Autoras: Paula e Carol
Ship: Harry Potter e Draco Malfoy
Censura: NC - 17
Disclaimer: Todos os personagens pertencem a J.K. Rowling e a Warner Bros.
Sinopse: Harry Potter é novato no colégio e Draco Malfoy é o monitor encarregado de ajudá-lo em seus primeiros dias. Porém, devido a uma briga entre famílias que acontece desde antes dos garotos nascerem, Harry e Draco não podem nem ao menos cruzar seus olhares. Mas não é como se eles não fossem fazê-lo.
Capítulo 1
Special duty
Draco andava pelos corredores acenando com a cabeça para alguns conhecidos e o ouvido zunia com o grito que Pansy Parkinson deu ao vê-lo – como se eles não tivessem ido a uma festa juntos no fim de semana anterior – e seu destino era a sala do diretor.
Não que Draco tivesse se metido em alguma briga no primeiro dia de aula, claro que não, ele era um dos monitores, na verdade, e tinha que ajudar algum novato perdedor a encontrar as salas e mostrá-lo a estrutura do colégio.
Ao entrar na sala, teria rido se não fosse o mau-humor em pessoa. O rosto de Dumbledore transbordava excitação e constrangia o garoto que estava sentado na poltrona em frente a ele. Dali ele não conseguia ver o rosto do novato, mas suas costas definitivamente mostravam bastante tensão.
- Ah meu Deus, eu amo aquelas batatinhas com queijo! E você deveria sugerir a seu pai que vendesse algumas outras sobremesas. Aposto que as pessoas adorariam tortinhas de limão. – Dumbledore levantou a cabeça e observou Draco. – Isso serve para você também, Sr. Malfoy.
- Bom dia diretor. – Draco resolveu ignorar a fala do diretor, por que não era primeira vez que ele sugeria algo daquele tipo e com certeza não seria a última.
- Bom dia, Sr. Malfoy, este é Harry Potter. – O sorriso de Dumbledore cresceu. – Potter! Potter, Sr. Malfoy, sabe? Potter.
- Claro que eu sei quem os Potters são, diretor. Caso o senhor tenha esquecido, as lanchonetes do meu pai são concorrentes das deles.
- Eu sei! Isso não é ótimo?
Foi quando o primogênito Potter levantou, hesitante, e virou para Draco. Automaticamente Draco pensou na síncope que sua mãe teria ao ver como o garoto se vestia. Uma calça jeans quase escorregando pelos quadris, uma camisa azul desbotada que certamente era alguns números acima do que deveria e tênis pretos e sujos com o cadarço desamarrado. Os cabelos escuros eram revoltos e apontavam pra todas as direções existentes. Draco demorou-se nas íris do rapaz, alguns centímetros mais alto que Draco, que eram de um verde tão límpido e brilhante quanto uma esmeralda e nem os óculos de aro redondo parecia poder ofuscá-los.
- Seja bem-vindo. – Draco disse ainda olhando-o nos olhos.
- Obrigado. – Harry sustentou o olhar.
- Ah, isso é ótimo! – O diretor exclamou ainda sorrindo. – Agora vão ou irão perder a primeira aula. Sr. Potter, você já está com seu horário de aulas?
Harry apenas assentiu e em resposta Dumbledore fez um sinal para que eles se retirassem. Eles andavam em silêncio um ao lado do outro nos corredores que agora estavam vazios.
- Hm... Malfoy? – Harry olhou pro loiro ao seu lado e ganhou seu olhar de volta. – Você sabe que os negócios dos nossos pais não têm nada a ver conosco, não é?
- Mas é claro que tem Potter. – Draco cuspiu o nome como se tivesse gosto ruim e deu uma risada nasal. – Eu pretendo assumir os negócios dele quando tiver idade.
- É isso que você quer ou é o que seu pai quer que você queira?
- Por quê? Você não vai assumir os negócios do seu pai?
- Eu não vou deixar acabar caso caia em minhas mãos, mas não quero passar minha vida toda nisso. – Harry deu de ombros.
- Claro que não. – Draco revirou os olhos e tomou o horário das mãos de Harry, observando-o e dando uma risadinha em seguida. – Primeira aula com o Snape... Começou bem. Temos essa aula em comum, então vamos logo por que você já está atrasado.
- Eu estou atrasado? Você também está então!
- Estou, mas pra mim não faz diferença. Snape é meu padrinho e não se importa se eu chego na hora e eu sou monitor, caso não tenha percebido. – Draco tirou do bolso uma espécie de broche vermelho em formato de escudo com um H prateado no meio e Harry pensou que talvez ele devesse usar aquilo preso em sua camisa e não guardá-lo no bolso. – Tenho autorização para estar fora da sala. Quero que você me espere na porta da sala ao final de cada aula, inclusive antes do almoço.
- E se você não aparecer, devo continuar esperando até morrer de fome?
- Não se dê tanta importância, Potter. – Draco pousou a mão na maçaneta da porta que tinha escrito "química" em escarlate e antes de bater disse: - Não se preocupe, eu me encontrarei com você.
Draco bateu na porta com a mão livre e girou a maçaneta com a outra, empurrando de leve durante o movimento. Harry, que mantivera os olhos baixos até então, olhou imediatamente para dentro da sala. Seu corpo inteiro tencionou ao ver toda a turma olhando para os dois parados à porta. O professor encarava-o parecendo extremamente aborrecido pela interrupção.
Os olhos verdes analisaram Draco ao seu lado, sorrindo, completamente confortável com a atenção. O loiro sentiu o olhar de Harry escrutinando seu rosto, mas não retribuiu, apenas adentrou a sala como se o lugar pertencesse a ele com um Harry Potter estabanado em seu encalço desviando das diversas mochilas espalhadas. Draco parou alguns passos à frente do professor, Harry logo atrás quase esbarrando no loiro.
- Desculpe o atraso, professor Snape. – Draco desculpou-se desnecessariamente. Snape fez um gesto com a mão, como se não se importasse. – Tive que ir buscar um novato na sala do Prof. Dumbledore. Este é Harry Potter. – Acenou displicente para trás onde sabia estar Harry.
