"Eu aprendi...
...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda". (William Shakespeare).
Capítulo 1 –Início.
Sabe, a vida é uma grande baboseira. Andei pensando nisso por esses dias. Andei pensando em como existir é algo sem sabor e sem textura.
Viver é como morrer. Morrer todos os dias.
Morrer de cansaço.
Morrer de fome.
Morrer de sede.
Morrer de saudade.
Morrer de amor...
Morrer.
Simplesmente morrer.
Eu não costumo ser tão poético, desculpe se pareço um romancista falido de algum século passado, certamente não é minha intenção passar-lhe palavras amenas e afáveis. Não, não é.
Naturalmente sou um homem frio de poucas palavras. Alguém que gosta de ter sempre seu café quente na mesa e bons resultados nos papéis.
Pois bem, meu nome é Taishou. Sesshoumaru Taishou. Não me peça para eu ser simpático com você, porque certamente não serei.
Não gosto dessa coisa de que chamam de benevolência. Aos deuses! Eles que devem ser solidários. Bondade e compaixão eu deixo para os santos. Que a terra me consuma vivo se estiver pronunciando alguma sandice...
Sou um homem de quarenta anos, mas todos dizem que pareço ter muito menos idade. Pra mim, isso nunca significou grandes coisas, o dinheiro embeleza a gente, não é verdade? Eu sempre fui alto e com um porte físico comum. Tento me manter em forma e com uma boa aparência. Afinal, sou um homem de negócios e aparência é tudo nesse mundo.
Meus cabelos curtos e lisos já foram completamente dominados pelos fios prateados. Meus olhos são da cor do mel, são bem claros e profundos. Não tenho olheiras e nem cicatrizes, meu rosto é branco, quase pálido.
Eu não posso dizer que sou uma pessoa infeliz. Ora, ser infeliz morando no luxo, com um Porsche na garagem para os dias normais, um Malboro no bolso para as horas vagas e um Scotch para relaxar as tensões não parece ser nada mal, não é verdade?
Bem, você não deve saber o que é isso. Porque provavelmente você mora num daqueles apartamentos que mais parecem APERTAmentos em algum canto pobre da cidade. Não, você não vai gostar de mim. Não vai gostar do meu orgulho, da minha ironia amarga, da minha riqueza exacerbada, que provavelmente você nunca vai conseguir nem com um ano de trabalho sem gastar um tostão sequer. O quê você ganha a vida inteira é o que eu ganho em um mês. E o que você ganha em um mês não paga nem o meu almoço.
Mas deixemos isso de lado...
A história ainda não começou.
Ela começa agora.
...
Fitava o teto de cor arenosa do meu escritório sem nenhum motivo aparente. As persianas estavam escancaradas mostrando a enorme Tókio que crescia sem parar atrás de mim. Prédios enormes, escandalosos, letreiros brilhando, gente indo e vindo. Não havia sequer um ruído, a não ser do meu ar condicionado moderno que mantinha uma temperatura agradável no meu ambiente favorito.
Já era de noite. Uma noite quente do lado de fora.
Provavelmente todos do escritório tinham ido embora. Aquele bando de sanguessugas incompetentes que me olhavam com olhos ridiculamente assustados como se eu estivesse pronto a devorá-los como um canibal. Bem... Talvez eu passasse mesmo aquela impressão. E, não posso deixar de admitir que adoro isso.
Mas a questão toda não é essa. Estava cansado de mais. O dia havia sido cheio. Fiquei pensando se não estava perdendo a astúcia. O meu faro aguçado, meus ouvidos atentos, será que começavam a me trair? Não queria admitir, mas estava cansado. Cansado de mais para pensar em projetos, em como faria para atender a todos os clientes tanto em âmbito nacional como internacional. Aquilo tudo já me consumia a alma.
Mas o que eu poderia fazer se não prosseguir com os negócios da família? Eu era o único capaz de tal artimanha. Eu herdara a grande Siderúrgica Taishou e isso era tudo.
Fui aprisionado ao terno Armani, a gravata de seda, que me sufocava, e aos sapatos sociais italianos, que viviam sempre brilhando. Fui aprisionado a isso desde os dezessete anos. Meu pai, antes de morrer, sempre me dizia, quer dizer, gritava "Se não consegue ser um homem bem sucedido, Sesshoumaru, então você nunca será um homem de verdade".
Você pode pensar que isso foi uma grande lavagem cerebral. Entretanto era algo de que gostava de fazer parte. Ele conseguia me convencer a fazer o que ele queria do seu jeito. Como, por exemplo, a me dar uma Mercedes como meu primeiro carro. Ou àquela viajem que fiz a Paris por ter conseguido resolver um problema simples que ele havia me proposto. E entre tantos outros mimos que nem tenho mais recordações.
