Capítulo um - O terrível massacre e o acidente
A senhora de idade um pouco avançada, vestida elegantemente, pegava alguns de seus pertences e colocava em sua bolsa. Viu um pequeno objeto arredondado com a tampa aberta, havia um casal dançando sobre um pequeno palco montado para eles enquanto rolava uma música familiar. Ensinaria à sua neta quando chegasse a São Petersburgo, assim a saudade poderia se encoberta por uma boa lembrança, de quando sua avó lhe dera um presente parecido com aquele. Saiu em direção à carruagem que a levaria ao Palácio de seu filho, mal podia esperar para passar um tempo com sua família.
Era um belo baile que ocorria naquela noite no Palácio Alexander em São Petersburgo de 1916; a família anfitriã, Higurashi, se mostrava entretida e envolvida com toda aquela atmosfera de festa. As conversas, a dança e a animação de seus convidados reais os deixavam satisfeitos. O czar, Toutousai Higurashi, vestido com sua farda branca com ombreiras douradas, medalhas penduradas em seu peito e uma faixa da cor da bandeira da Rússia indo de seu ombro direito à esquerda de sua cintura reta; cumprimentava seus convidados com um grande sorriso, embora estivesse cansado do dia cheio de tarefas, os bolcheviques não lhe davam sossego. Também havia se esquecido de que aquele era o dia tão esperado de sua mãe, o dia que precisava ser relembrado e celebrado.
Havia rodado o salão inteiro, quando chegou perto da escadaria, que ficava de frente para a porta principal do palácio, cerca de quarenta metros de distância da porta, avistara sua esposa, Tsuki Higurashi, trajando um belo vestido vinho, de cetim e malha quente, por causa do frio, tinha belíssimos detalhes bordados com linha dourada, cabelo negro estava preso em um belo com presilhas douradas, sua franja caía para seu lado esquerdo, tinha a falsa sensação de que assim enxergava melhor. Os olhos azul-esverdeados brilhavam em alegria e ele sabia bem o motivo, seu filho mais novo havia dormido, o que significava uma noite inteira sem preocupações, afinal a criança tinha o sono muito pesado.
Sua filha mais velha, Sango Higurashi, dançava com seu noivo, Miroku Takkeda, entretida e sorrindo sem parar. O casamento seria na próxima primavera, quando a neve passasse e seu palácio em um dos melhores territórios da Inglaterra, em questão de beleza e tranquilidade, fosse terminado. A segunda filha, Rin Higurashi, estava mais interessada em um dos empregados, o qual ela amava muito; seus pais, obviamente, não concordariam com o noivado, por isso, planejava, secretamente, fugir com Sesshoumaru Taisho, o filho mais velho do Inu n Taisho, um homem que vivia de favor no Palácio Alexander. A terceira filha, Kikyou Higurashi, estava distraída demais com um rapaz galante, conhecido como Kouga Ookami, pra cumprir seu dever de tomar conta do irmãozinho caçula, Souta Higurashi, por isso, sua irmã mais nova e quarta filha do casal czar, Kagome Higurashi, brincava com um amigo, aparentemente mais velho do que ela, imitando os seres da realeza, zombando da forma que falavam e agiam enquanto zelavam pelo sono de Souta. Com eles, estava a avó da menina, Kaede Higurashi, mãe do czar e Imperatriz, vivia em Paris atualmente, mas viera visitar o filho na esperança de ver a comemoração dos trezentos anos de reinado Higurashi.
Ela não gostava muito da presença do menino serviçal, nem de como sua nora tratava seus empregados, os tratava como se fossem iguais a si e isso não era verdade, pois era também uma Imperatriz. No entanto, ver a neta sorrir belamente com as grosserias daquele menino, que não conhecia o perigo de agir de tal forma perante ela, decidiu reprimir a repreensão que lhe queria dar apenas para prolongar os risos de sua querida neta. Estavam em um local mais afastado, por isso não havia muita preocupação com as danças ou com qualquer outra coisa da parte deles.
Enquanto as pessoas ali comemoravam, em um local afastado de São Petersburgo, um ser sombrio e cheio de maldade, de cabelos negros, pele albina e olhos escarlates; andou até encontrar-se completamente sozinho na floresta, tirou um frasco que continha um líquido estranho reluzindo uma cor meio esverdeada com uma pedra mais roxeada no centro e o soltou em pleno ar. Indo contra as leis da gravidade, o pequeno frasco permaneceu suspenso no ar e a forma de uma mulher apareceu em seu lugar. Os cabelos castanho-claros e ondulados flutuavam, os olhos eram negros e sem vida, a pele era branca até mais do que a neve. Sua expressão era de pura frieza e, sem demonstrar ainda alguma emoção, ela pergunta:
- O que quer?
Satisfeito em vê-la, esfregou as mãos tentando se aquecer um pouco e responde:
- Poder. Poder suficiente para eu matar os Higurashi sem piedade.
- O poder que busca tem um alto preço.