O barulho dos sussurros espantados explodiu na sala de aula. Entre os murmúrios Harry conseguiu entender algumas frases como: "Harry Potter? Como a lanchonete?", "Nossa! Será que a gente ganha desconto por estudar com ele?", "Espero que ele seja mais legal que o Malfoy.", "Se ele é rico, por que tá vestido assim?". Depois desse último comentário, todos se calaram, Snape tinha pedido silêncio em sua voz baixa e ameaçadora.
- Muito bem, senhor Malfoy. Vá para o seu lugar agora. – Apontou para a terceira mesa da segunda de três fileiras. As suas cadeiras estavam vazias como se os lugares estivessem guardados para alguém e sua dupla.
Draco foi até a mesa a passos largos, sentando do lado esquerdo e pendurando a mochila cuidadosamente no encosto do assento. Harry sentou ao seu lado, largando a mochila no chão de qualquer jeito. O loiro inclinou-se um pouco para o lado esquerdo e cutucou uma garota morena, começando a conversar baixinho com ela.
Harry rolou os olhos verdes pela sala. Havia duas meninas sentadas à sua frente cochichando, mas ele não conseguiu escutar o que diziam porque Snape pediu atenção para continuar a aula. Pelo canto do olho, ele viu Draco dar um sorriso irônico para a menina com quem conversava e virar-se para o professor, perfeitamente sério. O moreno pegou a mochila, procurando seu caderno e estojo, mas sentiu uma mão de dedos longos fechar-se ao redor de seu pulso. Virou a cabeça tão rápido que sentiu o pescoço estalar.
- Não é necessário. Apenas preste atenção. – Sussurrou, sem soltar o pulso do rapaz.
- Mas...
- Não. Ele manda o conteúdo por e-mail depois. Apenas preste atenção. – Assim soltou Harry e continuou a olhar o quadro atentamente como se nada tivesse acontecido.
Harry assentiu bobamente e tentou seguir o conselho do loiro, mas as duas meninas recomeçaram a cochichar, atraindo sua atenção completamente.
- Você não entende! – A da direita exclamou, soando indignada.
- Ele é seu professor, Carolina! – A outra retrucou.
- Mas ele é lindo, olha pra ele!
Harry olhou. O Prof. Snape poderia ser muitas coisas, mas lindo certamente não era uma delas. O rosto era pálido demais, os cabelos oleosos como se nunca tivessem visto um shampoo na vida caíam negros até os ombros, cobertos por uma camisa social preta. Harry não queria nem comentar o nariz – que era enorme.
- Você tem sérios problemas. – Disse a amiga de Carolina. Harry concordava.
- Cala a boca. Ele é uma delícia. – Ela rolou os olhos e apoiou o queixo na palma da mão esquerda, olhando fixamente para frente.
As duas se calaram e Harry pôde finalmente concentra-se na aula. Ou tentar, ao menos. Sua cabeça girava de ansiedade, vontade de conhecer tudo naquela escola nova. Mal podia esperar pela aula de inglês – a única matéria em que era realmente bom. Queria ver a cara do Prof. Lupin - ele tinha que se acostumar a tratá-lo assim -, que era amigo de seu pai, James Potter, desde os tempos de faculdade, ao vê-lo em sua sala de aula. O professor ainda não sabia que Harry agora estudava na Hogwarts High School.
Sentiu um cutucão nas costelas e encolheu-se, olhando para Draco, confuso. O loiro apenas fez um gesto com a cabeça para frente. Harry tomou um susto quando viu o Prof. Snape olhando-o mal-humorado.
- Harry Potter... – Começou, com a voz carregada de ironia. – Nossa nova celebridade. Pensa que sabe tudo, não é mesmo? Não é mesmo, Sr. Potter?
- Não, Prof. Snape. Não penso. – Murmurou, sentindo o rosto esquentar de vergonha e raiva. Snape soltou um muxoxo impaciente.
- Pois não parece. Trate de prestar atenção, não farei nenhum trabalho extra ou darei pontos extras ao senhor, Sr. Potter.
Durante o resto da aula, Harry tentou ignorar o olhar de "eu te avisei" de Draco e realmente concentrar-se na aula. Descobriu logo que era apenas uma revisão do ano anterior e que ele já sabia, mas mesmo assim, quase soltou um grito de felicidade quando a sineta tocou anunciando o fim da aula.
Draco e Harry se levantaram e dirigiram-se à saída. O loiro acenou discretamente para Snape antes de puxar o moreno para fora da passagem e pedir a grade de horário dele, batendo o pé impacientemente enquanto o outro rapaz vasculhava a mochila procurando. Sorriu quando o achou e estendeu-o para Draco.
- Biologia... É em outro prédio. Precisamos correr. – Praticamente jogou o horário na cara de Harry antes de começar a andar rápido. Os dois não conversaram enquanto praticamente corriam pelos corredores lotados, pelo gramado extremamente verde e depois mais corredores, antes de pararem em frente à uma porta de madeira escura, com a palavra "biologia" em vermelho-sangue.
- Você se vira daqui, não é? Tenho trigonometria agora. – Draco estava com as bochechas coradas pela correria, mas não ofegava, como Harry, nem perdia a pose.
- Hm... – Harry olhou pela janelinha da porta e viu os alunos conversando entre si e não havia sinal de nenhum professor. – Eu acho que sim.
- Assim que minha aula acabar eu me encontro com você aqui, está bem? Até mais.
- Até. – Harry observou Draco praticamente correr pelo caminho de volta, até sumir na curva do corredor. Ele suspirou, voltando-se para a porta e abriu-a devagar.
Havia vários balcões de mármore com bancos altos acolchoados. Num canto se via uma prateleira com tubos de ensaio, substâncias em potes de vidro e alguns pares de microscópios. Harry escolheu um dos balcões do fundo, mais perto da janela, e deixou sua mochila escorregar pelo seu ombro e cair no chão, próximo ao seu pé.
No canto oposto ao que ele estava sentado, um casal chamou sua atenção. Uma garota morena e um garoto ruivo pareciam estar discutindo aos sussurros. A morena disse algumas palavras rápidas e fez sinal para que o ruivo se calasse quando ele abriu a boca pra retrucar. Ela suspirou cansada, ajeitou a bolsa no ombro e fez seu caminho para um balcão na frente. O ruivo a observou por alguns segundos e depois passou os olhos pela sala e encontrou os de Harry, que desviou rapidamente, passando a fitar o quadro em branco à frente.