Ele me convenceu a gostar daquele mundo. Daquele mundo aonde dinheiro vinha em primeiro lugar, onde não havia espaço para nada sem ser o trabalho. A Siderúrgica nos sugava, nos consumia. Fazia com que vivêssemos dela. Bom, se bem que viver de dinheiro não é lá tão ruim como dizem por aí.
Mas aquela vida repetitiva... Não sei. Me nauseou. Nada era mais tão interessante.
Olhei para o relógio, que anunciou sem grande alarde, vinte horas. Mais um dia sem fazer nada de interessante. Pensei em sair, era sexta-feira. Mas sair pra onde? Ir ao bar tomar uma bebida relaxante enquanto fumava meu cigarro favorito? Aquilo era casual de mais. Corriqueiro. Tive vontade de sair pra jantar num bom restaurante, talvez o Temaki, um dos restaurantes mais caros da cidade. Mas sair sozinho... Aquela ideia me deu nos nervos.
Podia chamar Kikyou que era uma dessas inúteis que serviam para esquentar minha cama e dar o fora logo depois. Mas eu realmente não queria rever Kikyou. Já estava cansado de ouvir a voz enjoada dela, até mesmo seu cheiro já me deixava enojado. Não, eu não iria a convidar pra lugar algum. Se fosse a convidar pra algum lugar, certamente seria para o inferno.
Logo lembrei de Kagura como num estalo. Ela era uma mulher bonita, bem popular, de voz amena e sorriso falso. Não fazia escândalos. Eu a respeitava por ser quem era. Por ser a mulher mais discreta e mais bem vestida daquela cidade. Ela certamente tinha bom gosto, se um dia ela lhe convidar para ir até a mansão dela, não hesite. Mas isso certamente não irá acontecer...
Peguei meu celular do bolso, fui passando os inúmeros contatos da minha lista até chegar no nome dela. Disquei sem pestanejar. Três toques foram o suficiente para ela atender.
-Quem é vivo sempre aparece. –a voz feminina do outro lado da linha parecia sorrir.
-Está em casa? –indaguei com um sorriso no canto dos lábios.
-Estou sim. Mas o quê será que o senhor Taishou quer comigo numa sexta-feira as oito da noite?
-Queria lhe chamar para ir ao Temaki. –falei sem pestanejar. –O quê você me diz?
-Mas agora? –ela riu de forma irônica. –por que acha que eu já não tenho nenhum compromisso, Sesshoumaru?
-Bem, eu não sei se você tem algum compromisso, –sorri irônico –mas se tiver sei que irá desmarcar qualquer coisa para sair comigo essa noite.
-Como você é prepotente. –ela riu como se meu jogo a divertisse.
-Estou errado?
-A que horas você vem me buscar?
-Às dez horas está bom pra você?
-Está ótimo. Espero por você.
Desliguei sem falar mais nada. Era sempre fácil a convencer no fim das contas.
...
Fiquei parado na frente da mansão dos Miyamoto. Um dos seguranças me reconheceu assim que viu o meu Porsche preto apontando na direção da entrada. Os portões se abriram automaticamente e pude seguir um pequeno caminho, cortando o jardim até a entrada da mansão.
Kagura já estava lá me esperando pacientemente e bem arrumada como de costume. Kagura é uma mulher bonita e dona de olhos castanhos-avermelhados. Sempre que a fito tenho a sensação de estar entrando num mar de fogo profundo. Seu cabelo liso é de um negro brilhoso, mas não são muito cumpridos, chegam somente até os ombros.
Ela usava uma maquiagem nos olhos que destacavam mais ainda seu mar de lava. Um batom escuro nos lábios polpudos e um tom rosado nas bochechas que lhe tiraram a palidez.
Kagura ficou perfeita com seu vestido um pouco justo ao corpo da cor azul marinho. O vestido só possuía uma alça grosa e deixava as costas nuas. Usava nos pés uma sandália preta de salto que a fez ficar um pouco mais alta, mas ainda assim nem chegava perto do meu tamanho.
Percebi então quando ela se aproximou do carro que usava os brincos de ouro que havia lhe dado. Duas folhas que pendiam discretamente pela orelha.
Ela riu ao me ver. Entrou no carro com delicadeza, fechou a porta e logo voltou-se para mim.
-Dez em ponto. Você nunca se atrasa.
-Queria que eu me atrasasse? –sorri irônico. –Está reclamando da minha pontualidade?
-Claro que não. Estou só... Como se diz... Elogiando?
-Engraçadinha...
-Vamos, estou com fome. –ela riu brevemente. –E você?
-Sedento... –eu lhe lancei um sorriso malicioso. –Ainda mais quando olhei pra você.
