Primeiramente quero dizer que os Personagens de Sakura Card Captor não me pertencem, isso é so um trabalho feito de fãns para fãns.

E isso é uma readaptação do livro de Natalie Anderson, então os créditos são todos dela.

Night ofSeduction

CAPÍTULO UM

A festa dos funcionários da Doidouji Company . Mal havia começado e Sakura já estava entediada. Precisava de ar fresco.

Com passos decididos seguiu para a varanda do andar e procurou por um banco bem escondido, a fim de que não fosse vista e pudesse descansar por, pelo menos, cinco minutos.

Mal se sentara quando viu a figura de um homem alto e de cabelos castanhos, trajando calças jeans e um suéter de lã cinza, caminhando calmamente em sua direção. Não podia ver seu rosto com clareza, pois a única iluminação provinha do interior do salão. Porém, estava certa de que não o conhecia. Pelo menos não fazia parte do quadro de funcionários da empresa onde ela trabalhava já há cinco meses.

Suspirou, desconfortável. Só poderia ser Eriol, o amigo que Tomoyo insistira em lhe apresentar.

Por que será que as pessoas sempre estão preocupadas em arrumar um par ideal para alguém que julgam carente apenas por estar sozinha?, lamentou-se, em pensamento.

Apesar da promessa que fizera à amiga de dar a ele uma oportunidade, resolveu

justamente o contrário: diria que estava "dando um tempo" a si mesma e o despacharia bem rápido.

Ignorando a angústia assim que o homem chegou mais perto, ela antecipou-se:

— Foi Tomoyo quem lhe pediu para vir falar comigo? — perguntou ela usando um tom frio.

Do tipo de quem não está a fim de fazer amigos.

— Não — respondeu o homem, com segurança. Sakura teve um rápido vislumbre dos dentes alvos, enquanto ele sorria em meio à escuridão.

Com um gesto de cabeça ele pediu permissão e sentou-se no banco em frente ao dela, repousou ao seu lado o copo de bebida que trazia.

Ela ainda não conseguia ver plenamente suas feições. Porém, as pernas cruzadas eram tão longas que os joelhos quase a tocavam. Os bancos estavam tão próximos que Sakura até podia sentir de leve um aroma cítrico e refrescante.

— Não sei o que Tomoyo falou a meu respeito. Mas, quero que saiba que não estou a fim de novos relacionamentos.

— Oh! É mesmo? — respondeu ele, demonstrando surpresa.

Ela engoliu em seco para tomar coragem e disparou as palavras, sem nem mesmo

tomar fôlego. O que precisava era livrar-se logo daquela situação:

— Eu sei que parece difícil acreditar. Mas estou realmente querendo ficar sozinha. Sei que você é uma ótima pessoa e não terá dificuldades em encontrar outra garota. Afinal,segundo Tomoyo, você é um incrível conquistador!

A inesperada gargalhada dele a surpreendeu.

— E mesmo? Quanta gentileza dela! — exclamou ele depois de dar um gole no drinque.

— E, se eu disser que me interessei por você e não quero nenhuma outra?

Sakura apertou o copo que mantinha nas mãos. Ainda sentia-se incomodada com a súbita intromissão dele, atrapalhando a privacidade que buscava.

— Estará perdendo seu tempo —Ela respondeu com uma grosseria a que não estava acostumada. Porém, precisava desencorajá-lo.

— Uau! Sempre é assim tão "direta"? Ela franziu o cenho.

— Desculpe-me se estou sendo rude. Não era o que eu desejava. Apenas não quero que haja nenhum mal-entendido.

— Está bem! — exclamou ele, sorrindo e erguendo as mãos em sinal de rendição.

Ela observou que o homem parecia muito confiante para alguém que acabara de ser rejeitado. Permanecia relaxado e sorridente. E seu sorriso era tão cativante que quase a fazia arrepender-se do que dissera.

Sem saber como agir, Sakura espiou através da janela mais próxima e vislumbrou Tomoyo acompanhada de dois consultores da firma, que lhe disputavam a atenção.

