História novinha e fresquinha. Lembrem-se de que é uma continuação, portanto, leiam primeiro Ningyo que está devidamente postada no meu bio.

Espero que gostem! É minha nova paixão.

Disclaimer: Naruto pertence a Kishimoto Masashi-sama.


O Legado da Akatsuki

Capítulo I – A volta de Ningyo

Ela fechou os olhos e respirou fundo. Aquela maravilhosa mistura de cheiros de chuva e grama recém-cortada só existia em Konoha. E como ela sentira falta daquele cheiro. Nada no úmido mofo da Névoa ou do excessivo cheiro de cinzas secas da Areia se comparava àquela sensação.

Estava em casa novamente.

- Pronta para entrar? – a voz de Rock Lee a despertou de seus devaneios.

- Sim.

- Vou direto ao hokage. Sabe onde encontrar seus amigos?

Ningyo abriu um sorriso arrogante.

- Eu me viro. – ela voltou para as costas de seu pássaro de argila e deixou seu sensei sozinho.

Ela sabia onde encontrá-los. Eles eram previsíveis o suficiente para isso, depois que você aprendia seus padrões.

Não demorou muito para avistá-los com seu monóculo. Eles estavam entretidos em um inofensivo duelo, daquela altura, parecia que estavam usando apenas taijutsu. Ningyo riu. Pregaria uma boa de uma peça naqueles dois. Ela só tinha uma chance.


Minato e Hideki estavam entretidos em sua batalha. Estavam tão suados que suas camisas haviam sido largadas no primeiro lugar onde puderam deixá-las. Parecia que eles não conseguiriam decidir um vencedor nem tão cedo.

Foi quando tudo aconteceu.

Eles não repararam de onde veio, mas de repente, alguém pulou na direção deles e no segundo seguinte uma bomba explodiu.

Eles caíram no chão, tossindo por conta da fumaça da explosão.

- Sentiram minha falta, meninos? – a voz feminina soou inconfundível em seus ouvidos, mesmo depois de tanto tempo.

Minato foi o primeiro a se levantar. Correu até ela e sufocou-a num abraço.

- Como ousa nos dar um susto desses depois de quatro anos, Uzumaki?

Ningyo riu e abraçou-o com força.

- Senti sua falta também, Minato.

- Sua ridícula. – ele mexeu no cabelo da kunoichi, bagunçando-o completamente.

Ela se desvencilhou de seu abraço e o encarou, analisando-o atentamente. Músculos bem definidos, bem mais alto do que quando ela deixara a vila – sentiu-se uma criança ao reparar quão mais alto que ela ele estava –, mesmos belos olhos acinzentados, mesmo cabelo prateado desordenado.

- Desde quando você é tão bonito? – ela ergueu uma sobrancelha, zombeteira.

Minato soltou um grunhido de reprovação.

- Nossas antigas colegas de Academia devem estar sendo ridiculamente chatas com você. – ela riu.

Ele deu de ombros. Não que realmente se importasse com o grude insuportável daquelas meninas. Ele conseguia suportar. Havia coisas piores na vida.

Ningyo, então, se virou para seu outro companheiro de time, que ainda estava sentado no chão, imóvel. Seu coração parou de bater por um segundo ao vê-lo. Se havia achado Minato bonito, nada se comparava a sua visão de Hideki. Sentado ali no chão, ela não conseguia dizer sua altura exata, embora soubesse que ele estava em algum lugar intermediário entre ela e Minato; músculos perfeitos, cabelo negro comprido, aqueles brilhantes olhos perolados. Parecia que fazia décadas que ela não o via.

Hideki também sentiu seu coração parar ao encará-la. O cabelo loiro estava mais comprido e preso de um jeito diferente – ela substituíra as marias-chiquinhas por um meio rabo de cavalo –, estava alguns centímetros mais alta e seu corpo já não era mais infantil como era em seus treze anos. Ela tinha curvas agora... e pernas bem torneadas.

Ningyo se aproximou dele e estendeu a mão.

- Vai ficar muito tempo aí, Hideki?

Hideki abriu um pequeno sorriso e segurou a mão que ela estendia a ele. Quando ele se ergueu por completo ela confirmou sua teoria de que ele, realmente, era mais baixo que Minato, embora ainda fosse bem mais alto do que ela.

- Você não poderia ter só chegado andando e dado "oi", não é mesmo?

Ningyo fez um muxoxo.

- Que graça teria? Desse jeito eu não veria essa cara fascinante que vocês fizeram quando minha argila explodiu.

Hideki revirou os olhos. Por mais que mudasse, ela seria sempre a mesma. Ele sorriu e acariciou seus longos cabelos dourados, tentando ajeitar a bagunça que Minato havia causado.

