DESTINOS

Narrativa em plano paralelo à estória original.

Aborda as personagens principais sob aspectos mais dramáticos/ literários do que propriamente ação, característico da série.

Tentei ao máximo não descaracterizar as personagens principais, mas nem sempre o escritor consegue não deixar suas marcas...

Aos que gostam deste tipo de abordagem, boa leitura!


CAP. I – O INÍCIO

Austin, Texas, alguns meses após a morte de John Winchester.

- Os dois, mão na cabeça, ajoelhem-se!! Gritava o policial mirando a arma em direção aos irmãos Winchester.

"Como podemos ser tão idiotas? Invadir uma casa num bairro nobre, e pensar que não seríamos notados!"- Pensava Sam, odiando o irmão mais velho pelo fato de ter perdido suas credenciais de polícia em algum inferninho, e que agora seriam muito úteis para livrar a barra deles...

- Ora, seu guarda, não estamos fazendo nada demais, só admirando a construção - Disse descaradamente Dean, se maldizendo também por ter largado as credencias sabe Deus onde, ou melhor, sabe o Diabo onde...

- Calem a boca imbecis! Recebemos um chamado pra esta região, e justamente bate com a descrição de vocês, que coincidência... – Disse o policial, no momento em que chegavam mais duas viaturas, além de uma moto em alta velocidade.

Os dois ajoelhados no chão, já maquinando como escapar daquela situação, acabaram distraídos por uma voz feminina, aveludada e ao mesmo tempo forte, de comando, ressoando entre as sirenes da polícia e os latidos dos cães da vizinhança.

- Podem soltá-los, eles agora são assunto meu. - Disse.

"Assunto dela?" - os dois pensaram, espantados voltando-se em direção àquela voz.

Caminhando em direção a eles, passos tranquilos e firmes, uma silhueta feminina que não deixava nada a desejar às Deusas da mitologia grega.

Valery Rood era uma mulher daquelas que os homens têm medo, ameaçadoras. Seu semblante, escondido atrás dos óculos escuros despertava dureza e ao mesmo tempo fascínio a quem o reparasse, pois escondia tanto mistério que os mais corajosos homens sequer desejavam desvendar...

Era linha dura, dado ao cargo que cumpria.

Quando a polícia não conseguia solucionar algum homicídio, sem explicação, eram acionados alguns 'agentes especiais', e Valery fazia parte desta lista.

Investigava assassinatos incoerentes, que não deixavam traços ou eram realizados sem a mínima lógica, qualquer coisa fora do alcançe do 'longo braço da lei'...

E lá estava ela, na realidade no rastro de duas pessoas bem vivas, por sinal.

- E por acaso quem é você!! - Berrou o policial responsável pela operação.

Sem parar de caminhar, Valery apenas levantou a barra da jaqueta marrom de couro que usava, deixando à mostra seu distintivo do cinto, com um selo na lateral, que identificava de qual 'divisão' ela pertencia. Na realidade o chefe de polícia da cidade já havia sido comunicado de que um agente passaria por lá, e como era meio que uma 'lenda' esta divisão, não pôs muita fé no comunicado, mas agora que estava constatando a verdade, ficou sem graça diante de seus colegas, que se cutucavam entre si cochichando sobre quem era a tal mulher de voz de comando tão tentadora...

- Ok pessoal, bater em retirada, pra próxima ocorrência, não há mais nada a fazer aqui, vamos, vamos... - Berrou o chefe, entrando no carro sob os risos abafados de sua equipe, que não entendia o porquê do comandante acatar uma ordem de retirada de uma mulher, que nem conheciam.

- Boa tarde senhores, lamento pelo mau jeito dos meus colegas, e por favor me avisem se vão continuar ajoelhados, para que eu já me prepare para a dor do meu pescoço ao falar - Ajeitou os óculos no rosto, os cabelos longos castanhos teimavam em cobrir-lhe as laterais da face, ventava muito naqueles dias de outono.

"- Assunto dela?"- Pensavam, ainda sem entender o que estava acontecendo, e se levantando rapidamente depois do comentário sarcástico da suposta policial.

