- Katekyo Hitman Reborn® e seus personagens pertencem à Amano Akira;
- Essa é uma fanfic yaoi, ou seja, contém relacionamento homossexual entre os personagens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de conteúdo sugiro que vá ser feliz lendo shoujo;
- Capa da fanfic: .
Prólogo
All I knew this morning when I woke
Tudo que eu sabia esta manhã quando acordei
Is I know something now, know something now I didn't before.
É que eu sei de uma coisa agora, agora sei de algo que não sabia antes
And all I've seen since eighteen hours ago
E tudo que eu vejo há dezoito horas
Is green eyes and freckles and your smile
São olhos verdes, sardas e seu sorriso
In the back of my mind making me feel like
Na minha memória, me fazendo sentir que
I just want to know you better
Eu só quero te conhecer melhor,
Know you better
Conhecê-lo melhor
Know you better now.
Conhecê-lo melhor agora.
"Everything Has Changed" — Taylor Swift (feat. Ed Sheeran)
A branca cortina dançou sobre a cama pela quarta vez naquele terço de hora.
A janela aberta recebia o vento daquele incomum final de primavera, em que o calor havia dado lugar a uma baixa temperatura que seria facilmente notada se o dono do cômodo estivesse prestando atenção ao clima. O verão começaria em poucas semanas, mas havia dias como aquele.
Ele estava lá, no entanto, deitado sobre sua antiga cama e que muito em breve não seria capaz de comportá-lo. O rapaz havia crescido naqueles últimos anos e a entrada na puberdade o transformou aos poucos, sendo possível ver em sua fisionomia os traços da fase adulta. Suas vestimentas naquela noite eram suficientes para protegê-lo da brisa fria e, mesmo que estivesse no meio do inverno, seria necessário apenas um vislumbre para perceber que a pessoa deitada sobre a cama não se importava. Os olhos castanhos brilhavam e havia um tolo meio sorriso em seus lábios.
Yamamoto estava apaixonado.
A certeza daqueles sentimentos o fez sorrir e ele cobriu o rosto com a mão esquerda enquanto deixava que uma gostosa risada ecoasse pelas quatro paredes. O gesto serviu também para acordá-lo de seu estupor, colocando-o de pé e levando-o até as janelas, que foram fechadas lentamente. O céu estava escuro, com exceção de algumas estrelas esporádicas que davam àquela noite uma mínima fagulha de esperança. Talvez a manhã seguinte fosse ensolarada... Talvez ele aceite meus sentimentos...
Foi há cerca de um mês, durante o pôr do sol, que ele decidiu que se confessaria.
Aqueles sentimentos já estavam em seu peito há bastante tempo, mas Yamamoto nunca cogitou a ideia de transformá-los em realidade. Eu estava plenamente satisfeito em ter somente a amizade de Gokudera. Eles voltavam juntos do colégio praticamente todos os dias, além de andarem sempre lado a lado. Tsuna era o terceiro elemento que os mantinha unidos, porém, mesmo em sua ausência os dois amigos continuavam próximos. Em março do próximo ano nós nos formaremos e então tudo mudará. Não haverá mais passeios, grupo de estudos ou almoços no terraço. Gokudera disse que talvez passe algum tempo na Itália e eu preciso decidir o que farei com a minha vida.
Desde que entrara no ensino médio o moreno fora nomeado capitão do time de baseball e isso lhe rendeu convites de várias universidades. Uma delas, em especial, parecia disposta a levá-lo para Tokyo de uma maneira ou de outra, oferecendo até mesmo uma gorda bolsa de estudos. Entretanto, ele não sabia se gostaria de viver aquele futuro. Yamamoto se divertia com o jogo de máfia e se por ventura aceitasse a bolsa seria preciso mudar de cidade e abandonar não apenas os amigos, mas também seu pai e o restaurante.
O futuro e seus empecilhos foram fatores importantes e que auxiliaram em sua decisão de expor seus sentimentos. Nós voltávamos para casa quando Gokudera parou de andar e virou-se. Estava claro e o sol se punha, mas andávamos em uma rua conhecida por suas fortes rajadas de vento. Ele virou-se para proteger o rosto e eu estava ali, bem atrás... O rapaz de cabelos prateados acabou inconscientemente escondendo-se no peito de Yamamoto e naquele instante algo nele clicou. Até aquele dia eu não havia pensado em me confessar. Meu objetivo era sermos amigos para sempre e eu estava satisfeito com isso.