Kagura somente riu do meu comentário capcioso. Girei a chave, o motor roncou gravemente e não demorou muito para passarmos pelos portões enormes da mansão.
...
Sabe, eu poderia ter me casado com Kagura quando tive chance. A família Miyamoto também era tão rica e poderosa como a minha. Teria investidores incríveis no meu calcanhar se tivesse me deixado levar pela razão.
Seria fácil, tão fácil viver ao lado dela. Ela estaria preocupada demais com os perfumes da Dolce Gabanna e da Dior, vestiria Prada quando quisesse, compraria algumas bolsas da Victor Hugo. Estaria sempre tão preocupada em se vestir bem, em estar bonita, bem arrumada que não teríamos tempo para brigar. Ela passaria mais tempo lendo a Vogue do que falando comigo.
Ela não me faria perder tempo com assuntos do dia-a-dia, não me perguntaria se eu me sentia bem, se eu gostaria de fazer algum passeio num domingo à tarde, se eu poderia levá-la para viajar nas férias, que pra mim nunca existiram. Ela nunca seria capaz de me sufocar, de me afastar do meu trabalho. Kagura não perderia tempo com essas coisas. Ela as achava tão irrelevantes como eu.
Seriamos um casal silencioso. Teríamos alguns casos extraconjugais, mas não nos odiaríamos por isso. Fingiríamos que nada acontecia, pousaríamos para fotos de revista com um sorriso que não nos é característico e fim de história. Seria vazio, mas muito mais simples.
Mas eu, Sesshoumaru Taishou, sempre acabei seguindo o caminho mais difícil...
...
Jantamos naquela noite tranquilamente. Ela tagarelava sem parar coisas como o meu trabalho, sua família, seu dinheiro, sua recente viagem a Bali uma província da Indonésia. Não entendi o que ela foi fazer por lá, mas resolvi não perguntar. Ela falaria daquela viagem a noite inteira...
Enfim, ela me falava coisas as quais eu fingia que escutava. Meu silêncio e meu aceno eram o suficiente para ela. Não que Kagura fosse uma pessoa desagradável, não era, mas naquela noite tudo estava repetitivo e monótono de mais. Não fazia ideia que até mesmo Kagura estava na minha lista de coisas que estava cansado.
Seu celular tocou de forma branda. Ela fez menção de não atender, mas eu a liberei das boas maneiras à mesa. Disse que poderia ser algo importante. Não se deve negar uma ligação, eu pelo menos, nunca as ignorei. Se fizesse isso com frequencia provavelmente não teria metade dos investidores que possuo.
-Me desculpe, Sesshoumaru. –ela voltou-se para mim com os olhos arrependidos colocando o celular de volta na bolsa.
-Não é nada grave. Eu compreendo.
-Era meu pai no telefone, meu irmão está tendo outra crise, preciso ir pra casa.
-Tudo bem, eu a levo. –assenti.
-Não, não precisa. –ela me interceptou um pouco constrangida. –Eu vou pegar um táxi aqui na porta e já estarei em casa. Você ainda nem terminou de comer.
-Não tem importância.
-Por favor, vou me sentir péssima se sair daqui correndo por causa do meu irmão... Não irei me sentir à vontade no caminho.
-Está falando sério? –indaguei incrédulo.
-Eu ligo quando chegar. Desculpe por sair correndo dessa maneira.
-Kagura...
Eu a chamei em vão, ela já havia se levantado e saído o mais rápido que podia.
Kagura sentia vergonha do irmão mais velho, mas não era pra menos. Naraku era praticamente um morador nas clínicas de reabilitação. Era alcoólatra. Não fazia nada pra ninguém, era um inútil. Se morresse ninguém choraria por ele.
...
Paguei a conta e pensei em ir embora. Aquela noite havia sido perdida. Não tinha planejado um fim de noite como aquele.
Mas estranhamente não senti vontade de partir...
E até hoje me pergunto por que não o fiz?
Teria sido melhor... Eu não teria me perdido pra sempre.
Resolvi ir até o bar que ficava no fundo do restaurante. Não havia muita gente ali. Os bancos ficavam recostados numa bancada de mogno bem polido e bem cuidado. Sentei-me no canto, longe de qualquer um.
Pedi um Whisky Cowboy ao Barman que usava um uniforme completamente preto e uma bandana vermelho sangue. Ele era jovem, tinha um sorriso sincero nos lábios. Um sorriso estranho pra mim. Não conseguiria me ver fazendo aquele trabalho com alegria.
Ele me serviu em poucos instantes.
Tomei a dose sem pestanejar. A bebida já não descia ardendo fazia tempo...
Pedi mais uma dose ao garçom de sorriso fácil e no mesmo momento algo inacreditável aconteceu.
Uma jovem sentou-se no banco, bem ao meu lado.
