Nota:

Essa fic é uma continuação de Aniversário,envolvendo o mesmo casal.Tentei deixa-la o mais independente da outra possível,mesmo assim,se puder (e for do seu agrado,lógico),leia Aniversário antes,ok?

Agradecimentos a: Salina Angel Kail, Mo de Áries e Akane Mitsuko A.S.T.(pelas opiniões sinceras) e,especialmente a Carolly-Sohma e a Euuu (pelos pedidos de continuação).Espero,sinceramente,que gostem dessa pequena continuação.)

Legendas:

-... fala

( ) comentários do próprio personagem (lê-se:coisas que eu quis colocar,mas não soube onde encaixar x.x)

Shounen ai -- Kyo x Yuki

Brincadeira do Destino

Parte 1

Era uma manhã fria e chuvosa.Nenhum pássaro cantava e,salvo o barulho incessante das gotas,que a tudo castigavam,nada afirmava que ainda existia vida lá fora.

Suspiro.

É assim desde que você partiu.A natureza chora a sua ausência.

E,por mais que queira negar,eu também.

- Dois meses... – Sorrio,amargo.No início achei,ou melhor,tentei me convencer de que era só mais um treino fora da cidade.Os dias passavam,e eu os contava,como grãos de areia em uma ampulheta:não tentava impedi-los de cair,tampouco ansiava pelo momento de vira-la e começar outra vez,só...esperava,sem saber se te queria de volta ou não.

Mas,não fez diferença.Você não voltou.

Foi quando os outros desistiram de tentar esconder,fingir que nunca houvera um Kyo pra se importar,e finalmente me contaram a verdade.O porque de ter partido,e de nunca voltar.

Qualquer esperança de voltar a rotina morreu naquele momento.

Dor e humilhação,coragem e esperança,nada foi deixado de lado.Diante de mim,um outro Kyo surgia,alguém por trás da máscara de ódio,que amava,sorria e sofria como eu.

Descobrir isso foi pior que a morte.De fato,foi o golpe que faltava para meu mundo ir abaixo,soterrando minha alma sobre toneladas de escombros de culpa,mágoa e incerteza.

Meus olhos tinham sido abertos...

...mas agora,eu só queria fecha-los para sempre.

Doía tanto.

Me tranquei no quarto,tentando me livrar dos olhares de pena,e do seu fantasma,que parecia estar sempre por perto.Não ia a escola nem falava com ninguém.Tohru bem que tentava,batendo em minha porta de tempos em tempos,levando comida na qual eu mal tocava,e não raramente devolvia intacta,tentando,chorosa,me convencer a sair.Mas eu continuava lá,largado na cama,como um trapo inútil,sem vontade pra nada.

Pela primeira vez,não consegui me abrir com ela.

Foi quando começou.No início eram pesadelos,eu te via preso por uma coleira de metal,no quarto escuro em que eu fora criado,e Akito te batia,com toda a força e crueldade dignos do patriarca.Eu era obrigando a ver a sua dor,sem poder impedir,muito menos acordar.

Com o tempo,vieram as lembranças,momentos que passei ao seu lado,sempre lhe tratando como rival,nunca como amigo.Eram piores que os pesadelos,pois me mostravam meus próprios erros,de novo e de novo,esfregando na cara minha natureza desprezível e medíocre.

Por fim,vieram os sonhos,momentos imaginários que me deixavam fingir não haver dor e davam uma esperança insana de que tudo voltaria ao normal.Era o alivio que eu tanto implorava mas,era tão efêmero,que bastava acordar e a dor voltava,pior que nunca.

Nesses momentos me pego pensando em você,ou melhor,em seus sentimentos.E se eu te correspondesse?Você reagiria?E eu?Será que eu faria a diferença?Ou estaria aqui,condenado a dor do mesmo jeito?

Essas dúvidas me atormentam,pior,se misturam com sentimentos que não entendo,mas que sei que não deveria ter.Eu sou um condenado,implorando pelo golpe de misericórdia,rezando para que tenham pena de mim,e me matem antes que essas emoções o façam.

Era demais para a minha sanidade...

Eu disse que te odiava,e era verdade.Então,porque meu peito dói?Porque as lágrimas não abandonam meus olhos?

Foi tudo mentira?Até hoje,tudo não passou de uma grande farsa?

E o que eu sentia?Era real ou só medo,convenientemente disfarçado?

São tantas perguntas aqui,presas em meu coração,que ele dói,rachando mais a cada batida.O que vou fazer,quando ele não agüentar e quebrar?

Será...que dói por sua causa?

Não sei...só sei que só você poderá me consertar.

Mas não é certo.

Não posso deixa-lo consertar meu coração,pois já o entreguei a Tohru.Caberá a ela essa tarefa...mas ela não vai conseguir.

Droga!Se sei disso,porque insisto?

Não adianta mais dizer que você era só um rival,um estorvo,um nada

Negar a culpa,que me fere fundo.

Negar aquele beijo,que ainda me queima os lábios...

Seu cheiro e seu gosto ainda estão em mim,rondando,sempre a espreita.Essas suas marcas que me tomam,fortes e irracionais e,ao mesmo tempo,delicadas e predatórias,minando minha resistência a cada dia,hora,segundo.

Você é o meu predador.Só meu.

Então,porque hesito tanto em contar,o que admito pra mim mesmo?

Por ela...

Seria tão mais fácil enterrar tudo,ser feliz ao lado dela...

Era só ter dormido na casa do Hatori,como este me pediu...não teríamos nos encontrado...o estúpido beijo não aconteceria...e eu teria vivido o resto dos meus dias feliz.

Maldito destino!

Agora meu estado é lamentável!Estou trancado no quarto desde que partiu,sufocado por sentimentos que não deveria ter,ignorando tudo a minha volta com uma frieza digna do meu nome.

Nem mesmo com ela consigo falar,logo ela,que se debulha em lágrimas toda a noite.Ela chora por nós,maldito!Sente sua falta!Tenta ser forte e confortar a todos,mas está morrendo,murchando pouco a pouco bem diante dos meus olhos.

Assim como eu.

- Maldito...MALDITO! - Grito,com todas as forças,sem me importar em ser ouvido.

- Te odeio,seu idiota...te odeio,te odeio... - Repito sem parar,como um mantra,uma reza profana,na qual peço o total esquecimento:a dádiva da morte.

-...te odeio...te odeio...-Minha garganta arranha,a voz ficando mais fraca a cada sílaba,o quarto começa a rodar e minha vista escurece.Será que minhas preces foram ouvidas?A morte finalmente veio me buscar?

-...te...odeio...te...

-Yuki!

-...amo...

Continua?