Sem pensar, olhou novamente para Eriol. A amiga devia ter prevenido de que ele tinha o físico mais atraente do planeta.

— Agora que já estabeleceu sua posição a meu respeito, que tal me contar algo sobre você?

— O que gostaria de saber? — indagou Sakura, com cordialidade. Afinal, não precisava ser tão grosseira.

— Não sei — declarou ele, estendendo uma das pernas. — Por que não começa falando da Austrália? Não é de lá que veio?

— Na verdade, vim do sul da Nova Zelândia. — ela respondeu, tentando não demonstrar a admiração provocada pela perna musculosa bem ali na sua frente.

— Perdoe-me. Até hoje não consigo distinguir o sotaque da Nova Zelândia do da

Austrália — revelou com ar divertido. E inclinando-se um pouco na direção dela, lançou um desafio: —- E quanto a mim? De onde acha que eu sou?

O gesto de proximidade a abalou. O que faria se ele a agarrasse?

— Escócia! — arriscou ela. E, para seu alívio, o viu recostar-se de novo no banco.

— Estou impressionado!

Houve um breve intervalo de silêncio.

Ela espiou novamente através da janela e dessa vez notou que Tomoyo estava

acompanhada de um jovem que nunca tinha visto antes.

— Veja! Aquele deve ser Syaoran,!

— Onde?

— Ali, com Tomoyo! Parece que estão se dando bem.

— Quem?

— Syaoran,! — ela respondeu com impaciência — Tomoyo deve ter contado para você sobre ele. Está retornando depois de ter estagiado na matriz em Nova York. É o consultor mais jovem promovido a sócio. Vai começar amanhã, mas todos diziam que havia uma chance de ele aparecer hoje na festa. — E por mais algum tempo permaneceu observando o casal.

Depois prosseguiu: — Ela sempre disse que não tinha a mínima chance com ele. Mas não é bem o que parece, não acha? Ele parece muito interessado nela.

— Se ele gostar do estilo dela, pode ser. Ela revidou incrédula:

— Que homem não gostaria? Tomoyo é pequena, delicada e, além de tudo,

tem olhos azuis maravilhosos!

— Depende, há muitos homens que conheço que preferem mulheres altas,

voluntariosas, com olhos verdes e cabelos castanhos.

Obviamente ele a estava descrevendo. E, sem que ela esperasse, ele estendeu uma das mãos em sua direção. Sakura permaneceu imóvel, quando ele apanhou uma mecha de cabelos sedosos e a enrolou nos dedos. E, para seu total espanto, desejou intimamente que ele prosseguisse com a carícia.

Sakura respirou fundo.

— Eu a estou aborrecendo? — perguntou recolhendo a mão.

— Não... — ela declarou, indecisa. Na verdade sentia-se contrariada pelo fato de seu intento em ficar isolada ter sido frustrado. Cruzou as pernas para afastá-las dele e comentou:

— Ele não parece nem um pouco com o que eu imaginava!

— Quem?

— Syaoran,é claro. Pensei que fosse mais alto e expansivo. — E, ao falar nisso, retornou a atenção para o homem à sua frente, que voltara sutilmente a pressionar um dos joelhos contra as pernas dela.

Sakura podia sentir lhe o calor e a firmeza. E, antes que se deliciasse com o toque,

descruzou as pernas para cruzá-las novamente em posição diferente.

— Como Tomoyo descreveu Syaoran para você?

— "Um deus grego" ela falou — E, erguendo uma das mãos, enumerou os itens,

destacando um dedo para cada um: —Alto, corpo atlético... E também o tipo de líder que todos admiram. Não vejo nada disso naquele homem ao lado dela. Bem, pelo menos, essa foi a versão dela. — E, depois de uma pausa forçada, concluiu: — Dizem que ele tem fama de ser esnobe. E de nunca se envolver com nenhuma colega de trabalho.

— E só por isso ele é considerado esnobe?

— Talvez porque leve muito a sério a proibição da empresa. Os funcionários não podem ficar distraídos com envolvimentos amorosos entre si.

— Acha isso ruim?