Harry pôde ver pelo canto do olho quando o garoto veio em sua direção e pensou que ele reclamaria por ele estar prestando atenção em brigas alheias, mas ele apenas pigarreou e disse:
- Você se importa se eu sentar aqui? – O ruivo apontou para o banco ao lado de Harry.
- Não, fique a vontade. – Harry sorriu amigavelmente.
- Você é novato, não é? – O garoto jogou sua mochila claramente desgastada sobre o balcão e sentou-se ao lado de Harry, vendo-o apenas assentir. – Seja bem vindo a Hogwarts High, então. Meu nome é Ron. Ron Weasley.
- Harry Potter. Prazer conhecê-lo, Ron.
- Potter? – Ron quase caiu do banco com o pulo que deu. – Você é filho de James Potter?
- Sou. – Harry deu um sorrisinho orgulhoso e baixou a cabeça em seguida, envergonhando-se já pensando no que estava por vir.
- Ah, meu Deus, você é filho do dono das melhores lanchonetes do país!
- Obrigado. – Ele murmurou.
- Espere até Hermione ouvir isso! Ela ama as batatinhas com queijo!
- Desculpe, mas quem é Hermione? – Harry perguntou confuso, virando a cabeça em direção ao ruivo novamente.
- Minha namorada. – Ron apontou para a menina morena com quem ele estava discutindo há alguns minutos. – Eu sei que você viu a gente discutindo, mas vai estar tudo resolvido antes do almoço.
- Tem certeza? Ela parecia bastante insatisfeita.
- Ela passou as férias todas dizendo que quando as aulas voltassem, eu iria começar a sentar na frente com ela e eu concordei pra ver se ela calava a boca, mas eu nunca sentaria na frente! – Ron fez cara de ofensa e Harry riu.
- Por que toda essa necessidade de você sentar na frente?
- Eu levei bomba no último teste de química e ela tem medo que eu perca minha bolsa de estudos. – Ron deu de ombros. – A culpa não é minha se o Snape me odeia!
- Ah, eu fico realmente aliviado em saber que não é só comigo.
- Você já teve o desprazer de ter aula com ele, então? – O rosto de Ron se contorceu em uma careta de desgosto e Harry riu novamente, assentindo. – Eu sinto muito por você. Ele é horrível! Espere até ele começar a mandar trabalhos e projetos... É o inferno na terra.
A sala inteira caiu em silêncio quando a professora entrou na sala. Ela era uma senhora baixinha, de cabelos grisalhos e olhos esbugalhados. Tinha um sorriso amigável no rosto e analisou o rosto dos alunos ali presentes por alguns segundos, aumentando o sorriso ao ver alguns rostos conhecidos.
- Bem vindos de volta, meus queridos! – Ela exclamou virando-se ao quadro negro e escrevendo "Pomona Sprout". – Eu sou a Prof. Sprout e terei o prazer de ensinar-lhes biologia durante todo esse ano letivo. Hoje começaremos com o processo de fotossíntese, sim?
As duas aulas transcorreram rapidamente. A Prof. Sprout era de longe muito mais divertida que o Prof. Snape e Harry conseguiu se concentrar mais nessas aulas do que na primeira. Ele e Ron trabalharam bem juntos e até conversaram um pouco – Ron estava realmente interessado no dia-a-dia do filho do dono das melhores lanchonetes do país e não pôde disfarçar seu desapontamento a descobrir que era como o de qualquer outro garoto.
- É meu pai que lida com essas coisas, Ron. Eu não tenho nada a ver com os negócios dele. – Explicou Harry.
- Mas você pode ir lá comer quando quer, não é? E sair sem pagar?
- Claro. – Ele respondeu com um tom de quem não dá importância.
- Você faz muito isso?
- Às vezes, nos fins de semana, sabe? – Harry deu de ombros.
- Cara, se minha família tivesse uma lanchonete, eu viveria lá! – Ron parecia realmente indignado com a indiferença de Harry.
- Não tenha tanta certeza disso. É diferente quando se é criado assim, Ron. Eu acho que sou tão acostumado que não faz diferença se eu como lá ou não. Mas eu ficaria mais do que feliz em levar você e sua namorada para um lanche. – Harry sorriu. – Por conta da casa.
- Ah, cara, Hermione vai adorar isso. – A animação do ruivo era quase palpável e isso fez Harry rir. – Vamos, você tem aula de quê agora?
- História. – O moreno respondeu após consultar seus horários.
- Eu também. Ótimo. Deixa só eu falar com a Mione antes... – Ron foi se dirigindo à menina morena que já ia se levantando e Harry não sabia se devia ir lá ou ficar na sua. – Hey, Harry! Vem cá pra eu te apresentar.
- Oi. – Ele disse sorridente para menina enquanto se aproximava.
- Olá. Prazer em conhecê-lo, Harry. Eu sou Hermione Granger. – Ela estendeu a mão para Harry e abriu um sorriso cheio de dentes.
- Mione, este é Harry Potter. – O olhar do ruivo estava cheio de expectativa.
- Potter? – Sua boca formou um "o" rapidamente.
- Sim! O pai dele é dono das lanchonetes Potter's e ele disse que pode levar a gente lá qualquer dia de graça!
- Isso é ótimo, Ron. – A garota puxou a bolsa da mesa e parecia conter o riso, em seguida virou-se para Harry. – Não deixe Ron lhe passar a impressão que ele só está interessado em comer de graça, Harry. Ele é apenas facilmente impressionável.
- O que? – Ron franziu o cenho. – Mas não tem nada a ver! Você não está pensando isso, está Harry?
- Claro que não! – Harry imitou a menina e segurou o riso, negando veemente com a cabeça.
- Viu? – Ele deu um sorriso convencido para a namorada e eles se despediram com um selinho, indo cada um para um lado do corredor em seguida.
Assim que eles dobraram num corredor e Harry viu a porta da sala de história, ele lembrou que deveria ter esperado por Malfoy. Mas ele tinha outra pessoa para ajudá-lo e Malfoy estava livre daquele dever enfadonho de acompanhá-lo pra cima e pra baixo. O loiro devia no mínimo ficar feliz em saber que Harry não precisava mais de sua ajuda. E com esse pensamento em mente, ele entrou com Ron na sala de aula e sentou-se no fundo, conversando sobre coisas frívolas até o Prof. Binns chegar.