- Queiram me acompanhar, por gentileza - virou-se e começou a andar em direção aos fundos da mansão, quando um dos irmãos lançou:

- E por acaso quem seria 'vossa senhoria', a quem deveríamos seguir... - Dean debochou do jeito da mulher, que lhe parecera arrogante e prepotente só porque ostentava um distintivo.

De alguma forma ela lhe despertava algo que nunca experimentara, ao ver uma mulher.

- Não importa neste momento, importa que temos um trabalho a fazer.

Os irmãos se entreolharam e se perguntavam se ela realmente sabia quem eles eram e o que faziam ali.

- Desculpe-me mas se 'temos um trabalho a fazer', não é melhor que nós sejamos apresentados primeiro? - Sam lançou um olhar curioso e ao mesmo tempo inocente, sendo otimista diante daquela situação inusitada.

- Ah, que bom, pelo menos um de vocês é sociável - Respondeu Valery virando-se e mantendo o semblante frio, tirando os óculos e revelando os belos olhos castanhos que a natureza lhe deu, pena que neles só havia frio...

Frio esse que incomodou Dean, fazendo com que ajeitasse a jaqueta e fizesse uma careta de reprovação diante do comentário novamente sarcástico dela.

- Por acaso sabe quem somos nós? Perguntou Dean.

- Sim, só pensei que fossem mais espertos... Se deixaram pegar pelos guardinhas locais... - Deu um meio-riso de deboche.

Dean queria partir para a ignorância, sendo segurado pelo seu irmão.

- Ora, sua...

- Escute, se realmente sabe quem somos... Dizia Sam, quando Valery completou:

- Vocês são Dean e Sam Winchester, filhos do John, caçadores como seu pai, e finalmente tenho o prazer de conhecê-los!


CAP. II – ENCONTRO

Os irmãos se espantaram porque ela os conhecia, e principalmente conhecia seu pai.

- Já que vocês fazem questão, me apresento. Valery Rood, detetive de uma 'divisão especial' do FBI, nasci em Sacramento/ Califórnia, sou do signo de escorpião, gosto de comida mexicana, meu pijama é de bolinhas e tenho uma bela tatuagem num lugar onde vocês nunca em vida e talvez nem em morte saberão... Suficiente pra vocês? – Ironicamente sorriu, sem parar de caminhar em direção aos fundos da mansão onde havia a suspeita de ser o local da desova dos corpos das crianças desaparecidas.

- Hum, faltaram algumas coisas, como por exemplo qual o número da ferradura que você calça... – Retrucou Dean, sendo repreendido pelo irmão com uma cutucada.

- Ah, além de idiota é mal-educado! – Virou-se Valery levantando uma das sobrancelhas, o olhando com desdém, pois desde que lançou os olhos sobre ele, sabia que ele não era flor que se cheirasse, e ele a incomodou, mesmo sem ter dito uma única palavra.

- Hey, vamos com calma, pessoal! Se estamos a trabalho aqui, melhor começarmos logo do que ficar se ofendendo gratuitamente... – Ponderou Sam, levando a mão no peito de Dean, já com vontade de arrebentar a cara daquela mulherzinha que se achava.

- Entenda, Valery, ficamos meio confusos com sua aparição... Estamos acostumados a fugir da polícia, não a ser ajudados por ela – Introduziu Sam aos esclarecimentos que queria.

- Bom, esta 'divisão especial' trata justamente de assuntos que pra polícia ficam sem solução, e de vez em quando agentes como eu são chamados. Mas este caso escolhi pessoalmente assumir, já que soube que vocês também estavam nesta pista, por isso acabei montando este esquema todo pra que vocês tivessem facilidade em entrar neste condomínio, serem capturados, para poder me encontrar com vocês. Daí vocês perguntam: "Não era mais fácil ela nos procurar e conversar numa boa do que armar tudo isso?" Eu respondo: "Oras, que graça teria??" - E riu de forma sarcástica, deixando Dean extremamente irritado.

- Muito bem, Sra. Engraçadinha, nos pegou, agora qual é? E como conhece nosso pai? Perguntou Dean.

- É uma longa história, que conto mais tarde. Por hora, quero que saibam que precisamos trabalhar juntos nisso, pois todos temos informações importantes e conhecimentos idem para poder solucionar este caso. Preciso da ajuda de vocês, exímios caçadores e conhecedores de lendas, e vocês precisam de mim, facilitadora infiltrada na polícia, dando cobertura. E então, topam trabalhar nestas condições? – Perguntou Valery, parando em frente aos irmãos, cruzando os braços, esperando uma resposta afirmativa deles.