— Não — negou ela, sorrindo. — O que acho é que na prática não funciona. Homens e mulheres trabalhando juntos muitas horas, então é muito natural que acabe surgindo alguns casos românticos. Mas relacionamentos no trabalhos são muito complicados e quase nunca acabam bem. — Isso ela sentira na própria pele, quando se envolvera com Yukito. — Justamente por ser natural, Tomoyo insistiu em me apresentar para você.

— E o que ela disse a meu respeito?

— Que era uma excelente companhia. Sabia como proporcionar diversão a uma garota. — Ela sentiu uma ponta de culpa ao revelar as palavras da amiga. Mas, como considerava isso um elogio, com certeza Tomoyo não ficaria zangada. E, a julgar pelo carisma que ele tinha, a amiga estava certa.

— E você está precisando de diversão?

— Tomoyo é que pensa assim. Para ser franca, estou muito bem sozinha. E, quando achar que preciso de companhia, saberei muito bem encontrar por mim mesma. Mas como ela também é sua amiga e está preocupada porque não namora há mais de dois meses, imaginou que poderíamos formar um par perfeito.

— E, se está tanto tempo sozinha, não sente vontade de uma companhia masculina?

Sakura preferiu não responder. Era evidente que se sentia carente. O problema era que todos os homens que conhecia eram colegas de trabalho. Não queria repetir o desastre que enfrentara com Yukito. Um relacionamento com alguém alheio à firma seria mais seguro.

"Seguro" era modo de dizer, porque ele não parecia nem um pouco confiável. O joelho novamente lhe pressionando as pernas e transmitindo o calor do seu corpo não parecia nada seguro. Ela teve o súbito desejo de sentar-se ao lado dele e sentir a pressão não só dos joelhos, mas das longas pernas fortes. E aquilo poderia ser perigoso. Ela sequer sabia com quem estava brincando.

Parecendo ler sua mente, ele perguntou:

— Não está sentindo frio? Estamos aqui fora há muito tempo.

Ela sacudiu a cabeça.

— Estou bem. Mas não se prenda por minha causa. Se quiser, pode entrar — disse ela com docilidade, incerta se desejava que ele fosse embora ou permanecesse ali.

Eriol parecia ser divertido, e ela precisava admitir que estava adorando o assédio dele.

— Prefiro ficar aqui fora. É mais agradável. — E, espiando para dentro do copo dela, perguntou: — O que está tomando?

— Um desses drinques de maçã.

— Uma bebida alcoólica?

— Sim. Mas é doce.

— E também perigosa se beber muito rápido.

Quantos champanhe já tomou?

— Este é o segundo.

— Você já jantou?

Ela disfarçou e virou o rosto para o lado. Tinha descruzado as pernas e agora os joelhos encostavam-se aos dele. Tentou ignorar o calafrio que lhe subia pelas coxas, instigando-a a apartá-las.

— Está me fazendo um convite para jantar ou dizendo que estou embriagada? De

qualquer forma, para ambos os casos, minha resposta é "não".

Ele inclinou-se para a frente e encarou-a com a face a poucos centímetros da dela. Só então ela pôde, finalmente, ver direito o rosto dele, cujas feições eram muito bonitas. O queixo forte e quadrado, o nariz retilíneo. Porém, o que mais a impressionou foram os olhos: eram de um castanho mais intenso que já havia paralisada. Nunca tinha visto um olhar tão vivido. Levaram alguns segundos antes que ela se lembrasse de piscar. Aqueles eram o tipo de olhos no qual alguém facilmente mergulharia.

— Então é assim? — questionou ele, com um sorriso esboçado no canto dos lábios charmosos.

Fascinada, ela observou os lábios dele se aproximarem de sua boca. Eram

inexplicavelmente convidativos. Ela nem percebeu quando ergueu a cabeça e, praticamente, aguardou ser beijada. Porém, quando se deu conta o que estava fazendo, recuou e ergueuse.

Talvez ele tivesse razão, pensou. Sentia-se um pouco atordoada. Mas era impossível!

Não tinha bebido tanto assim! Quem sabe fosse por não ter se alimentado direito?