Nunca houve pessimismo ou pensamentos negativos. Seus sentimentos por Gokudera sempre foram honestos e íntegros, embora, bem, não tão castos. Como um rapaz no auge da adolescência, o moreno mentiria se dissesse que o amigo não era seu objeto de desejo e a pessoa que surgia em sua mente nos momentos íntimos. Por outro lado, ele estava tranquilo o suficiente para deixar que aquelas emoções ganhassem forma. Seu respeito por Gokudera e a amizade que tinham era a única barreira que o impossibilitou de não abrir seu coração até o presente momento. Mas se ele for mesmo para a Itália no próximo ano...
Os olhos castanhos se entreabriram e fitaram a cortina branca. Ela dançou uma última vez pelo ar retornando ao estado anterior. A rua estava quieta e não havia sons de vozes, copos e conversas no andar de baixo. É hora de dormir, ou pelo menos tentar. Yamamoto virou o rosto e encarou o relógio na cômoda ao lado e suspirou ao ver a hora. Seu corpo ajoelhou-se na cama e suas mãos fecharam a janela e a cortina. Frio~
Ele apressou-se para entrar debaixo do fino cobertor, encolhendo-se e cobrindo-se o bastante para que pudesse dar uma segunda olhada no mesmo relógio que agora marcava pouco mais de três horas. Amanhã a essa hora eu já saberei minha resposta. Eu dormirei como o homem mais feliz do mundo ou o mais triste... tudo depende de Gokudera.
x
Ele corria como se sua vida dependesse disso.
As calçadas molhadas não facilitavam e por duas vezes seus pés derraparam e foi preciso agarrar-se a alguma coisa para não levar um belo tombo. A alça da mochila foi apertada e o arbusto entre um lado e outro da rua pulado com perfeição. O semáforo estava fechado, então foi fácil correr pela faixa de pedestres e entrar através do grande portão antes que ele se fechasse. Ah, estou salvo!
Yamamoto respirou fundo, abaixando o rosto e ouvindo as batidas de seu próprio coração. O zelador do colégio fechava o portão naquele exato instante e vários alunos passavam por ele, todos com expressões aliviadas e respirações descompassadas. Se Hibari ainda estivesse no colégio eu estaria encrencado. Seus olhos automaticamente fitaram o último andar, focando-se na janela central e que naquela manhã estava com as cortinas abaixadas. A sala do Comitê Disciplinar. Desde que Hibari se formou ninguém ousou assumir o posto, porque ele aparece vez ou outra de surpresa.
O paradeiro de Hibari não era desconhecido. Ele vivia no Templo Namimori, herdado por sua família, ainda que se recusasse a atender as reuniões que Tsuna marcava sobre o jogo de máfia. Mas ele não estava no templo na última vez que eu o visitei. As portas estavam cerradas e Kusakabe-san disse que Hibari estava na Itália. As visitas de Dino ao colégio Namimori diminuíram consideravelmente desde que o Guardião da Nuvem se formou e Yamamoto sentia certa saudade dos dias atarefados e das discussões que ele e Hibari tinham pelos corredores e que sempre terminavam em ameaças.
A aula já havia começado quando ele pediu licença para entrar. O professor parou sua explicação, oferecendo uma expressão surpresa e que rivalizava com o restante dos colegas de classe. Não houve sermão ou punição e o moreno seguiu para o seu lugar, coçando a nuca e sorrindo para aqueles que viravam o rosto para vê-lo passar. Aquela era a primeira vez que ele se atrasava, então era esperado que as pessoas ficassem surpresas.
"Oi, idiota..." Uma familiar voz o fez virar o rosto para a esquerda. "Como ousa ter feito o Juudaime esperar?"
Os olhos verdes estavam cerrados e a veia em sua testa palpitava no ritmo de sua ira. Yamamoto desculpou-se com um sussurro, contudo, tal atitude não pareceu suficiente para aplacar a raiva de Gokudera, que passou o polegar no pescoço, demonstrando o quão encrencado ele estava. Tsuna, por sua vez, lançou um simpático sorriso, murmurando que não se importava e perguntando se estava tudo bem.
O Guardião da Chuva retirou o material de sua mochila e abriu o livro. O cotovelo direito foi apoiado sobre a mesa e sua cabeça manteve-se encostada em sua mão. Foi uma questão de tempo até que os olhares cessassem e os alunos voltassem a se focar na matéria. Ele, por sua vez, tinha a atenção muito longe e somente esperava a oportunidade certa para conversar a sós com aquele sentado ao seu lado. Eles faziam parte do grupo que ficaria responsável pela limpeza da sala, então Tsuna provavelmente iria embora com Kyoko e Chrome. Aquela chance não era mera coincidência e Yamamoto aguardava ansiosamente há semanas.
