Capitulo 1- Intrigas

Afastada das luzes da cidade, em meio uma densa floresta, uma enigmática construção se erguia alta e larga. Vigas seguravam sua base metálica e uma quantidade absurda de janelas tentava iluminar seu interior. Ela se estendia por vários metros do terreno, havia sido construída em formato de um retângulo, com várias escadas dando diversos acessos aos seus muitos andares. Uma velha cerca elétrica, que provavelmente já estava fora de uso, a rodeava e um aviso enferrujado podia ser lido. Aquela era uma antiga fábrica que havia falido devido à alta concorrência.

A principio era majestosa, mas os efeitos do tempo fizeram seu trabalho, e agora, ela não passa de um monte de metal disforme e enferrujado entulhado no meio do nada. Mas qualquer um que passasse ali veria algo errado, luzes estavam acessas em seu interior, e guardas estavam de plantão no portão da frente. Se você fosse esperto e estivesse nessa situação, se viraria e iria embora sem fazer um único ruído. Lá era o ponto de encontro de vários chefões da máfia local. Donos de empresas que não estavam satisfeitos com toda a sua riqueza e levados pela burrice e ganância se metiam em negócios sujos e ilegais.

Dentro da fábrica abandonada, homens armados passeavam pelos corredores, segurando armas mortais que disparariam imediatamente caso eles quisessem. Numa sala central um homem gordo de barba protuberante e terno de marca, estava sentado em uma cadeira, fitando a mesa à sua frente, aguardando ansioso a chegada de alguém.

Uma mulher jovem. Uma garota talvez, esbelta, com cabelos negros e pele meio pálida, entrou na sala. Vestia roupas executivas e seus cabelos estavam presos em uma espécie de coque. Usava óculos, mas dava para ver seus olhos azuis e frios. Ela era muito bonita. Analisou a sala com atenção e depois o homem na cadeira. Este se afastou um pouco para trás, assustado.

-Está tudo bem senhor.-A garota falou.

Um homem magro, com um nariz pontudo entrou na sala. Seus cabelos negros lhe caiam na frente do rosto. O homem gordo olhou receoso para os olhos maníacos que este possuía.

-Tudo bem.-O magricelo falou - Pode se retirar Negumi.

-Sim Sr. -A jovem falou saindo.

-Vamos aos negócios Sr. Yukato.-Continuou se sentando.

Negumi fechou a porta da sala e fitou os dois guardas que lá vigiavam. Ignorou os olhares desejosos e passou reto. Após ter andado alguns metros, olhou para os lados, se certificando de que estava sozinha. Olhou para o relógio e sorriu. Deu um salto pegando um cano que passava pelo teto, tomou impulso e, com uma cambalhota, entrou na tubulação de ar. Olhou ao redor e começou a andar pelos dutos. O local era pequeno, forçando-a caminhar de quadro, mas ela se mostrava tão habilidosa que não fazia ruído algum. Sabia distribuir seu peso perfeitamente em cada movimento, controlar sua respiração e suas batidas cardíacas. Parecia uma leoa em meio à savana africana pronta para atacar sua presa.

Parou ao ver que havia alcançado seu objetivo. Podia ver, através das grades no chão, a sala onde estava acontecendo a transação. Colocou seu joelho no piso metálico e apoiou seu pé. Retirou seu brinco e o apertou. A jóia se alongou e sua pedra central se abriu, revelando uma lente. Com um gesto rápido, começou a tirar fotos dos criminosos a baixo de si.

Quando terminou, apertou outro mecanismo de sua câmera, transformando-a novamente em brinco. Colocou-a na orelha e depois voltou ao trabalho. Puxou seu broche, que se revelou um pequeno microfone. Conectou-o aos seus óculos, puxou novamente e colocou a ponta discretamente através das grades. Levou um pequeno aparelho ao ouvido e sorriu ao constatar que tinha som.

-É este o documento?-Ouviu Yukato perguntar.

-Sim.-O magro respondeu. Este era um famoso lavador de dinheiro, as autoridades vivam tentando pagá-lo, mas ele era esperto. Pelo menos mais do que a policia. Seu nome, ninguém sabia ao certo, mas chamava-no de Oni, um demônio da mitologia japonesa criado a partir dos pensamentos ruins das pessoas.

-Então... Se eu assina-los, tudo estará certo?

-Pode crer que sim, meu senhor.-Oni respondeu sorrindo.

Yukato fitou o papel desconfiado.

-O Sr. não vai se importar se eu lê-los, não?

-Normalmente eu não me importaria, mas receio que hoje em particular estou com muita pressa.

-Pressa para que?

-Para isto.-Oni respondeu entregando um papel nas mãos gordas do político.

Negumi apertou a haste de seus óculos. Sua lente fez um pequeno zunido e deu um zoom no documento."Exposição de Arte Medieval, Museu Alfa".

-Exposição de Arte? Não sabia que se interessava por este tipo de coisa.

-É um hobby.

Yukato o olhou pensativo e começou a assinar os documentos. Negumi guardou seus aparelhos e voltou pelo caminho que havia vindo. Quando chegou, viu dois guardas logo a baixo, comentando o duto aberto. Uma possível suspeita de sua presença, o que era um problema e ela não gostava de problemas. Teria que elimina-los do jogo temporariamente.

