Ele levantou a cabeça com uma expressão desafiadora apenas para ver o outro com olhos semicerrados, a mão em punho torcida no lençol. Aproximou-se e nivelou seus corpos, deixando um rastro de saliva por onde passava. A pele bronzeada irradiava calor e ele só queria se comprimir mais e mais, prolongar o choque do encontro de seus quadris, transformar aquele momento na expressão de seus desejos mais íntimos. Nunca conseguira ser claro com palavras; aquela seria sua retribuição por tudo que o rapaz já tinha feito, seu ato de redenção.
— Eu me pergunto por quê — sussurrou com a voz rouca, seus fios ruivos tocando a bochecha do parceiro —, por que você tem esse efeito sobre mim?
O outro riu. Um par de mãos se entrelaçou. O quarto parecia subitamente pequeno para os dois, as paredes mais próximas, o ar tão pesado que os ofegos se perdiam dentre os barulhos de fricção e qualquer som soava a seus ouvidos como um eco distante. A língua do loiro serpenteou pela tatuagem em sua testa e ele não teve tempo para achar aquilo estranho conforme seus sentidos se confundiam.
Ele ficaria aquela noite? Ele voltaria? Ele se permitiria? Tudo se tornava tão complicado quando se tratava de amor, e não tinha dúvidas de que era aquilo. Que seria aquele aperto no seu peito sempre que se afundava no azul de seu olhar? A alegria que sentia só por estar ao seu lado e ser, de alguma forma, desejado? Por que, então, uma explosão inexplicável ocorria em si mesmo quando se tocavam?
As sensações eram tantas, os estímulos tão atravessados — mãos; a colisão de cotovelos; cabelos puxados; suor; gemidos; um abajur derrubado; a cabeceira batendo contra a parede; o roçar dos pelos eriçados de suas pernas; um rosnar prolongado; os músculos relaxando conforme ele se esvaziava na boca do outro e trocavam um beijo agridoce; a mistura de quem eles eram, o resultado de sua total fusão.
Ele deixou-se levar e fechou os olhos.
Aquelas noites eram as únicas em que conseguia dormir.