A manhã passou lenta e um pouco enfadonha devido às aulas de História. O almoço foi feito no terraço, mas dessa vez contando com um número maior de participantes. Enma, Chrome e Kyoko juntaram-se a eles, e por meia hora o moreno pôde se focar unicamente nos amigos e deixar um pouco de lado o assunto que era capaz de fazer seu coração bater rápido. Todavia, por um momento sua oportunidade de ouro quase escapou por entre seus dedos quando Chrome anunciou que Mukuro a buscaria depois das aulas. Gokudera colocou-se de pé, declarando para quem quisesse ouvir que ele jamais confiaria Tsuna a Mukuro e que cabularia a limpeza da sala para acompanhá-lo.
Yamamoto tentou acalmá-lo, mas todas as suas melhores palavras batiam de frente com a muralha de incompreensão e obstinação do Guardião da Tempestade. A situação só foi apaziguada quando Enma se prontificou a acompanhar Tsuna e Kyoko, ainda que Gokudera não parecesse muito confiante com aquela escolha. Tsuna disse que ficaria bem e ele não teve outra saída além de aceitar. Eu gostaria de ter esse poder de persuasão...
A tarde foi menos maçante, principalmente por causa da aula de Educação Física. Gokudera nunca participava, ficando do lado de fora da grade e observando os demais como se não fizesse parte da sala. Sua voz só era ouvida quando o assunto era Tsuna, fosse para torcer a favor ou ameaçar aqueles que estivessem no caminho. Aquela vitalidade encantava Yamamoto, que não conhecia melhor maneira de passar o tempo do que observá-lo se expressar. Ele é tão honesto. Eu tenho certeza de que sua resposta será sincera, independente de qual for.
O futuro Décimo Vongola despediu-se dos amigos quando o sol começava a desaparecer no horizonte. Enma acenou discretamente enquanto Kyoko meneou a cabeça e caminhou entre os garotos. Havia mais cinco pessoas responsáveis pela limpeza, logo, o trabalho não roubaria muito de seu tempo.
"Nee, Gokudera..." O moreno aproximou-se com a vassoura na mão no instante em que seu interlocutor prendia os cabelos em um pequeno rabo de cavalo.
"O que você quer?"
"Depois que terminarmos aqui eu gostaria de conversar. Você poderia me encontrar no terraço?"
"Para quê?" A resposta não soou raivosa ou irritada e ele não parou o que fazia para dar-lhe atenção.
"Conversar..."
"Tanto faz."
O rapaz de cabelos prateados fez um sinal com as mãos, afastando-se e indo cuidar dos apagadores. O Guardião da Chuva sentiu-se sorrir, começando a varrer o chão e admirando-se por não ter gaguejado ou corado. Meu coração está batendo tão rápido. Por um momento eu achei que fosse acabar me confessando. Os olhos castanhos correram até o outro lado da sala, observando Gokudera pegar os apagadores e ir batê-los na janela. Os demais alunos desapareceram de seu campo de visão e todo o entorno pareceu mudar. Apenas uma palavra. Tudo o que eu preciso é de uma simples palavra.
O sol começava a se por quando ele chegou ao terraço. A inusitada brisa da primavera o fez apertar o casaco, mas nem mesmo a baixa temperatura foi capaz de fazê-lo recuar. Sua companhia estava próxima à grade, um cigarro na boca e encarando o horizonte com uma expressão que infelizmente ele não conseguia ver. Seus passos ecoavam baixos, porém, Gokudera os ouviu, pois se virou assim que a distância entre eles tornou-se suficiente para manter um diálogo sem a necessidade de levantar a voz.
"Você está atrasado de novo, idiota!" O cigarro dançava em seus lábios.
"Desculpe, desculpe..." Yamamoto coçou a nuca.
"Então, sobre o que você queria conversar?"
Por várias vezes ele ensaiou as palavras certas para serem ditas quando o dia chegasse. Elas deveriam ser capazes de transmitir seus sentimentos, mas sem exageros. O moreno tinha plena consciência de que não era bom com aquelas coisas, especialmente por ser sua primeira confissão. Ele sabia como arremessar e rebater uma bola de baseball, no entanto sentia-se totalmente inútil quando o assunto era seu coração.
