_ Maxon! _Gritei, esperando que alguém escutasse enquanto o homem me agarrava por trás e me levava para a floresta_ Socorro! Alguém! Ajude-me!

_Cale a boca _disse o rebelde com impaciência e cansaço na voz_ Cale a boca ou eu mesmo a faço calar!

_Cuidado com ela _disse uma garota morena que carregava alguns livros _Ela é preciosa.

Eu não tinha notado sua presença até agora. Ela parecia arrumada demais para uma rebelde da casta oito, as botas que usava eram de couro e a camisa branca de linho parecia ser de alta qualidade.

_Me solte! Solte-me agora!_Eu gritei.

O homem me virou para tentar falar algo, mas eu não permiti, o chutei na virilha fazendo com que ele soltasse um grunhido de dor e quando ele me soltou, corri, corri o máximo que pude, porém o vestido e os sapatos não ajudavam muito na fuga.

Quando cheguei perto de uma pilha de rochas já estava quase sem folego e minhas pernas tremiam, mas eu precisava continuar. Conseguia os ouvir vindo atrás de mim e sabia que para fugir e voltar ao palácio eu precisava sair da trilha.

_Pegue ela! Não a deixe fugir! _Gritou a morena para o homem.

Virei-me em direção oposta à trilha e rapidamente passando ao lado de um carvalho, quando senti uma forte pancada em minha cabeça e de repente tudo se apagou.

Acordei com uma gota de chuva que caiu sobre minha testa. O céu estava cinza e o vento batia sobre meu vestido já encharcado graças à chuva.

Levei a mão até a parte traseira da cabeça e senti o grande corte que me fez desmaiar, provavelmente causado por um pedaço de pedra. Com bastante esforço consegui me sentar. A ferida de minha cabeça latejava. Eu sabia que deveria estar com medo, mas não me lembrava de que deveria ou do que deveria ter medo. Tentei me lembrar do que havia acontecido, mas não conseguia me lembrar de nada.

_Você não deveria ter batido tão forte _exclamou uma voz de mulher _Você a machucou.

Virei-me para olhar de quem era aquela voz feminina.

_Quem são vocês? _ perguntei olhando para a menina, da menina para o homem que eu tinha certeza que me acertara, e do homem para um garoto de olhos claros que me olhava como se estivesse me pedindo desculpas.

_Eu sou Trina, esse é o Clarke_ ele apontou para o homem que manuseava a carroça (Serio? Uma carroça? No meio de toda essa tecnologia, eles dirigem uma carroça?).

_E eu sou o Caio_ O garoto loiro respondeu como se não aguentasse esperar até que Trina o apresentasse.

_P... Por que eu estou aqui?_ Minha voz estava falhando graças ao frio.

_Porque você faz parte da família real._ Clarke respondeu friamente.

_America, querida. _Trina colocou uma mão sobre minha bochecha_ Você nem imagina oque espera por você.

Dei uma tapa na mão dela e ela sorriu.

_Sabe? O alvo não era você, na verdade queríamos só fazer um estrago no palácio, mas já que você estava lá toda espantada e sem proteção _ela fez uma pausa_ decidi que seria algo muito bom para nós se tivéssemos um motivo para a corte real concordar com os nossos termos.

_Termos? Mas que termos? _Perguntei.

Trina se virou ignorando totalmente minha pergunta e sentou ao lado de Clarke.

_Você esta ferida, vou limpar seu ferimento._ Disse Caio erguendo um pano húmido na direção da minha cabeça_ Vire-se.

Fiz que não com a cabeça.

_Hey, eu lamento pelo o que aconteceu, mas você esta mesmo ferida e eu quero te ajudar. _Ele parou e olhou para o lado_ então, por favor, deixe-me ajuda-la.

_Tudo bem. _Eu disse.

Ele se moveu por trás de mim e começou a passar o pano de leve na minha ferida. Quando o pano tocou minha pele senti uma pontada de dor e gemi um pouco.

_Desculpe_ Disse ele com ternura e voltou a limpar o ferimento com mais delicadeza possível.

_Isso é loucura!_ disse o rei_ Você não sobreviveria nem um dia procurando por ela.