Quando a sineta tocou novamente, Harry riu quando Ron saiu praticamente voando e arrastando-o em direção ao refeitório. O ruivo o perguntava o tempo todo o que ele achava que seria servido no almoço e Harry apenas respondia que esperava que não fosse hambúrguer.
O lugar já estava bastante cheio e Harry logo perdeu a cabeça vermelha de Ron no meio da multidão quando o garoto disse que ia atrás de Hermione e que ele devia escolher uma mesa para eles. Todas as mesas eram vermelhas e redondas e faziam um contraste bem forte com o piso e as paredes impecavelmente brancas, assim como os três degraus de arquibancada no fundo, onde algumas pessoas cochilavam usando suas mochilas como travesseiro. Em algumas das paredes podiam-se ver a sigla HHS estampadas e chamando atenção. Do lado esquerdo havia uma escada de mármore branco que levava a um segundo patamar também cheio de mesas, com algumas máquinas de refrigerante, doces e chocolates também.
Enquanto observava distraído o refeitório, deu alguns passos mais adentro, procurando uma mesa vazia. Achou uma bem no canto direito, perto de uns garotos usando roupas pretas e com cortes de cabelo bastante estranhos. Um deles o olhou de cima a baixo, como se o desafiando a sentar ali por perto. Harry desistiu na hora. Girou o corpo e voltou a procurar, olhou para o andar superior e viu a garota que estivera conversando com Draco na aula de química. A menina olhava diretamente para ele em dúvida. Talvez ela quisesse chamá-lo para se sentar com ela, mas Harry não viu muito sentido nisso.
Olhou para o outro lado e deu de cara com o gelo acinzentado furioso bem perto. Seus olhos se arregalaram e ele deu um passo para trás, mas Draco agarrou seu braço e o puxou para ficar bem de frente a ele. O loiro tinha as bochechas coradas e as pálpebras estreitas, num olhar ameaçador e os dedos ao redor do braço de Harry apertavam os músculos com força.
- Por acaso você tem algum problema mental, Potter? – Perguntou num sussurro, seu tom era irado e o moreno não entendeu realmente o que estava acontecendo. – Eu disse claramente para você me esperar depois de todas as aulas. Você me pareceu ter entendido isso. Então, eu volto a perguntar, você tem algum problema mental?
- Eu... Malfoy... Draco, me desculpe. Eu só achei que... – Como se fosse possível, a pressão da mão de Draco intensificou-se.
- Não perguntei o que você acha. – Draco disse levando seu rosto para perto do moreno. – Eu fiz uma pergunta bastante simples. Responda-a.
- Malfoy, você está exagerando. – Harry afastou o rosto e tentou puxar o braço de volta. Estava começando a perder a paciência, o loiro estava agindo como se não tê-lo esperado depois das aulas fosse o pior erro que já cometera em sua vida.
- Estou mesmo? – Perguntou Draco, ironizando. – Você sabe o que significa ser monitor? Significa que eu preciso fazer meu trabalho. Significa que se o diretor me diz para acompanhar você, eu vou acompanhar você. Gostando disso ou não. E acredite, não é exatamente o que eu gostaria de fazer no primeiro dia de aula. Mas eu fiz, ou tentei fazer ao menos. E se você tivesse se perdido? Se não tivesse achado a sala de aula e perdesse a aula? Eu perderia meu distintivo.
- Desculpe, Draco. – Harry disse realmente arrependido, não havia pensado por esse lado. Achou que o outro ficaria bastante feliz em se livrar dele e pronto. O aperto diminuiu um pouco, mas a expressão de Draco não se suavizou.
- Como você se virou, hein? – Perguntou, ignorando o pedido de desculpas.
- Conheci um garoto, Ron Weasley, e... – Ele continuaria, mas Draco começou a rir forçado e Harry parou de falar, erguendo a sobrancelha direita.
- Weasley? Sério? Não tinha amizade melhor para se arranjar, não?
- Por quê? Ele me pareceu perfeitamente agradável. – O moreno retrucou, cético.
- Claro que pareceu. – Draco rolou os olhos e retirou lentamente os dedos do braço de Harry, sentindo-os tensos e doloridos pela força de sua raiva. Suspirou, levantando o olhar e encarando algum ponto acima do ombro do rapaz. Depois, olhou diretamente nos olhos verdes-esmeralda. – Só não me faça isso de novo, está bem? Não me importo se seu amigo Weasley quer ir com você até a sala de aula, você irá comigo. Entendeu, Potter?
- O-okay. – Gaguejou de leve, ligeiramente intimidado pelo olhar gelado de Draco. O loiro assentiu e passou por ele, esbarrando em seu braço. – Hey, Draco! – Os olhos azuis encontraram os verdes novamente. – Meu braço vai ficar roxo. – Comentou, aleatoriamente.
- Espero que fique. Assim, você se lembra de nunca mais me deixar esperando. Me espere aqui na porta quando der a hora de sua próxima aula. – Deu um sorriso enviesado e deu-lhe as costas, andando em direção às escadas. Harry meneou a cabeça, virando-se para procurar a cabeça ruiva de Ron.
- Harry! – Ron apareceu bem atrás do moreno com Hermione ao seu encalço. – Você estava falava com o Malfoy?
- Sim. O diretor mandou ele me acompanhar de uma sala a outra e eu acabei arrumando problema pra ele quando fui com você. – Harry deu um sorriso todo errado e passou a mão pelos cabelos, descendo em direção a nuca.
- Tome cuidado, Harry, Malfoy não é flor que se cheire. – Ron encolheu os ombros ligeiramente.
- Eu não o conheço direito, mas ele pode ser legal quando quer. E definitivamente é dedicado ao que faz. – O moreno deu de ombros e apontou uma mesa que por sorte estava vazia.
- O problema é que ele não parece querer ser legal muito freqüentemente, não é? Boa parte do tempo ele é apenas um grande idiota convencido. Ele acha que é o maioral por que o pai é dono do Malfoy's Burguers. Mas os hambúrgueres deles nem são tão bons, sabe? Os do seu pai são melhores.
- Obrigado, Ron, mas eu acredito que se fosse tão melhor assim meu pai não se estressaria tanto com a concorrência que temos com eles, não é? – Harry deu de ombros.
- Você está mesmo defendendo ele, Harry?
- Não estou defendendo ninguém, você que está usando argumentos infundados.