- Por que mudou?

Ningyo pegou uma mecha e ficou enrolando-a em seu dedo indicador.

- Um dia eu vi meu reflexo num lago e detestei o que vi. Parecia... infantil demais. Precisei mudar.

- O outro jeito ficava ótimo.

De certa forma, Ningyo não queria ouvir aquilo. Claro que ela sabia quem costumava usar aquele penteado, mas foi o mais confortável que ela achou depois dos variados testes que fez. Caía tão bem! Não era preso demais nem solto demais, a franja ficava exatamente do jeito que ela queria. Ela não podia evitar, era mais forte do que ela.

- Eu gosto assim. – ela disse, soando quase sombria.

Minato imediatamente notou que havia algo de errado. Não havia motivo para ela ficar tão chateada por causa de um comentário sobre penteados de cabelo. Hideki, no entanto, para um Hyuuga – ainda mais filho de quem era –, era muito pouco perceptivo.

- Não disse que não gostei desse jeito. – foi a vez de Hideki fazer um muxoxo.

Ningyo sorriu.

- Vamos esquecer isso, certo? Vou deixar vocês pagarem um ramen para mim.

E foi andando na frente, sabendo que os dois a seguiriam de perto.


- Rock Lee! – Naruto exclamou, entusiasmado, ao ver o pupilo de Gai entrando em seu escritório. – Vocês estão de volta!

Rock Lee assentiu, compartilhando o entusiasmo do Hokage.

- Acabamos de chegar!

- Ningyo foi procurar Minato e Hideki, presumo? – Naruto sorriu.

- Sim. Desde que começamos o caminho de volta eu percebi o quão ansiosa ela estava para revê-los. Não que ela compartilhasse esse tipo de pensamento comigo, mas dava para sentir a ansiedade quase que emanando dela.

Naruto riu.

- Ela não fala muito? – ele perguntou, já num tom mais sério.

Rock Lee fez que não com a cabeça.

- Ela nunca foi exatamente um livro aberto, mas eu pude sentir que ela se fechava mais a cada dia, embora seja bastante emotiva.

Naruto suspirou. O que poderia esperar? Sakura era assim também. E quanto a Deidara...

- Ela se saiu bem? – ele mudou de assunto.

Rock Lee riu.

- Você não faz a menor ideia de quem é sua filha, Naruto. Ela não chegou a velocidade que eu gostaria que ela atingisse, mas está bastante rápida. Juntou seu controle de chakra com as técnicas de taijutsu. E não sei como ela fazia, mas parecia que ela melhorava aquelas bombinhas dela cada vez mais e nunca a vi trabalhando nelas.

- Ela fazia enquanto você dormia. – Naruto riu.

- É, eu sei. Ela vai precisar descansar bastante. Não dorme bem há quatro anos.

Naruto suspirou. Claro que Ningyo trabalharia sua argila quando Rock Lee não estivesse vendo, era o único jeito de proteger seu segredo e melhorar sua técnica ao mesmo tempo. Era por isso que ela ficava mais fechada a cada dia que passava. Ela tinha um segredo que não compartilhava com ninguém. Era algo só dela. E carregar grandes fardos sozinha podia ser uma tarefa exaustiva tanto física quanto mentalmente.

Mas ela estava se saindo esplendidamente bem, Naruto sabia disso.

- Bom, Lee, você acaba de ganhar alguns meses de férias. Neji e TenTen estão em uma missão demorada e Gai saiu em uma, mais curta, com Kakashi. Você não vai ter muito trabalho.

Lee bufou.

- Não preciso de férias! Sou um furacão!

Naruto revirou os olhos. Seria possível que mesmo com quase quarenta anos ele tinha o mesmo fôlego de quando tinha doze?


Hideki e Minato olhavam, estupefatos, para Ningyo que já devorava sua terceira tigela de ramen.

- Não me olhem assim. Não há lugar algum nesse mundo que tenha um ramen como esse. Não me julguem. – ela disse, revezando as palavras com o macarrão.

- Ninguém está julgando. – Minato deu de ombros. – Depois não venha chorar no nosso ombro dizendo que está gorda. Já ouvimos de mais isso com as meninas da Academia.

Ningyo parou de comer um instante. Hideki também deveria ser bastante assediado, não é mesmo?

- Vocês... passam muito tempo com elas?

- Nós tentamos não passar, mas é quase impossível. Elas não fazem nada da vida.

Ningyo se lembrava delas... Inuzuka Abi, Akimichi Yuuka, Aburame Naoko e Sarutobi Sayuri. Todas pertencentes a importantes clãs da vila da Folha. Ningyo nunca se deu lá muito bem com elas, só umas conversas ocasionais, algumas atividades da Academi... Talvez porque, desde cedo, elas já eram exatamente como eram agora, anos depois. E, claro, elas eram bonitas o suficiente para chamar a atenção tanto de Minato quanto de Hideki.

