"A barragem se rompeu"

Capítulo 01

Um senhor de cabelos arrepiados, roupas verdes musgos, avental branco, mas com manchas escuras, barba e bigode comprido, e sorridente estava no jardim de sua casa de madeira. Ele construía uma cadeira para crianças, com um suporte próprio para colocar tigelas com comida, e uma barreira automática que deveria se levantar quanto à criança fosse jogar comida para fora da cadeira.

Uma mulher de cabelos soltos, marrons claros, de rosto comum e com uma certa idade, vestindo um largo e simples vestido, também verde, surgiu da porta da casa e caminhou na direção de seu marido, rindo e bisbilhotando a nova invenção do homem. Ela ficou parada, ao lado do marido, esperando que ele percebesse que ela estava ali, mas logo ela escutou sua voz interior lembrando-a:

- Jusata, não seja tola. Você sabe que o seu marido fica tão compenetrado nas suas invenções, que não consegue reparar nada a sua volta.

Ela sorriu destas palavras, pois sabia que isso era verdade. E eram exatamente estes detalhes estranhos que a fazia amar o seu marido. Assim, ela colocou sua mão no ombro do marido agachado e que tentava colocar um parafuso por entre duas madeiras.

O mecânico sentiu os dedos em seu ombro e se virou para ver quem era, largando o parafuso sem conseguir colocar nas madeiras. Ele viu o rosto de sua esposa. Ele se levantou, sorrindo e empolgado, e disse com a sua voz meio fina e engraçada:

- Querida, veja que invenção mais interessante. Esta cadeira vai levantar uma pequena barreira de madeira quando nosso pequeno Teo for jogar comida longe. Veja, está vendo este dispositivo?

Jusata balançou a cabeça afirmativamente, mas nem estava vendo direito para onde ele apontava. O que a interessava era a inteligência de seu marido, o amor que ele sentia por ela, e principalmente, o amor que ele sentia pelo seu filho, o pequeno Teo. Ela relembrava de quando o conheceu pela primeira vez... ele já era um jovem de cabelos despenteados, e já tinha idéias de maquinários incríveis. Ela estava terminando a faculdade de Ba-Sing-Sei, com muito custo e quase acabando completamente com o seu dinheiro reservado, quando viu aquela figura estranha. Ela se apaixonou pelo mecânico na primeira vez que o viu.

Sem perceber que sua esposa estava com a cabeça longe dali, ele continuou:

- Então, quando a corda amarrada no prato ou na colher for puxada para uma distância maior do que o permitido, a corda soltará este dispositivo que levantará e segurará a barreira a esta altura, evitando que ele suje a casa novamente. Bom né?

Ela concordou com a cabeça, lhe deu um beijo na bochecha e comentou:

- Estarei indo para a cidade comprar algumas verduras e legumes. Fique de olho no Teo. Ele adora andar pela casa e tenho medo que ele mexa em algo que não deve.

- Claro, claro... será uma ótima oportunidade para eu testar o meu carrinho babá de criança.

Jusata fez uma careta de desaprovação. O "carrinho babá" que ele inventara era um "monstro" que mais parecia que iria machucar a criança do que proteger. Ela pediu com a voz bem firme e olhando nos olhos dele:

- Sem teste com o carrinho babá ouviu?

O mecânico subiu até o quarto de Teo, um pequeno, mas aconchegante lugar. Havia: um grande berço para abrigar um garotinho de dois anos que começava a falar suas primeiras palavras; decorações com lua e estrela, claro que feita pela mãe; várias almofadas de pena de ganso espalhada pelo chão; diversos papéis e tintas para que a criança pudesse fazer os seus desenhos. Ao subir até o local, ele esperava que seu filho estivesse dormindo dentro do berço. Mas não estava, o pequeno garotinho de olhos lindos, cabelinho escuro e roupinhas verdes do reino da terra, estava "plantando bananeira", com a costa encostada na grade do berço e com o topo da cabeça apoiado no chão.

- Menino, que você está fazendo? Cuidado. Não faça isso. Sua mãe iria me matar se acontecesse algo com você.

O garotinho tombou de lado, batendo com as pernas rapidamente no chão, levando uma pancada forte. Ele olhou para o pai, e começou a chorar de dor. O cientista logo pegou o garoto e começou a falar desesperadamente:

- Não chora, não chora pequeno Teo. Nunca mais papai deixará nada de ruim acontecer com você não chora.

O pai começou a beijar a perna do garoto, e a soprar, falando delicadamente:

- Já passou, pronto, já passou.

O pequeno enxugava suas lágrimas com o peito da pequena mão. O pai, aproveitando que o garoto estava no colo, colocou-o na posição horizontal, pendurado pelo braço do adulto, e começou a falar:

- Pronto, vamos voar.

Em seguida, ele andava pelo quarto, fazendo barulho de vento assoprando pela boca, levantando e descendo o garoto, como se ele voasse pelo céu. Dizia feliz:

- Voa passarinho, voa, "fuuuuuuuuu". Cuidado com a baleia voadora, "fuuuuuuu".

O garotinho não sentia mais a dor. Ele agora gargalhava de felicidade e de prazer. Ele gritava enquanto fazia imaginários malabarismos aéreos.

Ele parou e pousou com o garoto no chão. Os dois riam feitos crianças. Depois de algum tempo, o senhor beijou a testa do filho falando:

- Eu te amo meu filho. Seu pai sempre te protegerá.