12h06min.
- Não está gostando da festa? – perguntou Aiolia, sentando-se de frente para ela.
- Estou… - disse Marin. Ela aparentava um cansaço que não lhe era natural.
- Anda trabalhando demais, Marin. E em festas as pessoas geralmente se divertem, não ficam sentadas esperando que o melhor amigo seja gentil. A propósito, quer dançar? – convidou o loiro, olhando-a ansiosamente.
- Não… hoje não. – respondeu a ruiva, sem olhá-lo. – Quero ir para casa.
A impaciência arrebatou Aiolia de repente. Haviam sido 15 ou 16 anos esperando, tanto tempo de amor que parecia jamais ser correspondido. Mas aquela havia sido a última gota.
- Quer que eu te leve? – perguntou ele com ar suave. Marin bebeu os últimos goles de seu copo e se levantou.
- Quero.
12h29min.
Nenhum dos dois ousou falar alguma coisa dentro do carro. Naquele dia eles se comportavam como dois desconhecidos, e aquela era apenas uma carona casual, fim de papo. Ele parou o veículo na frente da casa dela.
- Entregue. – disse ele.
- Obrigada. – respondeu ela. Tudo bastante formal. Marin abriu a porta do carro e Aiolia sentiu um impulso quase irrepreensível de segurá-la pelo braço e dizer tudo aquilo que guardava há anos, mas se conteve. Abaixou a cabeça e encostou-a no volante, sem olhar para o lado e ver se ela já havia partido. A covardia dele era motivo de piada entre os amigos, e de depressão entre ele e ele mesmo. Talvez ele fosse dali direto para o aeroporto pegar um avião pra outro país qualquer e se afastar de vez daquela que fizera seu destino ser tão cruel.
- Você não vai entrar? – perguntou Marin, aparecendo na janela semi-aberta.
- Hã? – grunhiu ele, virando o rosto e arrancando da ruiva uma risada tímida.
- É que você não veio nem me acompanhar até a porta, por isso eu estranhei.
- Ah, perdão… - murmurou ele, abrindo a porta e saindo rapidamente. Os dois caminharam até a entrada da casa dela e trocaram um olhar constrangido.
- Vai entrar? – perguntou ela.
- É um convite? – ele rebateu. Os dois começaram a rir da própria timidez.
- Estamos parecendo dois adolescentes!
- Eu não diria isso. – disse ele, olhando-a seriamente.
- Isso foi uma indireta, Sr. Comnimos? – disse ela, ainda divertida, encostando o indicador no peito dele.
- Enquanto eu não puder ser mais direto que isso, eu diria que sim. – respondeu ele com um meio sorriso. Os olhos da ruiva brilharam de ansiedade, esperando aquelas palavras que nunca vinham. Aquela sensação já era quase uma rotina, a boca seca, o coração disparado, a falta de assunto e então o medo, sempre arrebatador e sufocante. Se ele não dissesse nada, deveria ela dizer?
- Aiolia… obrigada por me trazer em casa mais uma vez.
- Mais uma vez? Você nunca se importou com isso… - disse ele. A ruiva olhou para a fechadura da porta e em seguida para ele. – Está tarde… vou indo.
- Boa noite, então. – disse ela, completamente derrotada pela própria falta de reação.
12h48min.
- Marin… eu esqueci uma coisa com você! – disse ele, voltando no mesmo instante em que a ruiva estava quase fechando a porta atrás de si para ser entregue à própria e dolorosa solidão.
- Não, acho que não esqueceu não… - disse ela com ar desanimado. Aiolia colocou o pé na porta para que ela não fechasse e entrou, batendo-a logo em seguida e mergulhando a sala numa escuridão irremediável.
- Esqueci sim, mas tem muito tempo. – murmurou ele no ouvido da ruiva.
- Você quer que eu procure? Porque eu acho que não tem nada seu aqui em casa… - disse ela, extremamente desconcertada, agradecendo a todos os santos que ele não pudesse ver o rubor que invadira sua face.
- Mas é que o que eu esqueci está em todos os lugares que você foi, e em todas as coisas que você fez. – disse ele, surpreendendo Marin com o beijo mais doce e mais suave que já recebera em vida.
O relógio indicou 12h51min quando a porta do quarto de Marin se fechou com estrépito e guardou entre os dois o amor mais puro e sincero jamais visto em nenhuma outra vida.