— É, é assim — respondeu ela, finalmente. — Não pense que vai me seduzir só porque Tomoyo acha que deve.

Ele apoiou a cabeça entre as mãos e riu para valer.

— Pare com isso! — ela o repreendeu um tanto desgostosa, mas, divertida. — Não acho tão engraçado. Já lhe disse que não tenho interesse em nenhum envolvimento no momento.

Ele não parava de rir. Ela começou a se perguntar qual era a piada. Talvez ele a

estivesse achando engraçada. Pensou em um modo de por fim à comédia, mas antes que pudesse esboçar qualquer reação, ele ergueu-se e, ainda com o semblante alegre perguntou:

— Vai voltar para a festa?

Só aí ela notou o quanto ele era alto. Sakura, mesmo com os saltos altos tinha que olhar para cima para poder encará-lo.

— Acho que vou para casa — declarou ela, mirando-se no reflexo dos fabulosos olhos âmbares.

— Boa idéia.

Ainda bem que ele não protestou. Precisava sair dali. Ou melhor. Sair de perto dele.

Pela primeira vez admitiu que subestimara a habilidade de Tomoyo em promover a aproximação de casais compatíveis. O homem lhe tirava o fôlego.

— Foi um prazer conhecê-lo, Eriol. Tenha uma boa noite. — E, com polidez, estendeu a mão para trocarem um aperto de despedida. E esse foi seu maior erro!

O repentino contato físico lançou ondas de eletricidade que subindo pelos braços,

culminava no coração, ocasionando uma pulsação acelerada. Ele segurou a mão dela com firmeza. O calor emanado parecia ligá-los num ponto comum. Ela podia perceber a ex-citação crescer em seu ventre e sabia que ele estava ciente disso pela maneira como a fitava.

Com grande esforço ela recolheu a mão e depois de pronunciar um sonoro "até mais",dirigiu-se para a saída.

Ele a acompanhou com os olhos, enquanto ela se afastava. Será que deveria tê-la

impedido de sair? Talvez, pensou. Porém, a atração que sentira estava difícil de controlar.

Será que estava sofrendo um "ataque de luxúria"? Se fosse isso, nunca experimentara nada semelhante. Pelo menos, não tão intenso! Estava de volta a Tomoeda há tão pouco tempo e já caíra de amores por uma linda imigrante?

Sem esperar pela resposta da consciência, acabou por descer as escadas o mais rápido que conseguia, para chegar ao saguão do prédio antes dela.

Sakura suspirou com alívio. Estava tomando a decisão certa, pensava. Não poderia entregar-se a "um pouco de diversão" como Tomoyo queria que fizesse. Este era o melhor momento para escapar da tentação.

Imersa em pensamentos, entrou no elevador. Mas quando a porta abriu no andar térreo, dois braços fortes a ajudaram a sair. Tudo que pôde sentir foi uma respiração ofegante e o coração batendo rápido, sob o suéter de lã.

— Você? Como pode! — admirou-se ao ver o dono dos olhos âmbares, que sorria

divertido.

— Vou levá-la para casa.

— Não precisa.

— Mas eu quero. Além do mais, não deve voltar sozinha. Bebeu demais.

Ela ergueu uma das sobrancelhas em protesto:

— Você também andou bebendo.

— Só tomei um drinque. E jantei bem. Tenho plenas condições de levar você com

sobriedade.

— Minha mãe me ensinou a nunca entrar no carro de um estranho.

— Não sou um completo estranho! Passamos mais de uma hora nos conhecendo!

Ela pensou por um momento, pressentindo que iria fraquejar. Tomoyo o conhecia há muito tempo. Além disso, uma carona para casa era tentadora. Naquela hora o metrô deveria estar lotado e depois haveria mais dez minutos de caminhada com os saltos altos.

E, por acréscimo, um pouco mais de tempo na companhia dele...

Será que devo aceitar?, titubeou. Desde que ele se aproximara dela na varanda, os instintos sexuais que ela tanto refreara vieram à tona. O poder de sedução que ele exercia era forte demais. Mais do que suficiente para oferecer perigo.