- Nossa, você soou como a Hermione. Ai! – O ruivo fez uma careta de dor ao receber uma cotovelada nas costelas da namorada.
Harry apenas riu e sentou-se na cadeira, recostando-se na cadeira e deixando sua visão cair em um ponto qualquer e sem foco. A dor em seu braço o lembrou do acontecido de alguns segundos. Ele havia sido muito egoísta por não pensar que ignorar os pedidos de Draco poderia prejudicá-lo, mas pra que segurá-lo tão forte? E pra que aquele olhar tão intenso? Tudo bem que ele estava tentando intimidar Harry e fazê-lo temer pelo que podia acontecer se não o atendesse, mas aquela intensidade toda e o calor passando tão rapidamente entre um corpo e outro não era normal, era?
Rapidamente ele passou o olhar pelo refeitório e encontrou Draco subindo as escadas com a pose de um príncipe de gelo. A garota morena que ele havia visto estava lá com mais um garoto negro e dois grandalhões que pareciam guardar a mesa como um forte. As íris cinzas encontraram as verdes quando o loiro olhou pra baixo. Harry sustentou o olhar. Quanto tempo se passou era impossível saber, mas demorou até Draco dar um sorrisinho e virar-se para os amigos.
- Tudo bem, enquanto você fica ai encarando a criatura mais insuportável do colégio, eu vou comer, por que estou com muita fome. – Ron disse levantando-se.
- Você sempre está com muita fome. – Hermione revirou os olhos. – Não estou com tanta fome. Pode ir.
- Vou pegar um refrigerante pra você, está bem? – Ron avisou se afastando.
- Harry... – Hermione virou para o moreno assim que o namorado estava longe o suficiente. – Não dê ouvidos ao Ron. Malfoy consegue ser bem desagradável às vezes e isso não é segredo pra ninguém, você mesmo já deve ter percebido, mas seja amigo de quem você quiser. Ele só não quer que os filhos dos reis dos hambúrgueres se unam e o deixem de lado, entende?
- Eu... Acho que sim.
- Rony vem de uma família realmente grande e está acostumado em sempre ser deixado de lado, então ele criou um pouco de resistência e tende a se impressionar com muita facilidade, mas ele é uma ótima pessoa e um ótimo amigo.
- Eu tenho certeza que sim. – Harry sorriu. – Hm... Se você não se importa, eu vou pegar alguma coisa pra comer. Você realmente não quer nada?
- Claro que quero! Estou morrendo de fome. Só queria poder falar com você. – A morena levantou-se rapidamente. – Vamos antes que comam tudo!
O refeitório esvaziou rapidamente quando a sineta tocou e Harry terminou seu almoço calmamente, esperando Draco aparecer. Ron pareceu indignado por que o moreno ia esperar o filhote de Malfoy, mas foi arrastado para fora por Hermione sob o argumento de que eles iriam se atrasar.
- Hey, Potter! – Draco apareceu próximo a saída, com sua mochila no ombro e a pose de sempre. – Fico feliz que tenha lembrado do recado dessa vez.
- A dor no meu braço não me deixou esquecer. – Harry sorriu de canto.
- Ótimo. – Draco fez um sinal com a cabeça para eles irem andando e Harry começou a andar de solavanco, pegando o mesmo ritmo do loiro em seguida. – O Weasel, Potter? Mesmo?
- Bem, acontece que o "Weasel" – Harry fez as aspas no ar. – foi o único aluno nessa escola que veio falar comigo até agora.
- Não, na verdade, fui eu. – Draco analisou o rosto do moreno ao seu lado.
- Mas você fez isso por obrigação. Dumbledore mandou você me ajudar. Você nunca teria me dirigido a palavra se não fosse assim.
- Certamente eu teria. No momento em que eu descobrisse que o filho do concorrente do meu pai está estudando no mesmo colégio que eu, eu iria querer dar uma boa olhada no cidadão. – Draco levantou um pouco mais o queixo pontudo e bufou. – O Weasley provavelmente só está atrás de um bom desconto.
- Por que sempre tem que ter a ver com essa porcaria dessa concorrência? – Harry parou e esperou que Draco percebesse e se virasse para então encará-lo. – Você pode até ser o herdeiro do Malfoy's Burguers, mas não trabalha lá ainda. Nós dois não somos concorrentes. Somos apenas adolescentes tentando sobreviver a este inferno que é o ensino médio.
- Você está esperando o que? – Draco segurou Harry pelo pulso e foi puxando-o pelo corredor. – Que eu confraternize com o Weasley e a Granger como se fossemos ótimos amigos?
- Não. Apenas esqueça dessa competição entre nossos pais, está bem?
- É fácil pra você falar quando seu pai não pega no seu pé 24hrs por dia. – Draco sacudiu a cabeça, sorrindo forçadamente. – 24hrs por dia dizendo que eu tenho que estar preparado para assumir os negócios...
- Você alguma vez disse a ele que não é isso que você quer?
- Não importa.
- Mais é claro que importa!
- São os negócios da família! – A voz de Draco aumentou significantemente e ele o Harry agora estavam parados um de frente ao outro, mergulhados nas imensidões das íris verdes e cinzas.
- É a sua vida! – Harry retrucou com o mesmo volume na voz, cerrando os olhos rapidamente.
Eles não perceberam, mas já estavam na frente da porta que dizia "filosofia" e todos lá dentro olhavam pra eles, inclusive o professor que organizava um projetor de imagens multimídia. Draco e Harry ainda se observaram por alguns segundos, e ao sentir seu braço queimando, Harry o puxou da mão de Draco – sentindo-o começar a formigar quase que imediatamente -, desviando o olhar para os alunos curiosos.
- Cuidado com o Prof. Lockhart. – Draco avisou como se nada daquilo tivesse acabado de acontecer, como se ele também não tivesse sentido aquele calor abraçar seus corpos. – O ego dele é bem grande.
- Se for um pouco menor que o seu, eu tenho certeza que ele deve ser bem mais agradável. – Harry deu um sorrisinho e ajeitou a mochila no ombro, dando um passo em direção a porta.
- Muito engraçado, Harry. – Draco revirou os olhos. – Não esqueça de me esperar aqui.