- E o que você acha que sabe sobre nosso trabalho, Valery? – Perguntou Dean desafiador.

- Muito mais do que você imagina que eu possa saber – Ela respondeu, chegando no final do quintal, que dava para um terreno baldio, tendo como cerca arbustos emaranhados, e afastou alguns, revelando o que parecia um pedaço do inferno para qualquer outro ser humano.

- É isso aí, vocês estavam certos na pista. – Valery fez um sinal para os irmãos se aproximarem e constatarem que ali, estava uma das cenas mais chocantes que viram em toda a caminhada deles.

Uma pilha de esqueletos de crianças, misturados com vários corpos em decomposição espalhados por toda a extensão do terreno, formando um bizarro cemitério infantil a céu aberto, rodeado de urubus e vermes da terra que comiam os restos do que um dia foram crianças felizes e sadias.


Os irmãos se entreolharam indignados com cruel paisagem.

- É sempre chocante trabalhar com inocentes assim – Respondeu a detetive reparando nos semblantes, igual ao dela.

- É, geralmente não tratamos com as vítimas, só as 'causas' das mortes – Sam tapou a boca e o nariz, se aproximando mais do terreno baldio.

- Pela direção do vento ninguém conseguiria imaginar que havia algo aqui, pois o cheiro está indo pra direção oposta das outras casas – Dean se aproximou também.

- Será que encontraremos alguma coisa aqui? – Sam perguntava ainda indignado com o que encontraram.

Valery colocou as mãos nos bolsos da jaqueta, virou-se para a direção da cidade, e sussurrou:

- Quantas famílias, quanta dor...

Para qualquer um tudo aquilo era assustador, mas infelizmente para os três, era rotina lidar com a dor, deles e de outras pessoas.

Os irmãos voltaram-se para a detetive, tentando escutar o que ela havia dito.

- E então, nós mesmos é que faremos o trabalho sujo? – Dean reclamou alto para Valery, que estava distante dos dois.

Ela virou sua cabeça em direção a eles, e manteve seu semblante frio.

- Talvez, se não estiverem a fim de dar uma olhada por aqui, eu mando alguns homens realizarem a 'limpeza' do local, e separarem qualquer coisa que pareça importante. Mas de qualquer forma, vamos dar uma olhada nós mesmos, pois aos nossos olhos não escapam coisas que aos olhos dos outros seriam... Estranhas.

- Ok, começamos então pelo leste, até chegar ao centro do terreno, e você vai para o outro lado, pode ser? – Sam já se encaminhava para dar início ao reconhecimento, quando o mais velho cochichou:

- E quem Diabos é ela, hein, Sam? Parece que ela saiu de um filme de terror, sabe? – Dean se abaixava olhando os restos mortais das crianças tentando encontrar algo.

- Ora, Dean, já que ela sabe quem somos, que tal dar um crédito pra ela e trabalhar em paz, hein? – Sam repreendia o irmão.

- Ok, mas se acontecer algo suspeito, qualquer coisa, eu juro que tomo uma atitude – Dean olhava em direção ao outro lado do terreno, onde estava a detetive, andando calmamente de cabeça baixa também á procura de algo que pudesse ajudar na investigação.

- Ah é, e o que você vai fazer? Dar um tiro na cabeça dela??

- Hum... talvez... – Dean riu, pois pela arrogância dela, na opinião dele, bem que ela merecia...

Sam revirou os olhos, e ignorou o irmão, continuando o trabalho.

Depois de algumas horas, já havia duas viaturas com peritos processando o local.

- Bem, achamos alguns pertences pessoais, que facilitarão a identificação das vítimas. Mas por favor, oficial, nada de imprensa neste caso!!

- Ok detetive Rood, você sabe que é difícil esconder algo assim, mas faremos o mais discreto possível...

Os três entregaram os pertences, e ficaram com alguns itens mais interessantes, como recibos, papéis com anotações e alguns objetos mais estranhos à cena geral.

