Escrito na tentativa de desabafar e acalmar meu espírito depois de assistir The Rapture. Não deu certo, mas em compensação saiu este texto.

The Fear:
DEAN

O que está acontecendo aqui? O que está acontecendo com Sam? Com Cas? Comigo? Com o mundo? Com Deus?

I don't know what's right and what's real anymore
I don't know how I'm meant to feel anymore
When do you think it will all become clear?
'Cuz I'm being taken over by The Fear

O que houve com Cas? Desde quando ele é tão frio? Em um minuto, ele precisa urgentemente falar comigo em particular. Onde ele conseguiria achar um lugar mais privado do que a minha cabeça, eu não sei mas... No outro, ele está completamente mudado, falando que ele não serve a mim, mas aos céus e a Deus. Como se eu tivesse pedido alguma coisa, alguma vez a ele.

Isso tudo é por ter me contado que se envolvia demais? Que estava começando a questionar suas ordens e convicções? Ele não é o único no meio desta merda toda a duvidar das coisas que acredita. Eu fui salvo por um anjo, a mando de Deus, quando nem mesmo acreditava que essa galera toda existia! Eu, mais do ninguém, entendo de mudanças. Nos últimos meses foi só o que ocorreu em minha vida: mudanças.

Mudanças de comportamento. De formas de pensar. De moral. Na maneira como eu via o mundo e todas as coisas que nele existem. Desde as coisas que eu vejo e sei que são reais, até as coisas que eu sei que estão por aí, mesmo que não as enxergue.

Nunca senti tanto medo em toda a minha vida. Nem tanta decepção. Ou me senti tão cansado. Cansado de ser jogado de um lado para o outro como um peão em tabuleiro de xadrez. Cansado de ter de lidar com Apocalipse. Cansado de tentar conter a quebra dos selos. Cansado de planejar formas de parar Lilith. Cansados de fantasiar maneiras de acabar com a raça dela.

Cansado de lutar comigo mesmo. Cansado de querer que Sam abra os olhos em relação a Ruby. Ou seus novos brinquedinhos. Ou qualquer outra coisa que seja, porque Sam já não me ouve, de tão obcecado com seus próprios dilemas.

O que houve com Sam? Ele não é mais o mesmo garoto doce, gentil e ingênuo de antes. Não parece sequer ser humano mais. Ele está sugando sangue demoníaco! Essa é a fonte do poder que o deixa tão irreconhecível. O olhar dele quando exorcizava aquele demônio... Dava medo! Ele parecia feliz com aquilo. Parecia contente de ter recuperado suas "habilidades".

Sam se perdeu completamente de mim. Não me reconhece. Não me respeita. Não confia em mim. E como pode pedir que eu confie nele, quando eu nem mesmo sei quem ele é? Nem acho que ele mesmo saiba. Ele se perdeu de tudo, mas principalmente de si mesmo.

Ele não liga mais para quantas pessoas caiam no caminho entre aqui e o fim de Lilith. A morte de Pamela, Adam, Cas e sua família... Se eles precisam morrer para que ele atinja seu objetivo, que seja! Acredito que ele mataria a mim mesmo, se eu me interpusesse em seu caminho.

E eu terei de fazê-lo. Eu prometi ao pai que o protegeria. De tudo. De todos. Custe o que custar. E, mesmo o homem estando morto, eu não violarei minha promessa. Eu o protegerei, primeiramente de si mesmo. Trancafiá-lo no quarto do pânico de Bobby foi a única solução imediata e eficaz que poderíamos tomar.

Agora só me resta rezar. Rezar para que Sam recupere o juízo. Que ele veja que não somos o inimigo aqui. Que só queremos o bem dele. Que o amamos demais para deixá-lo se autodestruir desse jeito. Eu espero que ele se toque de que eu o amo. Acima de tudo. Acima do mundo. Acima de mim mesmo.

Eu gostaria de alguma ajuda lá de cima. Se supostamente eu sou o salvador do mundo, o único que pode acabar com toda essa palhaçada de Apocalipse e Lúcifer ressurgindo... Por que não me ajudam com as pequenas coisas? Podiam ter ajudado Pamela. Podiam ter ajudado Adam e sua mãe. Podiam ter me falado como agir com Sam. Se eles não estão dispostos a fazer estas pequenas coisas por mim, como podem esperar que eu faça algo por eles?

Meu irmão vem acima de qualquer coisa. Acima até do que a fúria do céu. Ou do inferno. Eu fui para o andar de baixo por causa dele. E não me importaria em voltar para lá de novo, se isso o afastasse de problemas. Se isso o fizesse viver por anos uma vida normal e despreocupada. O tipo de vida que sempre sonhei em levar. Que sempre sonhei que ele levasse. Mas que nunca tivemos a chance de ter.