E mais uma vez Harry observou Draco sumir no fim do corredor. Todos dentro da sala ainda olhavam pra ele e em um segundo seu rosto estava queimando de vergonha. Devagar e com a cabeça baixa ele atravessou a sala e sentou-se no único lugar vazio, entre um menino e uma menina. Até agora, aquela havia sido a única aula na qual ele não precisaria sentar em dupla, o que o deixou muito mais relaxado.
- Olá! – Sussurrou a menina loira sentada na fileira ao seu lado. Sua voz era macia e doce. – Meu nome é Luna Lovegood e o seu?
- Harry Potter. – Harry deu um meio sorriso e se encolheu quando ouviu o menino ao seu lado murmurar "Harry Potter?" – Prazer.
- Bem vindo, Sr. Potter. – A menina respondeu inclinando a cabeça lentamente. – Espero que faça muitos amigos aqui.
- Obrigado. E pode me chamar de Harry.
- Atenção aqui, por favor! – Pediu o Prof. Lockhart apagando as luzes da sala.
O garoto ao seu lado soltou um gritinho abafado e se encolheu na cadeira rapidamente. Harry o fitou e teria visto o rosto dele ficar vermelho se não estivesse tão escuro. Quando Harry voltou sua atenção para frente, Lockhart já havia começado a falar e fazia gestos indicando algumas imagens que refletiam no quadro pelo projetor.
Mesmo com os olhos no professor egocêntrico, Harry não estava ouvindo uma palavra do que ele dizia. A dor que palpitava em seu braço o levou a outro lugar. Algum lugar que ele encontrou no fundo de um par de íris cinzas.
Draco era extremamente atraente, ele tinha que admitir. O loiro era mais baixo apenas alguns centímetros, era magro, mas dava pra ver a curva de alguns músculos por debaixo da camisa social azul-petróleo. Os dois primeiros botões abertos e a calça jeans ligeiramente apertada era pra fazer qualquer garota gritar e tremer as bases de muitos garotos que se dizem heterossexuais. Os cabelos platinados meticulosamente penteados, rosto fino e olhos de uma imensidão cinza hipnotizadora.
Sim, Harry se interessava por garotos. E garotas também. Há pelo menos uns dois anos Harry vinha olhando para garotos de outra maneira, analisando melhor, imaginando coisas e realizando outras. Após algumas experiências – com ambos os sexos – Harry estava ciente de sua bissexualidade.
- Ei, Harry. – O moreno pulou da cadeira com o susto e sua fala sumiu por um segundo quando viu os olhos que eram frutos de seus devaneios bem na sua frente. – A sineta tocou, todos já saíram da sala e você ficou aqui com essa cara de babaca encarando o nada. Por que eu não estou surpreso?
- Eu esperei por você, pelo menos. – Harry deu de ombros e guardou suas coisas rapidamente.
- É, pelo menos. – Draco segurou o braço dele e foi puxando-o para fora da sala. – Vamos acabar nos atrasando.
- Temos aula juntos agora?
- Pra sua felicidade, sim. – Draco sorriu de canto. – Duas de inglês.
- Ah, finalmente! – Harry abriu o maior sorriso do dia.
- Finalmente? – O loiro cerrou os olhos e o encarou.
- Sim. O Prof. Lupin é um grande amigo do meu pai.
- Ah, é mesmo? – Draco soltou um muxoxo. – Isso explica por que ele me odeia.
- Te odeia? O Moony não seria capaz de odiar ninguém. Nem mesmo você, Draco.
- Não tenha tanta certeza disso. – Ele bufou. – Vamos ver como ele reage quando me vir com você, sim? Ai você me diz se ele me odeia ou não.
Draco só soltou Harry quando eles chegaram à porta da sala. Lupin havia acabado de entrar e virava pra escrever alguma coisa no quadro quando seus olhos encontraram Draco, caindo sobre Harry logo em seguida.
- Ah, meu Deus, Harry! – O professor cruzou a distancia entre eles em passos largos e tomou o garoto num abraço. – Você não me disse que iria estudar aqui! Você e seu padrinho devem ter tido um bom trabalho pra esconder isso de mim, uh? Sirius é péssimo guardando segredos.
- Sim, sim... Professor. Pode me soltar agora. – Harry quase podia sentir os olhares curiosos de dentro da sala atravessarem as costas do professor e atingi-lo.
- Oh, desculpe. – Lupin deu um passo pra trás e tirou uma sujeira inexistente do ombro de Harry, sorrindo. – Estou muito feliz de tê-lo como aluno, Harry.
- É ótimo tê-lo como professor também, Moony. – O moreno apenas murmurou o apelido.
- Vamos, entre, está na hora da aula. – Lupin fez um sinal, dando espaço pros dois alunos passarem e acenou com a cabeça para Draco. – Sr. Malfoy.
- Professor. – Draco respondeu com um aceno também quando passou por ele, seguindo Harry.
- Você tinha razão, Draco. – Harry sussurrou por cima do ombro para o loiro enquanto seguia para a dupla de carteiras no meio da terceira fileira. – Lupin realmente odeia você, eu vi quando ele tirou uma arma e apontou para sua cabeça.
- Não seja idiota. – O loiro empurrou Harry pelo ombro. – A aula mal começou.
Harry sentou ao lado de Draco e viu quando Lupin lhe lançou um olhar confuso, alternado entre o rosto de Draco e o de Harry. Após alguns segundos estranhos, o professor virou-se para enfim dar início a aula.
- Talvez agora que você está fazendo dupla comigo, ele pare de tirar pontos meus por besteira nos trabalhos. – Draco sussurrou enquanto abria a mochila.
- Ou talvez você esteja acostumado com o Prof. Snape ignorando seus erros e lhe dando pontos extras.
- E como você sabe que ele faz isso? – Draco sorriu sarcasticamente.
- Oh, o que ele não faria para agradar o adorável afilhado dele, não é? Está escrito naquele nariz anormalmente grande!
Draco teve que praticamente se contorcer pra não rir alto na sala de aula, mas quando o sorriso de Harry aumentou, foi impossível e o loiro gargalhou. Todos os alunos viraram para os dois. Harry encolheu-se na cadeira quando percebeu que era o centro das atenções e Draco continuava rindo.
- Algum problema? – Lupin tentou fazer sua voz soar mais alta que as risadas do loiro. – O que é tão engraçado, Sr. Malfoy?
- Nada. – Draco respondeu sem fôlego, ainda com um sorriso no rosto e enxugando uma lágrima que tremia no canto do olho.