- Um cálice, cacos de vidro... Isso está parecendo parte de alguma espécie de ritual... Sam olhava atentamente os objetos separados.

- Usando crianças? É, nada muito fora do comum... – Dean concluiu, e observou que Valery assumira um ar extremamente furioso, tirando seus óculos de sol e cerrando levemente seus punhos.

- Eles voltaram... – Valery voltou-se em direção á cidade novamente.

Os irmãos não entenderam muito bem, mas continuaram as especulações.

- Vamos, não podemos perder muito tempo, a matança só vai acabar quando alguém der um basta, e este, senhores, é nosso trabalho aqui em Austin!

Valery rapidamente saiu do terreno e foi falar com o chefe de polícia que estava comandando a limpeza.

- O que será que ela sabe a respeito, Sam?

- Não sei, mas certamente saberemos em breve... Os irmãos a seguiram.

- Senhores, em breve teremos novas informações para chegar direto ao ponto... O chefe de polícia irá investigar alguns dados que passei pra ele, e enquanto isso aguardamos, infelizmente... Mas enquanto aguardamos, vamos nos instalar, descansar um pouco, acredito que nem deu tempo de procurar algum hotel, não? – Valery já se encaminhava em direção à sua Shadow vermelha.

- Tem um hotel não muito longe daqui, acho que estará bom para nós – Valery subiu na moto e colocou seu capacete – Sigam-me...

Os irmãos entraram no carro achando tudo aquilo fora de contexto...

- Cara, estou me sentindo uma marionete! Porque não damos o fora logo nela e seguimos nossas próprias pistas? – Dean se irritou com a competição do barulho dos motores dos veículos.

- Dean, pense bem, ela é uma importante aliada neste trabalho, parece-me que ela é bem esperta, e deve saber bastante coisa a respeito deste caso – Sam tentava conter o irmão.

- Ah, então fazemos assim: Deixamos este caso pra ela e pronto, já que ela sabe mais do que a gente!

Sam virou-se para o irmão com os olhos arregalados.

- O quê? Dean Winchester recusando serviço?? Hey, é você mesmo aí dentro?? Sam cutucou o irmão, provocando-o.

Dean deu uma arrancada no carro, para não ficar muito atrás da moto...


Chegando ao hotel, desta vez quem deu os nomes falsos foi a policial.

- Ah, então senhora... Zelle, e senhores... Shatner e...Nimoy... É um prazer recebê-los aqui, por favor, eu os levo até seus quartos! – Com a animação de uma recepcionista do Sheraton, a moça levou-os até os quartos, característicos de um hotel de beira de estrada...

- Certo, senhores, descansem da viagem, pois à noite começaremos nosso trabalho...

Valery se dirigiu até a porta de seu quarto, quando Dean perguntou:

- Hey, como saberemos se realmente você está falando a verdade? Quer dizer, esta história toda, é estranha demais até pra gente!... Dean a desafiava – Você aparecer do nada, se meter no nosso trabalho assim e ficar dando ordens pra gente, a realidade é que tudo isso não está me cheirando bem! – Dean cruzou os braços, e Sam fez uma careta não acreditando no que o irmão acabava de dizer.

A detetive tirou os óculos calmamente, e olhou diretamente para Dean.

Uma pena que nesta troca de olhares não se podia ver as faíscas que saíam, pois daria um belo espetáculo pirotécnico...

- Entendo sua preocupação, realmente até eu estranharia receber ajuda de alguém desconhecido... Mesmo se eu lhe der minha palavra, sei que não confiaria. Então, que me resta fazer? É você quem me diz...

Dean pensou um pouco, sem desviar o olhar daqueles olhos castanhos totalmente misteriosos...

-Dean, por favor, chega de brigas, ok? Sam o puxou pela manga da jaqueta, irritado com toda a desconfiança do irmão.

- É você quem me diz... – Repetiu, continuando seu caminho até o quarto.

Os irmãos também se dirigiram ao seu quarto, e Dean pensava como que uma mulher daquelas podia sacudir daquele jeito a 'rotina' de trabalho deles...

- Dean, nem vou discutir com você, tá legal? Estamos cansados, famintos, e eu não estou nem um pouco a fim de ficar acordado conversando até chegar a lugar nenhum... Sam largou sua mochila na mesa, e logo deitou-se na cama simples, porém limpa.

