Zayn

Beatriz e eu éramos um casal destinado a dar certo, mas não foi o que aconteceu. A conheci um dia quando tinha 15 anos e fiquei completamente apaixonado por aquela garota sorridente. Filha do sócio do meu pai, James, fomos obrigados a passar muito tempo juntos. Amizade virou namoro que virou casamento. Ela foi meu primeiro beijo, minha primeira transa, meu primeiro amor. Vivíamos o doce sonho das famílias com dinheiro: dois herdeiros que se apaixonaram cedo e casaram aos 18, com toda a vida pela frente.

Entre minha faculdade e a dela seguimos até que Beatriz se quebrou. Ela sempre me disse que eu, como um homem, nunca entenderia o que ela passava sendo uma mulher negra tentando ser médica em uma universidade privilegiada lotada de preconceituosos. Nunca entendi realmente, principalmente quando o ódio subia na minha garganta das histórias que ela foi obrigada a viver enquanto crescia. Quando chegou na escola médica, Beatriz se transformou tentando se provar para os colegas e professores. Ela queria ser a primeira da turma e a pessoa que sairia melhor, mas não foi isso que aconteceu. Enquanto eu trabalhava com meu pai e ia a faculdade, mal via minha esposa que vivia a base de estimulantes. Não me perdoo por não ter percebido mais cedo. Beatriz se entupia de remédios para aumentar o rendimento e a noite tomava calmantes para dormir.

Ela me dizia que era cansaço e eu acreditava, porque não queria reclamar da falta de atenção com o nosso casamento quando sabia que iria ser assim. Então um dia a encontrei grogue no sofá de casa e ela me confessou que tinha tomado calmantes, mas que só tinha acontecido naquela vez. Não vou mentir, como todo adolescente de família rica, tinha acesso fácil a todo tipo de coisa, experimentei drogas e bebi até desmaiar antes de fazer 18 anos, então achei normal Beatriz tentar resolver seu problema com comprimidos. Isso voltou a acontecer três vezes até eu colocá-la contra a parede e descobrir que ela era viciada. Eu era um marido de merda que deixou a esposa se tornar uma drogada porque não reparou, e, mesmo vendo ela cada dia se tornando apenas a casca da mulher que conhecia, não fiz muita coisa. Beatriz começou com estimulantes, calmantes e misturava tudo com bebida e cocaína. Ela já não ia mais as aulas e esperava eu sair para começar seu "ritual". Isso garantia que na hora que eu chegasse, ela já não tivesse tão alta a ponto de alguém perceber, mas que ajudasse ela a passar mais um dia.

Essa é a razão porque estou nesses corredores nesse momento. Depois de uma temporada de três meses em uma clínica de reabilitação, Beatriz estava de volta. Algo nela parecia quebrado e me sentia preso, principalmente depois de tanto tempo longe. Amava aquela mulher com loucura, mas não queria mais estar com ela, não era a pessoa que conheci e me sentia culpado por me sentir assim. Então, depois de duas semanas em casa vagando como um fantasma e mal falando três palavras, ela sumiu. Tanto eu como James sabíamos o que ela foi buscar fora de casa, mas não sabíamos exatamente onde encontrar Beatriz. Demorou dois dias para receber a dica de onde ela estava, e contra todos os conselhos, fui buscá-la sozinho. Nesse lado da Califórnia, existem muitas boates, mas nunca iria imaginar que encontraria minha menina sorridente dentro de uma delas. Ela tinha ido conseguir cocaína e não saiu mais de lá, o que desconfio, era o jeito de pagar o produto porque ela não tinha dinheiro. Estava aterrorizado com o que podiam ter feito com ela.

— Você não pode entrar aí – disse um cara grande na porta do local decadente. As paredes eram amareladas nas partes claras com um estranho marrom gordurento em todo o resto.

— Eu só vim buscar uma pessoa. Eu pego e saio.

— Porra nenhuma, mauricinho. Você sai ou furo seu cérebro, pode ser? – Então ele me apontou uma arma e não tive reação. Era a primeira vez que via uma de perto, mas eu era um homem em uma missão e não queria desistir tão fácil.

— Me ajuda nisso. Pego a garota e saio... – eu disse levantando os braços em rendição. Meu plano B era chamar a polícia, mas não seria agradável.

— Já falei, moleque. Segue seu rumo. Se a garota está aqui, é porque ela quer – ele engatilhou e apontou para mim – vou ter que falar de nov... - Cannon! Ajuda aqui, a porra da garota está sujando tudo. Cannon correu e fui atrás porque tinha um sexto sentido sobre quem era "a garota".

Quando entrei no cômodo, o homem estava com o pau para fora da calça e Beatriz estava caída em sua frente, se debatendo no chão e tentando respirar. Ela tinha espuma saindo de sua boca e seu vômito estava por toda parte, incluindo no homem, que tentava se limpar enquanto ignorava completamente a mulher a seus pés.

— Essa merda do Hadid estava forte demais, avisei para putinha e ela quis mesmo assim... – o homem disse para Cannon. Aproveitei a cena e ignorando os dois, peguei Beatriz no colo e sai direto para o hospital. Apesar dos gritos do leão de chácara, tinha um objetivo. Não sabia exatamente o que fazer com ela, mas era melhor do que esperar atendimento dentro daquele lugar. Os espasmos tinham parado quando alcancei meu carro e rezei em silêncio enquanto colocava ela deitava no banco de trás. Parei no primeiro hospital que vi e entrei como louco na emergência. Eles a levaram para dentro enquanto esperei. Na meia hora seguinte, me tornei viúvo aos 23 anos, e tudo que tinha para aplacar minha ira pela nossa história interrompida era um nome: "Hadid".