- É minha culpa, professor. – Harry disse baixinho, ainda encolhido.
- Estava contando piadas? Bem, acho que toda turma tem direito de ouvir, então. – Lupin cruzou os braços, esperando.
- Eu acho melhor não.
- Por favor, Sr. Potter. Sobre o que você e o senhor Malfoy estavam falando que é assim tão engraçado? – O professor apontou para Draco que mordia os lábios pra não voltar a rir.
- Estávamos falando que o Prof. Snape tem um nariz anormalmente grande.
Draco recomeçou a rir e o resto da turma o acompanhou. Harry viu a força que Moony estava fazendo para manter sua postura de professor e não se juntar aos alunos nas risadas.
- Pois bem. Agradeço pelo seu comentário, Sr. Potter, mas podemos voltar para aula agora, eu acredito. – Lupin esperou que a turma se acalmasse e voltou-se para o quadro.
- Por que você tem que ser tão escandaloso? – Harry perguntou num fio de voz para Draco, ajeitando-se na cadeira.
- Eu nunca havia ouvido ninguém falar desse jeito do Snape. As pessoas têm tanto medo dele que até evitam falar sobre ele. – Draco deu de ombros. – Foi engraçado.
- Eu percebi.
- Não sei por que está reclamando, se fosse eu a ter dito isso, Lupin teria me mandando para a diretoria.
- Duvido muito. Esse ódio que você diz que ele tem por você é tudo coisa da sua cabeça, Draco. Provavelmente alguma lavagem cerebral que seu pai e seu padrinho fizeram em você.
- Cala a boca. – Draco inclinou-se para o lado, batendo com o próprio ombro com força no braço de Harry.
- Ai! – Harry alisou o lugar. – Esse é o mesmo braço que você passou o dia todo apertando, sabia? Deve estar todo roxo.
Draco apenas deu de ombros e eles se calaram para prestar atenção na aula. Quando a sineta tocou, o loiro deixou sua cabeça cair sobre a mesa, cansado. Harry sorriu e o cutucou até que ele levantasse, reclamando.
- Finalmente! Eu achei que não ia acabar nunca. – Ele jogou a mochila de qualquer jeito no ombro e seguiu Harry em direção a saída.
- Sr. Potter, posso falar com você um minuto? – Pediu o professor.
- Hm... – Harry olhou para Draco que assentiu.
- Vou esperar por você no corredor. – O loiro saiu mais do que depressa.
- Está tudo bem com você, Harry? – Ele perguntou encostando-se na própria mesa e cruzando os braços.
- Sim, tudo bem.
- Harry... – Lupin começou com ar reprovador. – De todos os alunos desse colégio, você tinha que começar amizade logo com um Malfoy?
- Eu não estou começando amizade com ele, Moony. O diretor que mandou ele me acompanhar nas aulas.
- Sim, eu sei. Mas Dumbledore disse para ele acompanhá-lo, não para sentar com você nas aulas. E vocês pareciam estar se divertindo bastante, não é? A propósito, o comentário sobre o Prof. Snape foi hilário.
- Hm... Obrigado. – Harry passou a mão nos cabelos rebeldes e encolheu os ombros.
- Os Malfoys não são do tipo que fazem algo por alguém sem querer algo me troca, então, tome cuidado, Harry. – Lupin deu um tapinha no ombro do garoto. – Eu quero que você se divirta enquanto estiver aqui, então você precisa estar na companhia das pessoas certas.
- Pode deixar, Moony, eu sei me cuidar. – Harry sorriu e despediu-se do professor.
Os corredores estavam completamente lotados, mas não foi difícil achar a cabeça loira abrindo caminho e vindo em direção a ele. Os outros saiam do caminho de Draco como súditos abrem caminho para um rei e o sorriso nos lábios dele mostrava que era exatamente assim que o loiro se sentia.
- Então, o que ele queria? Provavelmente disse pra você se afastar de mim, não foi?
- Ele não é a primeira pessoa hoje que me diz isso, se você quer saber. – Harry deu de ombros.
- Claro que não. – Draco bufou. – Ouça, amanhã de manhã eu me encontro com você na escadaria da entrada, está bem? Não se atrase, por favor.
- Amanhã? Eu achei que você só iria me acompanhar hoje. – O moreno franziu o cenho.
- Você não é muito esperto, é Harry? – Draco deu uma risada nasal. – Você não teve todas as aulas ainda, então não sabe onde são todas as salas. Ou sabe?
- Eu não encontraria nem as que eu já tive, na verdade. Esse colégio é muito grande.
- Exato. Então, você vai me esperar na escadaria e também não vai chegar atrasado. – Draco começou a andar e Harry o seguiu.
- Certo. Mais alguma ordem?
- Sim: pare de querer dar uma de engraçadinho. – Ele cerrou os olhos.
Harry apenas riu e deu de ombros. Estar com era Draco fácil, o garoto tinha esse jeito convencido e agia como se o mundo girasse em torno de si, mas não era exatamente assim. Harry percebeu logo que apesar do convencimento todo, Draco era um garoto legal – e um paraíso para seus olhos, é claro. Olhou para o lado e viu os lábios bem desenhados esticados em um sorriso irônico – Harry percebeu, também, que o loiro adorava dar esse tipo de sorriso –, os olhos cinza estavam fixos em um ponto à frente. Mas Harry não teve tempo de perguntar.
A mesma garota morena da aula de química e do almoço passou por ele como um furacão e jogou os braços ao redor do pescoço de Draco como se ele tivesse acabado de voltar da guerra. Harry franziu o cenho ao ver a expressão do loiro mudar e ele começar a rir abertamente, abraçando-a de volta. Alguma coisa queimou na boca do estômago do moreno, obrigando-o a desviar o olhar para ver o garoto negro que ele vira no almoço andar calmamente com a mochila pendurada em um dos ombros e as mãos dos bolsos dos jeans escuros.
Os dois se cumprimentaram com um aceno de cabeça antes de o garoto negro tocar o ombro da menina ainda agarrada a Draco. Ela deu uma risadinha e soltou-o, olhando para Harry como se estivesse pronta para gritar de horror.
- Oh meu Deus! O que são essas roupas? – Exclamou, levando ambas as mãos à boca teatralmente. Draco e o outro garoto gargalharam, enquanto Harry corava.