- Ok, Sammy, desta vez eu vou deixar você dormir, ok? - Dean deixou seus pertences ao lado dos de Sam, e saiu em busca de comida.


Voltando das compras, Dean deixou os pacotes na mesa, se serviu e foi conferir e organizar seu armamento, guardado no fundo falso do porta-malas do Impala.

-Se quiser limpá-las, tenho algumas coisas úteis... Valery havia escutado o barulho de portas de carro batendo quase em frente ao seu quarto, e foi conferir o que era.

Mais calmo por estar de barriga cheia, fechou rapidamente o porta-malas e virou-se para responder a detetive.

- Ah, não, muito obrigado, eu sei como cuidar dos meus brinquedos muito bem sem ajuda...

- Ora, Dean, eu sei que começamos com o pé esquerdo, mas como caçadores você sabe que temos muitas coisas em comum... De uma maneira ou de outra.

Valery segurava uma Desert Eagle com a graça de quem segura um buquê de flores.

- Detetive, acho que está enganada, pois eu não sou tão parecido assim com você... Você é mulher, e o que entende de armas deve ter aprendido na academia, ou seja, pouca coisa...

- É, realmente posso estar enganada, pois eu não sou machista nem estúpida...

Novamente havia um desconforto entre os dois caçadores. Permaneceram num breve silêncio se encarando, ambos imaginando como poderia existir alguém tão... Inacreditável.

- Ok, faça o que achar melhor... Valery se virou para voltar para seu quarto, quando Dean percebeu que lá dentro haviam coisas que o interessariam de verdade, como por exemplo um belo arsenal transportável numa moto... Ele pensou que ela poderia ter mais munição que eles usavam, e pouparia tempo e principalmente dinheiro para buscar no fornecedor mais próximo...

- Hey, espere um pouco... Tudo bem, vou confiar em você... Vamos ver o que você tem aí...

Agir assim era uma maneira de conhecer qual o armamento que ela utilizava, e numa pior hipótese, o que ela usaria contra eles...

- Ah, mudou de idéia? Pode ser que você se frustre, não... Encontrar só armamento de polícia pra você deve ser maçante...

Valery entrou primeiro no quarto, e continuou a organizar seu pequeno, mas notável arsenal: Além da arma que segurava, mais duas pistolas automáticas, um rifle Winchester antigo, vários punhais de prata, pequenas garrafas de vidro e muita munição com diversas cargas...

- E então, se quiser levar os limpadores fique à vontade, eu já os usei, estava guardando... Valery mexia nos acessórios, montando um silenciador na sua arma em punho.

Dean se impressionou com a quantidade de 'brinquedos' que aquela mulher tinha, mas nunca diria para não ficar por baixo:

- Pode ser... Dean deu uma discreta olhada no quarto, e viu que ela carregava realmente pouca coisa, assim como ele e seu irmão. Sabia que a vida que levavam não era nada glamurosa, e não se davam ao luxo de carregar muitos pertences por conta da transitoriedade, e isso era realmente uma das coisas que eles tinham em comum...

- Se precisarem de munição, eu tenho algumas de reserva, mas é bom ver logo pra que possamos providenciar no tempo certo... Valery terminou de montar o silenciador, e calmamente virou-se para Dean, que estava de costas para uma parede onde se encostava uma velha cristaleira e apontou sua arma.

- Não... Se... Mexa... Sussurrou a detetive, olhando firmemente nos olhos de Dean.

- Mas o que... Dean arregalou os olhos, e este foi um dos raros momentos em que ele ficou sem reação.

Valery fez um gesto de silêncio com a mão que estava livre, e atirou em direção a Dean, que imóvel, pôde sentir o barulho causado pela bala no lado esquerdo de sua cabeça.

- Mas o que... Dean virou-se para ver no que a policial havia atirado, e viu os pedaços de um rato bem grande, espalhados dentro da cristaleira.

- Detesto ratos... Mais até do que fantasmas!!... – Valery suspirou fundo, e Dean não podia acreditar no que havia acontecido ali.

- Você é louca! Sabia que podia ter me matado!!??

- Ah, vai me dizer que você não confia na sua mira... Eu confio na minha! – Ela calmamente desmontou o silenciador e limpava a arma que acabara de usar.