Com um gesto rápido, desceu do duto e caiu logo na frente dos dois. Estes fitaram-na surpresos, mas antes de fazerem qualquer coisa, ela os acertou no pescoço, fazendo-os desmaiarem.

-... Iniciantes...-Comentou ajeitando os óculos. Caminhou pelo corredor, calmamente. Olhou a palheta em sua mão e continuou o percurso. Passou pelos guardas, pelo portão de entrada.

-Boa noite senhorita.-Um deles falou.

-Boa noite.-Ela murmurou. Quando já estava relativamente afastada da construção, olhou seu relógio e apertou-o. Segundos depois helicópteros passaram voando sobre sua cabeça, agitando as copas das árvores. Sirenes ao longe podiam ser vistas, e barulho de vários passos e carros.

-Trabalho finalizado.-A garota comentou tirando a peruca negra de sua cabeça e soltando seus cabelos loiros. Retirou seus óculos e brincos, guardando-os na bolsa junto com a peruca. Substituiu seu casaco cinza por um negro mais comum.

Um bipe a fez desviar sua atenção para o relógio em seu pulso. Apertou o botão central do aparelho fazendo a imagem de um homem de terno aparecer.

-A operação foi um sucesso.- Este disse.

-Eu sei disso.-A mulher falou.

-O que você fez com a verdadeira secretária do Oni?

-Ela acordará em casa amanhã de manhã. –Falou indiferente.

-Muito bem. Conseguiu as fotos.

-Lhe enviarei agora mesmo por e-mail.-Disse retirando seu celular. Conectou sua câmera a ele e mandou as fotos.

-A linha é segura?

-Claro que sim.

-Muito bem. Seu pagamento está no local combinado.

-É bom mesmo Sr.Tyo.

-C-Como descobriu meu nome?

-Ah, delegado. Assim o senhor me ofende.-Falou sarcástica. –Afinal, sou a melhor do meu ramo... Ou vai me dizer que não sabia deste detalhe?

Fechou a tela logo depois. Retirou seu relógio e ativou seu mecanismo de destruição. Jogou-o para o lado. Houve uma pequena explosão, mas a garota a ignorou e caminhou até a cidade. Já devia ser bem tarde da noite. Após pegar seu pagamento, foi para casa calmamente.

Já em seu prédio, teve que subir pela escada, pois o elevador estava quebrado. Depois de seis lances, finalmente chegou onde queria. Abriu a porta e trancou-a, se atirando no sofá em seguida.

-Estou faminta!-Comentou. Olhou para seu relógio e suspirou, não era para menos, não comia já fazia umas 32 horas...

Retirou seu casaco e o atirou em cima de um móvel qualquer. Desabotoou a blusa e abriu a geladeira. Vazia. Ficou com vontade de chorar com tal revelação. Decidiu pedir uma pizza logo após um demorado banho. Algumas horas depois já estava no terceiro pedaço de seu jantar-de-madrugada quando ouviu um ruído. Olhou ao redor, não era uma pessoa, isso ela podia afirmar. Colocou o pedaço no prato e se levantou. Caminhou até a janela. Um corvo negro estava parado lá, encarando-a. Quando viu que ela não ia se mexer, bicou a janela.

A garota passou a mão nos longos cabelos dourados pensativa. Suspirou, não tinha jeito. Abriu a janela. O animal pulou em seu braço e a olhou inquieto.

-Ai, ai...-Ela gemeu olhando a janela, receando ver uma certa pessoa. Inclinou-se o mais lentamente possível e olhou. Seu prédio ficava ao lado de um beco escuro e fedorento, normalmente desabitado, mas que desta fez tinha um visitante. Um homem sério, de cabelos negros e espetados estava lá, parado com as mãos no bolso. Usava uma faixa na testa e um casaco nativo. Quando viu a garota deu um sorrisinho vitorioso, voltando a ficar sério logo depois.

-Estava querendo me deixar aqui fora é?-Murmurou, sabia que a garota ouviria.

-O que faz aqui Mestre das Bestas?-Ela perguntou.

-Estava me perguntando se você ainda lembraria de mim.

-Lembro sim.

-Nunca pensei que iria revê-la Sonja.

-O que faz aqui?-Sonja repetiu a pergunta.

-Vim falar um assunto importante com você.-Shidou disse ficando sério.

A jovem o olhou desconfiada.

-Não vou fazer nada.-O homem disse.

-Suba.-Sonja falou dando os ombros. Fechou a janela e olhou para a katana em sua mesa. Prendeu-a na calça e colocou a blusa por cima. Esperou um pouco e abriu a porta. Shidou já estava lá.

-Entre.-Disse abrindo passagem.

O homem olhou ao redor pensativo.

-Você mora em uma espelunca hein?-Disse.

-Eu sei que você gosta mais de chiqueiros –Sonja murmurou.

Shidou a olhou reprovadoramente. O corvo pousou foi para seu ombro e remexeu suas penas. Feliz por ter comprido seu trabalho.

-Vou precisar de uma ajudinha sua...-Falou.

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Bem, isso é só um inicio para mostrar como é a vida da Sonja. No próximo capitulo vai acontecer mais coisinhas. Espero que quem leia goste.

Comentem!

Bye