A Incrível e Dificílima Arte de Ter Uma Barba Perfeita

Se havia um entre todos nós que era o pioneiro, era Sirius. Ele foi o primeiro a se apresentar, quando nos conhecemos, no trem. Ele foi o primeiro a falar com uma garota, o primeiro a implicar com uma delas, o primeiro a beijar uma garota. Ele foi o primeiro a conseguir se transformar completamente em animago, o primeiro a sair de casa, o primeiro a ter um veículo próprio – e todos nós adorávamos aquela moto. Ele foi o primeiro a passar no teste de aparatação, o primeiro a conseguir um emprego – e obviamente o primeiro a largá-lo.

Ele foi o primeiro a se juntar a Ordem da Fênix.

(Talvez tenha sido alguma espécie de vingança maligna da minha parte fazer também com que ele fosse o primeiro a ser acusado de trair os amigos; talvez eu quisesse garantir que pelo menos uma vez ele não fosse o primeiro – mesmo que fosse a morrer.)

E, claro, como o primeiro a fazer todas as coisas, ele também foi o primeiro a fazer barba. Sirius era um cachorro até mesmo em forma humana, e não chegamos nem ao terceiro ano antes dele começar a ter pelos sobre os lábios, como um resto de sujeira. James implicava com ele, mas eu sabia que era por ciúmes de ainda não ter nenhuma, Remus balançava a cabeça reprovando tanto o orgulho de um quanto a implicância do outro. E eu? Eu nem mesmo sei o que pensava naquela época.

Éramos todos tão inocentes. Nosso maior desafio era encarar uma lâmina de barbear! E o mundo inteiro era apenas o nosso quintal, para fazermos dele o que quiséssemos.

E nós, claro, queríamos muita coisa. Mas, principalmente queríamos aprender a nos barbear.

Sirius tirou uma manhã de sábado para nos dar uma aula sobre a complicada mecânica da coisa. Segundo ele, exigia atenção, talento e destreza. E sim, ele realmente se referia a fazer a barba como se fosse uma arte, e uma especialmente complicada.

A primeira tentativa, foi um desastre: Remus cortou a bochecha, eu quase abri o queixo, James cortou a ponta do próprio cabelo.

Arte, Sirius dizia, e com razão.

Óbvio que o maior problema era que nenhum de nós ainda tinha nenhum fiapo para tirar, o que complicava um pouco a situação. Mas James e Sirius insistiam que precisávamos praticar antes para sabermos como fazer sem ficar com cortes constrangedores.

A menos, claro, se você contasse aqueles que conseguimos aprendendo, mas isso não parecia ter importância para nenhum dos dois. Eu achava divertido, tanto as discussões quanto nossas tentativas. A lembrança de James cortando o cabelo ao tentar se barbear ainda me traz lágrimas nos olhos de tanto rir (ou traria, se ratos rissem).

Foram semanas de extensa prática, sob a supervisão rigorosa de Sirius que nos estimulava com gritos e xingamentos, até conseguirmos fazer uma barba perfeita antes mesmo de termos alguma.

Nós éramos como irmãos, e irmãos ajudam uns aos outros e ensinam para não haverem dificuldades futuras.

Nós éramos irmãos.