia humorística que eu não tinha.

Edward atirou-se para trás, rindo em alto volume. Não preciso dizer que aquilo me deixou envergonhada como o inferno.

Ele provavelmente estava pensando que tinha uma vizinha potencialmente retardada, com um carro velho que nem segurava-se em sua própria entrada de garagem e cortava as mãos de pessoas inocentes. Agora ele sabia que esta retardada fora assim a vida toda, pois ele já me conhecia e agora estava gargalhando para não chorar ao perceber como o destino era maldoso com ele.

Depositei a caneca no chão de madeira ao meu lado, levantando-me com um pouco de dignidade. Minha vontade era puxar meus shorts para baixo e esconder minhas pernas e minha vergonha acumulada em mais de uma década, mas me contive.

- Me desculpe pelo seu dedo… eu, eu vou começar a puxar o freio de mão – gesticulei feito uma idiota, apontando a camionete ainda parada no meio da rua.

Edward levantou-se, o cenho franzido em confusão.

- Hei, Bella, sou eu, Edward… Masen. Edward Masen – ele aproximou-se de mim, apontando para si próprio. Agora eu franzia meu cenho e começava a duvidar de suas faculdades mentais. – Primo de Alice, você não se lembra?

Eu ri, um pouco histérica, percebendo a ironia em Edward pensar que eu não o reconhecia. Encolhi um pouco meus olhos, sentindo o Sol começar a bater com força contra meu rosto e acenei com a cabeça.

- Eu sei… eu… - Edward pulou sobre mim, enroscando seus braços em torno do meu corpo com facilidade.

Eu achei que iria morrer.

Eu precisava daquela caneca de água e mais alguns litros para conter o calor que irradiou pelo meu corpo, toda a estática e eletricidade daquele toque fritando meus nervos.

Edward estava me abraçando com força, ainda rindo com felicidade. Eu realmente gostaria de ver minha expressão no momento, pois eu me sentia anestesiada demais para lhe abraçar de voltar ou procurar algum motivo para aquilo.

- Ah, Bella, é bom ver um rosto conhecido – ele suspirou e foi me soltando aos poucos, mantendo ambas as mãos em meus ombros, sorrindo para mim.

Certo. Um rosto conhecido. Certo.

- Quero dizer, Alice me disse que você ainda morava aqui, mas eu não sabia que seria bem ao lado da minha porta.

- Bom, agora você já sabe o tipo de vizinhança que você vai ter – forcei um novo sorriso. Edward sorriu para mim genuinamente, seus olhos verdes tão claros e brilhantes com todo aquele Sol que eu achei que iria ficar cega. No bom sentido. – Como vai Alice?

Aquilo era uma pergunta muito estúpida, considerando que eu falava todos os dias com Alice pelo telefone, mesmo ela tendo se enfiado em Dallas pelos últimos quatro anos.

- Ah, ela está bem, eu acho. Pensei que vocês eram coladas, ou algo assim – respondeu.

- É, é, nós somos – balbuciei, encaixando minhas mãos em minha cintura para esconder o nervosismo de manter uma conversa com Edward. – Mas, você sabe, eu faço muita coisa durante o verão, muito ocupada. Nem sempre consigo ligar para Alice e dizer um olá… você… sabe.

Edward acenou com a cabeça, me olhando de forma estranha.

- Então, eu vou juntar toda aquela comida da varanda – olhei para trás, vendo as sacolas jazendo com minhas couves, queijo e leite espalhados pelo assoalho. – Me desculpe pelo seu dedo, de novo. E seja bem vindo. Me desculpe.

Corri para fora do alcance dos desastres possíveis que poderiam sair da minha boca, pulei sobre a cerca de arbustos e comecei a repassar as imagens de toda aquela cena apocalíptica.

- Bella! – Me virei ao som da voz de Edward, um pouco estática. – Seria ótimo ter você para o jantar amanhã.

Me ter para o jantar. Por que será que minha mente viajou em um sentido tão oposto daquela frase? Suja.

- Ah, claro – dei de ombros, feito uma vadia desinteressada, enquanto meu ego dava um disparo assombroso até as alturas. – Seria legal.

Tãaaaaao legal.