Minato riu ao entender o que se passava na mente da kunoichi loira.

- Não se preocupe. Ele sabe se cuidar. – ele sussurrou para que só ela o escutasse.

Ningyo corou com o comentário.

- Não foi isso que eu quis dizer.

Ela voltou a comer em silêncio, envergonhada. E foi seguida pelos outros dois, mas quando pediu a quarta tigela para Ayame – filha de Ichiraku, que agora, após a morte de seu pai, tomava conta do restaurante – eles não conseguiram manter o silêncio.

- Ningyo, Rock Lee não te deu comida enquanto vocês treinavam? – Minato perguntou, perplexo.

- Não é isso. Só estava com saudade do ramen daqui. – ela disse, sorrindo de um jeito brincalhão. – É tããããoo gostoso.

- Você é mesmo filha do Naruto-san, né. Não dá nem para negar. – Hideki comentou rindo.

O sorriso de Ningyo morreu e ela largou os hashi na tigela. Aquela afirmação doeu em seu coração. Muito.

- Você está bem? – os dois perguntaram, preocupados.

Ela forçou um sorriso.

- Acho que comi rápido demais. – mentiu, simulando uma possível dor de barriga.

A explicação fora suficiente para Hideki, mas Minato pareceu desconfiado.

- Tem certeza de que está bem? – ele insistiu.

Ningyo assentiu mais uma vez. Ele estava ficando cada vez mais parecido com seu pai. Kakashi também se preocupava demais com todos os detalhes, como se tivesse nascido com o poder de reconhecer farsas.

- Bom, então, eu vou indo. – Minato declarou, deixando seus hashis na tigela vazia a sua frente.

- Por quê? – Ningyo perguntou, decepcionada. Queria ficar mais tempo com eles, apesar de tudo.

- Porque eu ainda tenho que fazer umas coisas lá em casa antes de anoitecer. Relaxe, nos vemos amanhã. – ele deu um rápido aceno de mão para os dois e desapareceu.

- Você não é Kakashi-sensei! – Ningyo resmungou, voltando a comer seu ramen.

Hideki riu da reação dela. Ela estava diferente da menininha que o deixara ali, bastante diferente. Mas ele ainda amava. Do fundo de sua alma.


Depois de pagarem a conta no restaurante, Hideki acompanhou Ningyo até sua casa – a antiga mansão Uchiha, que Naruto fizera questão de comprar depois que se casara com Sakura. Ao chegarem na porta, um desagradável silêncio abateu-se sobre eles.

- Não quer entrar um pouco? – Ningyo perguntou sorrindo encabulada.

- Claro. – Hideki seguiu-a escada acima até chegar ao quarto que ele já conhecia. Nada havia mudado.

- Ah! – Ningyo exclamou, jogando-se na cama. – É bom estar em casa de novo.

- Não combina mais com você. – Hideki disse.

- É, eu sei. Vou redecorá-lo assim que tiver paciência.

O Hyuuga riu e olhou a sua volta. Só então que ele percebeu as duas bandanas penduradas em cima de uma cômoda. Uma pertencia a Sakura, e a outra, ele não precisou de muito esforço para perceber, pertencia ao homem que a matara.

- Por que você guarda isso? – ele perguntou perplexo.

Ningyo sorriu. Esquecera que as bandanas estavam ali.

- Não é como você pensa. Ele não a matou. Ela escolheu ir com ele.

Os belos olhos perolados do Hyuuga estavam cada vez mais confusos.

Ningyo se levantou e foi até a cômoda, pegando um porta-retratos que guardara dentro de uma das gavetas. Era a foto que sua mãe lhe dera junto com a carta de despedida.

- Deidara foi o grande amor da vida dela. – Ningyo disse enquanto entregava o porta-retratos a Hideki. – Sua alma se partiu quando ela achou que ele havia morrido. Ela já havia voltado a Konoha nessa época. Não sei o quanto ela amava meu pai, mas Deidara era "o" amor dela. Então, ele preferiu morrer com ele a passar pelo sofrimento de perdê-lo mais uma vez.

- Eu... Eu não sabia.

Ela sorriu.

- E como poderia?

- Mas, Nyn-chan... Essa história... Não te abala, não te deixa triste?

Ela fez que não com a cabeça.

- Não há nada mais puro e mais perfeito, a sua forma, do que essa história, Hideki. Eles se amavam de forma tão verdadeira que nada poderia detê-los. Queriam ficar juntos. Seu amor era uma bela obra de arte. – ela disse enquanto encarava, de sua janela, o belo crepúsculo de Konoha.