- E você acha que depois dessa eu posso confiar em você!! – Dean novamente tinha vontade de acabar com a raça daquela mulher, que além de arrogante mostrava-se insana...

Ela voltou-se para ele, e viu seus olhos verdes brilharem de ódio.

- Olha Dean, lamento se você se incomodou com a, digamos, brincadeira... E no mais, o que eu ganharia matando você? Nada...

Dean sabia que no fundo ela estava certa, pois para terem chegado até ali, de uma forma ou de outra ambos sabiam que podiam confiar um no outro, mesmo não se dando tão bem...

- Pelo contrário, eu preciso de... Vocês, bem vivos neste trabalho... – Valery soltou essa frase sem pensar, e agradeceu pela luz que entrava no quarto ser tão difusa a ponto de Dean não perceber que ela ficou com seu rosto levemente corado.

- Então nunca mais aponte uma arma pra mim detetive, pois desta vez você teve sorte de não estar armado... – Dean saiu do quarto, enfurecido por ter passado aquela situação, e impressionado com a mira certeira e o sangue frio da policial...

'- Ela é simplesmente louca!'- Dean pensava a caminho de volta pro quarto.

Mas pensava também que seria muito bom ter alguém tão... Competente para trabalhar em parceria.

Viu seu irmão desmaiado na cama, e deitou-se ao lado dele, pensando no quanto sentia a falta de seu pai, mesmo que fosse para ficar em silêncio ao lado dele, lhe fazendo companhia.

Começou a pensar que a presença da policial até que poderia ser bom para eles, que estavam se sentindo vazios depois da morte de seu pai, e que ela seria uma ótima aliada, mesmo que fosse somente neste trabalho.

' – Medo de ratos...' - Dean cruzou os braços sob a cabeça, rindo sozinho...


Cap. III - RESPOSTAS

Já estava escuro, e Sam saiu do quarto em direção ao estacionamento, quando encontrou um papel no chão que lhe chamou a atenção.

"Criança desaparecida" – Sam leu o panfleto, montado de maneira urgente e simples, tal como a pressa dos pais em encontrar aquela garotinha de olhos azuis estampada no papel.

Entrou novamente no quarto, decidido a agir o mais depressa possível.


Na delegacia silenciosa, típica de cidade do interior, adentrava uma figura feminina disposta a encontrar respostas.

- Boa noite moça, em que posso ajudá-la? - O homem de meia-idade se levantou da cadeira, largando a rosquinha que lhe servia de jantar.

A detetive leu na placa da mesa "Delegado Walter Clifford", mas para ela sinceramente aquele senhor negro de terno amarrotado e ar inocente não inspirava nada a figura de um homem da lei, ainda mais de um alto cargo...

- Não só pode como acredito que quer me ajudar, Delegado Clifford...

O delegado arregalou os olhos, e fez uma expressão de que ele se lembrava de algo importante.

- Ah, claro! Você é a agente que o 'pessoal' mandou, não é? – Clifford sentou-se novamente, e fez um gesto para Valery se sentar - Muito bem detetive, mas o que a traz aqui tão tarde da noite? O seu pessoal já processou o local não?

- Acho que deveria saber porque vim, delegado... Valery mantinha-se fria e concisa – Vim saber o que a polícia local tem sobre estes corpos que achamos... Estou com as prévias das análises dos legistas, e os corpos analisados até agora sugerem que alguns órgãos estão faltando... O que o senhor tem a dizer a respeito?

- Bem, detetive, estamos investigando há algum tempo os desaparecimentos de algumas crianças, e temos informações que nos levam a ligação com uma quadrilha de outro estado, especialista em tráfico infantil, mas esta informação que você está passando pode nos levar a um outro rumo na investigação... Tráfico de órgãos, talvez? – Clifford levantou-se e foi até mesa de café. – Café, Detetive?

Valery não acreditava na calma com que aquele homem tratava o caso, tão importante e sério para ela.

- Delegado, há quanto tempo estes desaparecimentos vêm acontecendo?

- Filha, gente desaparece todo dia... O delegado virou-se para ela, respondendo secamente.

- Mas não se encontra um cemitério a céu aberto todo dia... Valery rebateu.