- Estou disposto a fazer qualquer coisa. – ele sabia que dinheiro não pagaria, abriria mão de qualquer coisa para vê-los mortos – Apenas me dê o poder de amaldiçoa-los.
- Mesmo o preço sendo sua vida?
- Sim.
Ela, então, esticou a mão em direção ao homem e fechou os olhos. O silêncio reinou por algum tempo até que ela começou a falar:
- Pelo poder da Shikon no tama e pelas forças que regem a Terra – ela abriu os olhos e continuou – cumpram o desejo de vingança e tomem o que lhe será imputado como dívida.
Assim, ele foi envolvido por uma tenebrosa nuvem e acabou desacordado. No palácio, as pessoas nobres continuavam a festejar sem problemas; Kagome, o menino, Kaede e Souta haviam subido para o quarto de Souta, pois Kaede disse que queria conversar em particular com Kagome, que acabara por convidar seu novo amigo a ir com eles, mesmo sabendo que a senhora não gostaria. Quando chegaram lá em cima, a senhora voltou-se ao menino e, educadamente, pediu:
- Você poderia tomar cuidar da porta para não sermos interrompidas? Eu quero ter uma conversa com ela, não vou demorar.
Ele assentiu e colocou-se de guarda em frente à porta do quarto de Souta enquanto as duas entravam no quarto. Kaede colocou Souta no berço e sentou-se na poltrona ao lado, Kagome acomodou-se no chão à frente dos joelhos da mais velha, que sorriu ao ver o rosto curioso da menina. Inclinou-se um pouco para frente, seu cabelo negro estava preso em um coque enquanto o da menina estava solto com um chapéu azul com detalhes em dourado, combinando com o vestido que usava.
- Kagome... Você sabe que vou voltar a Paris, não sabe? – a menina assentiu um pouco triste, ela gostava muito da presença da avó – Não fique assim querida, poderei voltar futuramente.
- Quando? – quis saber.
- No casamento de sua onee-chan.
Ela fez uma careta de desagrado.
- Está longe Kaede-oba-chan!
A senhora sorriu e inclinou-se para seu lado direito, revelou uma caixinha enfeitada escondida debaixo da poltrona em que sentava. Ofereceu à mais nova dizendo:
- Por isso trouxe esse presente.
Animada e surpresa com o presente, cuidadosamente, pegou a caixinha e tirou o embrulho da caixa, abrindo-a em seguida. De dentro dela tirou um pequeno objeto com a superfície arredondada, com quatro pezinhos; o objeto era dourado e prateado, com certeza fora feito de ouro e prata. Viu uma entrada, como se fosse uma fechadura nele.
- O que é isso Kaede-oba-chan?
- Será o nosso segredo.
A senhora tirou um colar que lembrava levemente o sol, com o nome "KAGOME" inscrito, colocou-o na fechadura e girou um pouco.
- Assim, se lembrará de mim enquanto estiver fora.
A música começou a rolar e a senhora cantou
Moças dançam no ar
Pois achei que me lembro
E a canção de alguém
Foi no mês de dezembro
- É a nossa música! – a menina exclamou.
- Sim, pode coloca-la para tocar quando for dormir. Aqui está a chave. Leia atrás.
A menina pegou o fino cordão, tinha seu nome inscrito; virou-o e leu em voz alta:
- Juntas em Paris?! É mesmo Kaede-oba-chan?!
Enquanto ambas se divertiam, o menino foi atraído para os gritos de susto e sons de vidro quebrando no grande salão. Correu até o início das escadas, sabia que algo estava errado e logo viu o motivo: um homem de cabelos negros, longos até bem abaixo da cintura e ondulados, pele albina e olhos vermelhos, entrou no local. Sem pedir licença, apenas entrou e direcionou-se ao czar. Logo o menino o reconheceu, quem não conhecia Naraku o padre de uma igreja logo ali, ouvira que ele, na verdade, buscava praticar magia negra e que era contra o governo dos Higurashi.
- Como ousa voltar a entrar em meu Palácio? – Toutousai Higurashi
- Ora... Eu sou seu confidente não sou?
- Traidor é a palavra correta para descrevê-lo. – retrucou o imperador – Saia daqui pacificamente, antes que eu mande meus guardas o levarem.
Ele riu maleficamente.
- Acha mesmo que será capaz de expulsar Onigumo Naraku daqui? – ele tirou o frasco com um líquido verde e com a pedra roxa no meio – Eu, Naraku, expulso o seu domínio desse lugar! Você e sua família! Com essa maldição, a família Higurashi desaparecerá pra sempre! – todos se mostraram horrorizados – Em duas semanas... Todos vocês morrerão. É melhor aproveitar esses últimos momentos com sua querida família. Não morrerei até que todos os Higurashi morram.
Dito isso, saiu dali. Ao final das duas semanas, Naraku completou o que iniciou nas florestas, vendeu a própria alma para que visse a família Higurashi completamente morta. Enviou os conhecidos como youkais para aumentar o ódio do povo contra o czar e, então, ocorreu a revolução. Os bolcheviques estavam atacando o palácio, pessoas corriam em direção à saída a fim de se salvarem do grande ataque. Kaede guiava sua neta que de repente parou, lembrando-se de algo muito importante.