Um pesado silêncio pairou sobre o ar entre os dois. Ningyo se virou de frente para Hideki com um falso sorriso forçado.

- E você e Minato? Quando vão me apresentar as namoradas de vocês?

Hideki sentiu seu coração se comprimir numa horrenda guinada de dor. Então era por isso que ela havia lhe contado aquela história? Para ser a introdução de "Ah, Hideki-kun, eu conheci alguém na minha viagem"?

- Não seja boba. – ele grunhiu. – Eu te disse que esperaria por você, não disse?

O falso sorriso de Ningyo morreu e deu lugar a um verdadeiro.

Foi a vez do Hyuuga abaixar a cabeça: - E você, Ningyo, conheceu alguém pelas vilas que passou?

Ela riu.

- Eu não brinquei com o que eu disse.

Hideki sorriu ao se lembrar daquele dia.

- Tem certeza que quer mesmo ir, Nyn-chan? – ele forçava sua expressão dura, mas a verdade é que queria chorar, abraçá-la com força e jamais deixá-la sair de seus braços. – Lee não é tão confiável assim.

A menina riu.

- Não seja bobo, Hideki-kun. Não vou demorar. Você nem vai sentir minha falta.

- Não fale besteira. Claro que eu vou sentir sua falta.

Ela se aproximou dele, as bochechas tão coradas que se assemelhavam às de Hinata quando tinha a mesma idade e chegava perto de Naruto.

- Você...

- Vou estar te esperando. – ele disse emburrado.

Ningyo se jogou em seus braços e o abraçou apertado.

- Não importa o que aconteça eu sempre serei sua. E de mais ninguém.

E isso tudo porque só tinham treze anos.

- Não importa o que aconteça, Hideki. Eu serei sempre sua.

Hideki se aproximou e a puxou em um abraço.

- Senti muito sua falta. – ela disse enquanto enlaçava seus braços pelas costas daquele a quem ela amava.

- Eu também.


Ningyo ainda podia sentir o perfume dele em suas roupas, apesar das longas horas que separavam aquele momento do abraço apertado que ele lhe dera. Ela respirou fundo mais uma vez. Como seria tudo agora? Ela tivera a oportunidade perfeita de contar tudo a ele, mas ficou com medo. Algo nela dizia que ele não poderia suportar, que ele não entenderia. O que ela faria? Não seria capaz de esconder aquilo para sempre. E também não queria. O peso daquele segredo já estava lhe custando muito, ela precisava de alguém que o partilhasse com ela; sem medo, sem dúvidas. Mas Hideki não era essa pessoa.

Felizmente, o barulho da porta se abrindo foi o suficiente para impedir que ela ficasse triste no primeiro dia de volta à Konoha.

- Otou-san! – Ningyo correu para abraçar seu pai.

- Ningyo! – Naruto estava feliz de ter sua filhinha de volta. Sentira muita falta dela naqueles últimos quatro anos. Sempre detestara ficar sozinho e, por treze anos, havia se acostumado à presença dela e de Sakura. Mas Sakura se fora e Ningyo saiu numa longa viagem. Foi difícil para ele.

E foi então que seus olhos encontraram o cabelo de sua filha. O meio rabo de cavalo, a franja caindo em seus belos olhos verdes.

- Seu cabelo... Está diferente.

Ningyo sentiu a dor na voz de seu pai e o encarou nos olhos. A dor estava naquelas belas safiras também.

- Desculpe-me, papai. Não me dei conta que estava tão parecida com ele e que isso lhe causaria uma dor como essa. – eles nunca haviam conversado sobre o assunto, mas ambos sabiam que o outro sabia da verdade.

Ela levou os dedos ao elástico, mas Naruto a impediu.

- Não precisa fazer isso. Não há nada que você possa fazer que lhe faça ficar parecida com ele.

Mas, mesmo assim, Ningyo puxou o elástico, soltando o cabelo. Ela o prendeu novamente num rabo de cavalo completo.

- Pronto. – ela sorriu. – Está melhor assim.

Naruto riu e a abraçou mais uma vez.

- É bom te ter de volta.

Ningyo o abraçou ainda mais apertado.

- Eu também acho!

"And I miss who we were

In a town we could call our own

Going back to get away

After everything has changed

Could you remind me of a time when we were so alive?

Do you remember that?

Could you help me push aside all that I left behind?"


Tradução da Música: E eu sinto falta de quem éramos/ numa cidade que podíamos chamar de nossa/ voltando para escapar/ depois que tudo mudou/ você pode me lembrar de uma época que éramos tão vivos?/ você lembra disso?/ você pode me ajudar a superar tudo que deixei para trás?

Franklin by Paramore