- Bem, mais cedo ou mais tarde os meus homens iriam encontrar... De qualquer forma, como este caso está sendo tratado pelo pessoal de cima, saiba que terá todo meu apoio no que eu puder ajudar... O que eu não entendo policial – Clifford tomou um gole de café, e encarou Valery – É como num caso desses eles mandam uma 'agente especial'... O que vêm procurar aqui, são fantasmas? Fantasmas não roubam órgãos nem traficam crianças...

Clifford usou um tom totalmente de deboche ao falar sobre o real trabalho da detetive,

Valery não precisava nem responder, seus olhos já traduziam as palavras baixas que gostaria de usar contra aquele homem que se fazia de sonso...

- Delegado, eu quero encontrar os responsáveis por esta carnificina, sejam eles fantasmas ou não.

Clifford percebeu que a mulher não estava pra brincadeira...

- Ouça detetive, vários casos estão sendo investigados, tenho gente em outras cidades trabalhando nisto, e sei que muito em breve encontraremos algo de concreto para que possamos agir, por enquanto é só dar o apoio necessário às famílias...

- Estas famílias não precisam de apoio, precisam de seus filhos e filhas a salvo... Valery se levantou e caminhou em direção a porta de saída.

- Detetive, lhe mando todos os relatórios dos casos, onde você está hospedada?

- Não precisa me mandar, eu busco amanhã bem cedo, é só não se esquecer de nada...

- Tudo bem, quem sabe tomamos mais uma xícara de café, não? Clifford sorriu, voltando a sua cadeira.

Na parede logo atrás da mesa do delegado, havia um painel, cheio de fotos e recortes de jornal, sobre desaparecimentos de crianças.

Ele virou-se para olhar o mural, pensando em como aquela agente iria se sair na sua investigação.

"Fantasmas não deixam corpos", pensou, e terminou seu café.


- Tem certeza de que é aqui, Sam? - Dean esfregava as mãos por causa do frio congelante daquela noite. - Cara, por acaso você acha que eu sou amador? Se eu quiser, encontro o endereço até da Lindsay Lohan – Sam tocou a campainha da casa nova, num bairro da região central da cidade de Austin.

Dean fez um bico em resposta à brincadeira do irmão.

- Quem são vocês? - Por entre a fresta da porta uma voz saiu trêmula.

- Ahn, somos da... do... – Os irmãos nem tiveram tempo de se comunicar com os olhares para saber quem eles eram daquela vez.

- Beatrice, não são os rapazes do apoio psicológico do clube? – Outra voz saiu de trás da porta, triste, porém mais firme.

- É... isso, somos do apoio – Dean respondeu a pergunta, olhando para Sam que a contra gosto concordou em se passar novamente como conselheiro.

Beatrice abriu as várias trancas da porta e deixou os irmãos entrarem.

A bela casa não escondia que a família era bem sucedida.

- Boa noite senhores... Agradeço por terem vindo, mas não seria amanhã? – A dona da voz triste apareceu, cabelos loiros, uma cópia envelhecida da menina de olhos azuis do panfleto que Sam encontrara no estacionamento do hotel.

Estavam na casa da menina desaparecida há um mês.

- Ah, o nosso pessoal deve ter se enganado com a agenda, não é Rosenfield? – Disse Dean que virou-se para Sam com um ar tão inocente, que o irmão mais novo teve que se segurar para não rir da atuação fajuta do irmão.

- Oh, lamento senhora... – Sam mexia em papéis como se lá estivesse o nome da mulher, que na realidade eles não faziam idéia.

- Sanders, Julie Sanders, por favor, sentem-se rapazes... Já que estão aqui, não percam a viagem... – A mulher sentou-se na poltrona oposta à dos rapazes.

- Bem, senhora Sanders, primeiramente lamentamos muito pelo que aconteceu... Terrível... – Sam sempre fazia as vezes de pacificador, para que Dean pudesse desenrolar a história.

- Sim, todos ficamos muito abalados com o desaparecimento da pequena Brenda... – Julie estava visivelmente abatida, e seus olhos sempre se enchiam de lágrimas ao falar da amada filha desaparecida.

- Entendemos que é uma dor muito grande... Mas diga-nos Sra. Sanders, como aconteceu? – Dean como sempre, nada delicado.