_Não importa, pai_ ele fez uma breve pausa _ela foi pega por minha causa, eles estavam atrás de mim e a levaram.

Maxon sabia que se eu não fosse encontrada em menos de sete dias, as chances de me achar viva seria quase nenhuma. Ele se sentia culpado e devedor, mas não pensava com muita clareza naquele momento.

_ Você não deve se preocupar com isso. Vou mandar uma tropa de guardas atrás dela e vamos encontra-la.

_ E o que vai acontecer a ela até que nós a encontremos, hein?_ Maxon gritou_ Você é o rei de Illéa, e sabe do que os sulistas são capazes, e se eles a machucassem...

Então, eles eram Sulistas!

_Ninguém vai machuca-la, Maxon, estou fazendo o possível. Você tem que se acalmar e deixar com que eu resolva isso.

Maxon se virou para a janela e olhou o jardim que costumávamos nos encontrar.

_Deixe-me procura-la _Maxon implorou_ dei-me apenas dez dias e eu a encontrarei. Trá-la-ei de volta e a pedirei em casamento.

Quando Maxon falou isso o rei finalmente deu uma verdadeira importância à conversa. Ele colocou uma mão sobre o ombro do pai e disse:

_Pai, a seleção estará acabada, eu só a quero de volta. Por favor.

O rei suspirou e depois concordou com a cabeça. Maxon quase despencou de alivio.

_ Mas com uma condição_ disse o rei_ você será acompanhado com uma tropa bem grande de guardas, e se algo por você em perigo, só por um instante, voltará para casa.

_ Tudo bem. _Maxon correu até a porta e se virou de volta ao pai_ Obrigada pai.

O rei sorriu e assentiu.

Depois que Caio passara uma pomada de péssimo cheiro no meu ferimento já quase não o sentia. Caio era um deles, um rebelde, mas ele era diferente dos outros, não era mal ou sarcástico como Trina e Clarke, ele era doce e cuidadoso... Pelo o menos comigo ele era assim.

Já era quase noite e ainda estávamos naquela carroça indo em direção ao desconhecido. Trina ficava cochichando coisas no ouvido de Clarke e ele ria de vez em quando, com uma risada moribunda de arrepiar até os pelos da nuca.

De repente Trina pulou da carroça e entrou na floresta escura que nos cercava.

_ Onde ela está indo?_ Perguntei.

_Procurar aonde dormir_ Respondeu Clarke com um rosto sem expressão.

Depois de alguns minutos, ouvi o som de folhas secas se quebrando a minha direita e cerrei os olhos para conseguir enxergar melhor oque causava aquele barulho.

_Calminha aí, _Trina ergueu as mãos até a altura dos ombros como se estivesse se rendendo._ Sou só eu.

_Oque achou? Vamos acampar aqui? _Perguntou Caio.

_Sim, maninho._ Respondeu Trina.

Maninho? Eles eram irmãos?

_Sim, America, se sua cara de espantalho nasceu da questão se eu e Caio somos irmãos, a resposta é sim.

Caio olhou para mim e sorriu. Um sorriso contagiante, mas que consegui não retribuir.

_Clarke, porque não arruma o jantar enquanto eu e Caio acendemos uma fogueira. _Aquilo não era uma pergunta, Trina estava ordenando que Clarke fizesse aquilo.

Clarke, sem falar nada, tirou um revolver da cintura e foi em direção à mata escura, pude ver a ponta de um canivete que ele carregava dentro de umas das botas, com bordas em tom de dourado e prata, perecia lindo... E caro. Caro demais para um rebelde. Trina bufou e disse:

_Caio, vigie a garota. Eu vou buscar lenha.

Caio assentiu e pegou algumas pedras colocando-as em forma de um circulo, era o molde da fogueira. Ele se sentou próximo ao circulo e levantou a cabeça na minha direção.

_Vai mesmo ficar ai em pé? Por que não se senta? _Depois de um tempo, ele percebeu que não tinha conseguido me convencer e disse_ eu não mordo sabia?