Quem não gostaria de ficar uns dias parado, dentro de casa, assistindo televisão, lendo um livro, ou fazendo qualquer coisa que não envolvessem armas de sal e crucifixos? Quem não gostaria de passar uma semana sem ter que lidar com monstros de tudo quanto é tipo? Quem não gostaria de sentir medo de escolhas banais, como a faculdade que fazer, ou o que vestir na primeira entrevista de emprego?

Eu sei que sou um caçador. Nasci pra isso, fui criado pra isso, me tornei isso. E aceito muito bem, porque agora sei que a alternativa não é tão boa. Mas, só por uns dias, eu gostaria de ter tardes normais, sem maiores preocupações. Gostaria de não ter a grande responsabilidade de salvar o mundo nas costas.

Queria que meu irmão não bebesse sangue demoníaco para derrotar um demônio. Queria que ele virasse um advogado chato e chupim, morando numa casinha de dois andares, com uma garota bacana para enchê-lo de filhos. Ou de tentativas, o que também é bom o bastante. Não me importaria de ficar longe de Sam novamente, se fosse para o bem dele.

Eu poderia sumir do mapa, como fez meu pai, só para vê-lo feliz. Eu me sacrificaria várias e várias vezes por Sam, assim como meu pai fez por mim. Eu esconderia coisas do passado para não vê-lo chorar, assim como meu pai fez por nós.

Essa coisa de fim do mundo... Dá um medo do cacete! Medo de não ser capaz de fazer o que me pedem. Medo de não conseguir proteger Sam. Medo de ter de fazer o que o pai me pediu antes de morrer para me salvar. Naquela época, eu me perguntei o que diabos passava na cabeça de um homem, para que pedisse a um filho que matasse o outro. Agora eu sei a resposta.

Forget about guns and forget ammunition
'Cause I'm killing them all on my own little mission
Now I'm not a saint but I'm not a sinner
Now everything is cool as long as I'm getting thinner

Ele me pediu porque sabia que isso é uma coisa que eu nunca faria. Ele sabia que a minha obsessão viraria exatamente essa: protegê-lo a todo custo. E provavelmente por isso me botou medo. Para que eu fizesse o impossível para não chegar a esse extremo.

Eu sinto que falhei. Não consegui o que prometi a mim mesmo que faria. Minhas atitudes, daqui pra frente, serão atos de um homem desesperado. Não enxergo alternativas. Não vejo uma solução no meio de toda essa escuridão medonha. Então jogo com as cartas que tenho. Vou blefando, enganando, confundindo as pessoas à minha volta. Vou iludindo a mim mesmo. Vou falando em voz alta que tudo vai dar certo, para me convencer e convencer a todos. E fico na esperança de que minhas palavras ditas virem realidade.

Porque se Sam virar completamente para o lado do mal, se não tiver mais salvação, eu ainda assim não poderei matá-lo. Ainda assim o protegeria com todas as armas, com todas as forças que eu encontrasse dentro de mim. Lutaria com anjos e demônios. Porque nada é mais importante do que Sam.

Eu tenho que continuar lutando. Imaginar mil maneiras de livrar Sam de seu vício. Jeitos impensáveis de trazê-lo de volta à razão. Chamá-lo dessa obsessão suicida de perseguir Lilith sozinho. Fazê-lo ver a verdade. Fazê-lo sentir-se amado e protegido novamente. Meu lugar é a seu lado e eu não consigo imaginar-me em algum outro.

É errado amar, assim, tão incondicionalmente? É errado botar o bem-estar alheio acima de qualquer coisa? Se eu não me engano, não é um dos ensinamentos bíblicos, tão exaltados e espalhados aos quatro ventos pelos religiosos deste mundo? Não é um dos mandamentos que Castiel acredita tanto? Uma das leis de seu Pai tão glorioso?

Então eles terão que entender. Como posso matar o único ser que me motivou a continuar lutando por todo esse tempo? Como tirar a vida do responsável por eu não considerar minha infância deprimente? Como destruir quem eu protegi com tanto afinco, durante toda a minha vida?

Como ouvir o último suspiro de quem eu todos os dias verificava a respiração, na calada da noite, só para poder dormir em paz? Como terminar a existência de um ser que provoca tantos sentimentos contraditórios em mim e ainda me faz o amar incessantemente? Como matar a única coisa que me manteve lúcido durante todos aqueles anos no inferno?

É como me pedir para parar de comer, de beber, de existir. Sammy é minha razão de viver. É o meu bem mais precioso. A memória que eu mais dou valor. A companhia que mais me agrada. O ser humano que eu mais aprecio. O único a quem eu ainda idolatro. O único com quem eu ainda me importo. O resquício de família que me restou. Como matar minha quase inexistente família?

Não importa as promessas que eu faça. Não importa as coisas que me digam. O quanto me torturem. O quanto eu me despedace. Sam é a minha prioridade. É o motivo de eu continuar respirando. Eu vivo para Sam. Somente para ele. E vou morrer para protegê-lo.

Mais uma vez.

I don't know what's right and what's real anymore
I don't know how I'm meant to feel anymore
When do you think it will all become clear?
'Cuz I'm being taken over by The Fear