Neal sempre tinha os olhos vermelhos nas quarta-feiras. Talvez fossem os baseados que acendíamos como velas para afastar agouros e velhos fantasmas.
Mesmo no meio da fumaça branca ele dizia poder ver meu rosto sem marcas, mesmo nos pedaços de pele que ficavam sob a barba. Neal estava caindo e eu o enterrei com as minhas unhas. Com o meu hálito.
Visto os jeans e uma camisa e abro minha porta do guarda-roupa para recuperar minha jaqueta, que era só o que restava estava ali. Neal me olha. Ele vai sentir minha falta.
Ele esfrega o rosto nas palmas das mãos. Minha mala que ele abrira revela a adaga de grafite e papel. Rumplestilskin.
– Era isso que você queria aqui. E, agora, mais nada. Não vai funcionar, August. E então você estará perto demais. E será tarde demais.
– Já é tarde demais.
Passo minha mão limpa nos seus cabelos oleosos. Desço-a pela sua espinha e ele arrepia e ri sem vontade.
– Você vai procurar Emma?
– É o meu dever, não é?
– Sua grande responsabilidade.
– Sim.
– Você está fazendo uma porcaria de trabalho.
– Você já me disse isso.
Neal beija os nós dos meus dedos um por um. Eles já cicatrizaram das brigas que eu não tive com ele. Fecho mais uma vez minha mala.
Então ele põe uma caixa de madeira em cima da cama. É a minha máquina de escrever.
– As pessoas aceitam as peculiaridades mais bizarras quando vêm de um escritor. Mas talvez você já saiba.
Ele não quer nada de mim. Ele entende.