Olhou-o por alguns segundos, indecisa. Mas tudo que podia focar eram os incríveis olhos âmbares.

— Está bem. Se insiste...

— Será um prazer.

Juntos retornaram ao elevador.

Ele a conduziu pelo braço até a garagem do prédio.

Sakura se perguntava mentalmente qual tipo de carro seria o dele? Provável-mente um conversível com bancos de couro.

Quando saíram do elevador e caminhavam no espaço livre entre os carros enfileirados, Sakura procurava ignorar a sensação da mão enorme que lhe pressionava o ombro direito. Os dedos grossos pareciam condutores de eletricidade. Ela apertou os lábios com força.

Só não estava preparada para a enorme van, vermelha acastanhada, com uma das laterais parcialmente amassada. Os sete assentos pareciam ter sido usados recentemente.

Havia o indisfarçável rastro de crianças. Papéis de bala no chão e nas duas últimas poltronas,acessórios de proteção para bebês.

— Está esperando alguém mais? — perguntou ela, ansiosa.

— Não — ele respondeu lacônico e abriu a porta do veículo para que ela entrasse.

Sakura acomodou-se e puxou o cinto de segurança. E, antes que o prendesse, sentiu que sentara em cima de algo. Ergueu um pouco os quadris e vasculhou com a mão esquerda.

Achou uma embalagem aberta contendo algumas uvas passas secas. E a entregou a Karl, que acabara de se acomodar atrás do volante.

— Oh, ótimo! — exclamou ele. — Estava me perguntando onde a tinha deixado. E, com um sorriso maroto, revelou: — Meu jantar.

Ela baixou o olhar para a mão esquerda dele, repousada no volante. Não usava aliança.

E, também não haviam marcas deixadas pelo uso. Não pôde evitar reparar nos dedos longos e as unhas limpas e bem cortadas.

Ao ligar a ignição do carro, finalmente explicou:

— Esta van é da minha irmã. O meu carro não estava disponível, então pedi emprestado o dela. Ela tem três filhos. Por isso a bagunça.

— É mesmo? — questionou ela, enquanto prendia o cinto de segurança. — E que tipo de carro você tem?

— Adivinha.

— Hum... Um modelo esportivo, talvez. Daqueles que atraem a atenção das garotas.

— Não preciso de um carro assim para atrair a atenção das mulheres.

— Verdade? — ironizou ela, diante do esnobismo. Ele sacudiu a cabeça e sorriu para ela. A intensidade do olhar parecia atravessá-la.

— Confia apenas na sua aparência e charme? — zombou divertida.

— E mais algumas coisas... — insinuou ele. Disso ela não duvidava. O que não faltava para aquele homem eram atrativos.

— E então? Para onde vamos?

— Oh, St. Katherine's Dock, Tower Hill. Ele a encarou com as sobrancelhas erguidas:

— Pensei que fosse me pedir para deixá-la no Earl 's Court ou no Shepherds Bush. Não é nesses lugares que se encontram os imigrantes da Irlanda ou da Nova Zelândia?

— Não sei. Não freqüento esses lugares.

— Por quê? Evita o contato com seus próprios patrícios? — quis saber ele, enquanto saía da garagem e se posicionava no tráfego intenso de veículos na avenida.

— Não. Mas se quisesse intensificar meus contatos com eles, não teria saído da Novan Zelândia.

Ele a observou com desconfiança.

— Está fugindo de alguma coisa?

— Fugindo "para" alguma coisa — ela corrigiu — Não me entenda mal. Eu amo a Nova Zelândia, mas Tomoeda é uma cidade com melhores possibilidades de se fazer uma boa carreira.

— Então mora em St. Katharine's Dock? — Ele perguntou, no momento em que

passavam em frente aos luxuosos blocos, construídos no aterro recente.

— Sim — confirmou ela com um sorriso. — Mas não num desses apartamentos

luxuosos. Há um antigo prédio logo atrás dos blocos. É ali que tenho um apartamento modesto. — Deu um suspiro. — Não imagina com fico feliz em atravessar todos os dias este local. Afinal, estou em Tomoeda!