Olhei para ele com nojo e retruquei:

_Quem dera se a única coisa que vocês pudessem fazer comigo fosse morder.

_America, não precisa me temer. Eu nunca te machucaria.

Soltei um riso sarcástico e fui para longe dele, onde achei uma rocha e me sentei. Olhei para cima e fechei os olhos. A imagem de Aspen veio a minha mente, quanto tempo eu já não pensava nele. É como se eu o tivesse esquecido.

Deitei na pedra e sorri ao lembrar-me de May. Aquele rostinho sorridente que conseguia deixar qualquer um feliz. Eu sentia tanta falta dela e já fazia dias que eu não tinha noticias dela. Tudo oque eu queria era uma daquelas cartas que ela escrevia me encorajando a pular em cima de Maxon e virar uma rainha.

-America?

Levantei a cabeça para olhar para Caio e bufei.

-America - ele disse serio –America preciso que venha, Clarke arranjou comida.

-Não estou com fome. Deixe-me em paz, por favor.

-Não venha com essa de que não esta com fome, deixe de frescura – Resmungou Trina – Venha logo.

-Acho que você não me escutou, vou repetir para você, Trina. – Levantei da pedra e disse bem alto, mas não o bastante para gritar – Eu disse que não estou com fome.

Ela se virou com um olhar em chamas sobre mim. Engoli em seco, esperando pelo pior.

Ela se curvou sobre as coxas e começou a rir tão alto que alguns pássaros que dormiam nas árvores ao nosso redor saíram voando assustados. As gargalhadas começavam por gritinhos irritantes e terminavam com som de ar puxado com ânsia. Ela levantou a cabeça e enxugou uma lagrima que soltara de tanto rir.

-Olhe só, a pequenina America esta começando a se defender. Mas isso deveria ser gravado, pena que nós não temos nenhuma câmera ou filmadora para guardar esse momento histórico. Talvez você pudesse pedir uma emprestada para o seu namoradinho, Maxon. –Ela riu de novo, uma risada fria e assustadora – Pense como ele deve estar se sentindo, sem você e aquele bando de garotas maravilhosas a sua disposição. Garanto que nem deve ter dado por sua falta.

Abri a boca para responder, mas ela foi mais rápida.

- Não! Não precisa responder todos já sabem o que você vai dizer – ela fez uma pausa dramática—"Isso não é verdade, Maxon com certeza está me procurando e quando ele me encontrar todos vocês estarão mortos!", mas vamos deixar uma coisa bem clara, quando ele te achar, se ele te achar você estará morta ou provavelmente sem uma perna ou um braço.

Fiquei boquiaberta com modo que ela disse aquilo, se ela achava que eu ficaria aqui para ser morta ela estava muito enganada.

- O gato comeu sua língua, America?

- Trina... —Caio sussurrou – Trina, pare.

- Claro maninho. –Ela foi em direção da fogueira e depois se virou – E America... Venha logo jantar, não sei por quanto tempo Clarke pode se segurar e não quero ter que carregar ninguém desmaiado por falta de alimento.

Sentei-me novamente na pedra e olhei para o céu, me perguntando onde estaria Maxon.

Maxon sempre fora um homem corajoso e sem limites, mas agora ele temia o pior. Ele temia não me encontrar. Encontrar-me significava tudo para o príncipe, pois se ele não me encontrasse perderia a garota que ama, teria que olhar nos olhos do pai e da mãe dessa garota e contar que perdeu o bem mais precioso deles, que ele fora irresponsável, que era dever dele protegê-la de tudo que lhe causasse algum tipo de mal e o pior de tudo que falhara com eles e com ela. Ele não aguentaria isso, não conseguiria fazer isso.

O som de alguém batendo na porta do quarto de Maxon o despertou de seu devaneio. Ele se virou e deu de cara com um guarda pálido segurando um cordão prata na mão direita.

-Alteza -disse o guarda com uma voz nervosa. Talvez assustada.

-Sim? –respondeu Maxon se virando de volta a janela.

-Encontramos este cordão prata no jardim. Acreditamos que pertence a .