- Eu sei! – O loiro respondeu, rindo ainda. Apoiou a mão no ombro de Harry levemente. – Harry, estes são Pansy Parkinson e Blaise Zabini. – Indicou os dois com a mão livre displicente. – E este... – Deslizou a mão pelo braço do moreno antes de retirá-la para ajeitar a mochila no ombro. – É Harry Potter.
Harry olhou para o loiro e sorriu. Blaise acompanhou tudo com o olhar antes de virar para Pansy e sorrir maliciosamente, a menina que mantinha as sobrancelhas arqueadas apenas retribuiu.
- Bem, é um prazer conhecê-lo, Potter. – Blaise disse polidamente. Harry espantou-se um pouco. Ele foi o único a não fazer comentário algum sobre a lanchonete o dia inteiro.
- Olá, Potter. – Pansy acenou, balançando a mão, como uma criança.
- Oi. Hm... É um prazer. – O moreno deslizou as mãos pelos cabelos, envergonhado.
Os quatro começaram a andar juntos em direção à saída. Pansy agarrou-se ao braço de Draco que conversava alguma coisa com Blaise. Harry não estava prestando atenção.
- Draco, amor... – Pansy disse suavemente ao chegarem ao topo da escadaria. Harry virou a cabeça, rápido, para encará-la. A queimação na boca do estômago voltando. – Poderia nos dar uma carona hoje? – Draco sorriu.
- Já? – Encarou Blaise que apenas de ombros. – Okay, então. Vão na frente, já estou indo.
Pansy beijou-lhe a bochecha e começou a andar, puxando Blaise pela mão. Harry sentia-se inquieto com a cena que havia acabado de presenciar. Ele não sabia o porquê, mas ver aquela menina com cara de buldogue chamando Draco de "amor" deixou-o extremamente incomodado.
- Hey, Potter! – Harry assustou-se ao ouvir a voz de Draco exclamar em seu ouvido. Olhou o cinza dos olhos do garoto e esqueceu todo seu desconforto ao ver a expressão revoltada no rosto bonito. – Tava no mundo da lua, é? Vê se presta atenção. – Bateu de leve na nuca do moreno que soltou uma exclamação e sorriu.
- Desculpe, desculpe! – Ergueu as mãos abertas na altura da cabeça em sinal de rendimento.
- Tanto faz. – Draco fez um gesto de quem não se importa com as mãos e deu de ombros. – Perguntei como você vai pra casa.
- Acho que vou com o Moony. – Respondeu e franziu o cenho, lembrando-se de que não havia combinado nada com os pais.
- Bem, okay, então. – Draco apoiou a mão no ombro dele e apertou de leve. – Te vejo amanhã.
- É... – Harry observou o loiro andar altivo até uma menina suspirar duas vezes seguidas ao seu lado e sua curiosidade obrigá-lo a desviar o olhar.
Harry não disfarçou a surpresa ao ver seu padrinho, Sirius Black, andar até ele descontraído, usando uma bermuda surrada, camisa de botão praticamente toda aberta e chinelos. Sirius sorria alegremente, enquanto todos os alunos abriam passagem para ele e algumas meninas suspiravam. O garoto estava prestes a cavar um buraco no chão de cimento para se esconder de tanta vergonha, mas o padrinho já estava perto demais.
- Harry, meu amigo! – Exclamou Sirius, abrindo os braços como se fosse abraçá-lo, mas ao ver o pânico no rosto do afilhado apenas passou o braço redor dos ombros dele. – Como foi de primeiro dia?
- Tudo ótimo. Tive aula com o Moony. – Sorriu ainda um pouco envergonhado.
- Mesmo? – Riu alto. – Como foi que ele reagiu quando te viu? – Os olhos azuis acinzentados brilharam em divertimento. – Ele desmaiou?
- Claro que não, Padfoot! – Harry gargalhou. – Foi bem menos escandaloso do que você achou que seria.
- Oh, bem... Devo cinquentinha pro seu pai. – Deu de ombros. – Mas e aí, fez amigos? Quem era aquele garoto com quem você estava conversando?
- Sim, fiz alguns. – Sorriu ao lembrar-se de Ron e Hermione. – Ah, ele se chama Draco. É monitor e está me ajudando nesses primeiros dias.
- Draco? Esse nome não me é estranho... Draco de que? – Sirius ergueu a sobrancelha direita, assumindo uma expressão pensativa.
- Hm... Draco Malfoy. – Disse, mordendo o lábio inferior.
- O que? – Sirius arregalou os olhos, afastando-se logo do afilhado como se o garoto estivesse dando choque. – Onde você está com a cabeça, Harry? Malfoy? Você está virando amigo do Malfoy-miniatura? É isso mesmo? Seu pai vai ter uma síncope quando souber. Você vai ver. Tem merda na cabeça, garoto? – Padfoot falava rápido, sem perceber que Harry estava rolando os olhos, pouco se importando com as palavras do padrinho.
- Padfoot... – Uma voz calma soou atrás deles e os dois viraram-se para ver Remus parado, lançando olhares gelados para Sirius. – Isto é uma escola, Sirius. – Falou andando calmamente até eles. – Crianças estudam aqui. Tome mais cuidado com o que fala. – Sirius rolou os olhos e deu de ombros.
- Mas o Harry...
- Não me interessa. Pelo que eu e o resto da escola ouvimos você irá resolver com o pai dele, não é? – Remus cruzou os braços.
Sirius abriu a boca para retrucar, mas a visão de um homem alto, inteiramente vestido de preto, os cabelos oleosos e compridos saindo da escola o fez esquecer o que ia dizer e sorrir maliciosamente. Deu alguns passos à frente, ignorando Remus e parou de frente para Severus Snape.
- E aí, Seboso? – Padfoot cumprimentou tranqüilamente, como se não tivesse dito nada demais. Alguns alunos que passavam por perto arregalaram os olhos e tentaram transformar a risada numa tosse. – Faz um tempo, como a vida tá te tratando?
O rosto macilento de Snape ficou branco e depois vermelho. Remus, vendo aquilo não ia dar certo, interferiu. Segurou Sirius pelo braço e o puxou para perto.
- Está na hora de ir pra casa, Sirius. – Murmurou, olhando para Harry que prendia o riso.
- É, é, tudo bem. – O mais alto deu de ombros. – Tchau, Seboso.
