Prefácio

Encurralada, curvo-me defensivamente sobre o humano que protejo das duas sanguessugas híbridas que se abatem sobre nós, rodeando-nos e impedindo-nos de fugir, sem qualquer espaço de manobra.

Uma delas salta finalmente sobre nós e, com os seus olhos vidrados, a sua boca a abrir-se num sorriso perverso e doentio, as suas presas apontando para o meu pescoço desnudo, soltando um rugido selvagem e tenebroso que faz o ar vibrar à sua passagem. Sem pensar duas vezes, salto também eu em frente, impulsionando-me contra a sanguessuga que se abate sobre mim, deixando a raiva e ódio que guardava dentro de mim contra aquela criatura obsoleta se libertarem, libertando o lobo que guardava impaciente dentro de mim, desde os confins do meu ser, em pleno salto. A expressão da sanguessuga passa então a revelar um medo terrível e descomunal, frente a este ser que nunca antes tinha visto.

Oiço as suas irmãs saltarem gritos e guinchos de surpresa, de terror enquanto eu solto um rugido gutural dos confins da minha garganta. A sanguessuga retrai-se perante o meu ataque, sendo-lhe esse estremecimento fatal, espetando as minhas presas no seu pescoço desprotegido e desmembrando a sanguessuga sobre os meus dentes afiados, decapitando-a, soltando esta um ultimo grito de agonia. Caio então sobre o seu corpo imóvel, esmagando-a contra o chão de madeira que se estilhaça à nossa volta, recolhendo-me de novo para junto do humano que protegia.

As outras duas sanguessugas que restavam, indo ao encontro da sua irmã moribunda, soltam um rugido de sofrimento e raiva, o seu olhar revelando ódio e desejo de vingança, de sangue. Eu rio-me perante o seu sofrimento, finalmente pagavam a paga por todo o mal que haviam provocado durante sabe-se lá quantas gerações. Então, como que por magia, um rugido ecoa das sombras, de trás dela, surgindo um ser tão como elas, mas que me fazia sentir sensações tão distintas.

As sanguessugas viram-se sobre si próprias, encontrando o objecto que as tinha aqui conduzido aqui, a este lugar, o objecto da sua vingança e sofrimento que agora tinha sido renovado, soltando dois rugidos de ódio nunca antes vistos ou ouvidos em tempo algum por seres como elas, um sofrimento tal, que durante aquele curto período de tempo, me faz sentir pena delas, lembrando-me da altura em que também eu tinha sofrido de forma semelhante. Um sentimento que se revela fatal quando uma delas salta inesperadamente sobre mim a uma velocidade inesperada. Mostrando as suas presas afiadas num sorriso maníaco e demente.

Fecho os olhos, preparada para o destino que se desenrolava perante mim. Agradecida pela dádiva que me tinha sido concedida.