De qualquer forma, quando suas mãos apertaram a alça de sua mochila e o ar entrou em seus pulmões, Yamamoto soube que não teria mais volta. Independente da resposta que ouvisse, ele precisava recebê-la para seguir em frente. Intimamente eu sei que ele vai me rejeitar. Conhecendo Gokudera, primeiramente virá a humilhação e dias depois ele irá se arrepender, mesmo que o resultado não mude.
Pessimismo não era uma de suas características, mas o Guardião da Chuva seria muito inocente em acreditar que seria aceito. Eu imaginei diversos cenários e fantasiei como nosso relacionamento seria, mas no fundo eu sempre soube que aquela vida só poderia ser vivida em sonhos. Desculpe por ser tão egoísta, Gokudera, mas eu preciso seguir em frente... Os lábios foram umedecidos e seus olhos se ergueram.
"Eu estou apaixonado por você, Gokudera," as palavras foram ditas sem nenhum toque de receio ou medo, "por favor, seja meu namorado."
O pedido foi acompanhado por uma polida reverência. A brisa movia os cabelos prateados e carregava a fumaça do cigarro para longe. Os olhos verdes se mantiveram fixos, contudo, aos poucos as sobrancelhas se juntaram até formarem uma expressão séria.
"Do que você está falando, idiota?" Gokudera retirou o cigarro, jogando-o ao chão e pisando com raiva.
"Meus sentimentos. Eu te chamei aqui para dizer meus sentimentos."
"Seus sentimentos?!" As mãos pegaram o maço de cigarros do bolso de trás da calça, colocando um em seus lábios e acendendo-o de maneira desajeitada. "Mas que merda de sentimentos são esses?"
"Eu estou apaix—"
"Eu ouvi!" Gokudera jogou o novo cigarro ao chão, pisando com mais força e dando um passo à frente. "O que é isso? Você é gay, Yamamoto?!"
"G-Gay...?" A acusação o pegou desprevenido. Ele estava preparado para ser rejeitado, mas aquela conversa tomara um rumo impensado. Eu nunca pensei sobre isso... "N-Não... eu gosto de garotas..."
"Mesmo? Então por que eu acabei de ouvir dessa sua maldita boca que você quer me comer?"
"Comer você?" Suas sobrancelhas se juntaram. Por que aquela pessoa tinha que ser tão vulgar? "Por que você está falando desse jeito? Eu nunca dis—"
"Então você não quer?"
"N-Não como você diz..."
"Mas você quer, não é?" Gokudera precisou somente dar alguns passos para que eles estivessem frente a frente. Uma de suas mãos agarrou-lhe pelo casaco e, ao se encararem diretamente, Yamamoto teve a resposta que precisava. Tudo o que viria em seguida seria pura maldade. "Depois de todo esse tempo você vem me dizer que gosta de homens? E ainda por cima de mim, maldito?"
Ele não respondeu. Não havia mais o que ser dito.
"Eu sempre soube que tinha algo errado em você, mas gay? Você é patético, Yamamoto."
A mão soltou a jaqueta e o rapaz de cabelos prateados deu um passo para trás, inclinando a cabeça e olhando-o com o mais puro e cruel desprezo.
"Nunca mais apareça na minha frente. Eu não quero estar no mesmo ambiente que você além do necessário. Quando me ver por aí finja que não existo, porque é exatamente isso que farei com você. Apaixonado? Por mim? Para o inferno tudo isso! Eu não me apaixonaria por você nem em um milhão de anos!"
As mãos soltaram a alça da mochila e pararam ao lado do corpo. Yamamoto tinha uma bola em sua garganta, muito maior que a de baseball que ele estava tão acostumado a arremessar. Entretanto, seus lábios formaram um genuíno meio sorriso que pareceu irritar ainda mais seu interlocutor.
"Obrigado por sua resposta, Gokudera."
O moreno adiantou-se ao vê-lo pronto para continuar. Ele já havia obtido o que queria e fora humilhado o suficiente para um final de tarde. O agradecimento foi seguido por uma nova reverência e seu corpo deu meia-volta, caminhando pelo terraço como se aquelas pernas não lhe pertencessem. Em determinado momento o sorriso se desfez, tornando-se uma fina linha que perdurou até que ele deixasse o prédio do colégio.
Ele reaprenderia a sorrir na manhã seguinte e esqueceria o salgado gosto daquelas lágrimas.
Continua...
