Nada me pertence. Mas o Moses e o Karman sempre serão meus.


Morphine

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Não existe dor.

Também não existe sangue. Não existe o sangue que ela derramou e não existem as feridas alheias que ela fez e deixou para você curar. Isso não importa. Não mais. Agora só importam vocês dois e a sua consciência. Consciência suja. Suja e anestesiada.

Ela é como morfina.

Morfina que está te matando aos poucos.

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Não existem nomes e você prefere assim.

É ruim e queima e dói quando ela te chama pelo seu nome e te obriga a dizer o dela.

(Morfina não deveria tirar a dor?)

Mas ela não liga. Ela não liga se você sente dor quando ela diz os nomes porque ela gosta de causar dor. Era para ser o contrário, não?

É por isso que você precisa de morfina.

As pequenas doses não servem mais. Você precisa (e quer) tudo.

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Existe o vazio.

Aquele que se instala entre vocês dois quando o efeito passa e fica nos seus olhos quando você olha para a outra (engraçado, você não diz o nome dela também).

E tudo é vazio e você quer gritar e implorar e pedir perdão, mas você só se cala.

Porque você está viciado em morfina.

E viciado nenhum abre mão do vício.

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Existe o branco, soma de todas as cores.

Cor da morfina.

E existe o preto, ausência de todas as cores.

Cor da sua morfina.

Porque a sua morfina é negra como os cabelos dela e negra como o coração dela.

Se ela tiver um coração. A sua consciência te diz que ela não tem, mas ela anestesia a sua consciência.

E cor nenhuma faz sentido quando você não tem a sua dose diária.

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Não existe arrependimento.

Pelo menos não da parte dela. Porque ela sorri e se alegra e parece feliz.

Mas existe arrependimento da sua, porque é errado e é sujo. E é bom.

E indolor. E doce. E negro. E tudo isso ao mesmo tempo.

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Existe o gosto.

Gosto de errado, gosto de pecado, gosto de tudo.

Gosto dos beijos que ela te dá e gosto da morfina que parece residir nos lábios dela.

Aquele gosto que sempre permanece na sua boca e que te faz querer mais.

Gosto de algo que vicia, como toda e qualquer droga. Morfina não deveria ser uma droga, não deveria, não mesmo.

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Existe a morte.

Morte dela, morte que você não viu, mas não precisou ver para saber que aconteceu.

Porque uma hora ou outra teria que acontecer. Não, não teria.

Ela morreu e você não estava lá para uma última dose.

E sem morfina não existe jeito de aplacar a sua dor. E tudo fica negro. Negro cor de morfina.

Não é sempre que o vício vence.

E ás vezes o viciado tem que abrir mão do vício.


N/A: A Deme-chan vai entender de onde isso saiu. É sua Deme meu amor.