Prepare o chá

e não oculte nenhuma lembrança.


Pôs a chaleira para ferver.

A tristeza borrava os olhos azulados de Aberforth. Sensação há muito conhecida por sua família. Aqueles com os mesmos olhos de tons azulados.

Tinha uma certeza cravada no peito. A certeza de que a morte é um fardo. Não que Aberforth fosse um homem de filosofias. Pensar muito, principalmente sobre todas aquelas coisas complexas, era do feitio de seu irmão. E desejava que estivessem muito bem enterradas com ele.

Acordara pensando muito naquele maldito dia. O dia em que a Morte recaíra sobre suas costas novamente. Fora menos detestada em sua primeira aparição. Era mais fácil entender que sua irmã louca cometa um acidente e mate sua mãe. Muito mais aceitável do que três imbecis duelando por diferentes objetivos sem reais fundamentos. Mas ela nunca tentou ser justa, de fato.

A fumaça começa a lentamente lançar-se no aposento.

Os bodes não passam por nada do gênero. Não têm de sofrer por perdas ou influências do incontrolável destino. Aberforth gosta de bodes. Talvez ele goste de bodes porque Albus nunca gostou de bodes. Aberforth gostou de Albus. Foi seu terceiro encontro com a senhora Morte, que passou abraçando seu detestável irmão mais velho.

Quando pensava em Ariana, vinham-lhe imagens da menininha sorridente que não sabia controlar a magia. A dócil criança antes de ser corrompida. Ou quando ela sentia-se calma e contida na presença dele e de Kendra. Mas essas nunca eram tão boas quanto as em que ela tinha apenas seis anos.

Em algum momento, ele morreria. O que não era nenhuma novidade, vendo-se que estas são épocas de guerras. Os velhos e os inocentes costumam inevitavelmente morrer. Aberforth não se importa com essas coisas, honestamente. Porque os fardos estão exclusivamente reservados aos vivos.

Retira-a do fogo e prepara o chá.

Era curioso como ainda arrumava tempo para pensar, ainda que vagamente, nessas baboseiras. Aquele outro babão talvez nem se lembrasse dos Dumbledore. Quem sabe se não estaria nos braços da Morte. E finalmente Albus veria seu namoradinho de novo.

A pobre Ariana não iria sobreviver, de qualquer modo. O Ministério nunca a deixaria em paz. Em nenhum momento eles foram compreensíveis como bruxos iguais sua irmã. Um bando de bastardos infelizes.

Enterro passara a ser sinônimo de todo ódio e covardia, resumidos em um corpo estático paralisado para a eternidade. Aberforth sempre quebraria quantos narizes fosse necessário. Mas o fraco Gerllet sequer dera as caras por lá. Não havia mais ninguém para roubar a precária vida, afinal.

O chá queima a garganta do velho e desce soterrando algumas verdades que não tiveram a chance de jamais serem ditas.


N/ A – não é o meu estilo de escrita, mas foi uma interpretação minha sobre caráter do Aberforth.