Maxon se virou rapidamente para o guarda com o rosto cheio de esperança de ser o cordão de prata com um pingente de pássaro que o pai de America dera para ela. O guarda estendeu o braço para que Maxon pudesse pegar o colar.

Maxon sorriu ao sentir o colar em suas mãos, ficou tão feliz por ter aquele cordão perto de si que tinha vontade de se fundir a aquela peça simples, porém linda de prata e foi quando ele percebeu que ter o colar não significava ter encontrado America, apenas significava que ela estava em perigo e sem o seu colar da sorte. Ele não a perderia, iria encontra-la.

-Obrigado, soldado.

O guarda se curvou em uma reverencia, se virou e andou em direção à porta.

-Soldado –A voz de Maxon era firme – Diga ao meu pai que partirei ao amanhecer e que preciso falar com ele neste exato momento. Diga que esperarei por ele aqui, no meu quarto.

- Sim, Alteza.

Maxon se sentou na cama e olhou para o colar. Lembrou-se de todas as vezes que vira America usa-lo. O colar ficava lindo nela, combinava com a pele branca e nunca chamava atenção, mas era muito bonito. O colar, aquele colar era ela, era America. Discreta e linda. Doce e sedutor. Era perfeito, era ela.

Alguns minutos depois, ouviu o som de alguém bater na porta e seu pai entrou, fechando a porta com tanto cuidado como se não quisesse acordar alguém.

-Maxon, meu filho. O que foi?

-Andei pensando, pai. E se acontecer alguma coisa com as outras garotas? Acho que devemos acabar com a seleção...

- Acabar com a seleção? – O rei praticamente cuspiu aquelas palavras – Está louco? Você precisa de uma esposa, Maxon. Não pode governar sem uma rainha.

- Eu sei, mas pai, elas correm perigo aqui!

-Não, não correm! Elas não correram mais perigo, Maxon. E se você sabe que não pode ser rei sem uma rainha, quem você iria escolher para ser sua esposa?

-America, é obvio.

-Você nem sabe se vai encontra-la. E se encontrar, também não sabe se ela vai estar viva!

-Não fale isso – Maxon ano podia nem pensar naquela ideia- Pai, eu vou encontra-la viva e ela vai ser a minha rainha. Está decidido.

- A seleção não acabou elas ficarão até que você volte de sua busca. Este decidido.

O rei se virou e saiu do quarto sem dar chance para Maxon protestar quanto à ideia decidida.

Quando Caio tentou me fazer comer pelo o menos um pedaço de carne misteriosa que Clarke arrumara eu neguei tanto que ele finalmente desistiu. É irritante o quanto ele pode ser insistente.

Ele é loiro dos olhos azuis e Trina tem cabelo castanho escuro e feições totalmente diferentes de Caio. Não é possível que eles sejam irmãos naturais. Um deles é bastardo ou adotado, no mínimo.

Olhei para as botinas de couro de Caio, das botinas, para as calças sujas e a camisa preta de manga comprida. Ele era lindo. O cabelo caia sobre a testa e ele retirava os fios rebeldes passando a mão no rosto de cinco em cinco segundos, era engraçado. Fiquei vermelha quando os olhos dele me pegaram o encarando e ele sorriu. Um sorriso tão natural, tão puro.

Virei o rosto rapidamente para o lado fingindo estar penteando os cabelos com as mãos. Não queria olhar para ele naquele instante, não queria nem falar com ele. Eu me esquecia de que ele e sua irmã abusada tinham me sequestrado. Senti a raiva brotando em mim e sai apressada de perto deles.

- Onde você pensa que vai?- Gritou Trina.

Ignorei-a e continuei andando apressada para longe deles. O vestido que Anne costurara para mim costumava ser lindo e delicado, de um amarelo claro e renda nas alças, mas agora a saia estava quase totalmente suja de terra e o laço que contornava a minha cintura era simplesmente um pedaço de pano pendurado no vestido moribundo. Como eu tinha chegado aquele ponto? Como eu ainda não tinha fugido? Basta isso não passava desta noite. Eu não deixaria, fugiria a qualquer custo.

-Volte aqui, sua pentelha!

Continuei andando sem me virar para olhar Trina gritar comigo.