CAPITULO I

O que vinha acontecendo entre nós era assustador e, ao mesmo tempo, irresistível. Por mais que negasse, já não era novidade que aqueles plácidos olhos azuis me fizessem fraquejar as pernas. Mas agora era de verdade, não eram só devaneios tolos. Tornamo-nos amigos logo quando voltei à Hogwarts para assumir Transfigurações, e com o passar dos anos, só fizemos ficar cada vez mais próximos. Não sou capaz de dizer quando exatamente comecei a nutrir por ele sentimentos para além do respeito e carinho que cultivava já desde a época de aluna, mas estaria mentindo se dissesse que não fui perdendo o interesse em novos relacionamentos conforme íamos estreitando nossa amizade. O fato é que aconteceu de modo tão gradual que, quando me dei conta, já o amava de todo, profunda e completamente, e não podia pensar em nenhum outro homem com o qual pudesse ou quisesse dividir minha vida. Por muito tempo tentei fugir desses sentimentos, das sensações que despertava em mim e das fantasias que de repente me acometiam, a mim parecia tudo uma grande loucura, mas então, uma noite, algo... aconteceu.

Albus resolveu me acompanhar até a Torre da Grifinória. Não seria a primeira vez. Deu-me o braço e seguimos caminhando muito tranquilamente, conversando, rindo baixo. Ele sempre conseguia (como ainda consegue e, creio, conseguirá sempre) me fazer rir, mesmo nos dias mais difíceis. Havia algo de diferente naquela noite, nele, em seus modos. Mas, por mais que ele fosse muito excêntrico e até mesmo espalhafatoso em alguns aspectos, em outros podia ser, se quisesse, muito discreto, por isso eu não soube apontar exatamente onde estava a diferença, apenas senti que estava. Hoje, até mesmo me atrevo a dizer que aquele quê estranho se dava por ele dissimular um mui grande nervosismo. Oh, sim, estava, de certa forma, ansioso, pois já planejava o momento seguinte. E eu, totalmente alheia a isso, simplesmente apreciei sua companhia, como de costume.

Quando alcançamos a porta que me levaria a meus aposentos, soltei seu braço e me voltei a ele para me despedir. Disse-lhe boa noite. Ele, por sua vez, muito cavalheiresco, tomou minha mão, e fez que a beijaria, respondendo-me com outro boa noite, que me pareceu um tanto rouco e bastante sedutor. Esse simples gesto de me beijar a mão sempre me deixava encantada, não importando quantas vezes o repetisse ou de que modos formais o fizesse. O fato é que, nessa noite específica, seus lábios nunca chegaram a tocar as costas da minha mão. Ao meio, ele estancou os movimentos, e então, levantando os olhos e os pregando aos meus, tomou um ar maroto, e mui rapidamente transformou o gesto em outro, se aproximando como uma flecha e colando seus lábios aos meus. Antes que eu pudesse reagir, da forma que fosse, ele se afastou e, com um sorriso, já não tão travesso, mas agora muito doce, girou sobre os calcanhares e sumiu no corredor.

Eu devo ter levado minutos até me lembrar de respirar novamente. Sentia o rosto queimar e o coração em total e absoluto descompasso. Abri a porta com a mão trêmula e, entrando, a fechei atrás de mim. Lembro-me de ter levado as mãos aos lábios e de ter rido, incrédula. Talvez o riso mais gostoso que já dei na minha vida. Encontrei particular dificuldade em alcançar o sono. Cada desejo reprimido veio à tona, invadindo-me os pensamentos todos de uma vez só. Resisti herculeamente a escorregar os dedos e tocar a mim mesma, coisa que há muito e muito tempo não me ocorria de fazer. Fiquei apenas bebendo daquele arrepio ao pé do estômago até finalmente conseguir adormecer.

No dia seguinte, me perguntei se não tinha sido um sonho. Cheguei ao Salão Principal, para o café da manhã, com o peito disparado. Assumi meu lugar ao seu lado. Trocamos sorrisos. Encabulados, acabamos por conversar muito menos que de costume. A certa altura, por debaixo da mesa, ele pegou minha mão. Eu correspondi, assim por um momento, apertando-lhe os dedos de leve, acariciando-os com o polegar. Soltamo-nos logo, receosos de que alguém nos flagrasse. De repente tínhamos um pequeno e delicioso segredo, só nosso. E eu estava ainda muito enlevada pelos ares da novidade para pensar em que tudo aquilo implicava e em onde poderia dar. Em menos de 24h e três gestos mui simples, tudo entre nós parecia diferente, novo e mágico.


N/A: Reviews? Muito curto? Os planos são poucos capítulos, todos desse tamanho, vamos ver :)