— E esse era realmente seu sonho?

— coisa que quiser está disponível! — exclamava ela com

entusiasmo, gesticulando com as mãos.

Ele alargou o sorriso diante de tanto entusiasmo.

— Está parecendo uma turista recém-chegada!

— E o que há de errado com isso? A empolgação é minha marca registrada.

— E é tão animada assim em outras atividades? — perguntou ele com uma pitada de malícia na voz.

Ela retornou com um olhar de censura e ele sorriu matreiro.

— O que quero dizer é que adoro passar pelas torres e ver os sorrisos felizes dos

turistas que entram nas lojas masculinas e acabam com o estoque das roupas mais caras do mundo!

— É mesmo?

— Garanto que precisaria dar esta van em troca de apenas uma jaqueta. Os preços são chocantes!

— Aposto que não são mais altos do que na Ponte Vecchio em Florença.

— Florença? Já esteve lá?

— Sim. É maravilhosa! Você precisa ver a Vênus de Botticelli! Vou levá-la comigo para visitar Florença.

Sakura silenciou enquanto analisava o que ele acabava de dizer. Pelo que ela sabia, a Vênus de Botticelli era uma obra prima exibida na Uffizi Gallery. Uma das mais famosas obras admirada através das gerações. Só podia ser conversa para impressioná-la. Era um paquerador incorrigível, concluiu. O único problema é que ela estava realmente se divertindo com aquela conversa toda.

— Mente muito bem! — exclamou ela.

— E acho que está funcionando. — Ele devolveu com um sorriso satisfeito.

— É bom que eu me previna.

— E é bom que eu saiba com quem estou lidando. O que será que Eriol quis dizer? Ela pensou. Será que estava testando sua cultura?

Naquele ponto, ele contornou as torres e ela indicou-lhe o modesto prédio de três

andares.

Quando ele estacionou, Sakura sentiu que estava indecisa. Não sabia se deveria

agradecer e sair o mais depressa possível ou ficar aguardando o que ele faria, se ela se demonstrasse "aberta a novas possibilidades" como haviam sugerido Tomoyo e o próprio Eriol.

Ela o espiou com o canto dos olhos e concluiu que ele não parecia tão interessado.

Apenas a observava com aquele olhar arrasador. Talvez gostasse apenas de exibir seu charme.

Sentiu-se tensa com a forma como ele se comportava. Quem sabe estivesse

percebendo a inquietude interna dela? Optando por manter uma atitude equilibrada, Sakura agradeceu:

— Obrigada pela carona. Foi muito gentil.

— Não há de quê. Foi um prazer. — Ele retornou com a mesma formalidade.

Ela se libertou do cinto e se preparou para sair. Ficou surpresa ao vê-lo contornar o carro e apressar-se em abrir-lhe a porta.

— Acho melhor acompanhá-la. Não tenho certeza de que conseguirá subir as escadas sozinha.

Ela protestou :

— consigo. Está pensando que estou bêbada?

Com certeza não estaria tão alterada com apenas duas taças de champanhe. Porém não podia negar que se sentia um pouco atordoada. E aquilo se devia provavelmente por não ter se alimentado, pensava. Nunca pela proximidade do esplêndido exemplar masculino.

— Não. Talvez cansada. Não está? — Ele sorriu novamente. E ela já estava se

acostumando a derreter com aquele sorriso.

Sakura desceu do veículo e ele aproximou-se dela. Na verdade, próximo demais!

— Se está segura de que pode ir sozinha, eu a deixo livre. — falou em tom meigo,

quase encostando o corpo no dela.

Ela podia sentir o calor do corpo vigoroso e tremendamente sexy. Eriol era fantástico e divertido. Era evidente que conseguiria subir sozinha a escadaria. Isto é, se suas pernas parassem de bambear!

Ele estendeu uma das mãos e, com carinho, afastou alguns fios de cabelo que

teimavam em cair na testa delicada.

— Até a próxima, linda! — ele murmurou, e deslizando a mão para a nuca de Sakura,inclinou o rosto e depositou um beijo rápido nos lábios macios.

O toque da boca masculina arrancou-lhe um gemido.

