Inspirada nas personagens criadas por J.J. Abrams e equipe , portanto não me pertencem. As histórias são apenas diversão, não têm fins lucrativos.


I.

Estavam na parte subterrânea do castelo, numa das antigas masmorras, a luz era vacilante e o ar tinha um cheiro desagradável que misturava terra úmida e mofo. A atmosfera era opressiva. A mulher mais velha pedira um lugar bem reservado onde pudessem falar. Aparecera quando ele já não mais a esperava, tarde da noite, causando transtorno às sentinelas que, logo ao anoitecer, haviam fechado o enorme portão de madeira e ferro e recolhido a ponte levadiça.

Ela viera à pé, parecia extenuada. Não era mais nenhuma jovem. Trouxera consigo uma outra pessoa. Estava coberta por um manto de lã de cor indefinível, limpo mas velho e puído. Tratava-se de uma moça. Muito silenciosa, limitara-se a segui-los até o subsolo do castelo.

-Quem é?

A mulher hesitou, parecia um pouco encabulada, mas acabou falando como se a garota não estivesse ali ou não pudesse entendê-la.

-É Olivia Dunham. Ela é ...diferente. Se alguém pode ajudá-lo, essa pessoa é ela.

O homem de cabelos grisalhos olhou-a de cima a baixo. Ela havia retirado o agasalho. A garota era magra, o cabelo muito claro, comprido, chegando quase ao joelho. Tinha uma expressão meio ausente, parecia não ser totalmente deste mundo.

-Sou Walter Bishop. O que pode fazer pelo meu filho?

Ela se voltou e falou sem rodeios. A voz era baixa, com um certo tom aveludado.

-Francamente, não sei. Preciso vê-lo para ter certeza.

-Eu já tentei de tudo, mas ele parece estar pior. Uma febre que não vai embora.

Ela respirou fundo, mas guardou silêncio. Não parecia ser do tipo que falava muito.

Nina Sharp se adiantou. Estava preocupada.

-Se ela puder salvá-lo, preciso da sua palavra de que não contará a ninguém o que ela fez. Se a Inquisição souber, ela está morta. E nossas vidas estarão em risco...

-Tem a minha palavra.

-E o rapaz?

O homem hesitou claramente. Teve uma expressão desconsolada.

-Não posso falar por ele. Desde que descobriu a sua verdadeira condição, não é mais o mesmo. Está amargo, revoltado.

-Acha que ele pode entregá-la, Walter?

-Creio que não, mas não poderia jurar. Ele parece outra pessoa desde que esteve lá.

A última palavra pareceu queimar-lhe a boca.

-Então não conte conosco. Não posso arriscar a vida dela.

Walter Bishop teve um olhar de desalento. Desistir do filho, para ele, era como desistir da própria vida.

-Entendo a sua posição, mas não posso deixar de lamentar.

A garota interveio. Apesar do silêncio em que permanecera, não perdera uma única palavra. Deu um passo à frente, sua proximidade da luz acentuou sua aparência etérea.

-Não se preocupem comigo, se for preciso eu correrei o risco. Gostaria de vê-lo.


O homem ganhou um novo ânimo. Subiu com disposição as escadas de pedra e foi conduzindo as duas mulheres para a parte residencial da construção. O aposento onde o enfermo estava confinado ficava na torre de menagem. Lá o ar era puro, as janelas de madeira estavam entreabertas deixando que o ar se renovasse.

Não havia muita mobília dentro do enorme aposento. Uma grande cama de madeira escura dominava o ambiente. Havia também uma enorme arca esculpida, uma mesa, três cadeiras e um escabelo. Uma grande tapeçaria com uma cena palaciana estava presa à parede que ficava diante do leito. Ao fundo, uma lareira de pedra.

Walter entrou, fez um sinal e a moça que velava o doente se retirou. Era muito bonita. Ao passar por Olivia mirou-a de soslaio. O pai fez sinal para que se aproximassem do leito. Nina Sharp olhou-o por alguns instantes, depois foi se sentar em uma das cadeiras. Olivia se aproximou lentamente e ficou surpresa com o que viu. A impressão da beleza do rapaz a feriu como uma luz forte depois da escuridão. O jovem e tinha um rosto perfeito. Olivia nunca vira alguém assim. Tinha os olhos semicerrados, estava deitado imerso em cobertores. Tudo o que se podia ver era o rosto, já invadido por uma barba curta e castanha.

Ela colocou o dorso da mão na face do doente. Ele suspirou ao sentir a pele fresca da mão dela contra a sua face. Ela se assustou e retirou a mão, instintivamente.

-Quem está tratando dele?

-Eu mesmo.-disse o pai.

- Nina disse que o senhor tem conhecimentos de alquimia e medicina.

-É verdade, mas todos os meus conhecimentos parecem estar zombando de mim. Ele só faz piorar. É o meu único filho. A única coisa que me resta.

-O que ele tem, além da febre?

-Fraqueza, torpor, alterna momentos de letargia com profunda irritação. Outro dia se levantou como se nada tivesse e quis sair a cavalo. Precisei da ajuda de três homens para contê-lo. Horas depois estava tão fraco que não conseguia se alimentar sozinho. Não sei se é um mal físico ou espiritual. E nos tempos em que vivemos, temo pela segurança dele.

Ela ficou em silêncio, absorta por alguns instantes. Entendeu que ele temia despertar a atenção da Igreja e da Inquisição. Novamente contemplou o rapaz e surpreendeu o pai com a pergunta.

-Como ele se chama?

-Peter.

Olivia balançou a cabeça suavemente e repetiu o nome para si mesma, baixinho, como se o estivesse decorando ou degustando o prazer de pronunciá-lo. Walter Bishop encarava-a com estranheza. Estava curioso em saber de onde Nina Sharp tirara aquela criatura.

-Preciso ir ao bosque antes do amanhecer.

Walter olhou-a, curioso.

-Vou colher ervas. Trouxe algumas coisas comigo, mas certas espécies de planta devem ser colhidas e utilizadas logo em seguida.

-Como desejar. Mandarei um servo acompanhá-la.

Nina pareceu preocupada.

-Não se preocupe, a pessoa é de total confiança. Não fará nenhum comentário e nem causará problemas.

-Walter...

Os três se voltaram para o leito. Era o enfermo. Abrira os olhos, mas parecia não estar de todo consciente.

Olivia ficou absorta olhando aqueles olhos azuis. O jovem parecia olhar sem vê-la realmente. Sentiu uma espécie de vergonha da contemplação em que caíra e saiu do campo visual do rapaz.

- O que foi, meu filho?

-Onde está a minha mãe?

Walter e Nina se entreolharam. O pai acabou sorrindo e dizendo e tom apaziguador:

-Ela está descansando. Aliás, acho que você também deve descansar.

-E o anjo, Walter?

-Que anjo?

-Eu vi...será que estou morrendo?

-Não é anjo. É a moça que veio tratar de você. Descanse, meu filho.

Peter fechou os olhos e voltou a cair na inconsciência profunda.


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