Julie olhou para ele não entendendo muito bem a pergunta, e Sam o olhou com vontade de socá-lo pela falta de tato para lidar com pessoas abaladas.

- Perdoe Sra. Sanders pela abordagem do meu colega Ritchford, mas é que estamos experimentando uma nova terapia estudada por pesquisadores Ingleses, que incentiva a falar sobre os últimos momentos passados juntos... – Sam tentava consertar.

- Ah, sim, claro... Foi há cerca de um mês atrás – Julie secava discretamente suas lágrimas com um pequeno lenço – A escola onde ela estuda organizou uma excursão ecológica ao bosque da cidade, e na volta não encontraram a minha garotinha...

Os irmãos já começaram a pensar em alguma Sthriga ou algo do gênero, mas ambos sabiam que não podiam tirar conclusões precipitadas.

- Desde então a polícia tem vasculhado o bosque, todos os arredores... Mas até agora nada... – Julie abaixou a cabeça, mais lágrimas silenciosas correram pelo rosto – Então eu mesma tenho procurado por conta própria... Espalhei panfletos pelas cidades vizinhas, por aqui, tenho andado por todos os cantos dessa cidade em busca da minha filha, rapazes... Vocês têm filhos por acaso?

Os irmãos se entreolharam e balançaram a cabeça negativamente.

- Meu marido morreu há cinco anos, pouco depois da Brenda nascer... Desde então somos eu e meus dois filhos, as duas coisas que realmente importam pra mim nesta vida... Vocês acham que eu vou ficar de braços cruzados, esperando alguma notícia ruim ou ainda, esperar e esperar e nada acontecer?? Não mesmo, meu marido morreu e eu não pude fazer nada, não quero que isso se repita...

Os irmãos entendiam perfeitamente o desejo daquela mãe de família...

- Sra Sanders, apreciamos muito sua iniciativa, mas um desaparecimento assim deve vir de algo perigoso, não é correto que a senhora se arrisque dessa maneira... – Dean ponderava, pois sabia que se tratava de um caso perigoso, e não era bom que mais pessoas se envolvessem.

- Jovem, você não sabe do que é capaz uma mãe ou um pai... Damos a nossa vida por eles!

Dean abaixou a cabeça e rapidamente se lembrou de como seu pai trocou a sua vida pela vida dele... E um nó na garganta surgiu.

- Sra Sanders, a senhora notou algo de estranho nas últimas vezes em que estava com sua filha? Ela lhe falou de algo que via, talvez algum amigo imaginário... ou ainda se ela teve contato com alguém estranho á família? Crianças costumam fantasiar, e talvez ela tenha se perdido no bosque e tenha se escondido, não sei... - Sam continuava a pesquisa, mais discreto que seu irmão.

- Não me lembro de nada que ela tenha falado, assim de repente... Mas ela só tinha contato com a Beatrice, minha empregada e babá, e o motorista... Mas são pessoas de extrema confiança, e estão extremamente abalados com o desaparecimento dela, inclusive têm me ajudado na minha busca pessoal.

- Er... Bem, se eles quiserem conversar conosco, ficamos à disposição também... – Dean tentava sugar o máximo de informações que podiam.

Beatrice estava do outro lado da sala, e quando mencionaram o nome dela, ela se recolheu à cozinha, visivelmente assustada.

- A verdade é que meu coração diz que ela está viva, e que ela vai voltar em breve pros meu braços... Ou será que isso é uma mera esperança, que eu preciso acreditar nisso para que continue vivendo?...

Sam pensava em como foi doloroso para seu pai perder sua mãe, e como eles foram criados sem a presença materna no que eles chamavam de família.

- Sra Sanders, peço que confie no trabalho da polícia, e também acredite que ela está bem... Isso é algo que ninguém pode provar, mas só a certeza do seu coração o torna real... – Sam dizia honestamente sem saber se encontrariam a garota, mas certamente encontrariam quem fez tamanho mal àquela família.

E nunca se esqueciam de que estavam à procura do demônio que matou sua mãe e agora seu pai...

Julie novamente abaixou a cabeça, e os rapazes entenderam que eles deveriam parar por ali, pelo menos naquela noite.