Ao pressentir sua aquiescência, ele tomou-lhe os lábios novamente. Dessa vez com maior vigor e intensidade. Ela sentiu o peso das mãos másculas percorrer-lhe a espinha e terminar por pressionar-lhe os quadris contra a rigidez da intimidade viril.

Lissa ergueu os braços para empurrá-lo, num gesto de defesa. Porém, o desejo de tocálo foi maior e acabou por acariciar-lhe o tórax, sentindo a musculatura poderosa mover-se por baixo da lã macia do suéter.

Ele pressionou o corpo contra o dela até que ficassem colados. O impacto foi tão

prazeroso que ela delirou. Seu corpo reagiu instintivamente. Os mamilos se enrijeceram e os lábios relaxaram, permitindo que ele explorasse com a língua o interior da boca ávida.

O inocente beijo de "boa noite" acabou se tornando uma carícia apaixonada.

O perfume era inebriante. Ela se rendeu ao prazer do contato com o físico rígido, no qual todas as curvas do seu corpo se amoldavam. Sem raciocinar, aprofundou os dedos nos cabelos espessos e fartos e pressionou-se o quanto podia contra o peito largo.

Quase sem fôlego e com o corpo abrasado, percebeu as mãos dele se introduzirem por baixo de suas saias até alcançarem as ligas que prendiam as meias de nylon, depois subirem além e acariciarem a pele nua. O toque inebriante fez com que ele emitisse um gemido alio.

Aquele era o alarme que ela precisava para tomar consciência do que estavam fazendo.

Ela inclinou a cabeça para trás interrompendo o beijo e o afastou pondo ambas as mãos contra o peito amplo. Estava chocada com a própria ferocidade e não tinha coragem suficiente para olhá-lo de frente. Preferiu manter o olhar nos blocos de apartamentos até que a emoção se acalmasse. Tinha medo de que se voltasse a olhá-lo, cairia de novo em seus braços.

Ele se manteve um pouco afastado, sem nada dizer. Mas ainda podia notar-lhe a

respiração ofegante.

Sakura tinha consciência de que seu corpo pedia mais do que um beijo. Aquilo fora

apenas uma amostra do fogo interior que estava prestes a explodir. Porém, não estava interessada em passar a noite com o amigo de Tomoyo. Principalmente porque sabia a fama que ele tinha de ser um mulherengo inveterado. E, pelo jeito, muito experiente, a julgar pelo beijo.

A emoção transformou-se em raiva. Mais dela mesma do quede Eriol. Ele estava no seu papel. Ela é quem deveria impor os limites.

— Boa noite — ela murmurou.

E, dessa vez, afastou-se apressada.

Somente quando estava diante da porta de seu prédio foi que encontrou coragem para se virar e conferir se ele ainda estava lá.

E estava! Recostado na porta do carro, com as pernas e os braços cruzados. Embora fosse difícil distinguir seus traços àquela distância, estava certa de que sorria. Ele acenou com uma das mãos e ela, ainda abalada, não retribuiu. Surpreendeu-se por ter conseguido introduzir a chave na fechadura da porta na primeira tentativa.

Cinco minutos depois ela permitia que a água quente do chuveiro caísse abundante sobre a nuca. Estava difícil relaxar e apagar a imagem do sorriso cativante e os fabulosos olhos de Eriol. Que homem tentador!

Por outro lado, ponderava: que mal teria em manter um relacionamento com ele? Ainda que fosse apenas um namoro casual e sem expectativa de um compromisso sério? Pelo menos não trabalhavam juntos, e isso era ótimo.

Mas também havia o fato de que partiria dali a dois meses. Seria loucura embarcar em algo que poderia ser mais forte do que supunha e fugir de seu controle. Se isso ocorresse poderia sair mais magoada do que nunca.

Não! Definitivamente não!

Esperar por uma situação amorosa mais calma e segura. Era o que realmente pretendia.

_ Continua_

Bom espero que tenham gostado desse primeiro episódio pode se diser que isso vai ficar hot sauhasuhasuh'.

Beijinhos da Yoon.