Disclaimer: os personagens e a ambientação dessa história não me pertencem. A narração acontece logo após a quebra da maldição, porém não seguirei de forma alguma os acontecimentos da segunda temporada. Em alguns momentos eu talvez pincele alguns fatos do seriado, mas, na maior parte do tempo, desenvolverei a história livremente.

A Casa Salmão

Capítulo 1

Era uma bela casa. Muito bem mobiliada, com tons escuros que combinavam com as paredes cor de salmão; possuía muitos aposentos, o que Belle acreditou ser um exagero, considerando-se que ali morava apenas um homem solitário. Atrás da mansão existia um lindo jardim, carregado de muitas flores, porém predominantemente dominado por rosas vermelhas, e o lugar exalava um cheiro gostoso e levemente inebriante, como o de um aroma oriundo de alguma poção fervilhando, embora não fosse possível identificar de onde ele vinha e se, de fato, pertencia a alguma poção.

Enquanto visitava o lugar, Belle sentou-se em um banco à sombra de uma árvore, sendo acompanhada pelo anfitrião. Ao vê-lo sentar-se ao seu lado, sentiu um leve arrepio de ansiedade perpassar o seu corpo, e procurou distrair-se com o barulho dos pássaros, disfarçando o rubor de sua face. Mr. Gold apoiou a bengala de ouro ao lado do banco, e, não percebendo a exagerada timidez de Belle, passou um dos braços por seu ombro, abraçando-a de lado e trazendo-a para mais perto. Não que ele mesmo não estivesse pudico e achasse que tinha o direito a todas as intimidades; muito pelo contrário. Porém sentia a necessidade de quebrar o gelo que se apossara de ambos desde que haviam pisado em sua residência, pois, embora tivessem deixado bem claro um ao outro os sentimentos de amor que possuíam mutuamente, ainda era estranho para os dois voltarem a se reencontrar assim, tão de repente, e após um trauma tão intenso quanto a clausura por longos anos que Belle sofrera. Mesmo Mr. Gold, que não havia sido abalado por nenhum mal durante esse período, sentia-se traumatizado e, estranhamente, afetado pelo reencontro, pois ver o amor de sua vida retornar dos mortos da noite para o dia era como uma magia forte o bastante e com propriedades suficientemente intensas para abalar até mesmo as bases do Dark One, que, embora poderoso, nunca deixara de ter a capacidade de nutrir sentimentos.

O silêncio pairou no ar, sendo preenchido pelo barulho que o vento provocava ao atingir a folhagem muito verde da árvore acima do casal. O feiticeiro olhou para a princesa ao seu lado, e, finalmente, percebeu nela um vermelhidão nas bochechas que ela procurava esconder, evitando olhar para ele. Mr. Gold verificou, no entanto, que seu rubor não era proveniente de um desconforto desagradável que ela porventura pudesse estar sentindo, mas sim de uma angústia por não saber o que falar ou como agir. Sua Belle, outrora tão solta e faladeira com ele, agora encontrava-se retraída, exatamente como quando a conhecera e ela ainda acostumava-se com seu castelo e sua companhia. A diferença entre o que ela sentira na época e o que sentia agora era, basicamente, o sentimento de medo, que, atualmente, sentada naquele lindo jardim, não existia. Havia apenas o pudor puro e a ansiedade por enfrentar o desconhecido.

Mr. Gold esticou um dos braços e alcançou a roseira mais próxima, arrancando dela a rosa vermelha mais bela que pôde encontrar. Virou-se para Belle e sorriu-lhe docilmente. Talvez tivesse sido a força de seu sorriso que atraíra a atenção da princesa, pois naquele mesmo momento ela virou-se para ele, dando de cara com a linda flor erguida em sua direção e emoldurada pelo homem que gentilmente segurava o presente entre os dedos ornados de anéis. Belle abriu um largo sorriso, bastante espontâneo e surpreso, contrastando adoravelmente com o rubor das maçãs de seu rosto, que parecia aumentar cada vez mais. A princesa pegou-lhe a rosa das mãos, levou-a ao nariz, deu uma grande inspirada e percebeu que o aroma que sentira ao entrar no jardim era, na verdade, o cheiro das rosas, e nenhuma outra rosa que já vira em toda sua vida exalara aquele perfume. Exceto, talvez... E veio-lhe à mente, de súbito, a memória de quando ganhara uma flor de mesma aparência e mesma fragrância em Dark Castle. Era mais uma das rosas encantadas de Rumplestiltskin que recebera agora, e, olhando para a delicada flor em suas mãos, pensou nela com ternura e com imensa saudade dos tempos em que vivera ao lado do Dark One.

Belle voltou o olhar para o amado ao seu lado, e percebeu que ele encarava-a com certa expectativa e ansiedade. Talvez esperasse que a rosa oferecida amenizasse o clima pesado que pairava sobre os dois no jardim da casa cor de salmão. A princesa, então, inclinou-se para frente, chegando vagarosamente com o rosto perto dos lábios de Mr. Gold, porém desviou do caminho no último instante e desferiu um beijo em sua bochecha, enquanto segurava o outro lado de seu rosto com a mão que não carregava a rosa. Ela não viu, mas, no instante em que os lábios e a pele macia da mão de Belle tocaram o seu rosto, Mr. Gold fechou os olhos e prendeu a respiração por alguns segundos, como se assim pudesse parar o tempo e eternizar aquele toque em sua face. Voltou a abri-los quando, de repente, sentiu a garota afastar-se novamente dele e, olhando para ela, não pôde mais conter um sorriso largo e cheio de alívio, pois o pudor já não mais banhava as feições de sua querida e ela parecia cada vez mais solta, como a Belle com quem outrora convivera em seu castelo. Foi com grande alegria, portanto, que ele absorveu as palavras de Belle que vieram a seguir.

_ Obrigada, Rumple. Ela é incrivelmente linda.

_ Como você.

Fora a resposta que ela pudera lhe dar no momento, pois estava entusiasmado demais, ansioso demais, feliz demais, para que pudesse se expressar em frases maiores e rebuscadas. Preferiu um simples elogio e um largo sorriso. Antes, porém, deles decidirem adentrar a casa, Mr. Gold segurou a mão de sua princesa com delicadeza e caminharam pelo jardim por alguns segundos de mãos dadas e espírito mais leve.