- Minha caixinha de música!
- Kagome! – ouviu sua avó gritar.
Deixando a avó, correu ao seu quarto. Onde havia colocado? Precisava encontra-lo, não se perdoaria caso o perdesse. Viu Kaede fechar a porta para escondê-las dos invasores; precisavam encontrar outra saída daquele lugar, mas onde? Foi quando o menino de cabelos negros que ela vira com sua neta duas semanas atrás, apareceu atrás delas.
- Venham! Por aqui!
- Mas... De onde você veio?! – Kaede se assustou.
- Pelos aposentos dos criados! Andem depressa antes que as vejam!
Na pressa, a caixa de música da princesa caiu e, mais uma vez, ela tentou pegá-la.
- Minha...
- Vá logo princesa!
- Mas é importante!
- Eu te entrego depois, eu prometo! – ele disse antes de fechar a passagem pela parede.
Fechou a tempo delas fugirem, quando virou-se os soldados bolcheviques haviam acabado de entrar e tentou até oferecer alguma resistência, no entanto, acabou por ser golpeado na cabeça e tudo se escureceu rapidamente. Perto dele, a caixinha de música jazia e fora deixada ali. A senhora e sua neta continuavam a fugir, iriam pelo trem, com certeza assim elas estariam livres daquela perseguição.
- Venha Kagome. – sua avó disse – Vamos a Paris, o trem deve sair agora mesmo.
Andavam com dificuldade na neve, mas isso não as impediria de alcançarem a estação de trem. Não contavam que Naraku fosse pular atrás da menina e segurá-la pelas pernas; gritando por conta do susto ela apenas implorava para deixá-la ir.
- Jamais escapará de mim. – ele disse em tom sombrio.
Toda aquela agitação quebrou o gelo abaixo deles, estavam sobre o rio. Aproveitando a chance para escapar, a menina se afastou ao máximo, levantou-se e continuou a fugir com a avó e ele, Naraku, começou a afundar.
- Ahhh! Kohaku!
- Mestre!
Um morcego branco pousou em frente ao ser que quase caia dentro da água, apavorado, pois não tinha força suficiente para puxá-lo e nem poderia chamar ajuda de alguém. O que faria para ajudar seu mestre, então? Naraku acabou morrendo afogado naquela água gelada. Já na estação de trem, Kaede conseguiu pular dentro do trem para Paris, já que foi puxada por alguns passageiros. Kagome, com grande esforço tentava acompanhar.
- Oba-chan!
- Kagome! Pegue minha mão!
A menina pulou e até conseguiu segurar a mão da senhora, mas ela escorregou e acabou por cair nos trilhos e perdeu a consciência. Antes de apagar, a última coisa que ouviu foi sua avó gritando seu nome.
Quanto tempo teria passado? Ouviu alguém lhe chamar, não reconhecia a voz, parecia uma mulher, não tinha certeza. Com dificuldade, abriu os olhos, viu uma mulher de cabelos ruivos e olhos verdes sobre si, parecia tentar verificar se estava viva ou não; viu alívio nos olhos dela. O que aconteceu?
- Você está bem? – ela perguntou – Foi uma queda e tanto!
- Onde... Estou? – indagou olhando para os lados.
- Em um orfanato. Era o único lugar mais próximo da estação do trem que tinha primeiros socorros. Qual é o seu nome, menina?
A morena colocou a mão na cabeça, que latejava forte, não conseguia pensar direito; sua mente estava completamente limpa embora não soubesse se isso era bom ou não. Meu nome? Qual... É o meu nome?
- Não me lembro. – disse por fim.
A jovem sorriu amigável.
- Não se preocupe; a batida deve ter sido bem forte. Vai acabar se lembrando. – sorriu e fez uma expressão de surpresa – Que cordão é esse? – pegou o colar e viu o pingente – KA-GO-ME? Kagome? Esse é o seu nome?
- Não sei. – sentou-se e pegou o pingente. Juntas em Paris?
- Bem... Vamos te chamar de Kagome por enquanto. Prazer, meu nome é Ayame, trabalho nesse orfanato. – a menina apenas assentiu – É melhor você descansar, vamos procurar por sua família quando se sentir melhor. – ela assentiu de novo e voltou a se deitar.
Família? Será que ela tinha uma? Sentiriam saudades dela? Bem... Não sabia dizer. Estava tudo tão confuso? O que acontecera com ela? Parecia ter batido bem forte, Ayame logo voltou com um remédio para tal dor e, como havia prometido, assim que se sentiu melhor, ela começou a buscar por alguém que tivesse perdido uma menina de cabelos negros e olhos azul-esverdeados. Infelizmente, não encontraram ninguém. O que ela faria? Ayame acabou por permiti-la ficar por ali mesmo no orfanato, apesar de dona Kagura não gostar muito da ideia, ajudava muito as crianças e não se importava de ser perseguida pela Kagura, só tinha um pensamento em mente: vou encontrar minha família.