Ela devia ser uns quinze anos mais nova do que eu.
Não sei se foram seus modos ou o jeito que ela apareceu, mas me fez ficar abismado. Completamente sem fala, sem reação. Como se isso fosse característico de minha parte.
Olhei para ela de relance e pude ver o quanto era assustadoramente bonita e singela.
Ela tinha seus cabelos longos bem negros e brilhosos. Seus olhos eram castanhos-chocolates. A pele branca, mas rosada nas maçãs do rosto, um toque que parecia natural. Não aparentava estar maquiada, só notei um discreto batom nos lábios.
Seu corpo era algo que não poderia passar despercebido aos olhos de ninguém. Era atraente, sem sombra de dúvidas. Ela usava uma blusa verde musgo sem alça bem justa ao corpo e uma saia alta preta acima dos joelhos. Uma sandália preta de salto fino completava a obra.
Ela nem sequer olhou pra mim. Chamou o Barman, que já havia deixado meu Whisky encima da bancada.
-Por favor, um vinho tinto. –ela falou e sua voz doce saiu soprando.
O Barman assentiu, pegou uma taça e a encheu com o líquido escuro. Colocou na frente da menina que agradeceu e pôs-se a saborear aquele vinho como se estivesse esperando por aquele momento o dia inteiro.
Ela estava mexendo comigo sem nem ao menos ter falado qualquer palavra. Senti-me acuado, sem rumo. Não gostei daquela sensação que ela me causou. Daquele atordoamento gratuito, se é que posso chamar assim.
Pensei em levantar, sair dali o mais rápido que podia. Talvez fosse falta de nicotina aquela angústia.
E assim que elevei-me, ela fez o mesmo movimento tão rápido como eu. E adivinhem só... Ela conseguiu entornar vinho tinto no meu Armani novinho... Poderia ter sido em algum Tweed meu que eu odiava, mas não. Tinha que ter sido no meu Armani.
É claro que ela arregalou os olhos completamente sem jeito e deu um espasmo com o susto de me ver com a roupa manchada. E eu, devo ter ficado com aquela cara que tipicamente fazemos, algo do tipo Não acredito que isso está acontecendo comigo. Pois bem, não sei descrever essa expressão, mas qualquer um certamente a conhece.
-Me perdoe, por favor! Não foi minha intenção. –ela falou rápido como se estivesse desesperada.
-Esqueça. –eu lhe falei tentando limpar com um guardanapo de pano o estrago que ela havia feito em minha roupa.
-Eu sinto muito, sinto muito mesmo. Me perdoe. –ela lamentou-se de uma forma engraçada. –Eu sou muito idiota, muito desastrada.
-Esqueça, está tudo bem... –voltei a fitá-la.
Bom, maldita hora que fiz isso. Maldita hora que encarei aqueles olhos chocolates... Eu fiquei perdido. Completamente atônito. Ela me causou uma sensação esquisita. Tive vontade de fugir e permanecer.
Que asneira, eu sei. Mas ela sempre me causou sensações como essas... E nada que viesse dela parecia ser tão incomum assim. Nada era uma besteira absurda quando se tratava dela.
Ela tentou me ajudar a limpar a mancha com o guardanapo de pano, mas eu sabia bem que não sairia. Ela estava completamente sem jeito, extremamente arrependida de ter me causado aquele transtorno.
-Eu sinto tanto, de verdade. Eu nem sei o que dizer.
-Que tal me dizer o seu nome? –eu sorri largando o guardanapo de pano encima da bancada de mogno.
-Meu nome? –ela indagou sem entender.
-É. –falei como se fosse óbvio. –Você tem um, não tem?
-É Watanabi. Rin Watanabi... Mas pode me chamar só de Rin.
-Prazer Rin. Meu nome é Taishou. Sesshoumaru Taishou. –eu sorri de forma irônica. –Já que você arruinou a minha roupa, acho que me deve pelo menos uma conversa, o quê me diz?
-Ah! Bem... Por que não? –ela riu de maneira inocente dando de ombros.
...
CONTINUA...
Nota da Autora:
Pois é, sou eu mesma de novo com outra fic.
Eu sei, eu não sossego. Hahaha
É que eu tenho tido muitas ideias por esses dias e as férias estão me consumindo...
Ou eu estou tocando guitarra ou estou aqui escrevendo alguma fic do Sesshoumaru e da Rin.
Enfim, espero que me suportem!
Estou com três fics desse casal em andamento e prometo que não irei abandonar nenhuma delas.
Mas o quê acharam? Bem eu gostei de ser o Sesshoumaru. Espero que tenham gostado desse jeito prepotente dele.
Espero que tenha agradado. ^^
Um grande beijo!
Até o capítulo 2 ^^!
